sábado, 23 de novembro de 2024

Amar e solidarizar-se ativamente para reinar com Cristo (Cristo Rei) (ano A)

                                                                        

Amar e solidarizar-se ativamente para reinar com Cristo

Na Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo (ano A), a Palavra proclamada, escutada, acolhida, meditada e vivida nos propõe e nos inspira a um balanço de nossa vida cristã. 

Celebramos a Solenidade em vigilante expectativa da última vinda do Senhor, servindo-O na alegria, fazendo frutificar o amor que vence no dia do juízo final.

A passagem da primeira Leitura (Ez 34,11-12.15-17) nos remete ao tempo do exílio (séc. VI a.C.).  O Profeta Ezequiel procura alimentar a esperança dos exilados, transmitindo ao Povo a certeza de que o Deus salvador e libertador não os abandonou, tampouco os esqueceu.

O profeta Ezequiel ajuda o povo a perceber a causa de seu sofrimento: a infidelidade. Mas ao mesmo tempo anuncia um novo tempo em que Deus mesmo será o Pastor que vai dirigir o Seu rebanho.

Fala da ação de Deus que conduzirá suas ovelhas. Conhece e delas cuida com todo carinho e delicadeza; exercendo uma autoridade que se funda na entrega e no amor (absolutamente diferente dos pastores que conduziram o povo de Deus a esta triste e desoladora situação de exílio).

Exorta o povo para que se entregue confiante nas mãos de Deus: atravessarão os vales sombrios, serão levados no colo por Ele, e os pés não se ferirão nas pedras do caminho. É preciso, portanto, superar toda forma de egoísmo e autossuficiência. 

Deste modo, trata-se de uma mensagem atualíssima para os nossos dias, pois se propaga uma mentalidade de que é possível o alcance da felicidade sem Deus, insistindo-se na negação de Sua existência, pregando-se a “libertação de Deus”.

Reflitamos:

- Quais são os pastores que nos conduzem dentro e fora da Igreja e como o fazem?
- O que e quem move, guia e motiva o nosso existir?

- Quais as vozes que ouvimos e que nos conduzem?
- Como superamos o egoísmo e a autossuficiência para correspondermos a imagem do Bom Pastor?

- Procuramos a felicidade com Deus e n’Ele?
- Confiamos plenamente em Deus?

Na passagem da segunda Leitura (1Cor 15,20-26.28), o Apóstolo Paulo se dirige a comunidade de Corinto. Trata-se de uma comunidade viva e fervorosa, mas que não deixa de ter problemas de ordem moral, com suas querelas, disputas e lutas, sedução à sabedoria filosófica. Sendo uma cidade portuária traz consigo problemas próprios desta realidade. Sofrem a influência da cultura grega e com isto a dificuldade de aceitar a Ressurreição

Paulo fala sobre o fim último da caminhada daquele que crê: participar plenamente no Reino de Deus e a fé na Ressurreição é a âncora o “selo de garantia”.

O Reino como meta deve impulsionar aquele que crê, não deixando lugar para o medo que paralisa. 

Crendo na Ressurreição tudo ganha um novo sentido, um novo impulso. 

Com Jesus serão desatados os nós de uma tragédia sem saída, a História será redimida, porque através de nossa história em Sua história inserida, serão reatados os “fios quebrados” que nos desfiguram e nos desorientam.

Com Sua Morte e Ressurreição fomos reconciliados e reatados no Amor do Pai, a Nova e Eterna Aliança de Amor foi selada e nada poderá quebrá-la, rompê-la. Assim é o irrenunciável e eterno Amor de Deus.

Desde a alvorada ao ocaso da vida, haveremos de ser fecundados pela graça e pela força da Ressurreição, superando o horizonte limitado pela vida terrena. A fé na Ressurreição é a maior possibilidade ampliação de qualquer horizonte de nossa existência.

Na passagem do Evangelho (Mt 25,31-46),  Jesus nos fala do juízo final, nos revela  qual será o fim daqueles que se mantiveram ou não vigilantes e preparados para a Sua vinda gloriosa “... para que Deus seja tudo em todos)” (1Cor 15,28).

Lembremo-nos do contexto da comunidade de Mateus que era de desinteresse, instalação, acomodação, rotina. Era preciso despertá-la para uma atitude vigilante e comprometida na espera do Senhor que vem. Vigilância para o juízo final.

O critério de julgamento será o amor ou a indiferença vivida para com os pobres (famintos, sedentos, doentes, presos, estrangeiros, nus). Somente o amor concreto e a solidariedade ativa nos credenciam para a eternidade. 

Somente o amor na simplicidade e na gratuidade nos eterniza. Quem vive a misericórdia, o amor, a solidariedade ativa não tem motivo para temer o julgamento final (Tg 2,12-13).

Os discípulos missionários do senhor tem que amá-Lo e viver como Ele. Deus não quer condenar ninguém. A autoexclusão de Seu amor está em nossas mãos. Não há lugar para egoísmo e indiferença na construção do Reino de Deus.

O Reino de Deus é a realidade que Jesus semeou e nos falou através de diversas Parábolas. Cabe a nós, como discípulos missionários, edificá-lo na história através do amor concreto, em solidariedade ativa até que Ele venha e instaure o Reino definitivo, na realização da Parusia.

Jesus também reconhece que existe um cristianismo autêntico mesmo fora da Igreja visível, e que aqueles que não O conheceram mediante o Evangelho, nem por isto ficam isentos do Mandamento do Amor, que se estende a toda a humanidade, nem da sua manifestação na solidariedade ativa.


Reflitamos:

  - Como vivemos o amor e a solidariedade ativa?

- O que fazemos para que o Reino de Deus deixe de ser uma imagem e seja, de fato, o Reino do amor, da verdade, da graça, da liberdade, da santidade e da vida?

- Fazemos da religião um ópio que nos anestesia, nos entorpece ou ela é, de fato, a expressão e o revigoramento de nosso compromisso com os empobrecidos, na verdadeira adoração a Deus?

Contemplemos a Cruz de nosso Senhor: O Seu trono.

Contemplemos Sua coroa, a coroa de espinhos dada pelos homens, a Coroa da Glória dada pelo Pai.

Fixemos nosso pensamento e abramos nosso coração ao Seu Novo Mandamento, o Mandamento do Amor: "Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei" (Jo 15,12).

A Sua Lei seja a nossa Lei: o amor, vivenciado na mais bela página das Bem-Aventuranças (Mt 5,1-12). Que ela seja nosso programa de vida para que um dia também participemos do Reino definitivo, quando Ele vier em Sua glória.

Sejamos armados em Seu exército com a arma do amor.

Coroamos Jesus Cristo, Rei e Senhor do Universo,
a cada momento, quando levamos a sério nossa fé, 
damos corpo e conteúdo à caridade no coração inflamada, 
e somos movidos pela fé na Ressurreição; 
quando a solidariedade, a fraternidade, o amor à vida, 
a paixão pelo Reino nos consome; 
quando nos sentimos fascinados por Sua Pessoa e Palavra e, 
pelo nosso pregar e viver,
    provocamos o mesmo fascínio, 
sem jamais perder a esperança.

A Cruz é o Trono do Senhor! (Cristo Rei) (ano C)


A Cruz é o Trono do Senhor!
Carreguemos o Seu Trono cotidianamente!

"Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga.” (Lucas 9,23).


Jesus, o Rei que amamos, é diferente!

Nu, despido, desprotegido, por alguns traído,
Por outros abandonado, solidão desoladora,
O auge das trevas e extrema escuridão,
Iluminada na madrugada da Ressurreição!

Jesus, Seu Trono é a Cruz!

No alto da Cruz, amor vivido,
Num trono por nós incompreendido,
Ele testemunhou a força desarmada do amor.
Amor universal, que chega até aos inimigos.

Reinar com Jesus é, portanto:
Não renunciar a cruz, que temos com ousadia e coragem carregar. Sendo luz com Ele, rompendo o véu da mediocridade, irrompendo a luz na madrugada da desejada Ressurreição, alegria para a profundeza da triste e indesejada, dos mortos, mansão.

Reinar com Jesus é viver a força desarmada do Seu Amor!

Ó incrível Amor do Senhor que na Cruz contemplamos! Solitário, amando até o extremo! Do Seu lado trespassado Água e Sangue jorraram, d’Ele nascemos, nos alimentamos... Somos revitalizados sempre por este Amor que a tudo e a todos pode vencer!

Amor testemunhado no ato extremo e último da Morte de Cruz.
Amor que ama até o fim!

Amor, incrível amor, a se viver corajosamente em situações favoráveis e adversas.

O amor é a força que nos move, revigora... Que não nos permite perder o encantamento pela busca do último horizonte: a eternidade - céu.

Que sejamos, no Amor e pelo Amor, sempre fortalecidos
 no bom combate da fé, no carregar de nossa cruz!
Venha a nós, Senhor, o Vosso Reino de Amor!
Amém.

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Em poucas palavras...

                                         


Peregrinos da Esperança: desprendimento e entregar total

“Nada se deve preferir a Ele. Sobretudo quem possui grandes riquezas terá de fazer renúncias dolorosas. Mas é necessário saber enfrentá-las com alegria, para entrar na glória adquirida por Jesus pelo preço de um desprendimento e de uma entrega total.

A Eucaristia é penhor da vida eterna, infinitamente mais precioso que tudo. Sob os sinais do sacramento, recebe-se o próprio autor da Salvação.” (1)

 

 

(1)Missal Quotidiano, Dominical e Ferial - Editora Paulus – Lisboa – passagem do Evangelho (Mc 10,17-30) – pág. 2070

Em poucas palavras...

                                                 


Com Maria sempre podemos contar

Ao pronunciar o «Fiat» da Anunciação e dando o seu consentimento ao mistério da Encarnação, Maria colabora desde logo com toda a obra a realizar por seu Filho. Ela é Mãe, onde quer que Ele seja Salvador e Cabeça do Corpo Místico.

Terminado o curso da sua vida terrena, a santíssima Virgem Maria foi elevada em corpo e alma para a glória do céu, onde participa já na glória da ressurreição do seu Filho, antecipando a ressurreição de todos os membros do Seu Corpo.

«Nós cremos que a santíssima Mãe de Deus, a nova Eva, a Mãe da Igreja, continua a desempenhar no céu o seu papel maternal para com os membros de Cristo» “ (1)

 

(1) Catecismo da Igreja Católica – parágrafos n. 973-975 

Rezando com os Salmos (Sl 9)

 




Em tudo, demos graças a Deus

“–1 Ao maestro do coro. Segundo a melodia ‘Morrer pelo filho’. Salmo de Davi

2 Senhor, de coração Vos darei graças,
as Vossas maravilhas cantarei!
3 Em Vós exultarei de alegria,
cantarei ao Vosso nome, Deus Altíssimo!

4 Voltaram para trás meus inimigos,
perante a Vossa face pereceram;
5 defendestes meu direito e minha causa,
juiz justo assentado em Vosso trono.

6 Repreendestes as nações, e os maus perdestes,
apagastes o seu nome para sempre.
=7 O inimigo se arruinou eternamente,
suas cidades foram todas destruídas,
e até sua lembrança exterminastes.

8 Mas Deus sentou-Se para sempre no Seu trono,
preparou o tribunal do julgamento;
9 julgará o mundo inteiro com justiça,
e as nações há de julgar com equidade.

10 O Senhor é o refúgio do oprimido,
seu abrigo nos momentos de aflição.
11 Quem conhece o Vosso nome, em Vós espera,
porque nunca abandonais quem Vos procura.

12 Cantai hinos ao Senhor Deus de Sião,
celebrai Seus grandes feitos entre os povos!
 –13 Pois não esquece o clamor dos infelizes,
deles Se lembra e pede conta do seu sangue.

=14 Tende pena e compaixão de mim, Senhor!
Vede o mal que os inimigos me fizeram!
E das portas dos abismos retirai-me,
=15 para que eu possa anunciar Vossos louvores
junto às portas da cidade de Sião,
e exultar por Vosso auxílio e salvação!

16 Os maus caíram no buraco que cavaram,
nos próprios laços foram presos os seus pés.
17 O Senhor manifestou Seu julgamento:
ficou preso o pecador em seu pecado.

18 Que tombem no abismo os pecadores
e toda gente que se esquece do Senhor!
19 Mas o pobre não será sempre esquecido,
nem é vã a esperança dos humildes.

20 Senhor, erguei-vos, não se ufanem esses homens!
Perante vós sejam julgados os soberbos!
21 Lançai, Senhor, em cima deles o terror,
e saibam todos que não passam de mortais!”

No primeiro trecho do Salmo (Sl 9), temos uma ação de graças pelo triunfo sobre os inimigos e uma súplica para que Deus extermine os maus que desprezam Sua lei e oprimem os pobres (cf. Bíblia Edição CNBB).

Elevemos a Deus nossa ação de graças pelas vitórias que alcançamos, dia a dia, em meio às provações e adversidades.

Concluímos com as palavras do Apóstolo Paulo na Primeira Carta aos Tessalonicenses:

“Alegrai-vos sempre. Orai sem cessar. Em tudo dai graças, porque esta é a vontade Deus, em Cristo Jesus, a vosso respeito. Não apagueis o Espírito, não desprezeis as profecias, mas examinai tudo e guardai o que for bom.” (1 Ts 5,16-19).

Doce e amarga é a Palavra do Senhor

                                                        


Doce e amarga é a Palavra do Senhor

        “Na boca era doce como mel, mas quando o engoli,
meu estômago tornou-se amargo”  (Ap 10,10)

Com a passagem do Livro do Apocalipse (Ap 10, 8-11), refletimos sobre a importância da Palavra de Deus para quem professa a fé.

Além do duplo aspecto (doçura-amargor) que possui, ela deve ser antes interiorizada por quem a acolhe e nela acredita, para viver coerentemente:

“É doce como o mel, porque a Palavra de Deus comunica sentimentos de doçura e de conforto aos homens, mas ao mesmo tempo é muito amargo, porque o seu anúncio pode comportar dificuldades, provas e perseguições” (1)

Este processo tem exigência própria, porque coloca a nu nossa realidade e contradições, e não é como a palavra humana que pode ser combatida, revogada, com possíveis álibis, escapatórias, réplicas, tréplicas, divergências, contraposições, concepções divergentes, ou outras tantas possibilidades.

Acolhê-la implica vencer todo medo de ouvi-La, permitindo que penetre em nossa alma, com suas interpelações de mudança, conversão, redirecionamento de caminhos e propósitos, porque, de fato, a Palavra divina é irrevogável, questionadora, reveladora do mais profundo de cada um de nós.

Não é uma Palavra que anestesia ou legitima nossos caprichos e quereres, pois nem sempre nossa vontade corresponde à vontade divina, assim como nosso tempo, definitivamente, não é o tempo de Deus.

Na impossibilidade de refutá-la ou sufocá-la, ou pelo medo do compromisso, é possível que a esvaziemos de sua força revolucionária, flexibilizando-a e a condicionando aos nossos caprichos, até mesmo para que se torne agradável e aceitável por parte também dos que nos ouvem.

Não nos é dado este direito da parte de Deus, pois a Palavra Divina não se presta a manipulações de quaisquer motivações.

O anúncio da Palavra não se faz para a multiplicação de adeptos e seguidores de si mesmo, mas do Verbo que Se fez Carne e habitou entre nós.

Concluo com as palavras do Missal  Cotidiano:

“Mas se a Palavra de Deus é ‘amarga por vezes, também é cheia de doçura para quem a aceita e se esforça por vivê-la. Garante a liberdade, a segurança, a paz, a salvação; dá-nos a coragem de atualizá-la e transmiti-la aos outros como mais precioso dom”. (2)


(1)         Lecionário Comentado – Editora  Paulus – 2013 – p.834
(2)        Missal Cotidiano Editora Paulus - 1997 – pp.1520-1521)
PS: Livre adaptação do comentário do Missal Cotidiano

Presbíteros testemunhas da mansidão e da doçura

                                                                 


Presbíteros testemunhas da mansidão e da doçura

Ajudai, Senhor, a fim de que todos os presbíteros mantenham a mansidão e a doçura, virtudes tipicamente cristãs, para com todos (cf. Mt 11,29), como assim fizestes para conosco, cansados e abatidos, como ovelhas sem pastor que estávamos.

Concedei-lhes a graça de serem inclinados à mansidão; acompanhado do autodomínio das paixões e desejos, afastando toda e qualquer forma de egoísmo, vivendo a graça do ministério na comunhão e sinodalidade.

Concedei-lhes progredir na paciência, constância e coragem, renúncia e sacrifício, desenvolvendo sentimentos de bondade inaugurando e fortalecendo relações fraternas de comunhão e solidariedade, como assim fizeram os santos no bom combate da fé, sem jamais fomentarem a discórdia, violência, e propagação do ódio e rancor.

Concedei-lhes a doçura que educa para a compreensão, à clemência, à humildade, à plena e contínua comunhão com Deus; assim como a mansidão, como sua mais alta e delicada expressão, porque, esquecendo-se de si mesmos, vivam e trabalhem para os outros. Amém.

 

Fonte: Missal Cotidiano, Editora Paulus, 1997, p.1483 – passagem bíblica: Tt 3,1-7

Quem sou eu

Minha foto
4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG