sábado, 20 de julho de 2024

Amigos do Senhor e no Senhor

                                                               

Amigos do Senhor e no Senhor

Vejamos o que nos diz a Sagrada Escritura sobre a amizade:

No Livro dos Provérbios, encontramos alguns versículos sobre a amizade:

- “Em toda ocasião ama o amigo, um irmão nasce para o perigo” (Pr 17, 17);

“É melhor a reprimenda aberta do que o amor encoberto. Os golpes do amigo são leais, mas o inimigo é pródigo em beijos” (Pr 27, 5-6);

Há amigos que levam à ruína, e há amigos mais queridos do que um irmão (Pr 18, 24).

E o próprio Senhor também nos falou sobre a amizade:
“Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, Eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai Eu tornei conhecido a vocês”.
(Jo 15, 15).

Não se trata de desejar possuir milhões de amigos, ainda que alguns tenhamos, nos faria imensamente ricos, pois também diz a Escritura – “Amigo fiel é poderosa proteção: quem o encontrou, encontrou um tesouro” (Eclo 6,14)

Minha reflexão não se ancora nas amizades feitas por adicionamentos virtuais, que podem se multiplicar em proporção aritmética ou mesmo geométrica, pois com um simples digitar se adiciona e se exclui. Ainda que possa ali nascer e sobreviver amizades, é cedo para algo dizer.

Voltemo-nos para as amizades construídas ao longo dos milênios, que precederam às tecnologias e permanecerão, ainda que pudéssemos conceber um mundo sem a virtualidade, pois elas têm outro conteúdo, outras expressões, teores, linfas que garantem sua sobrevivência.

Um mundo sem amizades autênticas é inconcebível, porque frio, vazio, sem sentido.

Não é por acaso que o Senhor não quis estabelecer conosco uma relação de servo e senhor, mas de amigos, e exigiu de Pedro, e de tantos que O seguiriam, o amor incondicional, expressão de uma amizade que carrega em si o germe de eternidade: o próprio amor.

Há amizades que passam, e se passam é porque nunca foram verdadeiras.

Amizade verdadeira não acontece de modo instantâneo, requer tempo para chegar à sua veracidade; é edificada em momentos favoráveis e provada nas adversidades:

- Quando no caminho aparecem pedras e espinhos, porque nem sempre é bem calçada, bela e florida a alameda, onde se caminha com todo o deleite;

- Quando as águas estão tranquilas, com o suave fragor do som das águas, ora o fragor de sua turbulência e agitada; ora turvas, ora cristalinas;

- Quando as nuvens estão azuis celestes ou sua expressão escurecida, como que “cara feia” pronta a desaguar em má tempestade ameaçadora;

- Nos dias sombrios, tristes por um tropeço, um desafio, uma batalha a ser vencida, ou num dia em que alegria e a tranquilidade conseguem evidenciar esplendor e luminosidade sem maiores dificuldades.

- Nos dias serenos e calmos, mas, sobretudo, será provada nos dias da necessidade, das dificuldades, das inquietações...

Amizades assim estabelecidas têm seus predicados: firmes, inquebrantáveis, sinceras, duradouras, boas, saudáveis, indissolúveis e eternas...

Amizades assim não passam como uma sombra ou com uma nuvem e não duram apenas por alguns instantes.

Amizades assim duram, porque exilam a possessão, o ciúme, o estreitamento de espaço e horizontes...

Amizades assim duram, porque dão espaço para a lealdade, a fidelidade, a sinceridade, a reciprocidade, a liberdade...

Amizades se constroem na concordância ou não, quando preciso; no respeito, no perdão, na reconciliação.

Que, na frágua do padecer, saibamos acrisolar nossa amizade: amizade com marcas Pascais, num mistério de Morte e Ressurreição, com a Cruz quotidiana carregada, ajudando-nos mutuamente para que suportemos carregá-la.

Que nossas amizades sejam como o bom vinho, que quanto mais velho melhor. 

Quais são estas amizades que poderíamos a Deus apresentar e a Ele honras, glórias e louvores elevar?

Assim como o Senhor plantou no horto de nossa alma a mais bela Semente de Sua Palavra, também assim o façamos no horto da alma de nossos amigos.

No coração de nossos amigos, plantemos a melhor semente que pudermos oferecer, e a reguemos e cultivemos com a Oração e vigilância, para que a semente da amizade continue sempre em permanente processo de fecundação e germine algo novo a cada dia, a cada momento compartilhado, cada linha da história com o amigo escrita.

Amigos sabem plantar, reciprocamente, no horto da alma o melhor que possuem para germinar frutos de alegria, justiça, amor, vida e paz...

Sendo amigos do Senhor e no Senhor, haveremos de construir verdadeiras amizades celebradas no Altar da Eucaristia, para que então sejam eternizadas, e um dia vivenciadas no Banquete da Eternidade.

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