A parábola do servo sem
compaixão
Aprofundando a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 18,21-35); voltemo-nos para a Bula “Misericordiae Vultus”, do Papa Francisco, quando da declaração do Ano da Misericórdia (08/12/15 - 20/11/16).
“Temos depois outra
parábola da qual tiramos uma lição para o nosso estilo de vida cristã.
Interpelado pela
pergunta de Pedro sobre quantas vezes fosse necessário perdoar, Jesus
respondeu: « Não
te digo até sete vezes, mas até
setenta vezes sete » (Mt 18, 22) e contou a parábola do « servo sem compaixão ».
Este, convidado pelo
senhor a devolver uma grande quantia, suplica-lhe de joelhos e o senhor
perdoa-lhe a dívida. Mas,
imediatamente depois, encontra outro servo como ele, que lhe devia poucos centésimos;
este suplica-lhe de joelhos que tenha piedade, mas aquele recusa-se e fá-lo
meter na prisão.
Então o senhor,
tendo sabido do fato, zanga-se muito e, convocando aquele servo, diz-lhe: « Não
devias também ter piedade do teu
companheiro, como eu tive de ti? » (Mt 18, 33). E Jesus concluiu: « Assim procederá
convosco meu Pai celeste, se cada um de vós
não perdoar ao seu irmão
do íntimo do coração » (Mt 18, 35).
A parábola contém um
ensinamento profundo para cada um de nós. Jesus declara que a misericórdia não
é apenas o agir do Pai, mas torna-se o critério para individuar quem são os Seus
verdadeiros filhos.
Em suma, somos
chamados a viver de misericórdia, porque, primeiro, foi usada misericórdia para
conosco. O perdão das ofensas torna-se a expressão mais evidente do amor
misericordioso e, para nós cristãos, é um imperativo de que não podemos
prescindir.
Tantas vezes, como
parece difícil perdoar! E, no entanto, o perdão é o instrumento colocado nas
nossas frágeis mãos para alcançar a serenidade do coração.
Deixar de lado o
ressentimento, a raiva, a violência e a vingança são condições necessárias para
se viver feliz. Acolhamos, pois, a exortação do Apóstolo: « Que o sol não
se ponha sobre o vosso ressentimento » (Ef 4, 26). E sobretudo escutemos a palavra
de Jesus que colocou a misericórdia como um ideal de vida e como critério de credibilidade para a nossa fé: « Felizes
os misericordiosos, porque alcançarão
misericórdia » (Mt 5, 7) é a bem-aventurança a que devemos inspirar-nos, com particular
empenho, neste Ano Santo.
Na Sagrada
Escritura, como se vê, a misericórdia é a palavra-chave para indicar o agir de
Deus para conosco. Ele não Se limita a afirmar o Seu amor, mas torna-o visível
e palpável. Aliás, o amor nunca poderia ser uma palavra abstrata. Por sua
própria natureza, é vida concreta: intenções, atitudes, comportamentos que se
verificam na atividade de todos os dias.
A misericórdia de
Deus é a Sua responsabilidade por nós. Ele sente-Se responsável, isto é, deseja
o nosso bem e quer ver-nos felizes, cheios de alegria e serenos. E, em sintonia
com isto, se deve orientar o amor misericordioso dos cristãos. Tal como ama o
Pai, assim também amam os filhos. Tal como Ele é misericordioso, assim somos
chamados também nós a ser misericordiosos uns para com os outros.”
Contemplamos
a misericórdia divina através da parábola, em que Jesus nos apresenta a
pergunta de Pedro, sobre quantas vezes se deve perdoar um irmão: deve-se
perdoar setenta vezes sete, ou seja, o perdão se expressa em plenitude
ilimitada.
Jesus,
de fato, é o rosto da misericórdia divina:
“Jesus Cristo é o
rosto da misericórdia do Pai. O mistério da fé cristã parece encontrar nestas
palavras a sua síntese. Tal misericórdia tornou-se viva, visível e atingiu o
seu clímax em Jesus de Nazaré” (Misericodiae vultus” – Papa Francisco).
Sejam
nossas comunidades lugar do aprendizado e da vivência do perdão, que deverá ser
vivido em todos os âmbitos e em todo o tempo, como sinal do Reino de Deus.
PS: A dívida do servo
perdoado era exorbitante (10.000 talentos; sendo que um talento equivale a 6000
denários; 1 denário equivalente a um dia de trabalho). Seriam necessários mais
de 165.000 anos para pagamento de sua
dívida. De outro lado, a dívida não perdoada por ele em relação ao seu devedor
era de apenas 100 denários, ou seja, menos de um terço de dias de trabalho de
um ano: conclusão – de fato, o amor de Deus por nós é pleno e ilimitado
(exorbitante). De acordo com a nota da Bíblia de Jerusalém, 10.000 talentos
equivale a 174 toneladas de ouro; 100 denários a 0,30 gramas de ouro.
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