sexta-feira, 1 de março de 2024

Uma fé autêntica nos compromete com o Reino

Uma fé autêntica nos compromete com o Reino

Refletir sobre a virtude da esperança é sempre oportuno e necessário. Muito mais que um tema, é um impulso que não nos permite acomodações, morosidades, recuos, sobretudo na vida de fé e na prática da caridade, enquanto participamos e esperamos um novo céu e uma nova terra, como tão bem expressam os autores sagrados.

Há uma esperança, com matiz messiânico, mais radicada em nós do que julgamos ou percebemos,  e esta é alimentada pelo desfalecimento e pela angústia que sentimos perante um mundo marcado por contradições, tragédias e mortes, e é mantida viva pela expectativa ansiosa da intervenção de alguém que o possa mudar radicalmente.

Quando visitamos a História percebemos que cada época teve o seu messianismo.

Com o Renascimento, havia convicção de que tinha acabado com o sono medieval, com um milênio marcado pela ignorância e pela barbárie, e tinham dado início à idade de ouro, com a recuperação dos autores clássicos.

Sucedeu um novo messianismo, o messianismo da ciência, criadora de progresso e desenvolvimento. Era a solução de todos os problemas, exceto o da morte.

O século XVII ficou marcado pelos iluministas que estavam persuadidos de terem acendido a luz da razão, depois de séculos de escuridão, em que os homens se tinham deixado guiar acriticamente por verdades reveladas pelo Céu e traduzidas em dogmas.

No século passado, foi o ápice dos messianismos ideológicos da justiça, da liberdade e da democracia, todos portadores de instâncias humanizantes, até pretenderam um culto divino, mas tornando-se ídolos, voltou-se contra o próprio homem.

Mas todas as ideologias tendem a passar, a se autocorrigir, a autogerar algo novo, e assim pode-se ficar à espera de um Salvador.

A necessidade de mudança provoca em alguns a impaciência, que leva facilmente ao fanatismo e ao recurso à violência, sobretudo quando movidos por um fundamentalismo exacerbado.

Noutros casos causa resignação, levando a dobrar-se sobre os seus limitados interesses privados.  

Para quem professa a fé em Jesus, vê n’Ele um Messias que surge todas as vezes que os sábios, os vencedores, os dominadores deste mundo são obrigados a declarar sua falência.

Cremos n’Ele e em Sua proposta de um Reino de paz e de justiça que, segundo a sabedoria do mundo, não se realizará jamais, mas já podemos experimentar em pequenos sinais de amor e solidariedade.

Como discípulos missionários do Senhor, seguidores da Boa Nova de Jesus, o Sublime Mestre e Salvador, o Messias de Deus, cremos e temos esperança de que o mundo novo será, certamente, levado a cumprimento, porque para Deus nada é impossível.

Que o Magnificat, cantado por Maria, seja sempre por nós cantado e, assim, nos inspire sempre a buscar este mundo novo que ela profeticamente descreve.

A esperança cristã depositando sua confiança em Deus não permite verticalismos que nos levem a descompromissos e tão poucos horizontalismos que não deixem espaço para o Mistério de Deus que ultrapassa toda capacidade de compreensão e descrição. 

Aristóteles afirmava que a esperança é o sonho acordado. Relendo e parafraseando, concluo dizendo que a esperança é a caridade acordada e vivida, movida pelas razões de nossa fé no Senhor, em quem depositamos plena e permanente confiança. 

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