terça-feira, 1 de outubro de 2024

“A necessidade e o limite”

“A necessidade e o limite”

Somos o resultado de uma sucessão de fatos vividos, assimilados, rezados, amadurecidos. Portanto, é preciso que revisitemos a História, e a nossa própria história, assegurando viagem frutuosa para o futuro…

A beleza da vida consiste em aprender a viver equilibradamente, sobriamente… Entre a necessidade e o limite.

Por três anos, coloquei Ministério Presbiteral a mim confiado, pelo Sacramento da Ordem, a serviço da Diocese de Ji-Paraná (Ro),  junto às comunidades que me conquistaram, dia pós dia; na evangelização da mesmas; formação, inserção na vida do povo, com seus dramas e alegrias; no trabalho de formação junto aos seminaristas do Propedêutico e outras tantas atividades que poderiam ser mencionadas.

No entanto, houve a necessidade da volta conflitando com o desejo de permanecer. Tudo isto me levou a refletir sobre a relação entre a real necessidade e nossos limites, e a necessária tomada de uma difícil decisão.

Viver momentos de decisão oferece a oportunidade de refletirmos que somente Deus é Ilimitado, Infinito em possibilidades, Absoluto, Onipresente e Onisciente. Nós, humanos, limitados, imperfeitos e incapazes de responder a todos os apelos que nos cercam.

Passamos toda a nossa vida nesta procura do equilíbrio entre a necessidade e nossos limites. Nem opulência, nem carência, mas a exata medida, para que possamos encontrar a verdadeira realização.

Necessidades humanas respondidas com os nossos limites humanos, eis o que nos propõe o Apóstolo Paulo: “A graça de Deus se manifestou para a salvação de todos os homens. Essa graça nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas, para vivermos neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade, aguardando a bendita esperança, isto é, a manifestação da glória de Jesus Cristo, nosso grande Deus e Salvador” (Tt 2,11-13).

Vivia um amor pela Diocese de Guarulhos e a de Ji-Paraná. Duas realidades tão distintas e tão próximas dentro de mim. Incardinado (pertencente à Diocese de Guarulhos), sou o que sou graças a tudo o que ela me ofereceu. Como missionário, fui o que fui também por tudo que ela também me ofereceu.

Como disse o poeta Carlos Drumonnd de Andrade:

“Meu Deus, por que me abandonaste
Se sabias que eu não era Deus
Se sabias que eu era fraco.

Mundo, mundo vasto mundo
Se eu me chamasse Raimundo
Seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo, mundo vasto mundo,
Mais vasto é meu coração”. 

Assumir as duas realidades, mas num único amor, pois somos uma mesma Igreja. Quando se ama se vive o dilema do poeta muçulmano:

“Quando estás comigo, o amor não me deixa dormir. E quando não estás comigo, as lágrimas não me deixam dormir. Teu amor chegou ao meu coração e partiu feliz.

Depois retornou e me colocou o gosto do amor, mas mais uma vez foi embora. Timidamente pedi que ficasse comigo alguns dias. Então veio, sentou-se junto a mim e se esqueceu de partir”. 

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