Doce e amarga é a Palavra do Senhor
“Na boca era doce como mel, mas quando o engoli,
meu estômago tornou-se amargo” (Ap 10,10)
Com a passagem do Livro do Apocalipse (Ap 10, 8-11), refletimos sobre a importância da Palavra de Deus para quem professa a fé.
Além do duplo aspecto (doçura-amargor) que possui, ela deve ser antes interiorizada por quem a acolhe e nela acredita, para viver coerentemente:
“É doce como o mel, porque a Palavra de Deus comunica sentimentos de doçura e de conforto aos homens, mas ao mesmo tempo é muito amargo, porque o seu anúncio pode comportar dificuldades, provas e perseguições” (1)
Este processo tem exigência própria, porque coloca a nu nossa realidade e contradições, e não é como a palavra humana que pode ser combatida, revogada, com possíveis álibis, escapatórias, réplicas, tréplicas, divergências, contraposições, concepções divergentes, ou outras tantas possibilidades.
Acolhê-la implica vencer todo medo de ouvi-La, permitindo que penetre em nossa alma, com suas interpelações de mudança, conversão, redirecionamento de caminhos e propósitos, porque, de fato, a Palavra divina é irrevogável, questionadora, reveladora do mais profundo de cada um de nós.
Não é uma Palavra que anestesia ou legitima nossos caprichos e quereres, pois nem sempre nossa vontade corresponde à vontade divina, assim como nosso tempo, definitivamente, não é o tempo de Deus.
Na impossibilidade de refutá-la ou sufocá-la, ou pelo medo do compromisso, é possível que a esvaziemos de sua força revolucionária, flexibilizando-a e a condicionando aos nossos caprichos, até mesmo para que se torne agradável e aceitável por parte também dos que nos ouvem.
Não nos é dado este direito da parte de Deus, pois a Palavra Divina não se presta a manipulações de quaisquer motivações.
O anúncio da Palavra não se faz para a multiplicação de adeptos e seguidores de si mesmo, mas do Verbo que Se fez Carne e habitou entre nós.
Concluo com as palavras do Missal Cotidiano:
“Mas se a Palavra de Deus é ‘amarga por vezes, também é cheia de doçura para quem a aceita e se esforça por vivê-la. Garante a liberdade, a segurança, a paz, a salvação; dá-nos a coragem de atualizá-la e transmiti-la aos outros como mais precioso dom”. (2)
(1) Lecionário Comentado – Editora Paulus – 2013 – p.834
(2) Missal Cotidiano Editora Paulus - 1997 – pp.1520-1521)
PS: Livre adaptação do comentário do Missal Cotidiano
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