sexta-feira, 1 de março de 2024

Como argila nas mãos de Deus

                                                      


Como argila nas mãos de Deus

“O Senhor Deus plasmou o homem com o pó da terra”
(Gn 2,7)

Em tempos em que não havia a disponibilidade tão fácil de acesso, mantinha sempre uma pasta com mensagens que via ou que recebia, para compartilhá-las em momento oportuno.

Hoje retomei a pasta, e dentre tantas mensagens e reflexões, uma me chamou a atenção:

“Eu, naquele entardecer da criação, senti passos no jardim. Era Ele, o Senhor da criação. Acontece que, nesse entardecer, Ele parou, inclinou-se, com um olhar carregado de amor. E, de repente, juntou-me do chão, a mim, pobre e pequeno punhado de terra e ficou a me olhar pensativo… Remexeu-me longamente… longamente… com todo o carinho!

E, então, começou a me amassar: primeiro, retirou de mim uma porção de impurezas que O atrapalhavam: pedrinhas, pedacinhos de pau, ciscos. E eu fui ficando terra pura, do Seu gosto. Fez ainda operações, que eu não compreendia, nem poderia compreender: “Pode por acaso um vaso dizer ao oleiro: eu entendo disso mais do que você?”  (Is 29,16).

Eu nada perguntei. Oferecia simplesmente o meu ser em disponibilidade de amor. Deixava-me trabalhar. Deixava que Ele me fizesse. Porque eu sabia que era obra sua e que ele transformava com amor.

De fato, fui tomando forma. Uma forma à maneira sua, à sua imagem! Para que haveria eu de servir no futuro? Eu não o sabia. “Como argila nas mãos de um oleiro, assim estava eu em Suas mãos” (Jr 18, 6).

E fui-me tornando obra de Deus. “E ele aplicava seu coração em aperfeiçoar-me, pondo cuidado vigilante em tornar-me belo e perfeito” (Eclo 38, 31).

Depois, veio uma etapa difícil. Porque foi um forno superaquecido que ao barro vejo dar força e consistência. É o calor e o valor de minha vida que leva a bom termo a obra de Suas mãos, o Senhor Criador.

A cada vaso muito querido, Ele dá contornos de eternidade. Então, comecei a olhar em torno de mim. E descobri outros vasos que Suas mãos hábeis e cheias de amor haviam amassado e modelado artisticamente. Sem Se cansar, dava Ele mais outra demão aqueles que não haviam saído bem.

Cada um tinha sua forma e sua cor, sem dúvida, isso conforme a destinação no mundo. Mas, do mais humilde ao mais rico, todos eram lindos, todos bem feitos. Ele nos tinha feito como Ele bem queria (…).

“Pode, por ventura, um vaso perguntar ao oleiro: por que me fizeste assim? Não tem o oleiro poder sobre o barro para fazer da mesma argila um vaso de uso nobre e outro de uso vulgar?” (Rm 9, 20-21).

Ó Oleiro Divino, Criador e Pai, permite que se cumpra em mim a obra que começaste. Seja meu projeto o Teu Projeto sobre mim!” (1).

Somos exatamente como um barro na mão do Oleiro Divino, que nos criou por amor e nos modela segundo o Seu querer, aperfeiçoando-nos.

Uma obra nas mãos de Deus, inacabada, imperfeita, com suas inquietações, múltiplas possibilidades, no exercício do livre arbítrio que nos concedeu.

Por vezes não compreendemos determinados fatos em nossa vida, e somente algum tempo depois, é que vamos descobrir o quanto eles puderam e nos ajudaram em nosso amadurecimento e crescimento em todos os aspectos.

Vivendo este tempo de quarentena, aproveitemos para avaliarmos o quanto, de fato, cada um de nós está se deixando modelar pela mão divina, para que correspondamos aos Seus desígnios e Projeto.

Como barro nas mãos divinas, felizes e plenos de vida seremos (Jo 10,10).

(1)         D. Estevão Bettencourt, osb

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