sábado, 23 de novembro de 2024

“Creio na Ressurreição da carne, na vida eterna...”


 

“Creio na Ressurreição da carne, na vida eterna...”

Reflexão da passagem do Evangelho de São João (Jo 12,20-33), proclamado no quinto Domingo da Quaresma, à luz do Sermão escrito por São João Crisóstomo (séc. IV).

“O que significa: Se o grão de trigo não cai na terra e não morre?  Ele fala da crucificação. Para que não se perturbassem ao ver que Ele condenava a morte, justamente quando os gentios se aproximavam d’Ele, lhes diz: ‘É precisamente isto que os fará vir a mim; isto é o que estenderá o anúncio’.

Em seguida, como não conseguia persuadi-los totalmente com as Suas palavras, os estimula colocando-lhes diante da experiência e lhes diz: ‘O mesmo acontece com o trigo, que quando morre aí é que frutifica; Se nas sementes acontece isso, muito mais acontecerá em mim’.

Porém, os discípulos não entenderam Suas palavras. E o evangelista repete com frequência este dado, para escusá-los, visto que se dispersarão. Também Paulo fez alusão ao grão de trigo quando falou da ressurreição.

Que desculpa terão os que não creem na ressurreição? Porque cada dia podemos vê-la nas sementes, nas plantas e nas gerações humanas. Primeiro é necessário que a semente se corrompa, para que a partir disso ocorra a brotação.

Falando de forma geral, quando é Deus quem realiza algo, não se necessitam explicações. Como Ele nos criou do nada? Isto eu digo aos cristãos que professam crer nas Escrituras. Porém, acrescentarei algo mais do raciocínio humano.

Alguns homens são maus; outros são bons. Dos que são maus, muitos chegaram à idade avançada com prosperidade, enquanto que aos bons lhes aconteceu tudo ao contrário. Então quando, em que momento cada um receberá o que merece? Tu insistes dizendo: ‘Sim!, porém os corpos não ressuscitam’.

Estes não ouvem a Paulo que diz: ‘E necessário que o corruptível se revista de imortalidade. Ele não fala da alma, pois a alma não é corruptível; e a ressurreição é própria de quem morreu; e é o corpo que morreu.

Mas por que não admites a ressurreição da carne? Será, por acaso, impossível pra Deus? Afirmá-lo seria recorrer o extremo da necessidade. Mas não convém? Por que não convém que este elemento corruptível, que padeceu os sofrimentos e a morte, participe das coroas?

Se não conviesse, nos princípios nem sequer teria sido criado o corpo. Nem Cristo teria assumido nossa carne. Porém, Ele de fato a assumiu e ressuscitou, ouve como ele mesmo o afirma: Coloca aqui teus dedos e vede que os espíritos não têm carne nem ossos.

Por que ressuscitou a Lázaro desta forma, se era melhor ressuscitar sem corpo? Por que colocou a ressurreição no número dos milagres e dos benefícios? Por que para a ressuscitada lhe proporcionou alimentos?

Em consequência, caríssimos, que os hereges não vos enganem. Existe a ressurreição, existe o juízo. Os negam todos os que não querem dar conta de suas obras. É necessário que a ressurreição seja como foi a de Cristo. Ele é primícia e o primogênito dentre os mortos.” (1)

A fé na Ressurreição é o mistério central da nossa fé, que nos move em todos os momentos, sobretudo nos momentos adversos, e o cume deles, a morte.

Crer no Mistério da Fé, na Ressurreição de Jesus, dá um novo sentido para a existência humana e seu fim último, a vida eterna, passando necessariamente pela morte.

Crer na Ressurreição do Senhor, como rezamos ao professar a fé, abre sempre novas perspectivas para quem crê n’Ele, em premente atitude de resistência a dor e a morte, num encantamento pela vida, com sagrados compromissos com a Boa-Nova do Reino, para que tenhamos vida plena desde já, e, um dia, eternamente na glória dos céus.

Crendo na Ressurreição, empenhemo-nos para que um dia também possamos nos céus, com aqueles que nos antecederam, nos encontrarmos, na plenitude do Amor Trinitário com todos os anjos e santos. Amém.

Renovemos em nós a graça batismal, e, assim, vivamos o tempo presente com inadiáveis e santos compromissos com a vida e sua sacralidade, e professemos nossa fé, à luz do Símbolo Niceno-Constantinopolitano:

“Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. Creio em um só Senhor, Jesus Cristo...”

 

 

(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pp.321-322




PS: Oportuno para reflexão da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 20,27-40)

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