terça-feira, 5 de dezembro de 2023

O Tempo do Advento e as duas vindas do Senhor (02/12)

 

 

O Tempo do Advento e as duas vindas do Senhor

Ele veio, vem e virá

 

Iniciando o tempo do Advento, à luz das Catequeses do Bispo São Cirilo de Jerusalém (séc. IV), reflitamos sobre as duas vindas de Cristo.

 

“Anunciamos a vinda de Cristo: não apenas a primeira, mas também a segunda, muito mais gloriosa. Pois a primeira revestiu um aspecto de sofrimento, mas a segunda manifestará a coroa da realeza divina.


Aliás, tudo o que concerne a nosso Senhor Jesus Cristo tem quase sempre uma dupla dimensão. Houve um duplo nascimento: primeiro, Ele nasceu de Deus, antes dos séculos; depois, nasceu da Virgem, na plenitude dos tempos. Dupla descida: uma discreta como a chuva sobre a relva; outra, no esplendor, que se realizará no futuro.


Na primeira vinda, Ele foi envolto em faixas e reclinado num presépio; na segunda, será revestido num manto de luz. Na primeira, Ele suportou a Cruz, sem recusar a sua ignomínia; na segunda, virá cheio de glória, cercado de uma multidão de anjos.


Não nos detemos, portanto, somente na primeira vinda, mas esperamos ainda, ansiosamente, a segunda. E assim como dissemos na primeira: Bendito o que vem em nome do Senhor (Mt 21,9), aclamaremos de novo, no momento de Sua segunda vinda, quando formos com os anjos ao Seu encontro para adorá-Lo: Bendito o que vem em nome do Senhor.


Virá o Salvador, não para ser novamente julgado, mas para chamar a juízo aqueles que se constituíram Seus juízes. Ele, que ao ser julgado, guardara silêncio, lembrará as atrocidades dos malfeitores que O levaram ao suplício da Cruz, e lhes dirá: Eis o que fizestes e calei-me (Sl 49,21).


Naquele tempo Ele veio para realizar um desígnio de Amor, ensinando aos homens com persuasão e doçura; mas, no fim dos tempos, queiram ou não, todos se verão obrigados a submeter-se à Sua realeza.


O Profeta Malaquias fala dessas duas vindas: Logo chegará ao Seu templo o Senhor que tentais encontrar (Ml 3,1). Eis uma vinda.


E prossegue, a respeito da outra: E o Anjo da Aliança, que desejais. Ei-Lo que vem, diz o Senhor dos exércitos; e quem poderá fazer-lhe frente, no dia de Sua chegada? E quem poderá resistir-lhe, quando Ele aparecer? Ele é como o fogo da forja e como a barrela dos lavadeiros; e estará a postos, como para fazer derreter e purificar (Ml 3,1-3).


Paulo também se refere a essas duas vindas quando escreve a Tito: A graça de Deus se manifestou trazendo salvação para todos os homens. Ela nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas e a viver neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade, aguardando a feliz esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo (Tt 2,11-13). Vês como ele fala da primeira vinda, pela qual dá graças, e da segunda que esperamos?


Por isso, o símbolo da fé que professamos nos é agora transmitido, convidando-nos a crer n’Aquele que subiu aos céus, onde está sentado à direita do Pai. E de novo há de vir, em Sua glória, para julgar os vivos e os mortos; e o Seu Reino não terá fim. Nosso Senhor Jesus Cristo virá, portanto dos céus, virá glorioso no fim do mundo, no último dia. Dar-se-á a consumação do mundo, e este mundo que foi criado será inteiramente renovado.”

 

Entre a primeira vinda e a segunda vinda, vivemos o tempo intermediário. tempo de vigilância, de oração, em todo o momento, como o Senhor nos falou no Evangelho (Lc 21,25-28.34-36). É preciso que fiquemos de pé, ergamos a cabeça, levantemos nosso ânimo.

 

O tempo do Advento não é apenas para a preparação de presépios de árvores de Natal, mas preparação do coração, para que Ele venha e encontre nele e em nosso lar, lugar digno para nascer.


Vivamos este tempo de abertura à graça divina, que nos vem por meio de Jesus Cristo, com a comunicação da presença e ação do Seu Espírito, para que vivamos maior fidelidade ao Projeto do Pai.

 

Preparemo-nos para celebrar autenticamente o Natal do Senhor, que veio, vem e virá, a cada instante, com sagrados compromissos expressos em gestos de acolhida, perdão, amor, solidariedade.

 

Preparemos nossos corações para celebrar o nascimento do Senhor na manjedoura preferida d’Ele, que é o coração humano, no qual Ele quer fazer Sua morada, habitando em nós como o mais belo Hóspede.

 

De nada adianta a luz de um pisca-pisca, se não nos voltarmos confiantes e vigilantes à espera do Senhor, que vem para iluminar nossos caminhos.

 

Somente assim, daremos um passo significativo, para celebrar autenticamente o Natal do Senhor.

 

 

PS: Liturgia das Horas – Vol. I - pp.113-114.

 

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