terça-feira, 5 de março de 2024

A parábola do servo sem compaixão

 


A parábola do servo sem compaixão

 

Aprofundando a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 18,21-35); voltemo-nos para a Bula Misericordiae Vultus”, do Papa Francisco, quando da declaração do Ano da Misericórdia (08/12/15 - 20/11/16). 

“Temos depois outra parábola da qual tiramos uma lição para o nosso estilo de vida cristã.

Interpelado pela pergunta de Pedro sobre quantas vezes fosse necessário perdoar, Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete» (Mt 18, 22) e contou a parábola do «servo sem compaixão».

Este, convidado pelo senhor a devolver uma grande quantia, suplica-lhe de joelhos e o senhor perdoa-lhe a dívida. Mas, imediatamente depois, encontra outro servo como ele, que lhe devia poucos centésimos; este suplica-lhe de joelhos que tenha piedade, mas aquele recusa-se e fá-lo meter na prisão.

Então o senhor, tendo sabido do fato, zanga-se muito e, convocando aquele servo, diz-lhe: «Não devias também ter piedade do teu companheiro, como eu tive de ti?» (Mt 18, 33). E Jesus concluiu: «Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar ao seu irmão do íntimo do coração» (Mt 18, 35).

A parábola contém um ensinamento profundo para cada um de nós. Jesus declara que a misericórdia não é apenas o agir do Pai, mas torna-se o critério para individuar quem são os Seus verdadeiros filhos.

Em suma, somos chamados a viver de misericórdia, porque, primeiro, foi usada misericórdia para conosco. O perdão das ofensas torna-se a expressão mais evidente do amor misericordioso e, para nós cristãos, é um imperativo de que não podemos prescindir.

Tantas vezes, como parece difícil perdoar! E, no entanto, o perdão é o instrumento colocado nas nossas frágeis mãos para alcançar a serenidade do coração.

Deixar de lado o ressentimento, a raiva, a violência e a vingança são condições necessárias para se viver feliz. Acolhamos, pois, a exortação do Apóstolo: «Que o sol não se ponha sobre o vosso ressentimento» (Ef 4, 26). E sobretudo escutemos a palavra de Jesus que colocou a misericórdia como um ideal de vida e como critério de credibilidade para a nossa fé: «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia» (Mt 5, 7) é a bem-aventurança a que devemos inspirar-nos, com particular empenho, neste Ano Santo.

Na Sagrada Escritura, como se vê, a misericórdia é a palavra-chave para indicar o agir de Deus para conosco. Ele não Se limita a afirmar o Seu amor, mas torna-o visível e palpável. Aliás, o amor nunca poderia ser uma palavra abstrata. Por sua própria natureza, é vida concreta: intenções, atitudes, comportamentos que se verificam na atividade de todos os dias.

A misericórdia de Deus é a Sua responsabilidade por nós. Ele sente-Se responsável, isto é, deseja o nosso bem e quer ver-nos felizes, cheios de alegria e serenos. E, em sintonia com isto, se deve orientar o amor misericordioso dos cristãos. Tal como ama o Pai, assim também amam os filhos. Tal como Ele é misericordioso, assim somos chamados também nós a ser misericordiosos uns para com os outros.”

Contemplamos a misericórdia divina através da parábola, em que Jesus nos apresenta a pergunta de Pedro, sobre quantas vezes se deve perdoar um irmão: deve-se perdoar setenta vezes sete, ou seja, o perdão se expressa em plenitude ilimitada.

Jesus, de fato, é o rosto da misericórdia divina:

“Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. O mistério da fé cristã parece encontrar nestas palavras a sua síntese. Tal misericórdia tornou-se viva, visível e atingiu o seu clímax em Jesus de Nazaré” (Misericodiae vultus” – Papa Francisco).

Sejam nossas comunidades lugar do aprendizado e da vivência do perdão, que deverá ser vivido em todos os âmbitos e em todo o tempo, como sinal do Reino de Deus.

 

PS: A dívida do servo perdoado era exorbitante (10.000 talentos; sendo que um talento equivale a 6000 denários; 1 denário equivalente a um dia de trabalho). Seriam necessários mais de 165.000  anos para pagamento de sua dívida. De outro lado, a dívida não perdoada por ele em relação ao seu devedor era de apenas 100 denários, ou seja, menos de um terço de dias de trabalho de um ano: conclusão – de fato, o amor de Deus por nós é pleno e ilimitado (exorbitante). De acordo com a nota da Bíblia de Jerusalém, 10.000 talentos equivale a 174 toneladas de ouro; 100 denários a 0,30 gramas de ouro.

 

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