segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

O Senhor nos confiou o Seu Espírito

 


O Senhor nos confiou o Seu Espírito

“Assim o Pai dá ao Filho Seu próprio Espírito,

a fim de que em Cristo também nós O recebamos

 

Sejamos enriquecidos pelo Comentário sobre o Evangelho de São João, escrito pelo Bispo São Cirilo de Alexandria (Séc. V), em que nos fala da efusão do Espírito Santo sobre todos nós.

“Tendo o Criador do universo decidido restaurar todas as coisas em Cristo, dentro da mais admirável e perfeita ordem, e restituir à natureza humana sua condição original, prometeu, junto com os outros dons que daria copiosamente, conceder o Espírito Santo. Pois, de outro modo o homem não poderia ser reintegrado na posse tranquila e permanente desses dons.

Determinou, portanto, o tempo em que o Espírito Santo desceria sobre nós, isto é, o da vinda de Cristo, prometendo com estas palavras: Naqueles dias, a saber, nos dias do Salvador, derramarei meu Espírito sobre todo ser humano (Jl 3,1). Quando esse tempo de imensa e gratuita liberalidade trouxe ao mundo o Filho Unigênito encarnado, isto é, como homem nascido de mulher, segundo a Sagrada Escritura, novamente Deus Pai nos concedeu o Seu Espírito, sendo Cristo o primeiro a recebê-lo como primícias da natureza renovada. João Batista o testemunhou dizendo: Eu vi o Espírito descer do céu, e permanecer sobre Ele (Jo 1,32).

Afirma-se que Cristo recebeu o Espírito enquanto homem e enquanto convinha ao homem recebê-lo; embora seja Filho de Deus Pai e gerado de sua substância, mesmo antes da encarnação, e mais ainda, antes de todos os séculos, não Se ofende ao ouvir Deus Pai declarar-lhe, depois que Se fez homem: Tu és meu Filho, e Eu hoje Te gerei (Sl 2,7).

O Pai diz que foi gerado hoje aquele que antes dos séculos era Deus, gerado por Ele, para receber-nos em Cristo como filhos adotivos. Com efeito, toda a natureza humana se encontra em Cristo enquanto homem. Assim o Pai dá ao Filho Seu próprio Espírito, a fim de que em Cristo também nós O recebamos. Por esse motivo, Cristo veio em auxílio da descendência de Abraão, como está escrito, e tornou-Se em tudo semelhante a Seus irmãos.

O Unigênito de Deus não recebeu o Espírito Santo para Si mesmo; com efeito, esse Espírito que é Seu, nos é dado n’Ele e por Ele, como já dissemos antes, pois, tendo-Se feito homem, tinha em Si a totalidade da natureza humana, a fim de restaurá-la toda e restituir-lhe a integridade original. Podemos ver assim – se quisermos aplicar um reto raciocínio e os testemunhos da Escritura – que Cristo não recebeu o Espírito Santo para Si mesmo, mas para que O recebêssemos n’Ele; pois é também por Ele que recebemos todos os bens.”

Vemos o motivo pelo qual Jesus Cristo foi batizado, o Filho de Deus, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

Embora sendo Deus, é batizado por João Batista nas águas do rio Jordão a fim que nos seja dado n’Ele, Jesus, e por Ele, o Espírito Santo, pois não recebeu o Espírito para Si mesmo, mas para nos comunicá-lo, quando da graça do batismo celebrado.

Glorifiquemos a Deus por esta graça, renovando as promessas batismais, a fim de que as vivamos mais intensa e frutuosamente a serviço do Reino de Deus, partícipes de uma Igreja verdadeiramente Sinodal, povo de Deus a caminho, na participação, comunhão e missão, como nos exorta o Papa Francisco.

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