domingo, 31 de agosto de 2025

Ensinai-nos, Senhor, a prática da caridade inteligente (XXIIDTCC)

                                                                   


  Ensinai-nos, Senhor, a prática da caridade inteligente

Deus Se revela como misericórdia e compaixão para com os pequenos e pobres, os excluídos de toda ordem, de toda forma, de todo tempo, e em todo tempo.

A misericórdia de Jesus com os poderosos Se manifesta ao abrir-lhes a mente e o coração, para que não se prevaleçam de uma pretensa sabedoria e religiosidade sem compromissos sinceros e concretos com a vida humana, com a dignidade de cada pessoa que carrega em si a imagem real divina.

Religião agradável a Deus é a prática da caridade inteligente que se manifesta na:

- Humildade,
- Procura da verdade,
- Paciência em ouvir,
- Sabedoria em dialogar,
- Fortaleza nas decisões desagradáveis,
- Promoção da vida, acima de toda lei, pelo seu valor inviolável e sagrado,
- No Amor e serviço a Cristo em cada irmão e irmã…

Oremos:

Fazei-nos crescer, Senhor, em caridade e em sabedoria, pois repletos do Vosso Amor saberemos nos colocar a serviço de Vós em cada irmão e irmã, em todos os momentos da vida.

Dai-nos a graça de crescer em sabedoria e conhecimento para descobrir Vossos desígnios e bem realizá-los em nossas vidas e na vida de nossos irmãos.

Conceda-nos não apenas crescer na caridade, mas numa caridade inteligente, que promove, liberta, edifica, ilumina.

Permita-nos, Senhor, a prática da caridade inteligente, que coloca a lei a serviço da vida, a pessoa acima dos próprios interesses, a sinceridade em tudo o que se faz.

Sejamos impregnados, Senhor, de Vosso Amor, para que multipliquemos as obras de misericórdia e possamos ser de Vós resplandecentes luzes.

Saibamos agradecer a Deus Seu Amor por nós e finalmente supliquemos: “Ó Deus, dai-nos resistência na tentação; paciência na tribulação e gratidão na prosperidade. Amém!”

Finalizo com as palavras de William Shakespeare:  “A gratidão é o único tesouro dos humildes”.

Senhor, que nosso tesouro, a nossa riqueza seja o sentimento de eterna gratidão por Vosso Amor.

“O Verbo Se fez humildade, e encarnou entre nós”(XXIIDTCC)

                                                   

“O Verbo Se fez humildade, e encarnou entre nós”

Um ensinamento do Divino Mestre sobre a humildade que refletimos com a passagem do Evangelho (Lc 14,1.7-14), proclamado do 22º Domingo do Tempo Comum (ano C).

Assim nos disse o Senhor: “Todo aquele que se exaltar será humilhado, e todo aquele que se humilhar será exaltado”.

Em Jesus, encontramos a verdadeira humildade, porque Ele Se abaixou, desceu: “quando encontrando-Se na condição divina, não considerou Sua igualdade com Deus como um tesouro a ser conservado ciosamente, humilhou-Se e foi obediente até a morte (Fl 2,6-8).

Durante a vida, depois, foi sempre coerente com esta escolha: Ele o Mestre, abaixa-Se para lavar os pés dos discípulos, comporta-Se como ‘Aquele que serve’; desce, desce, desce até que – tendo chegado ao ponto mais baixo, no túmulo – chega o Pai para O apanhar, O eleva acima dos céus e o estabelece chefe do universo, colocando tudo sob os Seus pés. Eis como Deus mesmo realizou Sua Palavra: ‘aquele que se humilhar será exaltado. Doravante, ser humilde, significa algo muito simples: ter os mesmos sentimentos de Cristo Jesus (Fl 2,5), comportando-se como Jesus Se comportou” (1).

Voltemo-nos para algumas definições de humildade que encontramos no livro “O Verbo Se faz carne” , de Raniero Cantalamessa, acima citado:

- “A humildade é antes de tudo uma questão de fatos, de escolhas, de atitudes concretas, não uma maneira de sentir e de falar de si.”

- “É a disponibilidade a descer de nós mesmos, abaixar-se para os irmãos, é vontade de servir, e de servir por amor, não por algum cálculo ou vantagem ou glória que possam advir para nós mesmos.”

- “A humildade é gratuidade.”

- “A humildade é uma manifestação do ágape, isto é, do amor de doação, do qual fala São Paulo no famoso hino (1 Cor 13,4); dizer que ‘a caridade é paciente, não se ostenta, não guarda rancor’, significa dizer que a caridade é humilde e que a humildade é caridade.”

- “Ser humilde, segundo modelo de Jesus, significa perder-se, gastar-se gratuitamente; significa ‘não viver para si mesmo’, mas para os outros, isto é, procurando levar os outros para si (reduzindo-os, quem sabe, a escravos ou a objetos para nossas vantagens pessoais), mas procurando ir ao encontro dos outros.”

- “’Humildade é verdade’. Santa Tereza escreve: ‘Perguntava-me uma vez por que o Senhor ama tanto a humildade e me veio à mente de improviso, sem nenhuma reflexão, que isto deve ser porque Ele é suma verdade e a humildade é verdade.”

- “A humildade em estado puro é a que se observa em Deus, na Trindade. Deus é humildade.”

- “Pentecostes – a ‘descida’ do Espírito – é um ato de humildade. Cada vez que Deus vem a nós e nos visita com sua graça Ele se torna ‘condescendente’ e faz atos de humildade.”

- “A água é, então, o melhor símbolo de humildade porque, da posição em que está, tende sempre a ir para baixo, descer, ocupar o lugar mais baixo: ‘Louvado seja meu Senhor, pela irmã água, a qual é muito últil e humilde e preciosa e casta’ (São Francisco)."

- “Ser humildes diante de Deus – no-lo dizem tantos textos dos profetas, dos salmos e, sobretudo, do Evangelho – é ser: ‘os pobres de Javé’, isto, abandonados a Ele, sem pretensões, mas confiantes diante d’Ele; é ser como crianças em seus braços.”

- “A humildade é um equilíbrio entre o modo de ser com Deus (a humildade do coração) e o modo de ser com os homens (humildade dos fatos). Não se pode ter humildade sem passar, de alguma maneira, através da humilhação.”

- “Na família: acho que a humildade foi inventada por Deus também para salvar os matrimônios. O orgulho, a obstinação, o individualismo são os inimigos mortais do amor, os que levam ao divórcio, antes no coração e depois na vida. Eu digo que a humildade é como lubrificante que dissolve na raíz a ferrugem, os atritos; ela impede que se forme incrustações de ressentimentos e muros de silêncio que depois são muito difíceis de superar...”

- “...muitas vezes um matrimônio é salvo pela humildade.... o matrimônio nasce da humildade! Enamorar-se de outra pessoa é o ato mais radical de humildade que se possa imaginar; significa sair de si mesmo, descer para o outro em atitude de quem implora, de mendigo, dizendo-lhe, com os fatos, mais ou menos assim: ‘Dá-me também o teu ser porque o meu não me basta!’. É admitir com todas as fibras do próprio ser que o homem não basta a si mesmo, mas se completa doando-se...

É preciso, porém ficar atentos: pode acontecer, com efeito, que com o passar dos anos, e esfriando-se o amor, se tente fazer pagar ao próprio cônjuge aquele ato inicial de humildade, infligindo-lhe toda espécie de humilhações como para se vingar do fato de ter tido e de ter ainda necessidade dele; são os sinais de nossa espantosa miséria e da desordem que há dentro de nós depois do pecado. No início não era assim.”

- “Quanto mais alto queres que suba o edifício da santidade, tanto mais profundo precisa que ponhas o fundamento da humildade” -  (Santo Agostinho).

- “A humildade é o sal da santidade porque preserva toda virtude do perigo de se desgastar pela vanglória”

“A humildade desarma as pessoas... A humildade desarma; a melhor autodefesa não vale tanto quanto o menor ato de humildade.”

O autor também nos fala de uma disparidade entre a lógica evangélica da humildade em relação ao mundo: na vida social e na vida familiar.

Depois de percorrido o caminho, meditando em cada afirmação sobre a humildade, faz-se necessário, rever o quanto a humildade se faz presente em nossa vida. Uma vida marcada pela humildade nos faz cada vez mais identificados com o Senhor, em pensamentos, palavras e ação, sem omissões no melhor que possamos fazer pelos últimos.

A humildade vivida é condição indispensável, para que participemos verdadeira e frutuosamente do Banquete do Senhor, ouvindo Sua Palavra e nos alimentando de Seu Corpo e Sangue.

De fato, Jesus é a encarnação da humildade, e nós haveremos de ser, pela nossa vida, sinais desta humildade, quanto mais a Ele nos configurarmos.

Parafraseando o Evangelista São João, no início de seu Evangelho, podemos dizer que Deus, ao Se encarnar na segunda Pessoa da Santíssima Trindade, possibilitou-nos a contemplação da encarnação da humildade, da pura humildade, naquela frágil, indefesa criança, amparada por José e Maria, na singela gruta de Belém: “O Verbo Se fez humildade, e encarnou entre nós”.

(1) “O Verbo Se faz carne” - Raniero Cantalamessa – Editora Ave Maria  - 2013 - pp.715-720 
Apropriado para o quarto sábado do Tempo da Páscoa, quando se proclama a passagem do Evangelho de João (Jo 14,7-14).

Caridade e humildade no seguimento do Senhor (XXIIDTCC)

                                                      

Caridade e humildade no seguimento do Senhor

“Por este caminho se corre com dois pés,

o da humildade e o da caridade”

Sejamos enriquecidos pelo Sermão do Bispo São Cesário de Arles (Séc. VI), que nos apresenta duas exigências no seguimento de Jesus Cristo.

“Parece duro, irmãos caríssimos, e considera-se um peso quase insuportável o que mandou o Senhor no Evangelho, ao dizer: ‘Se alguém quiser seguir-me, renuncie a si mesmo’. Mas não é duro o que mandou Aquele que ajuda a cumprir o que mandou.

Renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga a Cristo. Para onde se deve seguir a Cristo senão para onde Ele foi? Sabemos que ressuscitou e subiu ao Céu: para aí deve ser seguido.

De modo algum se deve perder a esperança, porque foi Ele que o prometeu e não porque o homem O possa conseguir por si mesmo. O Céu estava longe de nós antes de Ele ter subido ao Céu. Porque não temos a esperança de lá chegar, se somos membros da Sua Cabeça? Portanto, porque sofremos muitas aflições e dores na terra, sigamos a Cristo, onde está a suma felicidade, a suma paz, a suma segurança. 

Mas quem quiser seguir a Cristo, deve escutar o que diz o Apóstolo: Quem diz que permanece em Cristo, deve caminhar como Ele caminhou.

Queres seguir a Cristo? Sê humilde, como Ele foi humilde. Não desprezes a humildade, se queres subir à altura sublime para onde Ele subiu.

O caminho tornou-se escabroso quando o homem pecou; mas tornou-se plano quando Cristo o calcou pela Ressurreição, transformando a vereda estreita em senda real. Por este caminho se corre com dois pés, o da humildade e o da caridade.

A sua altura excelsa agrada a todos; mas a humildade é o primeiro degrau. Por que adiantas o pé para além de ti? Queres cair, não subir. Começa pelo primeiro degrau, isto é, pela humildade, e subirás. 

O nosso Senhor e Salvador não disse apenas: ‘Renuncie a si mesmo’, mas acrescentou: ‘Tome a sua cruz e siga-Me’. Que quer dizer: ‘Tome a sua cruz’? Suporte o que é molesto: siga-Me assim.

Quando começar a seguir no meu modo de proceder e nos meus Mandamentos, terá muitos que se lhe opõem, muitos que o querem impedir; terá não só muitos zombadores, mas também muitos perseguidores. E isso o farão não só os pagãos, que estão fora da Igreja, mas também os que parecem estar dentro do Corpo, embora estejam fora pelas suas ações perversas, e perseguem continuamente os bons cristãos porque se gloriam apenas do nome cristão. Estes estão entre os membros da Igreja como os maus tumores no corpo. Portanto, se queres seguir a Cristo, não hesites em levar a sua cruz: suporta os maus, não sucumbas.

Portanto, se queremos cumprir o que disse o Senhor: ‘Se alguém quiser seguir-Me, tome a sua cruz e siga-Me’, com a ajuda de Deus devemos esforçar-nos por cumprir o que diz o Apóstolo: Se temos que comer e que vestir, já estaremos contentes; não aconteça que, se procuramos mais do que convém à natureza terrena e queremos ser ricos, caiamos na tentação e na cilada do diabo e nos muitos desejos inúteis e nocivos, que submergem os homens na morte e na perdição. O Senhor, com a Sua proteção, Se digne livrar-nos desta tentação”.

Como discípulos missionários do Senhor, precisamos fazer nossas renúncias cotidianas, para que com liberdade O sigamos, carregando nossa cruz com plena confiança em Sua presença e força em todo o caminho.

No entanto, é preciso que, a cada dia, a humildade e a caridade sejam elementos constitutivos de nossa identidade e espiritualidade cristã, a fim de que a luz de Deus brilhe mais forte através de nossas boas obras.

O Banquete do Reino (XXIIDTCC)

                                                   

O Banquete do Reino

Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 14,12-14), e sobre o Banquete do Reino e a necessária revisão, para que vejamos se estamos, verdadeiramente, credenciados para dele participar, concretizando na vida as exigências que o Senhor nos ensina e vive.

Vemos que bem diferentes são os critérios, para participar do Banquete do Reino em relação ao banquete farisaico.

A lógica divina contrapõe a humildade à superioridade, a simplicidade ao orgulho, o serviço à ambição, o ocupar o último lugar ao invés dos primeiros, a solidariedade para com os últimos e não se servir do próximo.

São dois banquetes totalmente diferentes: o primeiro é o Banquete do Amor, serviço e inclusão; o segundo, do egoísmo, indiferença, mera exclusão.

O banquete farisaico é marcado pelo complexo de superioridade, orgulho, ambição. Há a procura dos primeiros lugares.

De outro lado, as credenciais para participação do Banquete do Reino são: humildade, simplicidade, serviço por amor desinteressado, colocando-se no lugar dos últimos para serviço dos últimos.

De fato, a competição é necessária, desde que não leve à destruição do outro, mas à busca de maior qualificação para melhor servir. Esta deve ser a marca daqueles que se põem a caminho com o Divino Mestre Jesus: amor vivido com autenticidade edifica e fortalece a comunidade: “Para todos, em qualquer plano da hierarquia social que se encontrem, escolher o último lugar significa usar o próprio lugar para o serviço dos últimos e não para o domínio sobre eles”. (1)

Deste modo, a conversão é um apelo constante em nossa caminhada cristã. 

Cremos e professamos a fé em Jesus Cristo que, com Sua morte, assumida livremente na Cruz, nos apresentou um Deus cuja Sabedoria é imprevisível e impensável; tão distante da sabedoria humana que ninguém poderia encontrá-la: “Jesus seria um entre os muitos mestres de virtude, se não tivesse vivido até o fim Sua Palavra, e se Sua Pessoa, Sua Palavra, Sua vida não fossem a revelação definitiva de Deus.

A Cruz é Sua Sabedoria, Seu Livro, Sua Palavra reveladora. A morte de Jesus não é o fim de uma tentativa de instaurar um novo Reino; é o Seu ato de nascimento;... Converter-se à Sabedoria de Deus é ver na Cruz que a verdade do Amor tem na morte o seu teste. Quem entra no Reino começa uma nova sabedoria.” (2)

Reflitamos:

- Quais são os convidados de nossos banquetes?
- Participamos com todo o zelo do Banquete do Reino que o Senhor nos convida ou nos sentimos familiarizados no banquete farisaico?

Oremos:

Senhor, livrai-nos do banquete farisaico, e ensinai-nos a viver a lógica do Banquete do Reino de Deus, vivendo com humildade, gratuidade, amor e solicitude com os últimos, os Vossos preferidos.

Dai-nos a sabedoria para nos colocarmos como últimos, a serviço de todos. Amém.

(1) Missal Dominical - Editora Paulus - pág. 1223
(2) idem - pág. 1222-1223
PS: Fonte de pesquisa: www.Dehonianos.org/portal

Graça, gratidão e gratuidade (XXIIDTCC)

                                                               


Graça, gratidão e gratuidade  

“...Um deles, ao perceber que estava curado,
voltou glorificando a Deus em alta voz;
atirou-se aos pés de Jesus, com o
 rosto por terra, e lhe agradeceu.”

A Liturgia da Palavra do 28º Domingo do Tempo Comum (ano C) - (2 Reis 5,14-17; 2 Tm 2,8-13; Lc 17,11-19) -  retrata de modo especial a cura que Deus propicia a todos, além das fronteiras de um determinado povo. Não há limites geográficos para a ação curativa de Deus.

Não há dúvida que o Amor, a bondade e o Projeto de Salvação de Deus destinam-se a todos os povos.

O que Deus espera de nós é a acolhida, com alegria, abertura, confiança, amor e gratidão.

E este é o grande questionamento que a Liturgia nos propicia: rever nossa abertura à Graça Divina, acompanhada pela gratidão por tudo que Ele realiza em nosso favor.

Se de um lado a gratidão é uma virtude que enobrece, por outro nada é mais desagradável do que conviver com pessoas ingratas, nada é mais empobrecedor do que o cultivo da autossuficiência, sobretudo da relativização da presença divina.

Viver como se de Deus não precisássemos é mergulhar no vazio de si mesmo, com perda de sentido, e horizontes restritos; é condenar-se a não realização; é o sequestrar-se de si mesmo quase que sem preço de resgate...

Somente em Deus o resgate, logo, sem voltar-se para Ele, não há alternativa, não há caminho, somente dor, desolação, vazio, sofrimento – caos jamais superável!

Como configurados a Cristo que devemos ser (segunda Leitura), jamais nos faltará Sua graça, portanto a gratidão e a gratuidade serão maneiras de fazermos com que O vejam em nós.

A passagem da primeira Leitura nos apresenta o rosto e o ser de Deus: Ele é único, dá a vida, salva a todos, pois a salvação carrega em si a marca da universalidade, espera a gratidão e não se deixa manipular por ninguém...

A Espiritualidade genuinamente Eucarística leva-nos a dizer “obrigado a Deus” e ao nosso próximo por tantos bens e graças recebidas.

Pode ocorrer que a cegueira, o desejo desmedido do dinheiro, do poder, da fama, dos privilégios, nos levem a uma secura diante do Mistério do Amor Divino, que nos inebria com o mais Sublime dos Vinhos, com o mais precioso dos pães, o Pão da Imortalidade.

Pessoas eucarísticas sabem dar graças a Deus em todas as circunstâncias, como nos disse o Apóstolo Paulo:
“Em todas as circunstâncias dai graças…” (1Ts 5, 18).

E como o escritor romano Sêneca:
 “Só os espíritos bem formados são capazes de cultivar a gratidão!”

Palavras de William Shakespeare:
“A gratidão é o único tesouro dos humildes.”

O grande Bispo Santo Agostinho, sobre a gratidão, já nos dizia:
“Que coisa melhor podemos trazer no coração,
pronunciar com a boca, escrever com a pena,
do que estas palavras: ‘graças a Deus’?  

Não há nada que se possa dizer com maior brevidade,
nem ouvir com maior alegria, nem sentir com maior
elevação, nem realizar com maior utilidade.”

Agradecer sempre pelo que somos e pelo que temos sem nos tornarmos reféns de nossa ingratidão. Temos uma fertilidade de memória, para as nossas necessidades e carências, maior do que para os nossos bens de Deus recebidos.

Assim completa Santo Agostinho:

“Nada é nosso, a não ser o pecado que possuímos.
Pois que tens tu que não tenhas recebido? (1Cor 4, 7).”

Finalizando, agradeçamos a alguém pelo que significa em nossa vida. E, diante de Deus, também elevar nosso infinito “muito obrigado, Senhor!”.

A acolhida da graça, acompanhada da gratidão,
leva-nos a viver cada vez mais
intensamente na gratuidade:
De graça recebemos, de graça
devemos dar, disse-nos o Senhor!

PS: Apropriado para a quarta-feira da 32ª Semana do Tempo Comum.

O Senhor Se compadeceu de nós (XXIIDTCC)

                                                                 

O Senhor Se compadeceu de nós

“Felizes de nós, se o que ouvimos e cantamos também executamos.
A audição é nossa semeadura, e nossos atos, frutos da semente”

Santo Agostinho, Bispo e Doutor da Igreja (séc. V), em um de seus Sermões, nos fala do Senhor que se compadeceu de nós, e espera que não apenas ouçamos e cantemos, mas que também coloquemos em prática.

Ouvir, cantar e viver:
 “Felizes de nós, se o que ouvimos e cantamos também executamos. A audição é nossa semeadura, e nossos atos, frutos da semente.”

Não entremos sem frutos na Igreja:
“Disse isto de antemão para exortar vossa caridade a não entrardes sem fruto na Igreja, ouvindo tantas coisas boas sem realizá-las. Porque por Sua graça fomos salvos, assim diz o Apóstolo, não por nossas obras, não aconteça alguém se ensoberbecer (Ef 2,8-9), pois por Sua graça fomos salvos (Ef 2,5). Pois não precedeu nenhuma vida virtuosa que Deus pudesse amar e dizer: ‘Ajudemos, socorramos estes homens porque vivem bem’.”

Deus se compadeceu e nos salvou:
“Desagradava-lhe nossa vida, desagradava-lhe em nós tudo o que fazíamos, mas não lhe desagradava o que Ele mesmo fez em nós. Por isto, o que nós fizemos, Ele o condenará; o que Ele próprio fez, Ele o salvará. Não éramos bons. Mas Ele se compadeceu de nós e enviou Seu Filho para morrer não pelos bons, mas pelos maus, não pelos justos, mas pelos ímpios. Na verdade Cristo morreu pelos ímpios (Rm 5,6). E como continua? Mal se encontra alguém que morra por um justo, pois talvez alguém se atreva a morrer por um bom (Rm 5,7). Quiçá haja alguém que ouse morrer por um bom. Mas pelo injusto, pelo ímpio, pelo iníquo, quem quererá morrer? Só Cristo, para que, justo, justifique até mesmo os injustos”.

Deus jamais nos abandona e jamais desiste de nós:
“Não tínhamos, meus irmãos, nenhuma obra boa, mas todas eram más. E sendo tais os atos dos homens, Sua misericórdia não abandonou os homens.”

Envia Seu Filho para nos remir pelo preço do sangue derramado:
“Deus enviou Seu Filho, para remir-nos, não por ouro, não por prata, mas ao preço de Seu Sangue derramado, Cordeiro imaculado levado como vítima pelas ovelhas maculadas, se é que só maculadas e não totalmente corrompidas! Recebemos então esta graça.”

Vivamos esta graça e correspondamos ao amor de Deus:
“Vivamos de modo digno dessa graça e não façamos injúria à grandeza do dom que recebemos. Tão grande Médico veio a nós e perdoou todos os nossos pecados."

Não recaiamos na “doença” ingratos ao próprio médico, Jesus:
“Se quisermos recair na doença, não só nos prejudicaremos a nós mesmos, mas seremos ingratos ao próprio Médico.”

Sigamos Jesus, o Caminho, a vida da humildade:
“Sigamos os caminhos que Ele próprio indicou, muito em especial a via da humildade, via que Ele mesmo Se fez por nós. Mostrou-nos pelos preceitos o caminho da humildade e criou-o padecendo por nós. Com o intuito de morrer por nós – e sem poder morrer – o Verbo Se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,14), para poder morrer por nós, Aquele que não podia morrer. E com Sua morte matar nossa morte.”

Ele que tinha condição divina, não Se apegou a mesma, e despojando-Se foi morto na Cruz:
“Fez isto o Senhor, isto nos concedeu. O excelso humilhou-Se, humilhado foi morto e, ressurgindo, foi exaltado, a fim de não nos deixar mortos nas profundezas, mas de exaltar em Si na Ressurreição dos mortos aqueles que já agora exaltou pela fé e o testemunho dos justos.”

O Senhor nos deu a humildade como caminho para confessar e invocar Seu nome:
“Deu-nos então a humildade como caminho. Se nos agarrarmos a ela, confessaremos o Senhor e com toda razão cantaremos: Nós Te confessaremos, Senhor, confessaremos e invocaremos Teu nome (Sl 74,2).”

Oremos:

Ó Deus, concedei-nos a graça de compreender e corresponder ao Vosso amor, manifestado a nós, por meio do Seu Filho. Assistidos pelo Vosso Espírito, jamais nos apresentemos com as mãos e coração vazios de frutos por vós esperados.

Ó Deus, ajudai-nos a seguir os passos do Vosso Filho, trilhando a via da humildade, fazendo progressos no caminho de santidade, adorando-Vos em espírito e verdade e Vos amando concretamente na pessoa de nosso próximo.

Ó Deus, que não sejamos apenas ouvintes de Vossa Palavra, mas dela praticantes, não nos enganando a nós mesmos, mas empenhados em colocá-la em prática, na defesa da vida e da dignidade humana. Amém.

Amor e Cruz na fidelidade ao Senhor (XXIIDTCA)

                                                                  

Amor e Cruz na fidelidade ao Senhor

“Se alguém quiser me seguir, renuncie a si mesmo,
tome a sua cruz e me siga” (Mt 16,24)

Como discípulos missionários do Senhor, no Seu seguimento, precisamos das renúncias necessárias, e o tomar da cruz cotidiana para segui-Lo, como lemos nas passagens dos Evangelhos (Mt 16,21-27; Lc 9,18-24).

Sejamos enriquecidos por estas afirmações de Santa Teresa de Jesus (séc. XVI), neste bom propósito de todos nós:

“Estou convencida de que a medida da capacidade de levar cruz grande ou pequena é a do amor...

Cumpra-se em mim, Senhor, Vossa vontade de todos os modos e maneiras que vós, Senhor meu, quiserdes.

Se me quiserdes enviar sofrimentos, dai-me forças para suportá-los, e venham!

Se perseguições e enfermidades, desonras e mínguas, aqui estou!

Não afastarei o rosto, ó meu Pai, nem há motivo para virar as costas. Não quero que haja falha da minha parte depois que vosso Filho, em meu nome, deu esta minha vontade, oferecendo a vontade de todos os homens.” (1)

Jesus jamais prometeu facilidades para segui-Lo, e o Mistério da Cruz estava sempre presente no horizonte de Sua pregação e ação.

O discípulo de Jesus sabe que “Quem busca um Cristo sem Cruz, acabará encontrando uma Cruz sem Cristo”; assim também, sabe que precisa fazer da sua vida uma doação ao outro.

Deste modo, tudo se torna menos difícil quando nos colocamos no caminho do amor, da fidelidade, doação e serviço ao outro.

Nossa cruz torna-se suportável, seu peso mais leve, porque Ele mesmo já dissera – “Vós que estais cansados, vinde a mim porque meu fardo é leve e meu jugo é suave” (Mt 11,28-30).

Da mesma forma, também nos assegura, em todos os momentos, a Sua presença enquanto estava com eles, e depois a presença do Paráclito que haveria de ser enviado, e assim se fez, para que não sucumbissem diante das dificuldades, provações e perseguições, como mencionara na conclusão das Bem-Aventuranças (Mt 5,1-12).

Portanto, aprendamos com esta Santa e Doutora da Igreja, a pedir sempre a Deus “coragem” para enfrentar os sofrimentos, e muito “amor” para carregar a cruz, seja ela pequena ou grande, pois como Santa Teresa afirmou, este é a medida da capacidade para suportarmos o seu peso e levá-la no anúncio e testemunho de nossa fé e esperança, como discípulos missionários do Senhor.


(1) Santa Teresa de Jesus – O Caminho da perfeição – Editora Paulus -  pp.189.191

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