Desculpas demais, amor de menos!
Uma reflexão inspirada nas passagens da Carta do Apóstolo Paulo aos Filipenses (Fl 2,5-11), e do Evangelho de São Lucas (Lc 14,15-24).
Deus, por meio de Seu Filho, nos chama e nos convida para assentar à Sua mesa, na comunhão do Espírito. Mas, assentar-se à Mesa Sagrada implica em sagrados compromissos que dela brotam; que nela se nutrem ― Eucaristia fonte e ápice da vida cristã.
Ao convite feito por Jesus para participar do Banquete do Reino e para comer de Seu Pão, muitas são as desculpas que encontramos (e com a maior facilidade). Sem muito pensar justificamos compromissos inadiáveis, desviamos olhares e caminhos, e até fugimos de maiores responsabilidades: “não tenho tempo”, “não sou capaz”,“estou sobrecarregado”, “quem sou eu?” (falsa modéstia), “um dia eu vou assumir um compromisso, mas agora não dá, é que...” etc.
Resposta positiva ao convite implica em diversas atitudes. Apresento cinco:
- Prontidão:
Quando Deus nos chama, devemos ser prontos; alegremente disponíveis para o trabalho da messe. Evidentemente, prontidão não significa imediatismos inconsequentes e inconstantes.
Prontidão consciente e perseverante. O seguimento a Jesus não pode ser fruto de uma emoção momentânea, circunstancial e sem enraizamento, mas fruto de um constante enamoramento e apaixonamento, que compromete toda a vida e a vida toda.
- Gratuidade:
Seguir Jesus e anunciar Sua Boa Nova não tem sentido, se não for movido pelo mais sincero e puro sentimento de gratuidade. É este sentimento que deve estar impregnado em toda a nossa vida.
O menor gesto feito com gratuidade é infinitamente superior ao maior dos gestos que não esteja acompanhado da mesma. Há grandes gestos inumeráveis que não expressam gratuidade, mas expressão de segundas, terceiras intenções. A Boa Nova do Evangelho prima pela gratuidade vivida a cada instante e em todo tempo.
- Imitadores dos sentimentos de Jesus:
Sim ao Seu convite implica em nos configurarmos a Ele. A ponto de dizermos, como São Paulo disse: “eu vivo, mas é Cristo que vive em mim...” (Gl 2,20). Imitar Seus sentimentos, rever pensamentos, atitudes, critérios. Mente e coração moldados e iluminados pelos Seus ensinamentos.
Com muita facilidade podemos misturar dentro de nós sentimentos que são contraditórios e incompatíveis. Configurar-se a Jesus, para que vejam Cristo em nós.
É possível? Passo a passo, e não como quem já tenha ao ponto máximo chegado. Primeiros passos dados no batismo e que, somente, na eternidade encontram seu ponto de chegada; culminância; desejada perfeição.
- Obediência:
Jesus: A maior expressão de obediência aos desígnios de Deus. Obediência que implica em esvaziamento, aniquilamento, sofrimento, doação de Si mesmo, entrega da própria vida. Sangue por Amor derramado; Amor ao extremo. Vida pela vida sacrificada. Amor por Amor, puro Amor.
Obediência que não mede sacrifícios, motivada por uma causa maior, que faz tudo se tornar pequeno. A obediência deve ser nossa marca.
Ser Igreja é o aprendizado constante da obediência que, num primeiro momento, nem sempre compreendida e agradável, mas com maturidade assumida, renúncias assumidas, alegrias realizadas.
A Igreja prima pela obediência, não como míope servilismo, mas como certeza de que ela nos desafia ao amadurecimento daqueles que sabem até mesmo seus ideais renunciar, seus desejos sacrificar.
A obediência pede o desinstalar, o rever, o recomeçar, o reconsiderar. Ela muitas vezes assusta, porque nos coloca frente ao novo; e o novo via de regra nos incomoda.
A obediência vivida por amor à Igreja é caminho de santificação, que não dispensa diálogos, carinho e compreensão, mas abertura ao sopro do Espírito. Ela pode ser a morte da vaidade, da mediocridade, acerto de aparas. A obediência carrega em si a luminosidade pascal.
- Humildade:
Somos pó, verdade que jamais podemos esquecer: do pó viemos e ao pó retornaremos. Conscientes de nossa pequenez, fragilidade, haveremos de nos colocar nas mãos de Deus.
É a humildade no coração de Maria que a levou a participar da obra da redenção. É a sua humildade uma das fontes do Magnificat. Não cantará a glória de Deus, não reconhecerá as maravilhas de Deus, quem não reconhecer sua pequenez, seus limites.
Humildade jamais será sinal de fraqueza, pois quando somos fracos, então que nos tornamos fortes (2 Cor 12,10). Ela nos coloca como criaturas diante do Criador, e assim nossa vida somente tem sentido quando colocada em constante atitude amical e dialogal com Ele.
A atitude de humildade nos pede constante vigilância, para que não tenhamos conceito maior de nós mesmos, mas que, na exata medida, saibamos nos colocar nas mãos divinas; e, fortalecidas possam ser as milhões de mãos humanas estendidas.
Muitos são os chamados, poucos os escolhidos.
Reflitamos:
- Estaremos incluídos entre os escolhidos?
- A prontidão, gratuidade, imitação de Nosso Senhor, obediência e humildade estão presentes em nossa caminhada de fé?
Quando todas as virtudes citadas se fazem presente em nosso coração, e deixamos o amor falar mais alto, as desculpas deixarão de ser demais, não se multiplicarão com tamanha facilidade, porque haverá amor demais. Amor demais! Será que existe amor demais?
Como Deus é Amor, o amor nunca será demais!
Assim, Deus jamais será demais, porém, sem
Ele e Seu amor, seremos cada vez menos!