Anunciar o Evangelho na cidade
Como pensar a pastoral na cidade, quando vivemos mais do que uma época de mudanças, uma verdadeira “mudança de época”, envolvendo culturas, costumes, pessoas, ideologias, religiões etc.
Esta é também a inquietação do Papa Francisco, acentuada em sua primeira Exortação Evangelii Gaudium:
- Como ser Igreja missionária, uma Igreja em saída neste contexto social e religioso?
- Como responder aos enormes desafios na evangelização das cidades, nas quais, seus habitantes vivem realidades dinâmicas, com deslocamento rápido das pessoas para o trabalho e lazer, e os espaços físicos diversificados, desafio das moradias, trabalho, lazer, participação religiosa e local de habitação dos familiares.
- Como ser presença da Igreja em grandes concentrações da população em conglomerados urbanos, esvaziando a zona rural.
O Cardeal Arcebispo de Barcelona, na Espanha, organizou um Congresso Internacional sobre a Pastoral nas Grandes Cidades, e de 20 a 22 de maio de 2014, em Barcelona, houve um fórum com especialistas do mundo inteiro para aprofundar o tema.
Do fórum de especialistas resultou um Documento síntese com situações, propostas e perguntas. A segunda fase do trabalho foi com os Cardeais, Arcebispos e Bispos, que se debruçaram sobre esses temas de 24 a 26 de novembro do mesmo ano.
Do encontro dos Bispos de 25 Circunscrições Eclesiásticas, que abrangem várias regiões metropolitanas, para troca de experiência e discussão sobre a Pastoral Urbana, foi elaborado Documento síntese final, apresentando caminhos para enfrentar os desafios de evangelização nas grandes cidades.
O evento teve o seu encerramento com Missa no Vaticano e encontro com o Papa Francisco, na cidade eterna, no dia 27 de novembro de 2014.
Alguns desafios foram levantados para a evangelização na realidade urbana:
- As habitações com os prédios, com muitos apartamentos,
- Os aglomerados nas periferias;
- Os condomínios, com suas leis e exigências;
- As típicas favelas urbanas;
- O poder do sistema de comunicação em que a pessoa, nos tempos de modernidade e na realidade urbana, está sendo bombardeada por tantas informações que a deixam indiferente ou inerte diante dos valores inerentes ao próprio ser humano, como pessoa constitutiva dessa realidade social e religiosa;
- E, com isto, a consequência do isolamento, apesar de se estar no meio de tanta gente e com tantos meios de comunicação;
- O cultivo de um relativismo religioso, ético e social; sem compromisso com Deus, com a religião, com sua fé e com a sociedade;
- O individualismo e relativismo como grande desafio para a religião e para a evangelização nos múltiplos ambientes das grandes cidades;
- Grandes massas que se formam nessas megalópoles, nas quais as pessoas perdem sua identidade e os valores humanos, parte importante de sua cidadania social e religiosa;
- Estamos muito próximo e, ao mesmo tempo, muito longe uns dos outros. Tanto nas residências, como nos ônibus, metrôs, trens, barcas, aviões.
Há, portanto, no processo de evangelização, a necessidade de confiar na ação do Espírito Santo e aplicar maneiras de evangelizar diferenciadas, contando também com o apoio das ciências humanas, de modo que o humano assume a mediação da ação de Deus na história.
É preciso ser presença profética nessa realidade, para levantar a voz em relação às questões de valores e princípios do Reino de Deus.
Participar, efetivamente, para que se construa uma sociedade em que se viva a civilização do amor, construindo a paz e sendo portadora da esperança.
Numa realidade em que as novas mídias sociais se multiplicam abundantemente, podemos estar próximos fisicamente e longe, com as preocupações e diálogos, longe da realidade que pisamos.
A grande interrogação:
Como chegar ao homem de hoje com o anúncio do Evangelho que salva e liberta nesta “floresta de cimento”?
Somos chamados a ver a presença de Deus nas grandes cidades: “Deus vive nessas grandes metrópoles”, Deus está em seu meio, Deus habita nestas cidades: é essa constatação que a evangelização de hoje é chamada a descobrir – tornar essa presença mais visível ao homem que habita a grande cidade.
Deus é grande demais para se submeter e limitar às minhas elaborações e à minha imaginação – é um Deus pessoal e não individual, um Deus que Se fez homem, não um homem que faz Deus.
Viver nas grandes urbes não deve significar uma autonomia fria e distante de um Deus que Se fez carne, quis ter um rosto e falou ao homem de todos os tempos e de todas as nações, do campo ou da cidade.
A missão começa na casa, junto aos vizinhos, no bairro, na sua cidade e dispõe de variados e eficazes meios, além do pessoal e da proximidade, que são insubstituíveis e de grande importância, complementados com a internet, redes sociais, celular, entre muitos outros.
Vivemos um estado permanente de missão e precisamos de uma constante conversão pastoral para exercer bem a nossa missão territorial e ambiental, trabalhando juntos – diversidade na unidade.
Necessitamos uns dos outros nessa missão evangelizadora; é preciso viver o acolhimento e aceitação e, ao mesmo tempo, fortalecer os vínculos de unidade e fraternidade.
A missão permanente supõe também pessoas renovadas e que aprofundaram suas vidas na opção pelo Cristo e, deste modo, a iniciação Cristã é fundamental:
“A Palavra acolhida, vivida, celebrada, nos leva a acolher as pessoas com suas feridas e dificuldades, e propor a todos a ‘Boa Notícia’ da salvação misericordiosa que Cristo nos conquistou com Sua morte e ressurreição.”
Conclui o Cardeal:
“O grande desafio é encontrar Deus na grande cidade e anunciá-Lo aos nossos irmãos e irmãs!”.
Síntese da Mensagem do Cardeal Dom Orani João Tempesta - Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ) – cf. www.cnbb.org.br/
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