quinta-feira, 6 de junho de 2024

Não percamos a essência do ser cristão


Não percamos a essência do ser cristão

Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Marcos (Mc 12,28b-34), sobre o maior Mandamento da Lei, e sejamos iluminados pelo escrito pelo Bispo e Mártir São Cipriano (séc. III).

“A vontade de Deus é aquela que Cristo cumpriu e ensinou: a humildade no comportamento, a firmeza na fé, o respeito nas palavras, a retidão nas ações, a misericórdia nas obras, a moderação nos costumes, o não ofender os outros e tolerar aquilo que nos fazem, o conservar a paz com os nossos irmãos: amar ao Senhor de todo o coração, amá-Lo enquanto Pai, temê-Lo enquanto Deus; o não preferir nada a Cristo, já que Ele nada preferiu a nós; o manter-nos inseparavelmente unidos ao Seu Amor, o estar junto à Cruz com fortaleza e confiança; e, quando está em jogo o Seu nome e Sua honra, mostrar em nossas palavras a constância da fé que professamos; nos tormentos, a confiança com que lutamos, e na morte, a paciência que nos obtém a coroa.

Isto é querer ser coerdeiro de Cristo, isto é, cumprir o Preceito de Deus e a vontade do Pai.

Pedimos que se faça a vontade de Deus no céu e na terra: ambas as coisas pertencem à consumação de nossa incolumidade e salvação.

Pois ao ter um corpo terreno e um espírito celeste, somos ao mesmo tempo céu e terra, e, em ambos, isto é, no corpo e no espírito, pedimos que se faça a vontade de Deus.

Porque existe guerra declarada entre a carne e o espírito, e um antagonismo diário entre os dois oponentes, de maneira que não fazemos o que queremos, porque enquanto o espírito deseja o celestial e divino, a carne se sente arrastada pelo terreno e temporal.

Por isso, pedimos que, com o socorro e o auxílio divino, reine a concórdia entre os dois setores em conflito, de modo a cumprir-se a vontade de Deus tanto no espírito como na carne, possa salvar-se a alma renascida por Ele no Batismo.

É o que aberta e claramente declara o Apóstolo Paulo, dizendo: ‘Porque os desejos da carne se opõem ao do Espírito, e estes aos da carne. Pois são contrários uns aos outros. É por isso que não fazeis o que quereríeis.

Ora, as obras da carne são estas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, superstição, inimizades, brigas, ciúmes, ódio, ambição, discórdia, partidos, invejas, bebedeiras, orgias e outras coisas semelhantes.

Destas coisas vos previno como já preveni: os que praticarem não herdarão o Reino de Deus! Ao contrário, o fruto do Espírito é: caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança’. (cf. na íntegra 5, 13-26).

Por isso, com Oração cotidiana e até continua, temos de pedir que no céu e na terra se cumpra a vontade de Deus sobre nós. Porque esta é a vontade de Deus: que o terreno dê lugar ao celestial e que prevaleça o espiritual e o divino”. (1)

Como vemos é uma exortação para que nada prefiramos a não ser Jesus Cristo, vivendo segundo o Espírito.

Assim vivendo teremos do Senhor, mesmos pensamentos e sentimentos, de modo que poderemos dizer como o Apóstolo Paulo: “Para mim o viver é Cristo” (Fl. 1,21)

Autênticos discípulos do Senhor seremos se soubermos dar nossa  resposta generosa e decidida, exatamente pelas provações, exigências próprias de um autêntico discipulado, que não acontece sem a cruz, inevitável para o alcance da glória eterna.

Seja a graça de Deus abundantemente em nós derramada, para nos colocarmos no caminho com o Senhor, vivendo os inseparáveis Mandamentos como distintivos do ser cristão, para que nosso discipulado seja fecundo.



(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - p.225.

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