Amar e solidarizar-se ativamente para reinar com Cristo
Na Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo (ano A), a Palavra proclamada, escutada, acolhida, meditada e vivida nos propõe e nos inspira a um balanço de nossa vida cristã.
Celebramos a Solenidade em vigilante expectativa da última vinda do Senhor, servindo-O na alegria, fazendo frutificar o amor que vence no dia do juízo final.
A passagem da primeira Leitura (Ez 34,11-12.15-17) nos remete ao tempo do exílio (séc. VI a.C.). O Profeta Ezequiel procura alimentar a esperança dos exilados, transmitindo ao Povo a certeza de que o Deus salvador e libertador não os abandonou, tampouco os esqueceu.
O profeta Ezequiel ajuda o povo a perceber a causa de seu sofrimento: a infidelidade. Mas ao mesmo tempo anuncia um novo tempo em que Deus mesmo será o Pastor que vai dirigir o Seu rebanho.
Fala da ação de Deus que conduzirá suas ovelhas. Conhece e delas cuida com todo carinho e delicadeza; exercendo uma autoridade que se funda na entrega e no amor (absolutamente diferente dos pastores que conduziram o povo de Deus a esta triste e desoladora situação de exílio).
Exorta o povo para que se entregue confiante nas mãos de Deus: atravessarão os vales sombrios, serão levados no colo por Ele, e os pés não se ferirão nas pedras do caminho. É preciso, portanto, superar toda forma de egoísmo e autossuficiência.
Deste modo, trata-se de uma mensagem atualíssima para os nossos dias, pois se propaga uma mentalidade de que é possível o alcance da felicidade sem Deus, insistindo-se na negação de Sua existência, pregando-se a “libertação de Deus”.
- Quais são os pastores que nos conduzem dentro e fora da Igreja e como o fazem?
- O que e quem move, guia e motiva o nosso existir?
- Quais as vozes que ouvimos e que nos conduzem?
- Como superamos o egoísmo e a autossuficiência para correspondermos a imagem do Bom Pastor?
- Procuramos a felicidade com Deus e n’Ele?
- Confiamos plenamente em Deus?
Na passagem da segunda Leitura (1Cor 15,20-26.28), o Apóstolo Paulo se dirige a comunidade de Corinto. Trata-se de uma comunidade viva e fervorosa, mas que não deixa de ter problemas de ordem moral, com suas querelas, disputas e lutas, sedução à sabedoria filosófica. Sendo uma cidade portuária traz consigo problemas próprios desta realidade. Sofrem a influência da cultura grega e com isto a dificuldade de aceitar a Ressurreição
Paulo fala sobre o fim último da caminhada daquele que crê: participar plenamente no Reino de Deus e a fé na Ressurreição é a âncora o “selo de garantia”.
O Reino como meta deve impulsionar aquele que crê, não deixando lugar para o medo que paralisa.
Crendo na Ressurreição tudo ganha um novo sentido, um novo impulso.
Com Jesus serão desatados os nós de uma tragédia sem saída, a História será redimida, porque através de nossa história em Sua história inserida, serão reatados os “fios quebrados” que nos desfiguram e nos desorientam.
Com Sua Morte e Ressurreição fomos reconciliados e reatados no Amor do Pai, a Nova e Eterna Aliança de Amor foi selada e nada poderá quebrá-la, rompê-la. Assim é o irrenunciável e eterno Amor de Deus.
Desde a alvorada ao ocaso da vida, haveremos de ser fecundados pela graça e pela força da Ressurreição, superando o horizonte limitado pela vida terrena. A fé na Ressurreição é a maior possibilidade ampliação de qualquer horizonte de nossa existência.
Na passagem do Evangelho (Mt 25,31-46), Jesus nos fala do juízo final, nos revela qual será o fim daqueles que se mantiveram ou não vigilantes e preparados para a Sua vinda gloriosa “... para que Deus seja tudo em todos)” (1Cor 15,28).
Lembremo-nos do contexto da comunidade de Mateus que era de desinteresse, instalação, acomodação, rotina. Era preciso despertá-la para uma atitude vigilante e comprometida na espera do Senhor que vem. Vigilância para o juízo final.
O critério de julgamento será o amor ou a indiferença vivida para com os pobres (famintos, sedentos, doentes, presos, estrangeiros, nus). Somente o amor concreto e a solidariedade ativa nos credenciam para a eternidade.
Somente o amor na simplicidade e na gratuidade nos eterniza. Quem vive a misericórdia, o amor, a solidariedade ativa não tem motivo para temer o julgamento final (Tg 2,12-13).
Os discípulos missionários do senhor tem que amá-Lo e viver como Ele. Deus não quer condenar ninguém. A autoexclusão de Seu amor está em nossas mãos. Não há lugar para egoísmo e indiferença na construção do Reino de Deus.
O Reino de Deus é a realidade que Jesus semeou e nos falou através de diversas Parábolas. Cabe a nós, como discípulos missionários, edificá-lo na história através do amor concreto, em solidariedade ativa até que Ele venha e instaure o Reino definitivo, na realização da Parusia.
Jesus também reconhece que existe um cristianismo autêntico mesmo fora da Igreja visível, e que aqueles que não O conheceram mediante o Evangelho, nem por isto ficam isentos do Mandamento do Amor, que se estende a toda a humanidade, nem da sua manifestação na solidariedade ativa.
Reflitamos:
- Como vivemos o amor e a solidariedade ativa?
- O que fazemos para que o Reino de Deus deixe de ser uma imagem e seja, de fato, o Reino do amor, da verdade, da graça, da liberdade, da santidade e da vida?
- Fazemos da religião um ópio que nos anestesia, nos entorpece ou ela é, de fato, a expressão e o revigoramento de nosso compromisso com os empobrecidos, na verdadeira adoração a Deus?
Contemplemos a Cruz de nosso Senhor: O Seu trono.
Contemplemos Sua coroa, a coroa de espinhos dada pelos homens, a Coroa da Glória dada pelo Pai.
Fixemos nosso pensamento e abramos nosso coração ao Seu Novo Mandamento, o Mandamento do Amor: "Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei" (Jo 15,12).
A Sua Lei seja a nossa Lei: o amor, vivenciado na mais bela página das Bem-Aventuranças (Mt 5,1-12). Que ela seja nosso programa de vida para que um dia também participemos do Reino definitivo, quando Ele vier em Sua glória.
Sejamos armados em Seu exército com a arma do amor.
Coroamos Jesus Cristo, Rei e Senhor do Universo,
a cada momento, quando levamos a sério nossa fé,
damos corpo e conteúdo à caridade no coração inflamada,
e somos movidos pela fé na Ressurreição;
quando a solidariedade, a fraternidade, o amor à vida,
a paixão pelo Reino nos consome;
quando nos sentimos fascinados por Sua Pessoa e Palavra e,
pelo nosso pregar e viver,
provocamos o mesmo fascínio,
sem jamais perder a esperança.