sábado, 23 de novembro de 2024

Venha Teu Reino, Senhor! (Cristo Rei)

                                                 


Venha Teu Reino, Senhor!

Ao Celebrarmos a Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo, sejamos enriquecidos pelo  Opúsculo sobre a Oração, escrito pelo Presbítero Orígenes (Séc. III).

“O Reino de Deus, conforme as Palavras de nosso Senhor e Salvador, não vem visivelmente, nem se dirá: Ei-lo aqui ou ei-lo ali; mas o Reino de Deus está dentro de nós (cf. Lc 17,21), pois a Palavra está muito próxima de nossa boca e em nosso coração (cf. Rm 10,8).

Donde se segue, sem dúvida nenhuma, que quem reza pedindo a vinda do Reino de Deus pede – justamente por já ter em si um início deste Reino – que ele desponte, dê frutos e chegue à perfeição. Pois Deus reina em todo o santo e quem é santo obedece às Leis espirituais de Deus, que nele habita como em cidade bem administrada. Nele está presente o Pai e, junto com o Pai, reina Cristo na Pessoa perfeita, segundo as Palavras: ‘Viremos a ele e nele faremos nossa morada’ (Jo 14,23).

Então o Reino de Deus, que já está em nós, chegará por nosso contínuo adiantamento à plenitude, quando se completar o que foi dito pelo Apóstolo: sujeitados todos os inimigos, Cristo entregará o Reino a Deus e Pai, a fim de que Deus seja tudo em todos (cf. 1Cor 15,24.28).

Por isto, rezemos sem cessar, com aquele amor que pelo Verbo se faz divino; e digamos a nosso Pai que está nos céus: ‘Santificado seja Teu nome, venha o Teu reino’ (Mt 6,9-10).

É de se notar também a respeito do Reino de Deus: da mesma forma que não há participação da justiça com a iniquidade nem sociedade da luz com as trevas nem pacto de Cristo com Belial (cf. 2Cor 6,14-15), assim o Reino de Deus não pode subsistir junto com o reino do pecado. Por conseguinte, se queremos que Deus reine em nós, de modo algum reine o pecado em nosso corpo mortal (Rm 6,12), mas mortifiquemos nossos membros que estão na terra (cf. Cl 3,5) e produzamos fruto no Espírito.

Passeie, então, Deus em nós como em paraíso espiritual, e reine só Ele, junto com Seu Cristo; e que em nós Se assente à destra de Sua virtude espiritual, objeto de nosso desejo.

Assente-Se até que Seus inimigos todos que existem em nós sejam reduzidos a escabelo de Seus pés (Sl 109,1), lançados fora todo principado, potestade e virtude. Tudo isto pode acontecer a cada um de nós e ser destruída a última inimiga, a morte (1Cor 15,26).

E Cristo diga também dentro de nós: ‘Onde está, ó morte, teu aguilhão? Onde está, inferno, tua vitória?’ (1Cor 15,55; cf. Os 13,14). Já agora, portanto, o corruptível em nós se revista de santidade e de incorruptibilidade, destruída a morte, vista a imortalidade paterna (cf. 1Cor 15,54), para que, reinando Deus, vivamos dos bens do novo Nascimento e da Ressurreição”.

A meditação deste Opúsculo muito nos ajuda, no aprofundamento da Oração que o Senhor nos ensinou, sobretudo, quando dizemos: “venha a nós o Vosso Reino, Senhor”.

Lembremo-nos do que nos disse o Presbítero:

“Passeie, então, Deus em nós como em paraíso espiritual,
e reine só Ele, junto com seu Cristo;
e que em nós se assente à destra de sua virtude espiritual,
objeto de nosso desejo”.

Tudo isto acontece, quando cremos e vivemos este Prefácio da Missa da Solenidade de Cristo Rei:

“Com óleo de exultação, consagrastes Sacerdote Eterno e Rei do universo Vosso Filho único, Jesus Cristo, Senhor nosso. Ele, oferecendo-Se na Cruz, vítima pura e pacífica, realizou a redenção da humanidade.

Submetendo ao Seu poder toda criatura, entregará à Vossa infinita majestade um Reino eterno e universal: Reino da verdade e da vida, Reino da santidade e da graça, Reino da justiça, do amor e da paz...”.

Seja nossa vida marcada pelo compromisso com o Reino de Deus, para que a Trindade Santa habite e passei em nós, como em paraíso espiritual.

“Reinar é servir” (Cristo Rei)

                                                      

“Reinar é servir” 

Assim afirma o Catecismo da Igreja Católica (n. 786): “Cristo, Rei e Senhor do Universo, se fez servidor de todos, não veio ‘para ser servido, mas para servir e para dar sua vida em resgate por muitos’ (Mt 20,28). Para o cristão, ‘reinar é servir’ "(Lumen Gentium n.36).

Também, citando a Gaudium et Spes (n. 10,2; 45,2) professa: “A Igreja crê... que a chave, o centro e o fim de toda história humana se encontram em seu Senhor e Mestre” (CIC n. 450).

Em poucas linhas, encontramos uma densidade inesgotável que nos convida ao silêncio e à contemplação, para que não apenas celebremos, mas como discípulos missionários, anunciemos e testemunhemos que Jesus é o Senhor de nossa história, em todos os âmbitos, em todos os corações, e de todo o Universo, se numa palavra apenas fôssemos dizer.

Cristo, Ungido, Enviado, Aquele que foi por muito tempo esperado. A realização da promessa messiânica se cumpriu em Sua Pessoa: “O Verbo se fez Carne e habitou entre nós...” (Jo 1,14), e a Ele damos toda honra, glória, poder e louvor.

Rei, mas um Rei diferente, pobre, despido, ultrajado, tendo como trono a Cruz, esvaziado de Sua condição divina, humilhou-Se e foi obediente até o fim, e Deus O Ressuscitou, para que diante d’Ele todo joelho se dobre e toda língua proclame que Ele é o Senhor, para a glória de Deus Pai (Fl 2, 7-8).

Senhor, porque reina em tudo e em todos, a Ele tudo foi submetido: “O último inimigo a ser destruído será a morte, pois Deus colocou tudo debaixo dos pés de Cristo. Mas quando se diz que tudo lhe será submetido, é claro que se deve excluir Deus, que tudo submeteu a Cristo. E quando todas as coisas lhe tiverem sido submetidas, então próprio Filho Se submeterá Àquele que tudo lhe submeteu, para que Deus seja tudo em todos.” (1 Cor 15, 26-28).  

Servidor de todos, ao lavar os pés dos discípulos, lavou os pés de toda humanidade, deixando ao mundo um sinal de humildade e serviço: o Mestre e Senhor lavou os pés dos servos; os pés de toda a humanidade, e a lição para sempre foi gravada na mente e no coração da humanidade, selado como  sinal de amor. Lição que haveremos de reaprender incansavelmente, quotidianamente.


O Senhor tem a chave e  confiou a Pedro. Também é a porta que nos possibilitou a entrada na eternidade (Jo 10, 9), e tão somente por esta porta estreita haveremos de passar, se coragem e fidelidade no carregar da cruz tivermos, sem deserção, sem medo ou refúgio na mediocridade de uma fé morna e instalada, sem sagrados compromissos com a vida.

É preciso que centralizemos o Senhor em nossa vida, para que tudo ganhe um novo sentido em nosso existir. Quanto mais O centralizarmos, mais plena será nossa alegria. Centralizar Jesus é ter d’Ele mesmos pensamentos e sentimentos, de tal modo a Ele configurado, que Ele é gerado e formado em nós, e nos outros.

Ele é o fim de toda a história, para Ele tudo haverá de convergir. Nossos dias, nossos passos, nossos planos, projetos, sonhos somente florescerão abundantemente, e darão frutos eternos se não tivermos ninguém além d’Ele para nos guiar e nos iluminar.

Com Jesus, cada noite escura de nossa vida, é acompanhada da certeza de que a luminosidade irromperá quando menos esperarmos, porque vigilantes esperamos Aquele que veio, vem e virá um dia, gloriosamente.

Por ora, é tempo de reinar com o Senhor, e somente o faremos se O servimos em cada irmão e irmã, sobretudo nos pobres, com os quais quis Se identificar. E este serviço silencioso, sem holofotes, glamoures, ibopes, confetes, nos credencia para a recompensa na eternidade, como Ele nos disse sobre o julgamento final: “Venham vocês que são abençoados por meu Pai. Recebam como herança o Reino que meu Pai lhes preparou desde a criação do mundo.” (Mt 25, 34)

Reinamos com o Senhor, quando servimos. E, para que sirvamos incansavelmente com ardor, É preciso que nosso coração Seja inflamado pelo Seu indizível Amor.


Reinar com Jesus é viver com a força desarmada do amor! (Cristo Rei)

Reinar com Jesus é viver com a força desarmada do amor!

Com a Solenidade em que proclamamos que Cristo é Rei do Universo e Senhor de nossa vida, coroamos mais um ano de caminhada com Ele, como alegres Discípulos missionários.

Ao proclamamos Jesus como Rei de nossa vida, temos a certeza de que com Ele também reinaremos. Mas o que significa proclamá-Lo Rei?

Na medida em que o proclamamos Rei reinamos com Ele amando até o fim, fazendo da nossa vida livre e generosa doação, na entrega da mesma, traduzida em serviço para com Ele na pessoa do empobrecido, para um dia na glória estar.

Reinar com Jesus é fazer d’Ele e de Sua Palavra o centro de nossa vida, pautar nossa existência, todo nosso pensar, sentir, agir à luz de Seus ensinamentos, Sua Palavra que nos liberta e nos orienta em todos os passos; é trilhar o Caminho, iluminados pela Verdade para que a Vida plena prometida, em nós seja abundante.

Reinar com Jesus é ter coragem de carregar Seu trono, que aos olhos do mundo nada tem de encantador, ao contrário. É carregar o trono onde foi entronizado e coroado: a Cruz! 

Expressão que nos inquieta: o trono do Senhor é a Cruz!

Reflitamos:

- Temos coragem de reinar com Ele?

- Temos coragem de nos comprometer com o Seu Senhorio sobre tudo e todos, uma vez que Ele é o primogênito, a Cabeça, o Princípio e o fim de todas as coisas, no qual reside toda a plenitude do amor do Pai?

Que Rei tão diferente: pobre, despido, solitário, aparentemente derrotado, incompreendido, humilhado, dilacerado, escarrado, cuspido, ensanguentado, de aparência horrivelmente indescritível. Vítima da mais crudelíssima e humilhante de todas as mortes.

É este Rei que amamos.
Um Rei que tem a força desarmada do amor.

Aparentemente derrotado, mas por amor vivido em fidelidade ao Pai e ao Projeto do Reino, na glória exaltado, ressuscitado, mais que vitorioso. À direita do Pai sentado, Vivo, guia, dirige, julga a história, nos antecipa na glória da eternidade, tendo vencido o último de todos os inimigos: a morte.

Muito mais que uma Solenidade, é momento de grandes avaliações e corajosas decisões.

Reflitamos:

- O que significa, para mim, proclamá-Lo Rei?
- De que modo a minha vida expressa a Soberania de Cristo?

- O que Deus quer de mim quando meus lábios professam que Ele é Senhor da minha vida?
- De que modo, como Igreja, estou participando da construção do Reino de Deus.

- Como cristão leigo, vivo meu protagonismo, como batizado na evangelização nos mais diversos espaços e campos de minha existência?
- Como fermento a nova sociedade?

- Como dou gosto de divindade à existência, à história?

- Como ilumino, e como me deixo iluminar no pensar e no agir?
Proclamá-Lo Rei, aclamá-Lo como Senhor, não basta!

É preciso testemunhá-Lo com uma força indescritível e revolucionária: a força do Amor.

Não o amor que o mundo apregoa, mas o que Ele viveu e na Cruz consumou, por isto na glória Se eternizou e a mais bela lição nos deixou:

Doação, entrega, perdão, reconciliação, salvação... Amor universal que aos inimigos alcançou. Amor que ninguém nunca tão intensamente viveu: por isto Ele morreu.

Se morrermos com Ele, também com Ele ressuscitaremos e com
Ele para sempre reinaremos. Amém!

Cristo Reina quando nosso coração se inflama de amor (Cristo Rei)

                                                                   

Cristo Reina quando nosso coração se inflama de amor

Chegando ao final de mais um Ano Litúrgico, celebramos, com toda a Igreja, a Solenidade de Cristo Rei do Universo, proclamando ao mundo que Ele é o Senhor de nossa vida.

Com júbilo, renovamos nosso compromisso de discípulos missionários do Senhor, amando como Ele ama. Um amor incondicional que ama até o fim e, de modo especial, os mais empobrecidos com os quais se identifica.

Reinar com Jesus é fazer d’Ele e de sua Palavra o centro de nossa vida, pautar nossa existência, todo nosso pensar, sentir e agir à luz de Seus ensinamentos. 

Trilhando o caminho da fé, ancorados pela esperança e inflamados pelo fogo da caridade, seremos iluminados pela verdade, teremos a vida plena prometida abundantemente. É preciso ter coragem de carregar o trono de Jesus, que aos olhos do mundo nada tem de encantador, ao contrário. Carregar o trono onde Ele foi entronizado e coroado: a Cruz! Expressão que nos inquieta: a Cruz é o trono do Senhor!

Um longo caminho percorremos e reinamos com o Senhor no realizar de  cada pequeno gesto, sempre acompanhado de muito amor e que, portanto, aos olhos de Deus tornam-se grandes.

Coroamos o Senhor como servos inúteis que somos com o nosso trabalho, portanto, não podemos ser econômicos em descobrir modos e expressões efetivas e afetivas para coroá-Lo; amando a Deus sobre todas as coisas, com nossa alma, força, mente e entendimento e ao nosso próximo como Ele nos amou. 

Quem a Deus ama, reina com o Senhor servindo alegremente. Que continuemos coroando o Senhor, resistindo às tentações que nos acompanham a todo instante, sem jamais sucumbir a elas, vigilantes e pacientes nas tribulações e adversidades, pois tudo podemos n’Aquele que nos fortalece e, na mais bela expressão de gratidão e gratuidade.

A Ele todo o louvor e glória. Tão somente assim O coroamos e O proclamamos Rei do Universo e  Senhor de nossa vida.

Cristificar, eis a nossa missão! (Cristo Rei)

                                                         


Cristificar, eis a nossa missão!

Cristificar, mais que um
verbo a conjugar, pelo Verbo viver…

Refletindo sobre o que é ser cristão, a primeira resposta que me veio foi o verbo “cristificar”!

Mas, este verbo não existe, dirão, devaneios da mente, loucura, algo sem absoluto sentido…

Cristificar é um neologismo, não procure no dicionário. Importa, porém, que nos leva a pensar...

Não nos percamos no secundário, procuremos na realidade que nos cerca significados para “cristificar”

Cristificar é em primeiro momento tornar-se Cristo, a tal ponto que possamos dizer como o Apóstolo Paulo: Já não sou quem vivo, é Cristo quem vive em mim.

Tornando-se Cristo, e Ele vivendo em nós, ser sinal de Sua presença no mundo. Torná-Lo visível, crível, tocável, presente, solidário, deve ser nossa missão permanente.

Cristificar é deixar-se conduzir pela Sua Palavra, pelo Seu ensinamento, acolher e viver a Boa Nova do Evangelho.

Cristificar é tornar-se semelhante a Ele, configurar-se a Ele, tendo d’Ele mesmos pensamentos e sentimentos.

Cristificar é completar em nossa carne o que falta a Sua Paixão por amor a Sua Igreja.

Cristificamos quando prolongamos no dia a dia a Eucaristia que celebramos e o Cristo que comungamos.

Cristificamos quando o Mistério no Altar Celebrado, crido, adorado, sem medo, por absoluto amor, nas mais diversas situações testemunhado.

Cristificamos quando o Pão no Altar for, por todos, partilhado, renova-se o compromisso com a paz e justiça, aurora de um mundo transformado.

Cristificamos quando assumimos nossa condição de fermento na massa levedando o mundo, para que acorde numa nova aurora de esperança.

Cristificamos quando assumimos a missão de ser sal para dar sabor à vida, gosto de Deus à humanidade, construindo laços de amizade/fraternidade.

Cristificamos quando não deixamos apagar a Luz de Deus que em nós habita, numa fé que não esmorece diante das provações da vida.

Cristificar solidificando a família, tendo Jesus como rocha, pedra fundamental sobre a qual se edifica a Igreja doméstica, onde o amor, lei maior, jamais pode faltar.

Cristificar cultivando o jardim de Deus, não com saudades do paraíso, mas como um alegre, incansável e inadiável compromisso.

Cristificar não erigindo a torre de Babel para chegar aos céus, mas na cruz quotidiana carregada fortalecer laços de partilha e comunhão, no amor a Deus e a toda Sua criação.

Cristificar não permite o furtar-se de compromissos em todos os âmbitos de nossa vida.

Cristificar não nos permite da luta fugir; lutando sempre na ousadia e teimosia de quem sabe pela defesa da sagrada vida resistir.

Cristificar não nos permite indiferenças, acomodações, discriminações, alienações. Não nos permite braços cruzar, na espera de um amanhã melhor, como se Deus de nós não quisesse precisar. Não nos é permitido das responsabilidades múltiplas, esquivar, renunciar.

Cristificar é ser outro Cristo para tantos outros Cristos que nos rodeiam: famintos, analfabetos, idosos, desamados, desesperançados, abandonados, encarcerados, mutilados, nos porões da humanidade condenados…

Cristificar, repito, é tornar-se outro Cristo! Fácil? Absolutamente não! Mas, o verdadeiro cristão sabe que não encontrará facilidades; sabe que o verdadeiro cristianismo não se vive sem o Mistério da Cruz, pela qual o Amor veio e entrou no mundo.

Cristificar é, enfim, renunciar a si mesmo, tomar a sua cruz de cada dia, e seguir o Senhor. A vida consumir, numa alegre e esperançosa entrega da glória eterna. A cruz é inevitavelmente, em sua exata medida, instrumento de libertação, quer para o tempo presente, quer para a glória dos céus.

Em todo tempo, inclusive na pós-modernidade em que estamos inseridos, é preciso aprender a conjugar o verbo cristificar.

Cristificar, mais que um verbo a conjugar, pelo Verbo viver…

“Cristo reina dando-Se a Si mesmo” (Cristo Rei) (ano C)


“Cristo reina dando-Se a Si mesmo”

“Em verdade Eu te digo, ainda hoje estarás comigo
no Paraíso” (Lc 23,43)

Celebrando a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo (ano C), a Liturgia nos propõe a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 23,35-43), com a narração da crucifixão de Jesus.

Na Cruz, temos o encontro mais comovedor do malfeitor com Jesus, que se torna, por sua vez, o último modelo de convertido ao Senhor.

O “hoje” da Salvação de Jesus é sempre uma graça que se apresenta para todos nós, para toda a humanidade, no entanto é preciso vivenciar um itinerário: aproximação de Jesus, a confissão do pecado, o pedido de perdão e de salvação, a absolvição da culpa e o perdão (Lc 23,40-43).

Podemos vivenciar este itinerário na graça do Sacramento da Penitência, sinal visível do amor de Deus por Sua misericórdia que nos acolhe como pecadores, e concedendo-nos o perdão pelo Presbítero, somos reconciliados com Ele e com nosso próximo.

Também temos nesta passagem que, para reinar com Jesus, é preciso fazer de nossa vida uma doação plena de si mesmo:

 “Cristo reina dando-se a Si mesmo, perdendo a Sua vida para que o mundo possa viver. Ele inverte a lógica do possuir e propõe a mentalidade da doação generosa de Si” .(1)

O discípulo missionário do Senhor é alguém que encontrou Jesus Cristo, e com isto, passou a ter um novo sentido em sua vida, com o alargamento dos horizontes, com o sagrado compromisso com o Reino de Deus.

Oportunas as palavras da Conferência de Aparecida (2007):

“Conhecer Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-Lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-Lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria” .(2)

Celebrando o Dia Nacional dos Cristãos Leigos e Leigas, elevemos orações, a fim de que experimentando a misericórdia de Deus, por meio de Jesus Cristo, renovem a alegria de serem discípulos missionários do Reino, sendo sal da terra, fermento na massa e luz do mundo.

Urge que tenhamos cada vez mais uma Igreja decididamente missionária, e esta página do Evangelho, uma catequese missionária encorajadora, em que reconhecemos a Realeza de Jesus no Trono da Cruz, nos faz discípulos missionários d’Aquele que Reina dando a vida em favor de todos nós.

Portanto, se quisermos reinar com Jesus, façamos de nossa vida uma sincera e fecunda doação de si mesmo, trilhando o caminho da Cruz, que nos credencia para a contemplação, um dia, da glória da eternidade, a plenitude de amor e luz: o Céu.


(1)         Lecionário Comentado – Tempo Comum – Vol. II – Editora Paulus – 2011 – pá.863.
(2)        Conclusões da Conferência de Aparecida e do Caribe – 2007 – n.229

Caridade e humildade no seguimento do Senhor (Cristo Rei)

 

Caridade e humildade no seguimento do Senhor

“Por este caminho se corre com dois pés,

o da humildade e o da caridade”

Sejamos enriquecidos pelo Sermão do Bispo São Cesário de Arles (Séc. VI), que nos apresenta duas exigências no seguimento de Jesus Cristo.

“Parece duro, irmãos caríssimos, e considera-se um peso quase insuportável o que mandou o Senhor no Evangelho, ao dizer: ‘Se alguém quiser seguir-me, renuncie a si mesmo’. Mas não é duro o que mandou Aquele que ajuda a cumprir o que mandou.

Renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga a Cristo. Para onde se deve seguir a Cristo senão para onde Ele foi? Sabemos que ressuscitou e subiu ao Céu: para aí deve ser seguido.

De modo algum se deve perder a esperança, porque foi Ele que o prometeu e não porque o homem O possa conseguir por si mesmo. O Céu estava longe de nós antes de Ele ter subido ao Céu. Porque não temos a esperança de lá chegar, se somos membros da Sua Cabeça? Portanto, porque sofremos muitas aflições e dores na terra, sigamos a Cristo, onde está a suma felicidade, a suma paz, a suma segurança. 

Mas quem quiser seguir a Cristo, deve escutar o que diz o Apóstolo: Quem diz que permanece em Cristo, deve caminhar como Ele caminhou.

Queres seguir a Cristo? Sê humilde, como Ele foi humilde. Não desprezes a humildade, se queres subir à altura sublime para onde Ele subiu.

O caminho tornou-se escabroso quando o homem pecou; mas tornou-se plano quando Cristo o calcou pela Ressurreição, transformando a vereda estreita em senda real. Por este caminho se corre com dois pés, o da humildade e o da caridade.

A sua altura excelsa agrada a todos; mas a humildade é o primeiro degrau. Por que adiantas o pé para além de ti? Queres cair, não subir. Começa pelo primeiro degrau, isto é, pela humildade, e subirás. 

O nosso Senhor e Salvador não disse apenas: ‘Renuncie a si mesmo’, mas acrescentou: ‘Tome a sua cruz e siga-Me’. Que quer dizer: ‘Tome a sua cruz’? Suporte o que é molesto: siga-Me assim.

Quando começar a seguir no meu modo de proceder e nos meus Mandamentos, terá muitos que se lhe opõem, muitos que o querem impedir; terá não só muitos zombadores, mas também muitos perseguidores. E isso o farão não só os pagãos, que estão fora da Igreja, mas também os que parecem estar dentro do Corpo, embora estejam fora pelas suas ações perversas, e perseguem continuamente os bons cristãos porque se gloriam apenas do nome cristão. Estes estão entre os membros da Igreja como os maus tumores no corpo. Portanto, se queres seguir a Cristo, não hesites em levar a sua cruz: suporta os maus, não sucumbas.

Portanto, se queremos cumprir o que disse o Senhor: ‘Se alguém quiser seguir-Me, tome a sua cruz e siga-Me’, com a ajuda de Deus devemos esforçar-nos por cumprir o que diz o Apóstolo: Se temos que comer e que vestir, já estaremos contentes; não aconteça que, se procuramos mais do que convém à natureza terrena e queremos ser ricos, caiamos na tentação e na cilada do diabo e nos muitos desejos inúteis e nocivos, que submergem os homens na morte e na perdição. O Senhor, com a Sua proteção, Se digne livrar-nos desta tentação”.

Como discípulos missionários do Senhor, precisamos fazer nossas renúncias cotidianas, para que com liberdade O sigamos, carregando nossa cruz com plena confiança em Sua presença e força em todo o caminho.

No entanto, é preciso que, a cada dia, a humildade e a caridade sejam elementos constitutivos de nossa identidade e espiritualidade cristã, a fim de que a luz de Deus brilhe mais forte através de nossas boas obras.

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