terça-feira, 18 de junho de 2024

A penitência e a graça do perdão

 




A penitência e a graça do perdão

“Contra este dom gratuito, contra esta graça de Deus

fala o coração impenitente. Pois bem: esta impenitência é precisamente a blasfêmia contra o Espírito,

que não terá perdão nem nesta vida nem na futura.”

 

Sejamos enriquecidos pelo Sermão escrito pelo bispo e doutor da Igreja, Santo Agostinho (séc. V):

“A leitura evangélica que acabamos de ouvir estabelece um problema difícil que não estamos em situação de resolver somente com nossas forças: porém nossa capacidade nos vem de Deus, na medida em que somos capazes de receber ou obter o seu auxílio.

Em Marcos, encontramos escrito: Crede-me, tudo será perdoado aos homens: os pecados e qualquer blasfêmia que digam, porém, o que blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá perdão, carregarão seu pecado para sempre.

Quem blasfemar de qualquer forma contra o Espírito Santo, não teria motivo para estar questionando de que tipo de blasfêmia se trata, pois se referiria a toda blasfêmia, sem exceção. Porém, não se pode pensar que aos pagãos, aos judeus, aos hereges e a toda essa multidão de homens que, com os seus diversos erros e contradições, blasfemam contra o Espírito Santo, lhes seja tirada toda esperança de perdão se chegarem a se corrigir.

Somente nos resta compreender que na passagem em que se diz: O que blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá perdão, tenha de entender-se não do que blasfemar de qualquer modo contra o Espírito Santo, mas aquele que o faz de um modo tal que o seu pecado torna-se irremissível.

Para dispor-nos para a vida eterna que nos será concedida no último dia, o primeiro dom que Deus nos concede ao abraçar a fé é o perdão dos pecados. Pois enquanto eles permanecerem em nós, somos de certa forma inimigos de Deus, e estamos afastados d’Ele por causa de nossa devassidão. De fato, a Escritura não mente para nós quando diz: São as vossas culpas que criaram separação entre vós e o vosso Deus.

Portanto, Deus não deposita em nós os Seus bens, sem antes retirar nossos males. Aqueles crescem na medida em que decrescem estes; e aqueles nem chegarão a sua plenitude enquanto estes não tenham totalmente desaparecido.

Temos, portanto, de admitir que o primeiro benefício que recebemos da bondade divina é o perdão dos pecados no Espírito Santo. Pois no Espírito Santo - pelo qual o povo de Deus é congregado na unidade - é precipitado o espírito imundo, que está em guerra civil.

Contra este dom gratuito, contra esta graça de Deus fala o coração impenitente. Pois bem: esta impenitência é precisamente a blasfêmia contra o Espírito, que não terá perdão nem nesta vida nem na futura.

De fato, contra o Espírito Santo, em quem são batizados os que recebem o perdão dos pecados e ao qual a Igreja recebe para que a quem perdoar os pecados lhe sejam perdoados, contra este Espírito fala, ou com o pensamento ou com a língua, palavras perversas e extremamente ímpias aquele que, quando a paciência de Deus lhe estimula  a penitência, com a dureza do seu coração impenitente está armazenando para si castigos para o dia do castigo, quando se revelará o justo juízo de Deus retribuindo a cada um conforme as suas obras.

Esta impenitência contra a qual clamam em uníssono o pregoeiro e o juiz, dizendo: Convertei-vos, porque está próximo o Reino de Deus, esta empedernida impenitência é a que não tem perdão nem nesta vida nem na outra, pois a penitência alcança o perdão nesta vida, válida para a futura.”

Como peregrinos da esperança, roguemos a Deus para que edifiquemos uma Igreja sinodal, caminhando sempre juntos, com a humildade necessária, reconhecendo nossa condição de pecadores, e necessitados da misericórdia divina,

Que jamais sejamos impenitentes, fechados ao reconhecimento de nossos pecados e impossibilitados de receber a graça e o amor divinos, que Deus sempre está pronto a derramar em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm 5,5).

 

(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pp.405-406

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