sábado, 1 de novembro de 2025

Batismo: desposados pelo Senhor

 


Batismo: desposados pelo Senhor

Sejamos enriquecidos pela Catequese batismal do Bispo e Doutor da Igreja, São João Crisóstomo (séc. V):

“Hoje é o último dia da catequese, por isso eu, o último de todos, também cheguei ao último dia, porém chego ao final com o anúncio de que o esposo virá dentro de dois dias.

Mas levantai-vos, acendei as vossas lâmpadas e recebei com luz resplandecente o rei dos céus!

E de fato, este é o costume do cortejo nupcial: que as esposas sejam entregues aos esposos ao anoitecer. Porém, não vos façais de surdos ao escutar a voz de que chega o esposo, porque é uma voz realmente potente, e está cheia de bondade.

Não ordenou que na natureza dos homens fosse para Ele, mas Ele pessoalmente veio junto a nós, e acontece que, na realidade, a lei de núpcias é esta: que o esposo venha à esposa, mesmo que ele seja riquíssimo e ela, por outro lado, pobre e menosprezada.

Entretanto, nada há de estranho que isso aconteça entre os homens. Na realidade, se em questão de mérito a diferença pode ser muita, a diferença de natureza, porém, é nula: por rico que seja o esposo, e por indigente e pobre que seja a esposa, ambos são, contudo, da mesma natureza.

Porém, tratando-se de Cristo e da Igreja, a maravilha está em que Ele, apesar de ser Deus e possuir aquela bem-aventurada e puríssima substância – e sabeis quanto se diferencia dos homens! -, dignou-Se descer a nossa natureza e, deixando a Sua casa paterna, correu para a Esposa, não com um simples deslocamento, mas pela ação da Encarnação.

Conhecedor, portanto, disto, e admirado do excesso de solicitude e de estima, o próprio bem-aventurado Paulo proclamava dizendo: ‘Por isto o homem deixará ao seu pai e a sua mãe e se unirá a sua mulher: este mistério é grande, mas me refiro a Cristo e à Igreja’.

E o que tem de admirável que tenha vindo à esposa, quando nem sequer se negou a dar a sua vida por ela?

Contudo, nenhum esposo dispõe sua vida por sua esposa, e acontece que ninguém, nenhum enamorado, por louco que esteja, abra-se tanto no amor de sua amada, como Deus se consome pela Salvação de nossas almas:

‘Mesmo que tenha que ser cuspido – diz -, ser espancado e subir à própria cruz, não me negarei a ser crucificado, contanto que possa acolher a esposa’”. (1)

Roguemos a Deus para que nos conceda Sabedoria para vivermos o Batismo que é dom, graça e missão.

Urge que nos coloquemos como Igreja, num caminho sinodal, mergulhando no mar da proximidade, compaixão, solidariedade fortalecendo os vínculos da comunhão caridade, na vivência das virtudes divinas que nos movem: fé, esperança e caridade.

 

(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013- pág. 249-250

 

“Presença universal”

                                                     

“Presença universal”

Ao celebramos a Solenidade de todos os Santos, ouvimos a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 5,1-12a), em que Jesus nos apresenta as Bem-Aventuranças, no alto da montanha.

Para reflexão e aprofundamento, e para bem celebrarmos, sejamos enriquecidos por este “Salmo” de Benjamin Gonzáles Buelta:

 

“Presença universal

Te anuncias na Palavra

e apareces no silêncio.

Manifestas Teu amor no dom da vida,

esgotas Tua entrega no dom de Tua morte.

És deslumbrante no prodígio do dia,

nos fascinas no mistério da noite.

O cume de Tua criação são os homens mais santos,

e de Tua fidelidade, os homens mais perversos.

Expressão de Tua força libertadora, os oprimidos,

e de Tua paciência e respeito os opressores.

Inesgotável artista em todo o belo,

presença calada e forte no disforme.

Tuas possibilidades sem fim nos assinalam os gênios,

Teu questionamento solidário os homens quebrados.

Só nos revelarás Tua obra quando haja girado toda a história, / mas já podes iluminar de plenitude a fugacidade do instante.

Tu nos chamas sem fim desde o horizonte,

nos enches de Tua presença em cada canto do caminho.

Nunca Te agarrarei na cobiça da perfeição,

mas já transbordas de luz e futuro todo o meu limite.” (1)

 

 

(1) Benjamin González Buelta - “Salmos para sentir e saborear as coisas internamente” 

“A montanha azul”

                                                       

“A montanha azul”

Com passos firmes, subi à montanha azul, lugar que bem perto se pode encontrar.
Vencendo todo o cansaço e vozes que repetiam em coro: – “você não conseguirá”.
Mas, fôlego renovado, ao topo mais alto que se pode alcançar.

No cume da montanha, apenas o som do vento a escutar,
Ou quando muito, os passos trocados, de um lado para outro.
Olhos fixos no horizonte de um novo amanhecer,
Que não tardará por vir; ainda que as dificuldades pareçam a noite eternizar.

Páginas novas na planície serão escritas, com ousada teimosia,
Contra todos os cantos agourentos que, por vezes, parecem tornar impossíveis
Os mais belos sonhos que podemos ter; no secreto silêncio da alma sonhar.

Mas lá não se pode para sempre ficar; ainda que tentador,
É preciso pisar nos cacos de vidros da planície do cotidiano, com risco de se cortar,
Mas contar com a proteção que nos vem do alto, contra toda forma de perigo,
Pois Ele jamais se afasta daqueles que tanto ama, sendo em todo o tempo,
Nosso abrigo, refúgio, consolo, força e proteção, e jamais nos decepciona.

Cada um de nós precisa desta montanha azul, de momentos de restauração,
Em que nos colocamos despidos diante do Criador, com nossa miséria e limitação.

Envolvidos por Sua divina presença, impelidos a descer para o chão da realidade,
Para ser no mundo, para todos que precisarem, d’Ele, divino sinal,
Sua luz irradiar, no testemunho de uma fé irmanada com a esperança e caridade.


PS: Passagens bíblicas - Mt 5,1-12a; Cl 3,1-5.9-11

O julgamento final e as obras de misericórdia

                                                             


                       O julgamento final e as obras de misericórdia

Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Mateus (Mt 25,31-46), que nos fala sobre o juízo final, quando o Senhor virá em Sua glória para nos julgar a todos.

Trata-se de uma passagem fundamental para todos nós, pois nos ilumina para que vivamos uma religião pura e verdadeira aos olhos de Deus.

Deste modo, nossas orações, tudo o que professamos e celebramos, precisa ser mais do que nunca acompanhado de compromissos concretos, como vemos nas obras de Misericórdia Corporais e Espirituais:

Obras de misericórdia corporais: Dar de comer a quem tem fome; dar de beber a quem tem sede; vestir os nus; dar pousada aos peregrinos; assistir aos enfermos; visitar os presos; enterrar os mortos. 

Obras de misericórdia espirituaisDar bom conselho; ensinar os ignorantes; corrigir os que erram; consolar os aflitos; perdoar as injúrias; sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo; rogar a Deus por vivos e defuntos.  

São iluminadoras as palavras do Bispo e Doutor Santo Agostinho sobre esta passagem:

“Todo o mal que os maus fazem é registado – e eles não o sabem. No dia em que ‘Deus virá e não se calará’ (Sl 50, 3) [...]. Então, Ele Se voltará para os da Sua esquerda: ‘Na terra, dir-lhes-á, Eu tinha posto para vós os meus pobrezinhos, Eu, Cabeça deles, estava no céu sentado à direita do Pai – mas na terra os meus membros tinham fome: o que vós tivésseis dado aos meus membros, teria chegado à Cabeça. Quando Eu coloquei os meus pobrezinhos na terra, constituí-os vossos portadores para trazerem as vossas boas obras ao meu tesouro. Vós nada depositastes nas mãos deles: por isso nada encontrais em Mim’” (1).

Tenhamos sempre esta solicitude para com os “pobrezinhos na terra”, pois são eles os “portadores” que levam nossas boas obras ao tesouro do Senhor.

Empenhemo-nos neste “depósito”, para que possamos ouvir dos lábios do Senhor:

“Vinde benditos de meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo” (Mt 25,34).  

(1)         Sermão de Santo Agostinho – cf. Catecismo da Igreja Católica n. 1039


PS: Apropriado para o dia de Finados ou da Solenidade de Cristo Rei e Senhor do Universo, quando se proclama esta passagem do Evangelho de Mateus (Mt 25,31-46)

Em poucas palavras...

                                            


Perfeitamente configurados a Jesus 

“‘Dar a vida pelos irmãos’ pode ser mera frase feita, se a experiência de evangelho vivido pessoalmente não nos der um mínimo de base vital comum com Cristo encarnado, crucificado e ressuscitado” (1)

 

(1)               Missal Cotidiano – Comentário da passagem da Carta de Paulo aos Filipenses (Fl 2,5-11) – pág. 1453

Sejamos iluminados pelas Bem-Aventuranças

                                                          

Sejamos iluminados pelas Bem-Aventuranças

Acompanhando o noticiário, vemos o mundo em mudança de época, e muitos são os desafios que se colocam na construção da civilização do amor.

A realidade que vivemos (corrupção, desvio de verbas, não investimento na saúde, educação, lazer...) está bem longe da realidade que Deus para nós espera 

Ainda lembremos os assassinatos, fome, desemprego, narcotráfico, rebeliões em presídios, e muitos outros fatos poderiam ser mencionados, associando-se ao desencanto com o exercício da política, que visa privilégios, e, por vezes, fomenta a corrupção e o mau uso do poder, que deveria ser o exercício em favor do bem comum.

É tempo de reflexão, discussão, discernimento, sobretudo de muita oração, em que não podemos prescindir da Palavra de Deus, invocando a luz do Espírito Santo.

É inconcebível e inadmissível não nos deixarmos conduzir e nos iluminar pela doutrina que professamos nos cultos, diante do altar.

Trairíamos toda a nossa prática evangelizadora, perderíamos nossa credibilidade profética, a chama de nossa fé nada iluminaria, e o sal da terra que somos chamados a ser, que sabor teria? Nenhum! E como afirma a Palavra, o sal que perde seu sabor para nada mais serve, a não ser para ser pisado e jogado fora.

Mas é exatamente neste momento de crise que somos chamados a dar razão de nossa esperança, vivendo os irrenunciáveis compromissos que brotam de nossa fé, que se solidifica e enraíza na cultura e na história.

Nossas orações jamais agradarão ao Senhor, se não forem acompanhadas de ações efetivas em favor da vida, de seu caráter sagrado e inviolável, da concepção ao declínio natural.

É hora de subirmos à “montanha” e escutarmos mais uma vez o Sermão do Senhor (Mt 5,1-12), as Bem-Aventuranças. Mas é também tempo de não fugirmos da dura realidade da “planície” em que vivemos. Como viver as Bem-Aventuranças no chão de nosso cotidiano, sendo sal da terra e luz do mundo?  

Concluo citando Santo Agostinho, que em uma de suas belas reflexões nos disse: “A Sagrada Escritura é para nos ajudar a decifrar o mundo; para nos devolver o olhar da fé e da contemplação, e transformar a realidade numa grande revelação de Deus”.

É preciso, portanto, que não percamos o olhar da fé e da contemplação que a Palavra nos desperta. Não podemos perder o horizonte de que outro mundo é possível. Somos movidos sempre pela esperança de um novo céu e uma nova terra, que começa aqui e agora!

Decifrar o mundo é preciso, transformá-lo é necessário! Iluminados, fortalecidos, orientados e conduzidos pela Palavra Divina, fermentemos o mundo novo, como graça e missão, que Deus a nós confiou.

Cruz e santidade

                                                             

Cruz e santidade

Não existe santidade autêntica sem as renúncias cotidianas necessárias, e o carregar da cruz com fidelidade incondicional ao Senhor, à Sua Palavra e ao Projeto do Reino, que nos confiou a anunciar e testemunhar.

Santidade implica na maturidade e coragem para carregar a cruz, com a confiança de que não caminhamos sozinhos e tão pouco a carregamos sós: Ele caminha conosco e Se fez solidários com todos no carregar da cruz cotidiana.

A ausência da maturidade priva-nos da serenidade, no tempo presente, para carregá-la, e definitivamente do gozo da plena felicidade futura, e que já pode ser experimentada enquanto a cruz se carrega.

Neste carregar da cruz pode ser que caiamos, mas haverá sempre mãos estendidas a nos levantar, com palavras que, como bálsamos, nossas feridas curar, reavivando nossas forças e esperança, pondo-nos de pés firmes, neste difícil, árduo e necessário caminho de santidade, sem a perda do horizonte da eternidade.

Cremos que os Santos viveram tudo o quanto se diz em matéria de fidelidade ao Senhor e da prática das Bem-Aventuranças, e se quisermos a mesma felicidade alcançar, nos diz Santo Tomás de Aquino, é preciso em primeiro lugar, querer, em segundo lugar, querer, e em terceiro lugar, querer sempre.

Santidade é dom divino e não dispensa nossos compromissos e esforços contínuos, fortalecidos pela oração e de modo especialíssimo pela Palavra de Deus, que nos ilumina e nos conduz, e pelo Pão da Eucaristia, no qual o próprio Senhor Se dá em Verdadeira Comida e Bebida. 

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG