Acolhamos este texto de São Cirilo (séc. IV), Bispo de Jerusalém, extraído de suas "Catequeses", sobre a confissão dos nossos pecados no tempo propício.
“Se há aqui alguém escravo do pecado, prepare-se pela fé para o nobre renascimento de filhos por adoção. Rejeitada a péssima escravidão dos pecados e obtida a felicíssima servidão do Senhor, seja considerado digno de alcançar a herança do Reino celeste.
Portanto despi, pela confissão, o homem velho que se vai corrompendo ao sabor dos desejos maus, a fim de revestirdes o homem novo, que se renova pelo conhecimento d’Aquele que o criou.
Adquiri pela fé a segurança do Espírito Santo de serdes acolhidos nas mansões eternas.
Aproximai-vos do místico sinal para que possais ser favoravelmente reconhecidos pelo Soberano.
Juntai-vos ao santo e racional rebanho de Cristo. Postos um dia de parte à Sua direita, entrareis assim na posse da vida preparada por herança para vós.
Com a aspereza dos pecados aderentes como pelos, estão à esquerda aqueles que não se achegam à graça de Deus concedida por Cristo no banho da regeneração. Refiro-me aqui não à regeneração dos corpos, mas ao novo nascimento espiritual da alma.
Os corpos são gerados pelos pais visíveis; a alma é gerada de novo pela fé, porque o ‘Espírito sopra onde quer’. Então, se te tornares digno, poderás ouvir: ‘Muito bem, servo bom e fiel’, quando não se encontrar em ti qualquer impureza de fingimento na consciência.
Se algum dos que aqui estão espera provocar a graça de Deus, engana-se e desconhece o valor das coisas. Tem, ó homem, alma sincera e livre de disfarce, por causa d’Aquele que perscruta corações e rins.
O tempo agora é tempo de confissão. Confessa o que cometeste por palavra, ou ação, de noite ou de dia. Confessa no tempo propício e recebe no dia da salvação o tesouro celeste.
Limpa tua jarra para conter graça mais abundante, pois a remissão dos pecados é dada igualmente a todos, mas, a comunicação do Espírito Santo é concedida a cada um segundo a fé. Se trabalhares pouco, receberás pouco; se fizeres muito, grande será a recompensa.
Corre em teu próprio proveito, vê o que te convém. Se tens algo contra outro, perdoa. Tu te aproximas para receber o perdão dos pecados; é necessário perdoar a quem te ofendeu”.
Alguns imperativos aparecem notavelmente na Catequese, retomo o último: “Limpa tua jarra para conter graça mais abundante, pois a remissão dos pecados é dada igualmente a todos, mas, a comunicação do Espírito Santo é concedida a cada um segundo a fé...”. (1)
Reconheçamos e tomemos consciência de nossos pecados, acompanhado do arrependimento, com desejo de conversão e esforço contínuo de reparação, sempre com a necessária vigilância para não incorrermos nos mesmos pecados.
Sejamos perdoados de nossos pecados, como ação do Espírito Santo que nos foi concedido naquele oitavo dia, quando o discípulos se encontravam, com as portas fechadas, com medo dos judeus, e enviados para comunicar o perdão dos pecados:
“E, havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: ‘Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos’” (Jo 20,22-23).
(1) Liturgia das Horas – Ed. Paulus – Vol. III – pp. 400-401.
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