sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Presbítero: Homem da Palavra e de palavra


Presbítero: Homem da Palavra e de palavra

A pós-modernidade apresenta para a humanidade inúmeros desafios, dentre eles, podemos destacar a crise da credibilidade da palavra. Se há algo que entrelaça as pessoas, e cria elos de confiança, solidariedade e comunhão, é a palavra.

Quando tudo parece efêmero, passageiro e fugaz, emerge a necessidade de algo que dê segurança na grande travessia e aventura da história humana: a força da palavra.

Missão fundamental, neste contexto, desempenham os presbíteros, que foram constituídos ministros do Verbo que Se fez Carne e habitou no meio de nós (Jo 1), a própria Palavra viva e eficaz, mais penetrante que qualquer espada (Hb 4,12).

Pregam não a si mesmos, tão pouco ideias próprias e filosofias que passam, mas a Palavra Eterna – “Toda a Escritura é inspirada por Deus, para instruir, para refutar, para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, qualificado para toda obra” (2Tm 3,16-17).

Já no século VI, o papa São Gregório Magno dizia-nos “Seja o pastor discreto no silêncio, útil na fala, para não falar o que deve calar, nem calar o que deve dizer. Pois da mesma forma que uma palavra inconsiderada arrasta ao erro, o silêncio inoportuno deixa no erro aqueles a quem poderia instruir...”, e ainda dizia com tristeza -“... embora haja quem escute as boas palavras, falta quem as diga. Eis que o mundo está cheio de Sacerdotes. Todavia na messe de Deus é muito raro encontrar-se um operário. Recebemos, é certo, o ofício sacerdotal, mas não o pomos em prática...”.

O sopro do Concílio Vaticano II nos desafiou a assumir as alegrias e tristezas, angústias e esperanças da humanidade, como Igreja de Cristo. Tudo o que há de humano, toca a vida da Igreja, consequentemente, o Ministério Presbiteral.

Deste modo, as comunidades esperam do presbítero uma palavra, não uma palavra qualquer, paliativa, provisória, mas uma palavra divina, inspiradora e fonte para a busca de novos horizontes, no embate quotidiano.

A cada instante, as mais diversas situações vividas pelo Povo de Deus pedem uma palavra. Diante de um nascimento, a gratidão a Deus pelo dom da vida; no processo educativo das crianças, compartilhamos a missão dos pais; na ausência da saúde, a palavra de bênção e encorajamento; na hora da agonia, uma palavra de carinho e esperança; quando tudo parece escuridão, uma palavra que se faz uma centelha de luz; na insegurança que nos acompanha, uma palavra de confiança d’Aquele que jamais nos decepciona: “provai e vede como o Senhor é bom, feliz quem n’Ele encontra o seu refúgio” (Sl 34,9); nas questões emergentes uma palavra ética, que assegure a sacralidade da vida; na hora derradeira, na hora da morte, a palavra que aponta à eternidade; à glória da Ressurreição.

Os presbíteros são por excelência ministros de um Deus vivo e Ressuscitado, que quer vida plena para todos, desde o tempo presente, culminando na luz da eternidade, manifestação da plenitude do Amor de Deus. O presbítero é testemunha de que o céu é possível, e começa agora, aqui, e completa-se na Jerusalém Celeste.

Lembremos sempre as palavras pronunciadas pelo bispo, no dia da Ordenação Diaconal, quando entrega ao candidato o Livro dos Santos Evangelhos e diz: “Recebe o Evangelho de Cristo do qual foste constituído mensageiro; transforma em fé viva o que leres, ensina aquilo que creres e procura realizar o que ensinares”

Desde então, e para sempre, o presbítero se torna o homem da Palavra e há de ser sempre um homem de palavra!

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG