terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Sem o sacrifício vespertino não haveria a oferenda da manhã!

                                                            


Sem o sacrifício vespertino não haveria a oferenda da manhã! 

Com a Igreja, aprendemos que não há glória sem Cruz, e este Comentário sobre a Paixão de Cristo do Bispo Santo Agostinho, Bispo (séc. V), muito nos ajuda neste tempo quaresmal, em que somos convidados a renovar nossa fidelidade no carregar da cruz, com sacrifícios, renúncias, Oração, jejum e esmola.

“Senhor, eu clamo por vós, socorrei-me sem demora (Sl 140,1). Isto todos nós podemos dizer. Não sou eu que digo, é o Cristo total que diz. Contudo, estas palavras foram ditas especialmente em nome do corpo, porque, quando Cristo estava presente neste mundo, orou como homem; orou ao Pai em nome do Corpo e enquanto orava, gotas de sangue caíram de todo o seu corpo. Assim está escrito no Evangelho: Jesus rezava com mais insistência e seu suor tornou-se como gotas de sangue (Lc 22,44).

Que significa este derramamento de sangue de todo o seu corpo, senão a paixão dos mártires de toda a Igreja? Senhor eu clamo por vós, socorrei-me sem demora. Quando eu grito, escutai minha voz! (Sl 140,1). 

Julgavas ter acabado de vez o teu clamor ao dizer: eu clamo por vós. Clamaste, mas não julgues que já estejas em segurança. Se findou a tribulação, findou também o clamor; mas se a tribulação da Igreja e do Corpo de Cristo continua até o fim dos tempos, não só devemos dizer: eu clamo por vós, socorrei-me sem demora; mas: Quando eu grito, escutai minha voz! Minha Oração suba a Vós como incenso, e minhas mãos como oferta da tarde (Salmo 140,2).

Todo cristão sabe que esta expressão continua a ser atribuída à própria Cabeça. Porque, na verdade, foi ao cair da tarde daquele dia, que o Senhor, voluntariamente, entregou na Cruz Sua vida, para retomá-la em seguida. Também aqui estávamos representados.

Com efeito, o que estava suspenso na Cruz foi o que Ele assumiu na nossa natureza. Como será possível que o Pai rejeitasse e abandonasse algum momento Seu Filho Unigênito, sendo ambos um só Deus?

Contudo, cravando nossa frágil natureza na cruz, onde nosso homem velho, como diz o Apóstolo, foi crucificado com Cristo (Rm 6,6) clamou a voz da nossa humanidade: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? (Sl 21,2).

Eis, portanto, o verdadeiro sacrifício vespertino; a Paixão do Senhor, a Cruz do Senhor, a oblação da Vítima Salvadora, o holocausto agradável a Deus. Esse sacrifício vespertino, Ele o converteu, por Sua ressurreição, em oferenda da manhã.

Assim, a Oração que se eleva, com toda pureza, de um coração fiel, é como o incenso que sobe do altar sagrado. Não há aroma mais agradável a Deus: Possam todos os fiéis oferecê-los ao Senhor. 

Por isso, o nosso homem velho – são palavras do Apóstolo – foi crucificado com Cristo, para que seja destruído o corpo do pecado, de maneira a não mais servirmos ao pecado (Rm 6,6).” (1)

Percorrendo o itinerário quaresmal à luz deste Comentário, recoloquemos a vida nos “trilhos da salvação”, com suas renúncias e sacrifícios próprios.


(1) Cf. L. Horas - Vol. II - pp. 149-150

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