Se quisermos reinar com o Senhor...
Com toda a Igreja, celebraremos, no próximo domingo, a Solenidade de Jesus Cristo Rei e Senhor do Universo, e com vistas à preparação reflitamos o Sermão escrito pelo Bispo Santo André de Creta (séc. VIII):
“Digamos também nós a Cristo: ‘Bendito o que vem em nome do Senhor (Mt 21,9), Rei de Israel (Mt 27,42). Levantemos para Ele, quais folhas de palmeira, as derradeiras Palavras na Cruz.
Vamos com entusiasmo para a frente, não com ramos de oliveira, mas com as honras das esmolas de uns aos outros. Estendamos a Seus pés, como vestes, os desejos do coração.
Deste modo, pondo Seus passos em nós, esteja dentro de nós, e nós inteiros n’Ele; e Se manifeste Ele totalmente em nós.
Repitamos para Sião a aclamação do Profeta: Tem confiança, filha, não temas. Eis que vem a ti teu rei, manso e montado no jumentinho, filho da que leva o jugo (cf. Zc 9,9).
Vem Aquele que está presente em todo o lugar e ocupa tudo, para realizar em ti a salvação de tudo. Vem Aquele que não veio chamar os justos, mas os pecadores à conversão (Mt 9,13), para fazer voltar os desviados pelo pecado. Não temas, pois. Está Deus no meio de ti, não serás abalada (cf. Dt 7,21).
De mãos erguidas, recebe-O, a Ele que gravou nas próprias mãos tuas muralhas. Acolhe-O, a Ele que cavou em Suas palmas Teus fundamentos. Recebe-O, a Ele que tomou para Si tudo o que é nosso, à exceção do pecado, a fim de mergulhar tudo que é nosso no que é d’Ele.
Alegra-te, cidade-mãe, Sião; não temas. Celebra tuas festas (Na 2,1). Glorifica por Sua misericórdia quem em ti vem para nós. Mas também tu, rejubila-te com entusiasmo, filha de Jerusalém, canta, dança de alegria. Resplandece, resplandec' (assim aclamamos junto com Isaías, o clarim sagrado), porque chegou tua luz e nasceu sobre ti a glória do Senhor (Is 60,1).
Que luz é esta? Só pode ser aquela que ilumina a todo homem que vem ao mundo (cf. Jo 1,9). A luz eterna, luz que não conhece o tempo e revelada no tempo, luz manifestada pela carne e oculta por natureza, luz que envolveu os pastores e Se fez para os magos guia do caminho. Luz que desde o princípio estava no mundo, por quem foi feito o mundo e o mundo não a conheceu. Luz que veio ao que era Seu, e os Seus não a receberam.
Glória do Senhor. Qual glória? Na verdade, a Cruz em que Cristo foi glorificado. Ele, esplendor da glória do Pai, como Ele próprio, estando próxima a Paixão, disse: Agora é glorificado o Filho do Homem e Deus é glorificado n’Ele; e o glorificará sem demora (cf. Jo 13,31-32).
Chama de glória neste passo Sua exaltação na Cruz. Porque a Cruz de Cristo é glória e, realmente, sua exaltação. Por isto diz: Eu, quando for exaltado, atrairei todos a mim (Jo 12,32).
Lembremo-nos daquela manhã de Ramos em que O aclamamos Rei, Filho de Davi, demos “Hosana no mais alto dos céus”, e alguns dias depois, celebramos a Sua Paixão e Morte, por amor de Deus.
Acolhamo-Lo como Pessoa e Palavra, como vida e Projeto a ser vivido, no testemunho autêntico da fé, com confiança inabalável, perseverança até o fim, permanecendo n’Ele e com Ele no carregar de nossa cruz.
Seja nosso coração aberto para que nele o Senhor faça morada e possa reinar, e o Seu nome impresso em nossa mente e coração e marcados pelo Selo de Seu Espírito, vivamos a graça da filiação divina, no dia do Batismo recebida, pois o cristão tão somente alcança a felicidade completa quando celebra com fé, e não a separa do seu existir; quando a fé é celebrada e a vida corresponde com gestos e compromissos, que se renovam com a força que nos vem da Eucaristia.
Por isto, exultemos de alegria pela graça de poder servir, e que esta graça nunca nos falte, porque de força divina precisamos, do contrário, sucumbiríamos sob o peso da cruz.
Reinemos com Jesus sendo sinal de Sua luz no mundo. Cristão é por natureza alguém que tem a luz, porque seguindo a Divina Fonte da Luz não caminha nas trevas.
Gloriemo-nos na Cruz de nosso Senhor, como nos exorta o Apóstolo Paulo (cf. Gl 6, 14), pois cremos que a Cruz tem aparência de derrota, mas é verdadeiramente sinal de vitória.
Ela é um instrumento que, se assumido por amor, redimensionado no Mistério Pascal que cremos e professamos, nos alcançará a glória da imortalidade, o esplendor máximo e inesgotável da luz e alegria do céu.
Proclamemos Jesus Rei, mas um Rei que vem fazer de Sua vida, Amor, doação, entrega, e Seu reinado não corresponde às realidades terrenas, porque tem outros princípios e fundamentos. Jesus, um Rei que vem a nós, justo e salvador da humanidade.
Veio, vem e virá sempre. Por ora, a vigilância ativa, e assim nos preparamos para o início de um novo Ano Litúrgico, com o Tempo do Advento que se anuncia.
Concluindo, a Deus elevemos glória e louvor, honra e poder por meio de Seu Filho Rei e Senhor de nossa vida.
Reinar com Jesus é amar como Ele amou, viver como Ele viveu.