Em poucas palavras...

 


Fidelidade e justiça são inseparáveis

“Deus odeia esse egoísmo coletivo, tanto quanto o individual. Ele faz causa comum com os pobres e oprimidos.

A oração destes vai direto a Ele. Não é por acaso que se dão certos desabamentos humanamente imprevisíveis, insuspeitáveis.

Mas atenção! Isso não atinge somente os ‘poderosos’, os ‘grandes’, porém a todos. Ninguém pode explorar impunemente um irmão e acreditar ser fiel a Deus” (1)

 

(1) Comentário da passagem do Missal Cotidiano sobre a passagem do Livro de Amós (Am 8,4-6;9-12)- pág. 981

Em poucas palavras...

 


Cristãos leigos: artífices da paz e da justiça

“Não compete aos pastores da Igreja intervir diretamente na construção política e na organização da vida social. Este papel faz parte da vocação dos fiéis leigos, agindo por sua própria iniciativa juntamente com os seus concidadãos.

A ação social pode implicar uma pluralidade de caminhos concretos; mas deverá ter sempre em vista o bem comum e conformar-se a mensagem evangélica e o ensinamento da Igreja.

Compete aos fiéis leigos «animar as realidades temporais com o seu compromisso cristão, comportando-se nelas como artífices da paz e da justiça» (João Paulo II, Enc. Sollicitudo rei socialis, 47: AAS 80 (1988) 582; cf. Ibid., 42: AAS 80 (1988) 572-574.).” (1)

 

(1) Catecismo da Igreja Católica - Parágrafo n. 2442

Se você quiser ser feliz...

                                                          


Se você quiser ser feliz...

Se você quiser ser feliz,
Abra-se à ação da graça divina e reconheça a presença de Jesus, que jamais se afasta de você, porque o carrega em Seu Dulcíssimo Coração, e nos ombros do Bom Pastor. Ele que disse:

"Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve". (Mt 11, 28-30)

Se você quiser ser feliz,
Aceita de bom coração a presença de Jesus, e O acolha, sobretudo neste Tempo do Advento, em que preparamos Seu Nascimento, e caminhe com Ele, vivendo intensamente cada dia de sua vida, em mais um ano que se anuncia.

Abra à ação do Espírito Santo de modo que, conduzido por Ele, renuncie à sabedoria do mundo como um fim em si, e aberto a Verdadeira Sabedoria do Espírito, conduza cada pensamento, palavra e ação sem o pecado indesejável de omissão.

Se você quiser ser feliz,
Aceita o Mistério que nos abre para as realidades eternas e imutáveis, acolhendo o invisível que Se fez visível no Menino Deus, tocável por nossas mãos, e perpetuado para sempre na Palavra e na Eucaristia, que contemplamos com o novo olhar da fé.

Se você quiser ser feliz,
Sinta-se amado por Deus que, a partir da Revelação que nos veio por meio de Jesus, nos permitiu viver conscientemente aqui na terra as realidades do céu, crendo n’Ele, que reina gloriosamente, e nos convida a buscar, incansavelmente, as coisas do alto, onde habita.

Se você quiser ser feliz,
Caminhemos juntos, ajudemo-nos mutuamente no carregar da cruz, e não esmoreçamos no testemunho da fé, para que guardemos a necessária esperança, acompanhada de pequenos e grandes gestos de caridade, até que mereçamos a eternidade.

PS: Passagem bíblica inspiradora desta reflexão: Lc 10, 21-24; Mc 6,30-34

Nossa cruz de cada dia

                                                                            

Nossa cruz de cada dia

Caminho desafiador nos é proposto em todo o tempo,
Que consiste no caminho da entrega da vida nas mãos do Senhor:
“A Cruz às costas, com um sorriso nos lábios, com uma luz na alma.” (1)

Cruz às costas, precedida das renúncias necessárias,
Para que, com desprendimento e liberdade,
Ponhamo-nos sem medo no caminho com o Senhor.

Cruz às costas que possui muitos nomes e faces;
Ora mais pesada, até parecendo insuportável,
Ora nem tanto. Mas sempre a cruz com amor carregar.
Cruz às costas na fidelidade Àquele que nos disse:
“Vinde a mim vós que estais cansados e fatigados
Meu fardo é leve e o meu jugo é suave” (cf. Mt 11,28-29)

Cruz às costas, mas que um dia a deitaremos pelo chão,
Para fazermos a desejada travessia sobre a mesma,
Ao encontro d’Aquele que amamos e que nos acompanha: Jesus.

Com um sorriso nos lábios, um grande desafio,
Quando as dificuldades de múltiplas expressões
Dão o matiz à nossa vida, ora nem tão colorido.

Com um sorriso nos lábios, um profético testemunho:
Sorrir nas adversidades, como expressão de quem sabe
Que a Deus pode se entregar e plenamente confiar.

Com um sorriso nos lábios, quando se acolhe uma nova vida,
E também quando nos despedimos de quem amamos.
Sorriso fundado na promessa da imortalidade: Ressurreição.

Paradoxalmente, o mais puro e verdadeiro sorriso,
Precedido de lágrimas vertidas, mas o coração consolado,
Como foi o de Marta e Maria ao ver o irmão ressuscitado.

Não sorrir com a morte, porque ela, humanamente,
Não pode arrancar sorrisos, mas sorrir na esperança
De que, como grão, morrerá e desabrochará na eternidade.

Com uma luz na alma, iluminados pelo Espírito,
Confiantes na Palavra do Senhor: “Eu sou a luz do mundo,
quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,1-12).

Com uma luz na alma, irradiando a luz de Deus
A quantos de luz precisam, porque, por vezes,
Mergulhados na escuridão da dor e do abandono.

Com uma luz na alma, iluminar os horizontes,
E jamais deixar de sonhar e se comprometer
Com um novo céu e uma nova terra.

Com uma luz na alma para não se perder no caminhar
Rumo à meta final que ansiamos e buscamos: a eternidade,
O céu como plenitude de amor e plenitude de luz.

Cruz às costas sem reclamar, mas em Deus confiando,
Sorriso nos lábios, mesmo se lágrimas forem derramadas,
Sinal de confiança, esperança, portanto, almas iluminadas...


(1) Homilia de São Josemaria Escrivá, (Via Sacra, 11ª estação).

“Vim chamar os pecadores”

                                                         

“Vim chamar os pecadores”

Reflexão à luz da passagem proclamada na sexta-feira da 13ª semana do Tempo Comum (Mt 9,9-13), e vemos quão misericordioso é o nosso Deus, através da prática de Jesus que nos diz não ter vindo chamar os justos, mas os pecadores para a conversão.

Assim Se expressa o Senhor:

– “Aprendei, pois, o que significa: ‘Quero misericórdia e não sacrifício’De fato, eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores” (v. 13).

O Missal Quotidiano, numa página tão bela, nos enriquece:

Deus foi sempre o grande incompreendido por parte dos homens. Incompreendido em Seu agir, em Suas intervenções, incompreendido em Seu silêncio, incompreendido em Suas exigências e em Sua lei.

Mas a incompreensão maior e mais estranha refere-se à Sua misericórdia. É a incompreensão de quem não crê na misericórdia de Deus, de quem tem medo d’Ele, de quem treme ao pensar em comparecer à Sua presença, e foge do mal unicamente para evitar os Seus castigos...”.

Somente poderá compreender o Coração de Deus quem souber:

- viver a misericórdia para com o próximo, na sincera e frutuosa prática da acolhida, do perdão, da superação;

- saborear a mais bela e pura alegria que nasce do perdão dado e recebido;

- não crer que o ódio, o rancor, o ressentimento fossilizarão nas entranhas mais profundas do coração;

- transformar o coração de pedra num coração de carne, terno e manso, para que nele Deus possa frutuosa e ricamente fazer Sua morada;

- não crer que a obscuridade ao outro deva ser para sempre imposta pelo seu erro, tropeço, falha;

- compreender na exata medida o erro cometido, sem nada acrescentar, e ter também a maturidade de se colocar no lugar do outro, porque todos passíveis de erros o somos.

Somente poderá compreender o Coração de Deus quem do Senhor Jesus mesmos sentimentos e ações tiver. Quem souber gerar e formar Cristo em Si e no outro, no amor que renova, recria, reencanta, refaz, reconduz...

Quem poderá compreender o Coração de Deus?

Ó incompreendido Amor de Deus que questiona o amor humano, tão pequeno, quantificável, porque limitado, medido, calculado, com parcimônia por vezes comunicado.

Ó incompreendido Amor de Deus, que o nosso assim também o seja. Amor não é para ser compreendido, amor é para amar, simplesmente; sem teorias, explicações, racionalizações. Amor de Cruz, que ama, acolhe, perdoa, renova, faz renascer e rompe a barreira do aparentemente impossível.

O Amor vivido no extremo da Cruz, foi, é e será para sempre o verdadeiro Amor. Tão incompreendido, mas tão necessário e desafiador para a humanidade em todo tempo.

Amor que, se vivido, nos credencia para a eternidade de Deus, que é a vivência e mergulho na plenitude de Seu amor, luz, alegria e paz. Amém. 


PS: Proclamado no Sábado depois das cinzas a passagem paralela -  Evangelho de Lucas (Lc 5,27-32).


Precisa-se de Profetas! (Parte I)

                                                     

Precisa-se de Profetas!

O Profeta é a consciência crítica do povo.
O Profeta é um “ser contra...”

Desmascara as astuciosas cumplicidades com o mal; denuncia com firmeza os vícios e infidelidade do povo, a falsidade do culto, os abusos do poder, desmascara idolatrias, não compactua com injustiças, não se acomoda diante do “aprisionamento” de Deus e de Sua Palavra;

É o “juízo” de Deus sobre a malícia humana; é a simultaneidade da comunicação da vontade divina. Sua voz é apelo à conversão do coração, em nível pessoal e também coletivo. Sua vida, obra e denúncia são consequências de seu amor... A denúncia do mal não lhe faz amargo! Ele olha para o horizonte com confiança e esperança...

O Profeta é o homem da aliança:
Ele faz uma leitura divina dos acontecimentos humanos!
O Profeta é feliz porque sua felicidade é fruto da releitura humana da onipotência divina e da releitura divina da fraqueza humana...

O Profeta é o homem dos três tempos: passado, presente e futuro... Ele lê o presente com um olhar retrospectivo (aliança do Sinai) e com olhar prospectivo (Nova e Eterna Aliança). Não somente fala em nome de Deus, mas é Deus quem fala nele: Uma revelação perfeita!

Seu vigor é fruto de Alimento Divino. Nutre-se do Pão da Vida no Sacrifício Eucarístico... Alimento que o capacita para ser no mundo sinal da misericórdia divina, concretizado no cumprimento do amor ao próximo.

Reflitamos: 

- O que mais poderia ser dito sobre o ser Profeta?
- Sinto-me chamado por Deus para a vocação profética?

- Sinto a graça de Deus me acompanhando no realizar da vocação profética?
- Quais são as vocações proféticas bíblicas que mais me encantam?
- Quais são as vocações proféticas que hoje me encantam?


A comunidade de Jesus será autêntica quando for uma comunidade de Profetas, em que todos vivem com fidelidade e ardor a graça do batismo, como sacerdotes, profetas e reis, vivendo com alegria como discípulos missionários do Senhor.

Precisa-se de Profetas! (Parte II)

                                                      

Precisa-se de Profetas!

Ninguém é Profeta porque
quer, tão pouco por iniciativa própria.

Para reconduzir o povo à fidelidade, ao relacionamento fraterno, Deus toma a iniciativa de constituir Profetas. Vocação profética é uma prerrogativa divina, cabe a nós dar a resposta. A vocação profética é um dom divino a nós concedido. Vivê-la intensamente é uma resposta ao primeiro passo dado por Deus que vem sempre ao nosso encontro.

Profetas autênticos Deus suscita. Vocacionados, com a graça divina, superam todas as dificuldades da missão.

Precisa-se de Profetas! Peçamos ao Pai que nos envie Profetas. Pois, quando eles faltam, o povo perde o rumo de sua caminhada. Perde seus horizontes e mergulha num abismo de mediocridade, num deserto de esterilidade, num oceano de desumanidade, num lamaçal de atrocidades…

Quando se calam as suas vozes campeia a força dos interesses falsos e impuros, chegando ao absurdo de não se ter vergonha da imoralidade e absoluta perda da sanidade mental, espiritual, intelectual, psicológica etc…

Quando se calam suas vozes, inaugura o permissivismo, o relativismo (ausência da verdade absoluta) em que tudo é permitido até mesmo a eliminação da vida. Anuncia-se a morte de Deus para a proliferação de deuses. A humanidade não pode ter futuro prescindindo de Deus. Quando se calam suas vozes irrompe a escuridão, instaura-se o caos.

Quando se calam as suas vozes robustece, multiplica a infidelidade e idolatria. É tempo da missão profética da Igreja!

Vozes proféticas são e serão sempre luminares, portadores da luz divina para um mundo novo e por isto reafirmamos: “O Senhor é minha luz e Salvação, a quem temerei?”

Finalizo citando Santo Antônio, em um dos seus memoráveis sermões: “Quem está repleto do Espírito Santo fala várias línguas. As várias línguas são os vários testemunhos sobre Cristo, a saber: a humildade, a pobreza, a paciência e a obediência; falamos estas línguas quando são as obras que falam. Cessem, portanto, os discursos e falem as obras. Estamos saturados de palavras, mas vazios de obras. Por este motivo o Senhor nos amaldiçoa, como amaldiçoou a figueira em que não encontrara frutos, mas apenas folhas.”

Diz São Gregório:

“Há uma lei para o pregador: que faça o que prega. Em vão pregará o conhecimento da lei quem destrói a doutrina por suas obras.”

Através da Palavra e dos sinais os cristãos serão homens e mulheres no coração do mundo e, ao mesmo tempo, serão homens e mulheres no coração da Igreja!

Senhor, derramai em mim o fogo do Vosso Espírito,
para que a chama profética não se apague!

Senhor, derramai em mim a Vossa graça,
Para que o ardor da vocação profética não esfrie!

Senhor, derramai em mim a Vossa esplendorosa luz,
Para que eu seja fiel ao Caminho que a Vós conduz!

Precisa-se de Profetas! (Parte III)

                                                            

Precisa-se de Profetas!

Precisa-se de Profetas!
Mas, o que é ser Profeta em nosso tempo?

Aprofundando a vocação profética, que recebemos no dia de nosso Batismo, veremos que ser Profeta é, antes de tudo, um dom de Deus e uma resposta humana. 

A missão profética não é iniciativa da Igreja, tão pouco nossa, mas do Espírito Santo.

Os Profetas surgem onde e quando menos esperamos. Com a consciência da unção divina, une culto à prática da justiça, de modo que é constituído por Deus “para arrancar e demolir, para destruir e abater, para edificar e plantar (Jr 1,10)”.

Sua ação é fruto de um encontro decidido, marcante e apaixonado por Cristo, que o torna portador de uma fé convicta, cultivador de profunda intimidade com os Mistérios divinos.

O Profeta é permanente discípulo da escola do Amor. Aprendiz voraz da sabedoria divina do Mestre e de tantos testemunhos dos mártires e Profetas de todos os tempos.

Acolhe a Semente do Verbo antes de anunciá-La! Para falar antes com a vida e depois com as palavras e, assim, sua profecia não seja um alienante contratestemunho; sabe que é preciso cultivar a coerência entre a fé e a vida.

Sabedor da necessária, plena e permanentemente abertura à vontade de Deus: Sua vontade sempre se submete à vontade d’Aquele que o seduziu.

Compromissado com a vida do povo simples é anunciador de uma redenção radical, levando-o a purificação de todas as suas infidelidades em contínuo processo de conversão do coração, correspondendo de maneira incansável aos desejos divinos.

Não há profecia se não for o Profeta um homem de fé! Devendo estar em permanente processo de amadurecimento e acrisolamento da mesma, que vai conferi-lo e revesti-lo de autoridade divina, impossibilitando-o de se enamorar com o autoritarismo, seja de que ordem for. A vocação profética desperta no coração do Profeta uma inquietude missionária!

Ele sabe que é preciso rezar todos os dias para manter acesa a chama do profetismo em seu ministério, renovando sempre a conduta de outrora, com invejável vigor (cf. Ap 2,5).

Num mundo marcado pelas relações interesseiras, o Profeta é  sinal e testemunha da gratuidade do Amor divino, por isto sabe que precisa se alimentar na oração e na escuta da Palavra de Deus, em diálogo aberto e sincero, confiando a Deus suas inquietações, angústias, preocupações, alegrias, certezas, esperanças... Muitas vezes confrontando com realidades de tristeza e desolamento o profeta deve irradiar e testemunhar a alegria de ser Igreja, santa e pecadora, tudo fazendo para torná-la mais santa e servidora, em incontestável fidelidade ao Senhor...

A voz do Profeta é como a voz de Deus no aqui e agora... Sempre em constante sintonia e abertura para captar o sopro do Espírito, agindo como mediador e porta-voz de Deus.

Portanto, saberá calar para que a voz de Deus possa ressoar, terá uma voz intrépida a denunciar o que contraria e uma voz incansável a anunciar o mundo querido por Deus.

Por ser voz de Deus, é aquele que fala em nome de Deus! E muito mais, Deus através dele fala!

Deve, pois, falar com a autoridade d’Aquele que o envia. Portanto, precisa saber escutar, aprender e acolher a voz de Deus, para que todo povo tenha vida.

O Profeta, num mundo marcado por ruídos e barulhos ensurdecedores, é o homem do silêncio que gera o novo. Num mundo em que se semeiam mentiras e contravalores, mensagens supérfluas e tão frágeis, tão passageiras, o Profeta é mensageiro de um anúncio que não envelhece, não perde a pertinência e atualidade, não lhe sendo permitido escolher lugar, tempo e missão, porque a iniciativa é de Deus.

O Profeta não é alguém que fica nas nuvens...
Mas, com os pés fincados na realidade e nas asas do
Espírito age num lugar concreto, no quotidiano da vida...

Precisa-se de Profetas! (Parte IV)

                                                            

Precisa-se de Profetas! 
O Profeta é o poeta que sonha...

Precisa-se de Profetas, que são aqueles que sabem dar a ousada e necessária resposta aos desafios de cada tempo.

E o Profeta sabe em quem confiou:
“O Senhor é minha luz e minha salvação, a quem temerei?” (Sl 27,1)

Por isto arrisca a vida contra toda incompreensão, solidão, abandono, perseguição; jamais se deixando intimidar na luta incansável contra a idolatria, empenhando-se na luta pela libertação integral da pessoa e de todas as pessoas... Jamais se deixará devorar pelas estruturas de morte que devoram a vida.

Num mundo em que muitos já não têm esperança (alguns falam em “hopelessness”), o Profeta é, por excelência, homem da esperança divina contra toda falta de esperança humana.

Pessoa humana concreta, com paixões, sentimentos, limitações... Possui uma sexualidade integrada e integradora, possibilitando que esteja bem consigo e com todos.

A conjuntura atual está sempre na mente e no coração do Profeta! Portanto, o Profeta deve buscar respostas para os desafios, não se conformando diante destes, procurando a libertação de todo mal, de toda e qualquer forma de eliminação da vida...

Diante de práticas e mentalidades de banalização e violação da vida, o Profeta não deixa perder o valor sagrado da vida diante dos avanços da biotecnologia...

Ama e defende a vida, desde a concepção até seu declínio natural. Preocupado e desejoso de um futuro promissor, o Profeta sabe o quanto é preciso investir na educação e conscientização das crianças e juventude, sendo assim, compromete-se com a juventude que se degrada e se elimina: “juventude uma opção que não podemos deixar de fazer”.

Sua missão exige dinamismo invejável para promover o cortejo da vida: caminho da esperança, ressurreição, transformação do choro de morte na alegria da vida...; em contraposição aos cortejos de morte: sem esperança, fome, analfabetos, excluídos, drogados, vazios de sentido existencial, relativismo, etc., para que sua profecia chegue à alma daquele que o ouve...

O Profeta é o poeta que sonha... Mas que não sonha só,
Porque é parte de um povo que a Deus se consagra.

Como poeta, escreve a poesia e o canto de um
Mundo Novo, onde todos possam viver
como irmãos e filhos de um mesmo Pai.

Profetas do Reino (XIVDTCB)

Profetas do Reino

           “Jesus lhes dizia:
'Um profeta só não é estimado em sua pátria,
entre seus parentes e familiares'” (Mc 6,1)

Com a Liturgia do 14º Domingo do Tempo Comum (ano B), refletimos sobre o chamado que Deus faz para a realização de Seu Projeto de Salvação: Deus chama os pequenos e fracos e, através destes, manifesta a Sua força. Escolhe, acompanha e envia em missão e os assiste em todo o tempo e em todas as situações.

Na passagem da primeira Leitura, refletimos sobre a vocação do Profeta Ezequiel (Ez 2,2-5) que, como toda vocação profética, é uma iniciativa de Deus e uma resposta humana, para ser no meio do Povo a voz de Deus: a missão do Profeta consiste em falar e atuar em nome de Deus.

O Profeta Ezequiel exerce o ministério profético no difícil tempo do exílio na Babilônia, e pode ser chamado “o Profeta da esperança”, denunciando as infidelidades a Javé que levaram o povo ao exílio, e também destruindo as falsas esperanças dos exilados, levando-os a confiar tão apenas em Deus, que não os abandonou e os reconduzirá de volta à sua terra.

O ministério do Profeta Ezequiel nos revela que Deus chama homens e mulheres frágeis e limitados e sua missão consiste em apresentar Sua proposta, ou seja, ser uma voz humana que indique os caminhos de Deus.

Pelo Batismo, também recebemos a missão de sermos profetas, fomos ungidos como profetas à imagem de Cristo. Como profetas, temos que viver com os olhos postos em Deus e os olhos postos no mundo (uma mão na Bíblia e a outra no jornal diário).

Deste modo conseguimos perceber a distância existente entre o sonho de Deus para a humanidade e a realidade vivida.

A vocação profética por vezes comporta perseguição, sofrimento e marginalização, e por isto, é preciso vencer todo medo, comodismo, preguiça que nos impeçam de viver esta missão.

Reflitamos:

- Quem são e onde estão os profetas hoje?
- O que mais nos impede a vivência da vocação profética?
- Temos consciência de que as fragilidades não são obstáculos para a vivência da vocação profética?

Na passagem da segunda Leitura (2 Cor 12,7-10), o Apóstolo Paulo nos comunica a mensagem de que somos instrumentos frágeis, finitos e limitados nas mãos de Deus.

Ele próprio não se vale de seus méritos e se apresenta como homem frágil e vulnerável, a quem Deus chamou e enviou para dar testemunho de Jesus Cristo a todo o mundo.

A finitude e a fragilidade não são determinantes para a missão, porque o que prevalece é a graça divina. Em nossa fraqueza, Deus manifesta a Sua força para vencermos todo desânimo e tentação de desistir.

O cristão autêntico vive em função de Cristo e conta com Ele na Palavra e na Eucaristia.

Reflitamos:

- Qual é o lugar que Jesus ocupa em minhas decisões, projetos, opções e atitudes?
- Quando experimentei a força de Deus em minha fraqueza?

Na passagem do Evangelho (Mc 6,1-6), contemplamos a ação de Deus, que Se revela na fraqueza e na fragilidade, e por isto a dificuldade dos conterrâneos de Jesus reconhecê-Lo como Salvador da humanidade; não conseguem reconhecer a presença de Deus naquilo que Ele diz e faz.

Esta rejeição, no entanto, não invalida Sua procedência divina nem O leva a desistir da missão pelo Pai confiada.

No rosto humano de Jesus, a divindade de Deus se revela, e no rosto divino de Jesus se revela a Sua humanidade: em Jesus o humano e o divino se encontram.

A atitude de Jesus nos convida a nunca desanimar e desistir: Deus tem Seus Projetos e sabe como transformar o fracasso em êxito.

Pelo Batismo, continuamos a missão de Jesus vivendo a vocação como graça e enfrentando as possíveis dificuldades.

A missão do profeta, no seguimento do Senhor, não é a busca do prazer, sucesso, vedetismo, holofotes, mas é algo sério, profundo e que dá sentido à vida.

É Deus que nos chama para a vocação profética apesar de nossas limitações, mas somente uma paixão profunda por Jesus nos fará profetas, aguentando o espinho na carne, enfrentando e superando incompreensões, oposições e acusações.

Reflitamos:

- Qual é a minha vocação na Igreja e no mundo?
- De que modo me abro à graça divina para viver a vocação e enfrentar possíveis dificuldades?
- Para onde Deus me envia?
- Como se manifesta em mim a graça divina?

Voltemo-nos à oração depois da comunhão da Solenidade de Pedro e Paulo, que muito nos fortalece no discipulado e missão para sermos hoje os profetas no mundo como Deus tanto espera.

“Concedei-nos, ó Deus, por esta Eucaristia, viver de tal modo na Vossa Igreja que, perseverando na Fração do Pão e na Doutrina dos Apóstolos, e enraizados no Vosso Amor, sejamos um só coração e uma só alma. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém!”

Tão somente enraizados no amor de Deus e nutridos pelo Pão da Imortalidade, iluminados pela Palavra do Senhor, e com a força e luz do Santo Espírito é que poderemos realizar com solicitude e ardor a missão profética recebida no dia de nosso Batismo.

Sem paixão e a Graça Divina não há profecia (XIVDTCB)

Sem paixão e a Graça Divina não há profecia

A Liturgia do 14º domingo (ano B) revela um Deus que nos chama para sermos Suas testemunhas, apesar de nossas limitações, fragilidades, pois é paradoxalmente em nossa fraqueza que Ele manifesta a Sua força.

Com a primeira Leitura (Ez 2, 2-5) refletimos sobre a vocação profética, que consiste numa iniciativa de Deus. Não existe autovocação, ninguém é Profeta por iniciativa própria, pois sua vocação é antes um desígnio divino.

O Profeta é uma pessoa frágil e limitada, mas contando sempre com a força e presença de Deus, torna-se uma voz humana que indica os caminhos de Deus.

Sua vocação é fruto da eleição divina, apesar dos limites humanos naturais.

Ezequiel, o Profeta da esperança, exerceu seu ministério no dificílimo momento da história do Povo de Deus, no meio dos exilados judeus. Sua missão consistiu em destruir as falsas esperanças dos exilados e denunciar a multiplicação de infidelidades do Povo a Javé. 

Portanto, a missão do Profeta é revelar o sonho de Deus, que é infinitamente superior à realidade que se nos apresenta.  Tem os olhos postos em Deus no mundo. Lê a realidade, o “jornal diário” à luz da Palavra Divina. 

É um precioso instrumento nas mãos de Deus para Sua proposta libertadora, e por isto o Profeta Ezequiel tem a árdua missão de alimentar a esperança e a confiança em Deus, irrevogavelmente fiel à Sua Aliança com o Povo.

Poderá sofrer perseguições, sofrimentos, marginalização ou sucumbir no medo, comodismo ou preguiça.

Reflitamos:

-  Quem são e onde estão os Profetas de hoje?
-   Como vivemos a vocação profética recebida no dia de nosso Batismo?

-  O que mais impede a vivência de minha vocação profética?
-  Tenho consciência de que minhas fragilidades não são obstáculos para viver a vocação profética?

O Apóstolo Paulo na passagem da segunda Leitura (2Cor 12,7-10) reforça o fato de sermos instrumentos finitos e limitados nas mãos de Deus.

O texto pertence à terceira parte da Carta em que Paulo, num estilo apaixonado, defende a autenticidade de seu ministério diante de “superapóstolos” que o acusavam de não ser fiel à doutrina dos Apóstolos, entre outras coisas.

Paulo não se vale dos seus méritos, mas se apresenta como homem frágil e vulnerável, para que a força e a graça de Deus nele se manifestassem e mostrassem os Seus caminhos.

Há uma fraqueza que permite a plena manifestação do poder de Deus: é a que é vista e aceita com fé humilde, com disponibilidade confiante, com obediência filial. Então Deus pode fazer coisas grandes”. (1)

É na fraqueza humana que Deus revela a Sua força, e faz-se necessário vencer toda e qualquer forma de desânimo e a tentação de desistir:

“Do mesmo modo, porém, como Cristo Crucificado é ‘poder de Deus e sabedoria de Deus para todos os que creem’, assim a fraqueza do evangelizador não lhe é tirada, mas é vista num mundo diametralmente oposto – 'quando sou fraco, então é que sou forte' (v.10)". (2)

Com Paulo, aprendemos que o cristão autêntico vive em função de Cristo.

Reflitamos:

  -   Qual o lugar que Jesus ocupa em minhas decisões, projetos, opções e atitudes?
  -   Como acolho a graça de Deus em minha vida e missão?

  -   Sou consciente de minhas fraquezas e limitações para que apesar delas, Deus possa manifestar a Sua força, Seu Projeto, Seus desígnios?
  -   Confio na força e atuação de Deus por meio de minha condição finita e frágil?

Com a passagem do Evangelho (Mc 6,1-6), contemplamos através da ação e presença de Jesus, um Deus que Se manifesta na fraqueza e na fragilidade. 

Os conterrâneos de Jesus em Nazaré, não souberam ir ao encontro e acolher Deus na pessoa de Jesus, o Emanuel, Deus conosco, ao contrário, tiveram uma reação totalmente oposta, de rejeição, indiferença.

Podemos nós também acolher ou nos tornarmos indiferentes à proposta de Jesus, como Seus conterrâneos, fechados em nossos esquemas mentais, preconceitos diversos, que impedem o reconhecimento e acolhida d’Ele em nossa vida.

Embora rejeitado pelos Seus a missão de Jesus não é invalidada e tão pouco interrompida. Bem dizia São Francisco pelos caminhos da Itália: “O Amor não é amado”.

“Cristo Crucificado é o emblema do Amor infinito de Deus por nós. Embora vergados sob a Cruz, com coração obstinado, os homens desafiam a Sua onipotência; Ele permanece inerme na Cruz, mostrando um Amor indefectível, mais forte que a morte.

[...] A Cruz de Cristo revela a maldade humana, mas, mais ainda, revela o Amor de Deus. Aos pés da Cruz de Cristo confrontam-se num dramático e perene duelo, ‘a fortaleza débil’ do homem e a ‘fraqueza forte’ de Deus. A fé é que nos revela quem é o vencedor”. (3)

Pode ocorrer na missão dos discípulos o mesmo, importa não deixar se levar pelo desânimo, frustração, dificuldades.

Se grande é a incredulidade humana, bem maior é o Amor de Deus por nós. 

Reflitamos:

  -  A missão do Profeta não é uma missão de descanso e fuga. Assim compreendo a minha missão?
  -  A missão do Profeta não é pelo prazer, mas fidelidade ao Sopro do Espírito, suportando as diversas dificuldades acima mencionadas. Sei suportar estas dificuldades, provações, na vivência de minha vocação profética?

  -   Qual é a minha vocação?
  -   Para que Deus me chama?

  -   Para onde Deus me envia?
  -   Como se manifesta em mim a graça divina?
  -   Quais são as dificuldades a serem superadas?

Colocar-se frente a estas questões permite um olhar mais atento aos grandes personagens da Bíblia, que viveram sua história de amor e sedução por Deus, cada um em seu tempo: Ezequiel, o Apóstolo Paulo, e tantos outros.

Hoje, na fidelidade ao Senhor, é preciso enraizar profundamente em Seu Amor, sem o que a chama profética se apagaria totalmente, e com isto não saberíamos qual o sentido do próprio existir.

Que na Eucaristia celebrada, pela Palavra de Deus iluminados, e pelo Pão da Imortalidade fortalecidos, renovemos e revigoremos a nossa vocação profética. 

Precisa-se de Profetas autênticos, para que o mundo seja mais próximo do que Deus quer para nós. Qual é a nossa resposta?

Oremos:
Que Deus nos conceda a graça de uma fé humilde,
disponibilidade confiante e obediência filial,
para vivermos autenticamente a missão que nos confia, 
não por causa de nossa força e mérito,
até mesmo por falta deles. 
Amém!


(1) (2) (3) - Lecionário Comentado - Editora Paulus - Lisboa -  pág. 663-666.