“Parênteses de luz”
É sempre tempo favorável de conversão e, também, de oração,
em que nos abrimos e mergulhamos nos insondáveis Mistérios Divinos.
“O abandono das certezas, das seguranças jamais é total.
Permanece sempre, no fundo, a lembrança e a saudade da terra em que se
habitava.
Nos apóstolos chamados a seguir a Cristo permanece a
interrogação de quem seria realmente Aquele a quem ouviram e por quem
abandonaram sua terra. Sua vida oculta, Seu messianismo tão diferente do que
esperavam deixam algo de duvidoso.
Jesus toma a iniciativa e Se manifesta sob outra forma que
revela Seu verdadeiro ser, Sua majestade divina: concede aos apóstolos
contemplar o fim que O espera. Assim, os discípulos podem ver que o Servo
repelido e incompreendido é o Filho do homem descrito por Daniel.
A condição humana, frágil e oculta, é apenas um tempo de
passagem, um parênteses. Com essa antecipação da glória de que se revestirá no
momento da Ressurreição, a fé dos discípulos deveria sair reanimada, confirmada
(Evangelho).”
Retomemos duas afirmações: “(Jesus) concede aos apóstolos
contemplar o fim que O espera...” e “A condição humana, frágil e oculta,
é apenas um tempo de passagem, um parêntesis.”
Há um fim glorioso, por nós, esperado, a glória dos céus que
Jesus lhes dá a possibilidade contemplar. Alguém muito bem assim expressou:
“é como uma gota de mel em meio às amarguras.”
Se não tivessem estes parênteses de luz como suportariam as
dificuldades, provações, perseguições um pouco mais tarde, como de fato elas se
multiplicaram avassaladora e crudelissimamente...
Não tivessem esta experiência, com certeza esmoreceriam,
desanimariam, recuariam e a missão de anúncio do Reino, da construção de um
novo céu e uma nova terra consistiria num terrível fracasso.
A fé na Ressurreição, a espera da glória futura, a coroa da
justiça reservada aos justos é sempre uma boa nova que nos impulsiona.
Quanto à segunda, somos um “parênteses”, um momento, uma
história a ser escrita com coragem e ousadia, para ser prolongada na
eternidade.
Nossa história, se escrita com confiança no Absoluto, terá
sua continuidade desabrochando em páginas infinitas na eternidade.
Mas como somos frágeis, limitados, por vezes temerosos,
incrédulos, precisávamos e precisamos de “momentos de luz” para que se renove
em nós a certeza de que as trevas não prevalecerão para sempre. Afinal, Ele
mesmo disse: “quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”
(João 8,12).
A Celebração Eucarística é o ápice deste momento de luz,
quando ao topo do Monte Sagrado subimos para escutarmos o Filho amado e o que
Ele tem para nos dizer.
Escutando não podemos fixar tendas nas “Montanhas”, mas
descermos corajosamente à Planície de nosso quotidiano, também nos encontrando
com Ele que Se apresenta com múltiplas feições.
Muitas vezes desfigurado, faminto, sedento, preso, nu,
carente do essencial para viver clamando por transfiguração.
Parênteses de luz para iluminar as trevas do quotidiano
quem dele não precisa?
Que momentos de luz sejam multiplicados na vida de cada
de um de nós, para que o parênteses que somos possa ser invadido pelo brilho do
esplendor divino.
Que as trevas cedam lugar à luz, o pecado à graça, a
morte à vida.
Que passemos verdadeiramente do parênteses provisório que somos ao parêntese eterno que seremos...
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