terça-feira, 29 de outubro de 2024

Veneração sim, idolatria não


Veneração sim, idolatria não

“Contudo, o culto chamado de latria,
que consiste na adoração devida à divindade,
reservamo-lo só para Deus, e não o prestamos aos
Mártires nem ensinamos que se lhes deva prestar

O Bispo Santo Agostinho (séc. V) em seu Tratado contra Fausto elimina qualquer possibilidade dos cristãos incorrerem em idolatria, com relação aos Mártires que nos antecederam, e que testemunharam a sua fé na fidelidade ao Senhor.

“O povo cristão celebra a memória dos seus Mártires com religiosa solenidade, para se animar a imitá-los, participar dos seus méritos e ser ajudado com a sua intercessão; não dedica, porém, altares aos Mártires, mas apenas em memória dos Mártires.

Com efeito, qual é o bispo que, ao celebrar a Missa sobre os sepulcros dos Santos, disse alguma vez: Nós te oferecemos a ti, Pedro, ou a ti, Paulo, ou a ti, Cipriano?

A oblação é feita a Deus, que coroou os Mártires, junto dos sepulcros daqueles que Deus coroou, para que a evocação desses lugares santos desperte em nós um sentimento mais vivo de amor àqueles a quem podemos imitar e Àquele cujo auxílio nos torna possível a imitação.

Veneramos os Mártires com um culto de amor e de comunhão, semelhante ao que dedicamos nesta vida aos santos homens de Deus, cujo coração sabemos estar já disposto ao martírio em testemunho da verdade do Evangelho. Mas àqueles que já superaram o combate e vivem triunfantes numa vida mais feliz, prestamos este culto de louvor com maior devoção e confiança do que àqueles que ainda lutam nesta vida.

Contudo, o culto chamado de latria, que consiste na adoração devida à divindade, reservamo-lo só para Deus, e não o prestamos aos Mártires nem ensinamos que se lhes deva prestar.

Como a oblação do sacrifício faz parte deste culto de latria – e por isso se chama idolatria a oblação feita aos ídolos – nós não o oferecemos nem mandamos oferecer aos Anjos, aos Santos, aos Mártires; e se alguém cai em tão grande tentação, é advertido com a verdadeira doutrina, para que se corrija e tenha cuidado.

Os Santos e os homens recusam-se a apropriar-se destas honras devidas exclusivamente a Deus. Assim fizeram Paulo e Barnabé quando os habitantes da Licaônia, impressionados com os milagres feitos por eles, quiseram oferecer-lhes sacrifícios como se fossem deuses; mas eles, rasgando os seus vestidos, proclamaram que não eram deuses, e deste modo impediram que lhes fossem oferecidos sacrifícios.

Uma coisa, porém, é o que nós ensinamos, e outra o que nós suportamos; uma coisa é o que mandamos fazer, e outra o que queremos corrigir e nos vemos forçados a tolerar, enquanto não conseguimos corrigi-lo.”

Como vemos, o Bispo e a Igreja sempre tiveram clareza em relação ao culto dos Santos, de modo que, exorta à celebração dos Mártires, com um culto de amor e comunhão, mas toda adoração deve ser elevada a Deus, do contrário incorreríamos em inaceitável e abominável idolatria.

O culto aos Santos e Mártires, como nos ensina a Igreja, consiste em saber que vivemos na comunhão com aqueles que nos antecederam e estão na glória de Deus, como bem expressa o Prefácio da Missa quando celebramos sua Festa ou Memória:

“Festejamos hoje, a cidade do céu, a Jerusalém do alto, nossa mãe, onde nossos irmãos, os Santos, vos cercam e cantam eternamente o Vosso louvor. Para essa cidade caminhamos, pressurosos, peregrinando na penumbra da fé. Contemplamos, alegres, na Vossa luz, tantos membros da Igreja, que nos dais como exemplo e intercessão.”

Aprendamos com os Santos e Mártires o testemunho corajoso e frutuoso da fé.

É preciso purificar nossa fé, para que a nossa devoção aos santos nos aproxime cada vez mais do Senhor, de modo que vivendo na Sua amizade e intimidade sejamos e façamos como eles fizeram: Sejamos santos como Deus é Santo. Santidade é possível e desejável porque assim quer Deus.

Que nossa veneração aos Santos, respeito e presença na caminhada, nos fortaleça para sermos verdadeiros adoradores do Senhor em Espírito e Verdade!

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