Oh,
admirável intercâmbio fará o Deus Menino!
A Liturgia das horas
nos apresenta um Sermão do Gregório de Nazianzo (Séc. IV) sobre
o admirável intercâmbio fará o Deus Menino!
“O
próprio Filho de Deus, que existe desde toda a eternidade, o invisível, o
incompreensível, incorpóreo, princípio que procede do princípio, a luz nascida
da luz, a fonte da vida e da imortalidade, a expressão do arquétipo divino, o
selo inamovível, a imagem perfeita, a palavra e o pensamento do Pai, vem em
ajuda da criatura feita à Sua imagem, e por amor do homem Se faz homem.
Para
purificar aqueles de quem Se tornou semelhante, assume tudo o que é humano,
exceto o pecado. Foi concebido por uma Virgem, já santificada pelo Espírito
Santo no corpo e na alma, para honrar a maternidade e ao mesmo tempo exaltar a
excelência da virgindade; e assumindo a humanidade sem deixar de ser Deus, uniu
em Si mesmo duas realidades contrárias, a saber, a carne e o espírito. Uma
delas conferiu a divindade, a outra recebeu-a.
Aquele
que enriquece os outros torna-se pobre. Aceita a pobreza de minha condição
humana para que eu possa receber os tesouros de Sua divindade. Aquele que
possui tudo em plenitude, aniquila-Se a Si mesmo; despoja-Se de Sua glória por
algum tempo, para que eu participe de Sua plenitude.
Quais
são essas riquezas da bondade? Qual é esse mistério que me concerne? Recebi a
imagem divina, mas não soube conservá-la. Ele assumiu a minha condição humana
para restaurar a perfeição dessa imagem e dar a imortalidade a esta minha
condição mortal. Assim estabelece conosco uma segunda aliança, muito mais
admirável que a primeira.
Convinha
que a santidade fosse dada ao homem mediante a humanidade assumida por Deus.
Convinha que Ele triunfasse desse modo sobre o tirano que nos subjugava, para
nos restituir a liberdade e reconduzir-nos a Si através de Seu Filho, nosso
Mediador; e Cristo realizou, de fato, esta obra redentora para a glória de Seu
Pai, que era o objetivo de todas as Suas ações.
O
Bom Pastor, que dá a vida por Suas ovelhas, veio ao encontro da que estava
perdida, procurando-a pelos montes e colinas onde tu sacrificavas aos ídolos;
tendo-a encontrado, tomou-a sobre Seus ombros – os mesmo que carregaram a Cruz
– reconduzindo-a à vida eterna.
Depois
daquela tênue lâmpada do Precursor, veio a Luz claríssima de Cristo; depois da
voz, veio a Palavra; depois do amigo do esposo, o Esposo. O Senhor veio depois
daquele que lhe preparou um povo perfeito, predispondo os homens, por meio da
Água purificadora, para receberem o Batismo do Espírito.
Foi
necessário que Deus Se fizesse homem e morresse, para que tivéssemos a vida.
Morremos com Ele para sermos purificados; ressuscitamos com Ele porque com Ele
morremos. Fomos glorificados com Ele, porque com Ele ressuscitamos”.
A acolhida deste Sermão
não permitirá que façamos do Natal uma festa de comidas e bebidas, tão apenas.
Sua reflexão fará resplandecer a Luz Divina em nossos corações e,
simultaneamente, o transbordamento do Amor Divino que assumiu nossa condição
humana, fazendo-se semelhante a nós em tudo menos no pecado.
Oh, admirável intercâmbio fará o Deus Menino! Exclamaremos muitas
vezes, contemplando o menino deitado na Manjedoura. Seus bracinhos tão frágeis
serão os fortes e sangrentos braços carregando a Cruz do meu pecado.
São os mesmos braços dilacerados que na Cruz se abrirão para acolher
nossa condição pecadora, redimindo-nos de nossos pecados, abrindo as portas da
eternidade.
Mesmos ombros que, por infinita misericórdia, suportou e suporta o peso
de nossa existência, com tudo o que somos, por mais pecadores que sejamos!
Se nos ombros carregou é porque antes no Seu Coração estávamos, e certo
de que pela espada, trespassado seria, para que dilatado, nele
coubéssemos.
Ah, é próprio de quem ama como o Cristo
Senhor ter o coração dilatado, para que exultantes e amados, deliciosamente nos
sintamos. Amém!
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