domingo, 30 de março de 2025
Movidos pelo amor
Fortalecidos pela oração
Diante de todas as coisas coloquemos no primeiro lugar de nossa oração – que é a entrada dela – uma sincera ação de graças; e em segundo lugar suceda a confissão e contrição (dos pecados), que brote no íntimo afeto de nosso coração; e depois destas duas coisas expressemos nossas necessidades ao nosso Rei, e façamos-Lhe nossas petições.
“O amor é um abismo de luz, uma fonte de fogo”
Nossa miséria diante da Misericórdia Divina (IVDTQC)
Nossa miséria diante da Misericórdia Divina
“Sentei-me na indigência, levantei-me
pelo desejo de Teu Pão”
O Bispo e Doutor da Igreja, Santo Agostinho (séc. IV), nos apresenta um
“Comentário ao Salmo 138,5-6”, num paralelo com a passagem do Evangelho de
Lucas (Lc 15,15-32), na qual encontramos a parábola do filho pródigo.
“De longe penetras meus
pensamentos; conheces meu
caminho e meu descanso, todos os meus caminhos Te são familiares.
O que significa ‘de longe’? Enquanto ainda estou no caminho antes de
chegar à pátria, Tu penetras meus pensamentos. Acolhe àquele filho mais novo,
pois também ele se tornou corpo de Cristo, Igreja procedente da gentilidade. E
o filho mais novo tinha emigrado para um país distante. Porque havia um homem
que tinha dois filhos: o mais velho não tinha se distanciado, pois trabalhava
no campo, e simbolizava aos santos que, no tempo da lei, cumpriam suas obras e
seus preceitos.
Por outro lado, o gênero humano, que havia se rebaixado ao culto dos
ídolos, tinha emigrado para um país distante. O que mais longínquo daquele que
Te fez, do que a forma que tu mesmo fizeste?
Assim, o filho mais novo emigrou a um país distante, levando consigo
toda a sua fortuna e – conforme nos informa o Evangelho – a desperdiçou vivendo
dissolutamente. E começando a passar necessidade, foi e arranjou-se com um
homem importante daquela região, e que o mandou cuidar dos porcos. Tinha desejo
de saciar sua fome com a comida dos porcos, e ninguém lhe dava de comer.
Depois de tanto trabalho, penúria, tribulação e necessidade, lembrou-se
de seu pai, e decidiu voltar para casa. Pensou: voltarei para meu pai. Agora, reconhece a sua voz que
disse: sabes quando me sento, ou me
levanto.
Sentei-me na indigência, levantei-me pelo desejo de teu pão. De longe penetras meus pensamentos: por
isso o Senhor disse no Evangelho que o pai pôs-se a correr ao encontro do filho
que regressava.
Realmente, como de longe tinha penetrado em seus pensamentos, conheces meu caminho e meu descanso. Meu caminho, diz. Qual caminho, a não
ser o mau, ao qual tinha percorrido afastando-se do pai, como se pudesse
ocultar-se aos olhos do vingador, ou como se pudesse ser humilhado por aquela
extrema necessidade ou ser combinado que cuidaria dos porcos, sem a vontade do
pai que queria castigá-lo ao longe, para recebê-lo em seguida?
Desta forma, como um fugitivo capturado, perseguido pela legítima
vingança de que Deus nos castiga em nossos afetos, em qualquer lugar que formos
e em qualquer lugar que tivéssemos chegado; como um fugitivo capturado – novamente
repito – diz: Conheces meu caminho e
meu descanso. Aquela minha meta distante não era longínqua aos Teus
olhos: Afastei-me muito, e Tu estavas aqui. Conheces meu caminho e meu descanso.
Todos os meus caminhos Te são familiares. Conhecia-os antes que por eles eu andasse, antes que eu caminhasse
por eles. Permitiste que eu os percorresse na fadiga, os meus próprios
caminhos, para que, se em algum momento decidisse abandonar este caminho árduo,
regressasse aos Teus.
Por que não há fraude em minha língua. Por que disse isto? Porque, confesso-Te, andei por meus caminhos
e me afastei de Ti; separei-me de Ti, como se estivesse indo bem, e o meu
próprio bem foi um mau para mim sem Ti. Pois se fosse bem sem Ti, talvez não
quisesse voltar a Ti. Por isso, confessando estes seus pecados, declarando que
o corpo de Cristo está justificado não por si mesmo, mas pela graça de Cristo,
disse: Não há fraude em minha língua”.
(1)
“Sentei-me na indigência, levantei-me pelo desejo
de Teu Pão”. A experiência do filho mais novo, longe de qualquer condenação ou
execração de nossa parte, é como que um espelho para que nele nos reconheçamos.
Também podemos, pelo pecado, macular a veste batismal, sobretudo quando
nos curvamos diante dos pecados capitais (soberba, avareza, luxúria, ira, gula,
inveja e preguiça).
O pecado de múltiplas faces pode nos fazer sentir como o próprio filho
mencionado na Parábola, como que sentados na indigência, sob o peso do pecado,
com arrependimento e desejo de conversão e de nova mentalidade e atitudes, como
expressão de uma necessária “metanoia”, mudança total de nosso ser e busca de
novos caminhos, expresso no desejo do pão, que pode ser traduzido em perdão,
misericórdia, ternura e bondade divina, que jamais nos desampara e nos
abandona.
Sentados na indigência, cansados e extenuados, porque o pecado nos
rouba as forças, rever caminhos, voltar para o abraço acolhedor e terno do Pai
que nos ama com amor incondicional.
É sempre tempo de revermos quantas vezes também fizemos a experiência
de sentar sem coragem, sem forças, vivenciando a condição da miséria que nos
leva a cair, mas fomos ao encontro do Pão da Vida e da Eternidade,
reconciliados, participamos do Banquete da vida, da alegria, numa grande festa
que Deus quer conosco sempre celebrar.
Desejemos comer deste Pão saboroso, que a misericórdia divina tem a nos
oferecer, que é o próprio Jesus, o Pão da Vida, o Pão da Imortalidade, o Pão do
Amor e da Vida plena e feliz.
Não mais sentados na indigência, mas alimentados, revestidos
por Cristo; com sandálias nos pés, ponhamo-nos num novo caminho, porque há mais
alegria no céu por um só pecador que se converte do que por noventa e nove
justos que não precisam de conversão.
(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes
- 2013 - pp. 569-570.
Em poucas palavras... (IVDTQC)
“... O fato
novo, o anel e o banquete festivo...”
“...O fato novo, o anel e o banquete festivo são símbolos desta
vida nova, pura, digna, cheia de alegria, que é a vida do homem que volta para
Deus e para o seio da família que é a Igreja. Só o coração de Cristo, que
conhece a profundidade do amor do seu Pai, pôde revelar-nos o abismo da sua
misericórdia, de um modo tão cheio de simplicidade e beleza.” (1)
(1) Catecismo da
Igreja Católica – n. 1439
O abismo da misericórdia divina (IVDTQC)
Deus, rico em misericórdia (IVDTQC)
Deus, rico em
misericórdia
Com a Liturgia do 4º Domingo
do Tempo da Quaresma (Ano C), contemplamos a face misericordiosa de Deus, que
se revela num Amor infinito e incondicional pela humanidade, de modo especial
pelos pecadores e excluídos.
A passagem do Evangelho
está inclusa no capítulo 15 do Evangelho de Lucas, que nos apresenta três
Parábolas que comunicam o Amor de Deus derramado sobre os pecadores, sendo a
segunda e terceira exclusivas do Evangelista Lucas, e não por acaso, chamado de
“Evangelho da ternura divina”, como bem cita o Missal Dominical:
“Lucas, o evangelista da
ternura divina multiplica as narrativas que mostram Jesus em busca dos mais
abandonados, dos pobres, dos pecadores, realçando assim o próprio fundamento da
nossa religião, que é a atitude dos que são arrebatados pelo abismo do Amor de
Deus”. (1)
As três Parábolas estão
apresentadas no contexto do caminho de Jerusalém, onde Jesus consumará a Sua
missão, Paixão, morte e Ressurreição; logo, num contexto muito concreto, em que
Jesus é questionado pelos fariseus e escribas pelo fato de andar e comer com os
pecadores.
Elas revelam a
misericórdia divina, que tem uma lógica diferenciada dos fariseus e escribas
(lógica da intolerância e exclusão), pois a misericórdia divina faz novas as
criaturas.
Normalmente, são
conhecidas como Parábolas da “ovelha perdida”, “moeda perdida” e “filho
pródigo”, mas poderiam ser apresentadas de outra forma: a misericórdia e
alegria de Deus pelos pecadores que se convertem.
Deus jamais rejeita e
marginaliza, ama-nos com Amor de Pai, e esta há de ser a atitude dos discípulos
para com os pecadores: amor que vai ao encontro, acolhe e perdoa:
“Não
existe verdadeira experiência humana sem intercâmbio, diálogo, confidência,
verdadeiro amor recíproco. Só o amor é capaz de transformar, mas com uma
condição: que seja gratuito e livre” (2).
Um amor que reintegra e
celebra, com alegria, a volta daquele que estava perdido, morto, e encontrado
voltou a viver.
As Parábolas expressam a
ação divina, que abomina o pecado, mas ama o pecador. A comunidade é chamada a
ser testemunha da misericórdia divina e jamais compactuar com o pecado.
Os seguidores de Jesus,
que se põem a caminho com Ele, farão sempre uma caminhada de penitência e
conversão, sem recriminar e excluir, mas acolhendo os pequenos, pecadores, e
também se deixando ser acolhido pelo Amor de Deus.
Amados, acolhidos e
perdoados por Deus tornamo-nos acolhedores e sinais do Seu Amor e do Seu
perdão, que recria e faz novas todas as coisas. Verdadeiramente, a misericórdia
divina vivida nos faz novas criaturas.
As Parábolas revelam que
o Amor divino vai até o fim. Como não transbordar de alegria diante deste Amor
que nos ama e nos ama até o fim?
Entremos na alegria de
Deus, revelada a nós por Jesus, acolhendo e nos deixando conduzir pela ação do
Espírito Santo.
Redimidos pelo Amor
Trinitário, preenchidos deste Amor, seremos dele comunicadores, transbordando o
mesmo Amor para com o outro, na alegria do perdão dado e recebido.
Desperte em nós um santo
desejo, como expressou o Frei Raniero Cantalamessa:
“Quero ser um irmão
maior que vai com Jesus em procura do irmão que se afastou; quero ser as mãos
de Jesus que levantam quem caiu, quem se enredou nos espinhos do pecado. Talvez
algum destes esteja escondido muito perto de mim e eu não tenha percebido” (3)
Finalizando,
“Cristo nos revelou um Deus como desejamos. Um Deus que é Amor e misericórdia.“
(4)
(1) (2) (4) - Missal Dominical pág. 1236.
(3). O Verbo se faz Carne – Editora Ave Maria – pág. 732
PS: Apropriado para o segundo sábado da quaresma.







