sábado, 1 de novembro de 2025

“A montanha azul”

                                                       

“A montanha azul”

Com passos firmes, subi à montanha azul, lugar que bem perto se pode encontrar.
Vencendo todo o cansaço e vozes que repetiam em coro: – “você não conseguirá”.
Mas, fôlego renovado, ao topo mais alto que se pode alcançar.

No cume da montanha, apenas o som do vento a escutar,
Ou quando muito, os passos trocados, de um lado para outro.
Olhos fixos no horizonte de um novo amanhecer,
Que não tardará por vir; ainda que as dificuldades pareçam a noite eternizar.

Páginas novas na planície serão escritas, com ousada teimosia,
Contra todos os cantos agourentos que, por vezes, parecem tornar impossíveis
Os mais belos sonhos que podemos ter; no secreto silêncio da alma sonhar.

Mas lá não se pode para sempre ficar; ainda que tentador,
É preciso pisar nos cacos de vidros da planície do cotidiano, com risco de se cortar,
Mas contar com a proteção que nos vem do alto, contra toda forma de perigo,
Pois Ele jamais se afasta daqueles que tanto ama, sendo em todo o tempo,
Nosso abrigo, refúgio, consolo, força e proteção, e jamais nos decepciona.

Cada um de nós precisa desta montanha azul, de momentos de restauração,
Em que nos colocamos despidos diante do Criador, com nossa miséria e limitação.

Envolvidos por Sua divina presença, impelidos a descer para o chão da realidade,
Para ser no mundo, para todos que precisarem, d’Ele, divino sinal,
Sua luz irradiar, no testemunho de uma fé irmanada com a esperança e caridade.


PS: Passagens bíblicas - Mt 5,1-12a; Cl 3,1-5.9-11

O julgamento final e as obras de misericórdia

                                                             


                       O julgamento final e as obras de misericórdia

Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Mateus (Mt 25,31-46), que nos fala sobre o juízo final, quando o Senhor virá em Sua glória para nos julgar a todos.

Trata-se de uma passagem fundamental para todos nós, pois nos ilumina para que vivamos uma religião pura e verdadeira aos olhos de Deus.

Deste modo, nossas orações, tudo o que professamos e celebramos, precisa ser mais do que nunca acompanhado de compromissos concretos, como vemos nas obras de Misericórdia Corporais e Espirituais:

Obras de misericórdia corporais: Dar de comer a quem tem fome; dar de beber a quem tem sede; vestir os nus; dar pousada aos peregrinos; assistir aos enfermos; visitar os presos; enterrar os mortos. 

Obras de misericórdia espirituaisDar bom conselho; ensinar os ignorantes; corrigir os que erram; consolar os aflitos; perdoar as injúrias; sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo; rogar a Deus por vivos e defuntos.  

São iluminadoras as palavras do Bispo e Doutor Santo Agostinho sobre esta passagem:

“Todo o mal que os maus fazem é registado – e eles não o sabem. No dia em que ‘Deus virá e não se calará’ (Sl 50, 3) [...]. Então, Ele Se voltará para os da Sua esquerda: ‘Na terra, dir-lhes-á, Eu tinha posto para vós os meus pobrezinhos, Eu, Cabeça deles, estava no céu sentado à direita do Pai – mas na terra os meus membros tinham fome: o que vós tivésseis dado aos meus membros, teria chegado à Cabeça. Quando Eu coloquei os meus pobrezinhos na terra, constituí-os vossos portadores para trazerem as vossas boas obras ao meu tesouro. Vós nada depositastes nas mãos deles: por isso nada encontrais em Mim’” (1).

Tenhamos sempre esta solicitude para com os “pobrezinhos na terra”, pois são eles os “portadores” que levam nossas boas obras ao tesouro do Senhor.

Empenhemo-nos neste “depósito”, para que possamos ouvir dos lábios do Senhor:

“Vinde benditos de meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo” (Mt 25,34).  

(1)         Sermão de Santo Agostinho – cf. Catecismo da Igreja Católica n. 1039


PS: Apropriado para o dia de Finados ou da Solenidade de Cristo Rei e Senhor do Universo, quando se proclama esta passagem do Evangelho de Mateus (Mt 25,31-46)

Em poucas palavras...

                                            


Perfeitamente configurados a Jesus 

“‘Dar a vida pelos irmãos’ pode ser mera frase feita, se a experiência de evangelho vivido pessoalmente não nos der um mínimo de base vital comum com Cristo encarnado, crucificado e ressuscitado” (1)

 

(1)               Missal Cotidiano – Comentário da passagem da Carta de Paulo aos Filipenses (Fl 2,5-11) – pág. 1453

Sejamos iluminados pelas Bem-Aventuranças

                                                          

Sejamos iluminados pelas Bem-Aventuranças

Acompanhando o noticiário, vemos o mundo em mudança de época, e muitos são os desafios que se colocam na construção da civilização do amor.

A realidade que vivemos (corrupção, desvio de verbas, não investimento na saúde, educação, lazer...) está bem longe da realidade que Deus para nós espera 

Ainda lembremos os assassinatos, fome, desemprego, narcotráfico, rebeliões em presídios, e muitos outros fatos poderiam ser mencionados, associando-se ao desencanto com o exercício da política, que visa privilégios, e, por vezes, fomenta a corrupção e o mau uso do poder, que deveria ser o exercício em favor do bem comum.

É tempo de reflexão, discussão, discernimento, sobretudo de muita oração, em que não podemos prescindir da Palavra de Deus, invocando a luz do Espírito Santo.

É inconcebível e inadmissível não nos deixarmos conduzir e nos iluminar pela doutrina que professamos nos cultos, diante do altar.

Trairíamos toda a nossa prática evangelizadora, perderíamos nossa credibilidade profética, a chama de nossa fé nada iluminaria, e o sal da terra que somos chamados a ser, que sabor teria? Nenhum! E como afirma a Palavra, o sal que perde seu sabor para nada mais serve, a não ser para ser pisado e jogado fora.

Mas é exatamente neste momento de crise que somos chamados a dar razão de nossa esperança, vivendo os irrenunciáveis compromissos que brotam de nossa fé, que se solidifica e enraíza na cultura e na história.

Nossas orações jamais agradarão ao Senhor, se não forem acompanhadas de ações efetivas em favor da vida, de seu caráter sagrado e inviolável, da concepção ao declínio natural.

É hora de subirmos à “montanha” e escutarmos mais uma vez o Sermão do Senhor (Mt 5,1-12), as Bem-Aventuranças. Mas é também tempo de não fugirmos da dura realidade da “planície” em que vivemos. Como viver as Bem-Aventuranças no chão de nosso cotidiano, sendo sal da terra e luz do mundo?  

Concluo citando Santo Agostinho, que em uma de suas belas reflexões nos disse: “A Sagrada Escritura é para nos ajudar a decifrar o mundo; para nos devolver o olhar da fé e da contemplação, e transformar a realidade numa grande revelação de Deus”.

É preciso, portanto, que não percamos o olhar da fé e da contemplação que a Palavra nos desperta. Não podemos perder o horizonte de que outro mundo é possível. Somos movidos sempre pela esperança de um novo céu e uma nova terra, que começa aqui e agora!

Decifrar o mundo é preciso, transformá-lo é necessário! Iluminados, fortalecidos, orientados e conduzidos pela Palavra Divina, fermentemos o mundo novo, como graça e missão, que Deus a nós confiou.

Cruz e santidade

                                                             

Cruz e santidade

Não existe santidade autêntica sem as renúncias cotidianas necessárias, e o carregar da cruz com fidelidade incondicional ao Senhor, à Sua Palavra e ao Projeto do Reino, que nos confiou a anunciar e testemunhar.

Santidade implica na maturidade e coragem para carregar a cruz, com a confiança de que não caminhamos sozinhos e tão pouco a carregamos sós: Ele caminha conosco e Se fez solidários com todos no carregar da cruz cotidiana.

A ausência da maturidade priva-nos da serenidade, no tempo presente, para carregá-la, e definitivamente do gozo da plena felicidade futura, e que já pode ser experimentada enquanto a cruz se carrega.

Neste carregar da cruz pode ser que caiamos, mas haverá sempre mãos estendidas a nos levantar, com palavras que, como bálsamos, nossas feridas curar, reavivando nossas forças e esperança, pondo-nos de pés firmes, neste difícil, árduo e necessário caminho de santidade, sem a perda do horizonte da eternidade.

Cremos que os Santos viveram tudo o quanto se diz em matéria de fidelidade ao Senhor e da prática das Bem-Aventuranças, e se quisermos a mesma felicidade alcançar, nos diz Santo Tomás de Aquino, é preciso em primeiro lugar, querer, em segundo lugar, querer, e em terceiro lugar, querer sempre.

Santidade é dom divino e não dispensa nossos compromissos e esforços contínuos, fortalecidos pela oração e de modo especialíssimo pela Palavra de Deus, que nos ilumina e nos conduz, e pelo Pão da Eucaristia, no qual o próprio Senhor Se dá em Verdadeira Comida e Bebida. 

A verdadeira felicidade

 



A verdadeira felicidade
 
A título de aprofundamento da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 6,17.20-26; Mt 5,1-12), sobre as Bem-Aventuranças, que Jesus Cristo apresentou como projeto de vida para Seus discípulos, retomemos esta reflexão de Pe. José David Quintal Vieira, scj:
 
 “Desiludido pela vida, um beduíno isolou-se no deserto. Depois de muito andar entrou numa gruta tão enigmática como a sua vida.
 
Olhando as paredes nuas e frias, seguiu um rasto de luz.
 
– Entra, meu irmão – encorajou-o uma voz benévola.
 
Na penumbra viu então um eremita em oração.
 
– Tu vives aqui? – perguntou surpreso – Como consegues resistir sem conforto e longe de todos? Como podes ser feliz aqui?
 
O eremita sorriu:
 
– Eu vivo pobre mas tenho um grande tesouro. Olha para cima – E apontou para uma pequena abertura no teto da gruta – Que vês?
 
– Não vejo nada.
 
– De certeza que não descobres nada?
 
– Só um pedaço do céu…
 
– Só um pedaço de céu?! E não te parece que é um tesouro maravilhoso?
 
Jesus Cristo apresenta-nos hoje uma proposta de felicidade. Muitas vezes a nossa felicidade parece um projeto adiado: Só seremos felizes quando tivermos isto, quando fizermos aquilo, quando chegarmos ali… Depois ficamos frustrados porque a felicidade continua mais à frente, qual alvo móvel.
 
A felicidade é um caminho. Aproveite todos os momentos que tem, eles são um cantinho do céu. Não há hora melhor para ser feliz do que agora mesmo, com ou sem lágrimas. A felicidade é uma viagem, não um destino.”
 
Montanha (Evangelho de Mateus) ou planície (Evangelho de Lucas), de fato, as Bem-Aventuranças nos apontam um paradoxal caminho de felicidade, muitas vezes em total oposição à felicidade que o mundo propõe.
 
A exemplo do beduíno, tenhamos no horizonte o “pedaço do céu” para, com coragem, darmos testemunho de fé, como peregrinos de esperança, na vivência da caridade.
 
De fato, a felicidade é uma viagem que fazemos e não um destino, com suas renúncias, fidelidade e oração.
 
Importa que não nos percamos nesta viagem, e, assim, já sentiremos o gosto da verdadeira felicidade. 

Somos vocacionados à santidade

                                                          

Somos vocacionados à santidade

                                                          “Portanto, deveis ser perfeitos
como o vosso Pai Celeste é perfeito” (Mt 5,48)
 
A verdadeira devoção aos santos consiste em imitar as suas virtudes, como nos ensina a Igreja, na Constituição “Lumen Gentium” -“Todos somos chamados à santidade por vocação, que consiste num chamado universal a partir de Cristo, portanto, constitui em missão essencial da Igreja a santificação, de modo que esta deve ser vivida nos diversos estados de vida que compõem o Povo de Deus” (cf. LG n.40.41).

Precisamos trilhar este caminho sem vacilar na fé, esmorecer na esperança e esfriar na caridade, pois tão somente movidos pelas virtudes divinas, manteremos acesa a chama ardente da santidade, como expressão do fogo do Espírito, que a todos aquece e ilumina.

Tenhamos como ponto de partida o encontro com o Senhor, um encontro que encheu a vida do discípulo missionário de alegria, convidando-o à conversão e ao discipulado missionário, como tão bem expressou o Papa Bento XVI: “No início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (Carta Encíclica Deus caritas est n.1). 

Urge compreender as marcas dos tempos, que caracterizam uma mudança de época, com profundas transformações e, com elas, os riscos e consequências que nos desafiam no anúncio e testemunho da Boa-Nova de Jesus, para que através da ação evangelizadora, edifiquemos uma Igreja firmada nos pilares da Palavra, do Pão da Eucaristia, da Caridade e da Ação Missionária.

Concluindo, é preciso que vivendo a devoção aos santos, os tenhamos como luminares inspiradores no caminho de santidade, até que um dia o céu mereçamos também alcançar. 
 

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG