sexta-feira, 29 de março de 2024

Amemos como o Senhor nos amou

                                                

Amemos como o Senhor nos amou

“...o Senhor definiu a plenitude do Amor
com que devemos amar-nos uns aos outros”

Sejamos enriquecidos pelo Bispo Santo Agostinho (séc. V) com uma reflexão extraída de seu “Tratado sobre o Evangelho de São João”, em que contemplamos a plenitude do Amor de Deus por nós, que não poupou o próprio Filho por amor à humanidade, e nos convida a viver o mesmo amor uns pelos outros.

“Irmãos caríssimos, o Senhor definiu a plenitude do Amor com que devemos amar-nos uns aos outros, quando disse:

Ninguém tem Amor maior do que Aquele que dá Sua vida pelos amigos (Jo 15,13).

Daqui se conclui o que o mesmo Evangelista João diz em sua epístola: Jesus deu a Sua vida por nós.

Portanto, também nós devemos dar a vida pelos irmãos (1Jo 3,16), amando-nos verdadeiramente uns aos outros, como Ele nos amou até dar a Sua vida por nós.

É certamente a mesma coisa que se lê nos Provérbios de Salomão: Quando te sentares à mesa de um poderoso, olha com atenção o que te é oferecido; e estende a tua mão, sabendo que também deves preparar coisas semelhantes (cf. Pr 23,1-2 Vulg.).

Ora, a Mesa do poderoso é a Mesa em que se recebe o Corpo e o Sangue D'Aquele que deu a Sua vida por nós. Sentar-se à Mesa significa aproximar-se com humildade.

Olhar com atenção o que é oferecido, é tomar consciência da grandeza desta graça. E estender a mão sabendo que também se devem preparar coisas semelhantes, significa o que já disse antes: assim como Cristo deu a Sua vida por nós, também devemos dar a nossa vida pelos irmãos.

É o que diz o Apóstolo Pedro: Cristo sofreu por nós, deixando-nos um exemplo, a fim de que sigamos os Seus passos (cf. 1Pd 2,21). Isto significa preparar coisas semelhantes.

Foi o que fizeram, com ardente amor, os Santos mártires. Se não quisermos celebrar inutilmente as suas memórias e nos sentarmos sem proveito à Mesa do Senhor, no Banquete onde eles se saciaram, é preciso que, como eles, preparemos coisas semelhantes.

Por isso, quando nos aproximamos da Mesa do Senhor, não recordamos os mártires do mesmo modo como aos outros que dormem o sono da paz, ou seja, não rezamos por eles, mas antes pedimos para que rezem por nós, a fim de seguirmos os seus passos.

Pois já alcançaram a plenitude daquele Amor acima do qual não pode haver outro maior, conforme disse o Senhor.

Eles apresentaram a seus irmãos o mesmo que por sua vez receberam da Mesa do Senhor.

Não queremos dizer com isso que possamos nos igualar a Cristo Senhor, mesmo que, por Sua causa, soframos o martírio até o derramamento de sangue.

Ele teve o poder de dar a Sua vida e depois retomá-la; nós, pelo contrário, não vivemos quanto queremos, e morremos mesmo contra a nossa vontade.

Ele, morrendo, matou em Si a morte; nós, por Sua morte, somos libertados da morte.

A Sua carne não sofreu a corrupção; a nossa, só depois de passar pela corrupção, será por Ele revestida de incorruptibilidade, no fim do mundo.

Ele não precisou de nós para nos salvar; entretanto, sem Ele nós não podemos fazer nada. Ele Se apresentou a nós como a Videira para os ramos; nós não podemos ter a vida se nos separarmos d’Ele.

Finalmente, ainda que os irmãos morram pelos irmãos, nenhum mártir derramou o seu sangue pela remissão dos pecados de seus irmãos, como Ele fez por nós. Isto, porém, não para que O imitássemos, mas como um motivo para agradecermos.

Portanto, na medida em que os mártires derramaram seu sangue pelos irmãos, prepararam o mesmo que tinham recebido da Mesa do Senhor.

Amemo-nos também a nós uns aos outros, como Cristo nos amou e Se entregou por nós”

Não nos contentemos apenas com a contemplação do Amor de Deus por nós, o que é esperado. É preciso muito mais. Precisamos passar da contemplação à vivência de mesmo Amor, como tão fortemente nos exorta o Bispo, à luz da Sagrada Escritura, abundantemente citada em seu Tratado.

Envolvidos por este amor, dele plenificados, podemos e haveremos de amar como Jesus Ama: Amor que ama sem medida.

E, assim, fazermos da nossa vida uma agradável oferenda a Deus,  sem o que tornaria nossos ritos e sacrifícios sem sentido, gosto e conteúdo.

Nossa vida, aos poucos, ficaria sem sonhos, sem verdadeiros projetos e perspectivas.

No entanto, tudo se renova para quem experimenta, quotidianamente, o Amor de Deus, e procura vivê-lo em relação ao próximo, progredindo no essencial, que é o distintivo de nossa fé: a vivência do Mandamento do Amor.

Amando como o Senhor nos amou, daremos razão de nossa esperança ao mundo, e os sinais do Reino, os sinais Pascais se multiplicarão. 

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