O Tempo do Advento e as duas vindas do Senhor
Ele veio, vem e virá
Iniciando o tempo do Advento, à luz das Catequeses do Bispo São Cirilo
de Jerusalém (séc. IV), reflitamos sobre as duas vindas de Cristo.
“Anunciamos a vinda de Cristo: não apenas a primeira,
mas também a segunda, muito mais gloriosa. Pois a primeira revestiu um aspecto
de sofrimento, mas a segunda manifestará a coroa da realeza divina.
Aliás, tudo o que concerne a nosso Senhor Jesus Cristo tem quase sempre uma
dupla dimensão. Houve um duplo nascimento: primeiro, Ele nasceu de Deus, antes
dos séculos; depois, nasceu da Virgem, na plenitude dos tempos. Dupla descida:
uma discreta como a chuva sobre a relva; outra, no esplendor, que se realizará
no futuro.
Na primeira vinda, Ele foi envolto em faixas e reclinado num presépio; na
segunda, será revestido num manto de luz. Na primeira, Ele suportou a Cruz, sem
recusar a sua ignomínia; na segunda, virá cheio de glória, cercado de uma
multidão de anjos.
Não nos detemos, portanto, somente na primeira vinda, mas esperamos ainda,
ansiosamente, a segunda. E assim como dissemos na primeira: Bendito o que
vem em nome do Senhor (Mt 21,9), aclamaremos de novo, no momento de Sua
segunda vinda, quando formos com os anjos ao Seu encontro para
adorá-Lo: Bendito o que vem em nome do Senhor.
Virá o Salvador, não para ser novamente julgado, mas para chamar a juízo
aqueles que se constituíram Seus juízes. Ele, que ao ser julgado, guardara
silêncio, lembrará as atrocidades dos malfeitores que O levaram ao suplício da
Cruz, e lhes dirá: Eis o que fizestes e calei-me (Sl 49,21).
Naquele tempo Ele veio para realizar um desígnio de Amor, ensinando aos homens
com persuasão e doçura; mas, no fim dos tempos, queiram ou não, todos se verão
obrigados a submeter-se à Sua realeza.
O Profeta Malaquias fala dessas duas vindas: Logo chegará ao Seu templo o
Senhor que tentais encontrar (Ml 3,1). Eis uma vinda.
E prossegue, a respeito da outra: E o Anjo da Aliança, que desejais. Ei-Lo
que vem, diz o Senhor dos exércitos; e quem poderá fazer-lhe frente, no dia de
Sua chegada? E quem poderá resistir-lhe, quando Ele aparecer? Ele é como o fogo
da forja e como a barrela dos lavadeiros; e estará a postos, como para fazer
derreter e purificar (Ml 3,1-3).
Paulo também se refere a essas duas vindas quando escreve a Tito: A graça
de Deus se manifestou trazendo salvação para todos os homens. Ela nos ensina a
abandonar a impiedade e as paixões mundanas e a viver neste mundo com
equilíbrio, justiça e piedade, aguardando a feliz esperança e a manifestação da
glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo (Tt 2,11-13). Vês
como ele fala da primeira vinda, pela qual dá graças, e da segunda que
esperamos?
Por isso, o símbolo da fé que professamos nos é agora transmitido,
convidando-nos a crer n’Aquele que subiu aos céus, onde está sentado à
direita do Pai. E de novo há de vir, em Sua glória, para julgar os vivos e os
mortos; e o Seu Reino não terá fim. Nosso Senhor Jesus Cristo virá, portanto
dos céus, virá glorioso no fim do mundo, no último dia. Dar-se-á a consumação
do mundo, e este mundo que foi criado será inteiramente renovado.”
Entre a primeira vinda
e a segunda vinda, vivemos o tempo intermediário. tempo de vigilância, de oração,
em todo o momento, como o Senhor nos falou no Evangelho
(Lc 21,25-28.34-36). É preciso que fiquemos de pé, ergamos a cabeça,
levantemos nosso ânimo.
O tempo do Advento não é apenas para a
preparação de presépios de árvores de Natal, mas preparação do coração, para
que Ele venha e encontre nele e em nosso lar, lugar digno para nascer.
Vivamos este tempo de abertura à graça divina, que nos vem por meio de Jesus
Cristo, com a comunicação da presença e ação do Seu Espírito, para que vivamos
maior fidelidade ao Projeto do Pai.
Preparemo-nos para celebrar autenticamente o Natal
do Senhor, que veio, vem e virá, a cada instante, com sagrados compromissos
expressos em gestos de acolhida, perdão, amor, solidariedade.
Preparemos nossos corações para celebrar o
nascimento do Senhor na manjedoura preferida d’Ele, que é o coração humano, no
qual Ele quer fazer Sua morada, habitando em nós como o mais belo Hóspede.
De nada adianta a luz de um pisca-pisca, se
não nos voltarmos confiantes e vigilantes à espera do Senhor, que vem para
iluminar nossos caminhos.
Somente assim, daremos
um passo significativo, para celebrar autenticamente o Natal do Senhor.
PS: Liturgia das Horas – Vol. I - pp.113-114.
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