Vistamos o hábito da religião e da caridade
Ao celebrarmos a Solenidade de Cristo Rei e Senhor do Universo, sejamos iluminados pelo Sermão de São Cesário de Arles (séc. VI).
“Se pensamos nos bens que Deus derramou sobre nós chegando até a morte, não haveríamos de temer aquele juízo; mas por desgraça muitos o convertem em motivo de sentença contra eles.
Não paguemos o bem com o mal..., pois do contrário, o que faremos naquele dia temível quando o Senhor Se sentar em Seu trono cercado da milícia celestial no meio da luz, enquanto os Anjos ressoam suas trombetas e o mundo estremeça...?
Então, além da própria consciência, Aquele Juiz, já mais justo que misericordioso, começará a acusar os réus por terem desprezado a Sua misericórdia:
‘Eu plasmei a ti, ó homem!, com minhas mãos, Eu te infundi o Espírito..., e tu, desprezando os meus preceitos de vida perfeita, segues ao mentiroso antes que a Deus.
Expulso do paraíso e sujeito às cadeias da morte..., entrei em um seio virginal para nascer dele sem diminuição de sua pureza; reclinei-me em um presépio envolto em panos, com as dores e sofrimentos da infância...; sofri as bofetadas e cusparadas daqueles que zombavam de mim, bebi vinagre com fel, fui ferido pelos açoites, coroado de espinhos, cravado na cruz, atravessado pela lança, e para que tu te libertasses da morte entreguei a minha vida em meio a tormentos.
Aqui tens os sinais dos cravos dos quais fui suspenso. Olha aqui meu lado ferido. Aceitei as dores para dar a ti a glória, sofri a morte para que vivesses por toda a eternidade. Jazi escondido em um sepulcro para que tu reinasses no céu. Por que perdeste o que te dei?
Por que, ingrato, rejeitaste os dons de tua redenção: Não reclamo de minha morte, mas dai-me a tua vida, já que por ela entregue a minha...
Por que maculaste a habitação que consagrei para mim com as imundícias da luxúria...?
Por que me carregaste com a cruz dos teus crimes, mais pesada que aquela na qual estive suspenso? Mais pesada, de fato, é a cruz de teus pecados, da qual pendo a força, do que aquela que, compadecido de ti, subi satisfeito.
Sendo impassível me dignei padecer por ti, e tu desprezaste a Deus no homem, a saúde no enfermo, a chegada no caminho, ao pai no juiz, a vida na cruz e o remédio na agonia’.
Examinai a embarcação de vossa vida, e se observais as cavernas desfeitas pela soberba, a avareza e a luxúria, apressai-vos em repará-las com as boas obras e a esmola.
Assim como ao bom sua virtude não lhe beneficia de nada se morre em pecado, assim ao pecador os vícios não lhe prejudicam se morre arrependido.
Vivei bem, não me digais que sois jovens e casados, porque não é o traje do monge que dá a virtude. Em qualquer estado de vossas vidas podeis vestir o hábito da religião e da caridade.” (1)
Finalizando mais um ano Litúrgico, é tempo favorável para revermos o caminho que fizemos, com erros e acertos, possíveis tropeços e quedas, pecados cometidos, com sincero arrependimento, confessados e perdoados.
O Sermão é um forte apelo de conversão para que melhor correspondamos ao amor de Deus por nós, por Jesus vivido e comunicado.
Quando vestimos o hábito da autêntica religião e da caridade, tornamo-nos misericordiosos como o Pai (Lc 6,36), e podemos afirmar que Jesus Cristo é nosso Rei e Senhor de todo o Universo, e podemos coroá-lo, multiplicando gestos de amor e solidariedade, na solidificação da fé, e iluminando os caminhos com a luz da esperança de um novo céu e uma nova terra, ainda que vejamos sinais sombrios de dor e morte.
Coroar Jesus é sincero compromisso com a Boa-Nova do Reino, e viver a graça do Batismo, como profetas, sacerdotes e Rei.
(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – pp. 761-762.
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