quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Proclamar a Palavra com palavras e obras

Proclamar a Palavra com palavras e obras

“... Pois a vitalidade da pregação, os efeitos
para quem prega e ouve são sempre
os mesmos: saciar-se do essencial.”

Sejamos iluminados por uma das Cartas do Bispo Santo Ambrósio, cuja memória celebramos no dia sete de dezembro.

"Recebeste o múnus sacerdotal e, sentado à popa da Igreja, governas a barca em meio às ondas. Segura bem o leme da fé, para que as fortes procelas do mundo não te perturbem. O mar é, na verdade, grande e vasto, mas não temas: ele a tornou firme sobre os mares e sobre as águas a mantém inabalável 
(Sl 23, 2).

Por isso, não é sem razão que entre tantas agitações do mundo, a Igreja do Senhor, edificada sobre a pedra apostólica, permanece firme e, contra o ímpeto das águas, se apoia sobre inabalável fundamento.

É batida pelas ondas, mas não abalada; e embora muitas vezes os elementos deste mundo a sacudam com grande fragor, ela oferece aos navegantes cansados o mais seguro porto de salvação.

Ela flutua no mar, mas também corre pelos rios, sobretudo aqueles rios dos quais se diz: Levantaram os rios a sua voz (Sl 92, 3). São os rios que brotam do coração daqueles que beberam da Água de Cristo e receberam o Espírito de Deus. Quando transbordam de graça espiritual, estes rios levantam a sua voz.

Há também um rio que corre para os seus santos como uma torrente. Existe ainda o ímpeto do rio que alegra a alma tranquila e pacífica. Quem receber da plenitude deste rio, como João Evangelista, Pedro e Paulo, levanta a sua voz.

E do mesmo modo que os Apóstolos difundiram até os confins da terra, como num canto harmonioso, a voz da pregação evangélica, assim o que receber da plenitude desse rio começa a anunciar o Evangelho do Senhor Jesus.

Recebe, portanto, da plenitude de Cristo para que tua voz também se manifeste. Apanha a água de Cristo, essa água que louva o Senhor. Apanha de muitos lugares a água que as nuvens dos profetas deixam cair.

Quem apanha a água dos montes ou a retira e bebe das fontes, também começa a orvalhar como as nuvens. Enche, pois, o íntimo do teu espírito com esta água, para que a terra da tua alma seja regada e tenhas a fonte em tua própria casa.

Quem muito se lê e compreende, fica repleto; e quem está repleto pode regar os demais; por isso, diz a Escritura: Se as nuvens estiverem carregadas, farão cair a chuva sobre a terra (Eclo 11, 3).

As tuas pregações sejam fluentes, puras e claras, de modo que o teu ensinamento moral penetre suavemente nos que te escutam, e o encanto de tuas palavras inspire a confiança ao povo; deste modo ele te seguirá, de boa vontade, para onde o conduzires.

Os teus discursos sejam repletos de inteligência. Por isso, diz Salomão: Os lábios do sábio são as armas da sabedoria (cf. Pr 15, 7); e noutra passagem: O pensamento dirija os teus lábios, isto é, os teus sermões brilhem pela sua clareza, e teus discursos e explicações dispensem as opiniões alheias.

Que tua palavra seja capaz de se defender por si mesma. Enfim, não saia de tua boca nenhuma palavra inútil e sem sentido”.

A Carta nos convida à conversão e à preparação dos caminhos do Senhor, com vistas ao Natal que se aproxima, aplainando as veredas, derrubando os montes de nosso egoísmo, nivelando os vales de nossa fragilidade, como testemunhas do Senhor.

Sobretudo, porque vivemos um tempo de mudança de uma época, tempo em que as palavras de muitos são questionadas por falta de coerência, testemunho, pertinência...

Tempos em que a palavra profecia precisa ser engravidada pela mais pura e necessária poesia.

Tempo de preparação para a acolhida da Palavra que se fez Carne. Tempo para que Presbíteros e cristãos deem conteúdo substancial à existência, para que o Evangelho anunciado não perca suas marcas: ser luz, sal e fermento de uma nova aurora.

Deste modo, cremos que o essencial somente pode vir de Deus, água cristalina que sacia as sedes mais profundas de toda a humanidade, em qualquer tempo: sede de amor, vida, alegria, e paz, santidade e graça... Sede do Reino.

Portanto, a Palavra anunciada, ouvida, acolhida e vivida
pelo pregador e ouvintes, é a mais bela certeza
de que o mundo pode ser diferente, de que o
Reino de Deus já está presente em nosso meio!

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG