terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Oh, admirável intercâmbio fará o Deus Menino! (02/12)

                                                 

Oh, admirável intercâmbio fará o Deus Menino!
 
A Liturgia das horas nos apresenta um Sermão do Gregório de Nazianzo (Séc. IV) sobre o admirável intercâmbio fará o Deus Menino!
 
“O próprio Filho de Deus, que existe desde toda a eternidade, o invisível, o incompreensível, incorpóreo, princípio que procede do princípio, a luz nascida da luz, a fonte da vida e da imortalidade, a expressão do arquétipo divino, o selo inamovível, a imagem perfeita, a palavra e o pensamento do Pai, vem em ajuda da criatura feita à Sua imagem, e por amor do homem Se faz homem.
 
Para purificar aqueles de quem Se tornou semelhante, assume tudo o que é humano, exceto o pecado. Foi concebido por uma Virgem, já santificada pelo Espírito Santo no corpo e na alma, para honrar a maternidade e ao mesmo tempo exaltar a excelência da virgindade; e assumindo a humanidade sem deixar de ser Deus, uniu em Si mesmo duas realidades contrárias, a saber, a carne e o espírito. Uma delas conferiu a divindade, a outra recebeu-a.
 
Aquele que enriquece os outros torna-se pobre. Aceita a pobreza de minha condição humana para que eu possa receber os tesouros de Sua divindade. Aquele que possui tudo em plenitude, aniquila-Se a Si mesmo; despoja-Se de Sua glória por algum tempo, para que eu participe de Sua plenitude.
 
Quais são essas riquezas da bondade? Qual é esse mistério que me concerne? Recebi a imagem divina, mas não soube conservá-la. Ele assumiu a minha condição humana para restaurar a perfeição dessa imagem e dar a imortalidade a esta minha condição mortal. Assim estabelece conosco uma segunda aliança, muito mais admirável que a primeira.
 
Convinha que a santidade fosse dada ao homem mediante a humanidade assumida por Deus. Convinha que Ele triunfasse desse modo sobre o tirano que nos subjugava, para nos restituir a liberdade e reconduzir-nos a Si através de Seu Filho, nosso Mediador; e Cristo realizou, de fato, esta obra redentora para a glória de Seu Pai, que era o objetivo de todas as Suas ações.
 
O Bom Pastor, que dá a vida por Suas ovelhas, veio ao encontro da que estava perdida, procurando-a pelos montes e colinas onde tu sacrificavas aos ídolos; tendo-a encontrado, tomou-a sobre Seus ombros – os mesmo que carregaram a Cruz – reconduzindo-a à vida eterna.
 
Depois daquela tênue lâmpada do Precursor, veio a Luz claríssima de Cristo; depois da voz, veio a Palavra; depois do amigo do esposo, o Esposo. O Senhor veio depois daquele que lhe preparou um povo perfeito, predispondo os homens, por meio da Água purificadora, para receberem o Batismo do Espírito.
 
Foi necessário que Deus Se fizesse homem e morresse, para que tivéssemos a vida. Morremos com Ele para sermos purificados; ressuscitamos com Ele porque com Ele morremos. Fomos glorificados com Ele, porque com Ele ressuscitamos”.  
 
A acolhida deste Sermão não permitirá que façamos do Natal uma festa de comidas e bebidas, tão apenas. Sua reflexão fará resplandecer a Luz Divina em nossos corações e, simultaneamente, o transbordamento do Amor Divino que assumiu nossa condição humana, fazendo-se semelhante a nós em tudo menos no pecado.

Oh, admirável intercâmbio fará o Deus Menino! Exclamaremos muitas vezes, contemplando o menino deitado na Manjedoura. Seus bracinhos tão frágeis serão os fortes e sangrentos braços carregando a Cruz do meu pecado.

São os mesmos braços dilacerados que na Cruz se abrirão para acolher nossa condição pecadora, redimindo-nos de nossos pecados, abrindo as portas da eternidade.

Mesmos ombros que, por infinita misericórdia, suportou e suporta o peso de nossa existência, com tudo o que somos, por mais pecadores que sejamos!

Se nos ombros carregou é porque antes no Seu Coração estávamos, e certo de que pela espada, trespassado seria, para que dilatado, nele coubéssemos. 

Ah, é próprio de quem ama como o Cristo Senhor ter o coração dilatado, para que exultantes e amados, deliciosamente nos sintamos. Amém!


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