domingo, 3 de novembro de 2024

“Martinho da caridade” (03/11)

                                                         

 “Martinho da caridade”

Sejamos enriquecidos pela Homilia do Papa São João XXIII, na Missa da canonização de São Martinho de Lima, cuja Memória celebramos dia 3 de novembro.

“Martinho, pelo exemplo de sua vida, prova-nos que podemos alcançar a salvação e a santidade pelo caminho que Cristo Jesus mostrou: quer dizer, em primeiro lugar, o amor a Deus de todo o nosso coração, de toda a nossa alma e com todo o nosso espírito; e em segundo lugar, o amor ao próximo como a nós mesmos (Mt 22,37-39).

Convicto de que Cristo Jesus morreu por nós e tomou sobre Si nossos pecados em Seu corpo no lenho (cf. 1Pd 2,24), concebeu extremado amor pelo Crucificado. Ao contemplar Seus atrozes sofrimentos, não podia impedir-se de chorar copiosamente. Amava igualmente com singular caridade o augusto Sacramento da Eucaristia. Com frequência passava horas oculto em adoração diante do tabernáculo e desejava recebê-lo sempre que se lhe oferecia a oportunidade.

Por fim, São Martinho, obediente ao máximo à exortação do divino Mestre, alimentava a maior caridade para com os irmãos, brotada da fé inquebrantável e da humildade de coração. Amava também os homens aos quais sinceramente estimava como filhos de Deus e seus irmãos. Ou melhor, amava-os mais do que a si mesmo, uma vez que, em sua humildade, a todos julgava mais justos e melhores do que ele.

Desculpava os defeitos alheios. Perdoava até mesmo as mais duras injúrias, persuadido como estava de ser digno de muito maior castigo por seus pecados. Com a maior diligência tentava levar os desviados ao bom caminho; benigno, assistia os doentes; dava aos indigentes alimento, roupa, medicamentos; auxiliava com toda a ajuda e solicitude a seu alcance os lavradores, bem como os negros e mestiços, que naquele tempo eram desprezados como escravos, de tal forma que começou a ser chamado pelo povo de ‘Martinho da caridade’.

Este santo homem, que, por palavras, exemplo e virtude, atraiu tantos para a religião, também hoje tem poder de elevar maravilhosamente nossos espíritos às realidades celestes. Nem todos, infelizmente, entendem, como seria de desejar, estes bens superiores, nem todos os respeitam; bem, ao contrário, muitos, propensos aos prazeres do vício, desdenham ou aborrecem-nos, ou mesmo desprezam-nos totalmente. Queira o exemplo de Martinho a muitos ensinar com segurança como é bom e suave seguir as pegadas de Jesus Cristo e obedecer a Seus divinos Mandamentos”.

São Martinho de Lima nasceu em Lima (Peru) no ano de 1579, e morreu no ano de 1639. 

Filho de pai espanhol e mãe negra, aprendeu desde muito jovem o ofício de barbeiro e enfermeiro, quando entrou na Ordem dos Pregadores, dedicando-se modo especial à enfermagem em favor dos pobres.

Sua vida foi marcada pela mortificação constante, acompanhada de profunda humildade e devoção especialíssima à Eucaristia.

À luz do testemunho de São Martinho de Lima, vemos que a santidade passa, inevitavelmente, pelo amor a Deus e ao próximo, inseparavelmente.(1)

Por sua vida, é para nós exemplo e intercessor, para que façamos progressos no combate espiritual, trilhando o caminho da santidade rumo aos céus, sobretudo no contexto em que vivemos de indiferença, intolerância, banalização da vida humana e violência.

Oremos:

“Ó Deus, que conduzistes São Martinho de Lima à glória do céu pelos caminhos da humanidade, dai-nos seguir de tal modo seus exemplos na terra, que sejamos com ele exaltados no céu. Por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.”


(1)         Fonte de pesquisa: Liturgia das Horas – Vol. IV – p. 1433-1434

Contemplemos o Deus de Amor! (XXXIDTCC)

Contemplemos o Deus de Amor!

Com a Liturgia do 31º Domingo do Tempo Comum (ano C), refletimos sobre o amor de Deus, sempre pronto a nos acolher e oferecer uma nova vida, desde que nos proponhamos à conversão e uma vida nova, com salutares compromissos, com gestos de amor e partilha.

A passagem da primeira Leitura (Sb 11,22-12,2) nos ajuda a refletir sobre o amor de Deus: transformador e vivificador. 

Sobre a presença de Deus e Seu amor, também podemos refletir à luz da passagem da segunda leitura (2 Ts 1,11-2,2).

Trata-se de uma comunidade entusiasta e fervorosa, como devem ser todas as comunidades que professam a fé no Senhor.

Temos dois temas: a súplica de Paulo, para que os membros da comunidade vivam com dignidade a vocação que de Deus receberam, uma vez que o chamado é um dom divino;  e o segundo, trata-se da espera vigilante da vinda gloriosa do Senhor.

Paulo nos assegura que o amor de Deus acompanha a história da humanidade, e exorta que a comunidade não se deixe enganar por fantasias de fanáticos que possam surgir, semeando discórdias e falsas esperanças no coração dos que creem no Senhor.

A comunidade que espera a vinda gloriosa de Cristo, não pode esperar sem compromissos sagrados no tempo presente. Olhar com expectativa para a Sua vinda, mas concretizar a fé em gestos, vivendo com dignidade a vocação que receberam pelo Batismo.

Esta espera vigilante exige que a comunidade não se demita, ou caia em estéril acomodação e ociosidade, pois ficaria enfraquecida em sua missão evangelizadora.

A comunidade precisa ter a Palavra como fonte de espiritualidade e intimidade com Deus, e em cada Eucaristia que celebrar, anunciar a Morte e Ressurreição do Senhor, na espera de Sua vinda gloriosa, empenhando-se com ardor na participação da construção do Reino de Deus.

Tão somente vivendo, com alegria e ardor, a missão que o Senhor nos confiou é que nos preparamos para a Sua vinda gloriosa, que ninguém pode determinar quando acontecerá. Importa estarmos vigilantes e ativos na fé, na esperança e na caridade. 

A passagem do Evangelho (Lc 19,1-10), sobre a acolhida de Jesus por Zaqueu em sua casa, é marcante para a espiritualidade e muito nos ajuda na caminhada de fé, como discípulos missionários do Senhor.

Os autores da Sagrada Escritura, de modo geral, não economizam tinta para descrever a face do Amor de Deus que nos transforma.

Zaqueu vendo a Misericórdia, e sendo por Ela visto, na sua expressão maior, que é o próprio Jesus, é transformado e faz sagrados propósitos: “… Senhor, eu dou metade dos meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais”  (Lc 19,8). 

Zaqueu não somente acolhe, mas se converte a partir da presença de Jesus. Ele é a representação de nossa miséria, nossa condição pecadora, que corre para ver a misericórdia. 

Sua baixa estatura revela nossa pequenez, insignificância, nossa condição de criaturas diante do Criador, que apesar de nossas infidelidades, nossos pecados, jamais nos abandona… É próprio do amor não abandonar o amado.

Quando o homem corre para encontrar Deus e não corre de Deus, por Ele é encontrado e sente o desejo profundo de levar outros ao mesmo encontro. 

Verdadeiramente, o encontro com Deus nos transforma para sermos instrumentos de transformação da vida do outro. 

Contemplemos, silenciosamente, a cena maior da história: Jesus é Deus, que veio ao encontro da humanidade, no entanto, ainda há quem não quer encontrá-Lo, e deixar-se por Ele encontrar, porque não ama e não se sente amado, distanciando-se, assim, da vida e da felicidade.

Somente a experiência de amar e ser amado nos possibilita subir degraus na escada do conhecimento de Deus. Se assim não acontece é porque ainda não O encontramos.  

Quando abrimos as portas para a Salvação a novidade se instaura em nosso coração e desejamos ardentemente comunicá-la, e escrevemos belas páginas de nossa história.

A experiência de Zaqueu pode ser a nossa experiência quotidiana, depende de cada um de nós.

A transformação acontece porque somos acolhidos pelo amor de Deus; e uma vez acolhidos e amados, transformados somos revivificados e na comunidade reintegrados, para que nos tornemos participantes da História da Salvação que insistentemente quer conosco escrever. 

A História da Salvação é única e acolhe nossa realidade de pecado: em Deus o pecado cede lugar para a graça, a morte para a vida, a escuridão para a luz, o ódio para o amor, o rancor para o perdão, a carência do essencial para a abundância daquilo que é de fato vital. 

Afinal, Ele veio para que tenhamos vida plena, consumando no seu ápice, o céu, a eternidade, a plenitude de seu Amor.

É próprio do amor de Deus não exterminar, não excluir, a fim de que todos sejam salvos.

Infinita é a superioridade da lógica de Deus em comparação com a lógica dos homens. A lógica do amor de Deus, passando pelo AT e NT, é sempre aquela que nos garante a verdadeira sabedoria e felicidade, e ninguém e nem nada nos poderá tirar desta lógica.

Nada poderá nos desviar do Caminho, porque n’Ele encontra-se a plena Verdade que nos garante a Vida abundante.

O rosto de Deus onipotente manifesta-se na grandiosidade de Sua tolerância e misericórdia, na Sua prontidão em conceder o perdão, no amor para com todas as criaturas, porque todas receberam o sopro da vida.

Falar de Seu rosto misericordioso não é romantismo inútil, estéril, discurso evasivo, ao contrário, crendo neste Deus bíblico, somos questionados sobre a nossa capacidade de acolher o diferente, o pecador e a ele dirigir nosso perdão.


Esperando a Sua segunda vinda, é tempo favorável para relacionamento e aprofundamento da nossa amizade com este Deus Amor que nos é revelado na Sagrada Escritura.

Acomodação, desistência, abandono do mandamento do amor que nos dá vida nova, jamais! 

O Senhor aguardamos vigilantes amando, e  somente assim sentiremos sua presença, sentindo-nos plenamente mergulhado no Seu coração, no Seu Amor…

Finalmente, o encontro de Jesus com Zaqueu nos possibilita a reflexão sobre três olhares:

- O próprio olhar de Zaqueu, o olhar do pecador;

- O olhar dos olhares, o olhar de Jesus, o olhar d’Aquele que acolhe e ama, porque ama transforma;

- O olhar da multidão que recrimina e não compreende a intensidade e profundidade do amor de Deus pela humanidade, sobretudo a humanidade pecadora, que por Seu amor, amor extremado na Cruz a redimiu. Sim, por amor e por um amor filial, incondicional, fomos redimidos. Este é o nosso caminho: mais que o Deus de amor contemplar, Seu amor viver.

Que nossos olhares sejam como o olhar de Zaqueu, reconhecendo nossa condição pecadora, e fazendo a experiência da acolhida, amor e perdão divinos, por Deus enxergados, corações transformados. Somente assim os outros olhares também poderão se renovar.

É próprio do amor de Deus curar nossa cegueira. E curados, podemos ajudar a curar a cegueira do próximo. Curados de toda cegueira pelo Amor divino, podemos nos ver e nos relacionar como irmãos e irmãs!

“O amor do Senhor é uma chama devoradora, que se te pega te envolve todo, ainda antes que tu te percebas”, diz o teólogo Hans Urs Von Baltazar.

Reflitamos:

-  Como amamos o pecador e o possibilitamos a se libertar de seu pecado?

-  Qual a intensidade de perdão que somos capazes de viver?

-  Como vivemos a lógica do amor que tem sua alta expressão na vivência do perdão?

-  Como amar o pecador e odiar o pecado?

Somente o Amor de Deus transforma o mundo e o coração da humanidade! É próprio do amor transformar o coração do amado! 

Dois Mandamentos inseparáveis: amor a Deus e ao próximo (XXXIDTCB)

 


Dois Mandamentos inseparáveis: amor a Deus e ao próximo

No 31º Domingo do Tempo Comum (ano B), a Liturgia nos convida a refletir sobre o amor a Deus e ao próximo, inseparavelmente.

Na passagem da primeira Leitura (Dt 6,2-6), temos a apresentação do “Shema’Israel”, que é a solene proclamação de fé que todo o israelita devia fazer diariamente, desde os finais do século I, pela manhã e tarde.

Esta proclamação afirma a unidade de Deus e ao mesmo tempo convida a amá-Lo com todo o coração, toda a alma e com todas as forças. Somente Deus é Nosso Senhor e o único, o verdadeiro caminho para a vida.

“Escuta Israel”: há que se “ouvir” com os ouvidos e “acolher” no coração”, para “transformar em ação concreta” aquilo que se ouviu e se acolheu.

Deste modo nosso amor a Deus deve ser manifestado em gestos concretos que expressem nossa obediência incondicional a Ele e Seus planos para nós, com total entrega em suas mãos, com a aceitação e vivência de seus mandamentos e preceitos.

Na passagem da segunda Leitura (Hb 7,23-28), o autor da Epístola nos apresenta Jesus Cristo, o Sumo Sacerdote que veio ao mundo para realizar o plano salvador do Pai para toda a humanidade, na obediência e entrega de Sua vida por amor, amando-nos até o fim.

Jesus Cristo é o Sumo-Sacerdote, o santo, inocente, imaculado e separado dos pecadores, e elevado acima dos céus, porque pertence à esfera do Deus Santo.

Ele é o Sacerdote por excelência que o Pai enviou ao mundo, convidando-nos para que nos integremos à comunidade do Povo Sacerdotal.

O culto que Ele pede e espera de nós, gerador de vida nova, é a obediência aos Seus projetos e o amor ao próximo.

Na passagem do Evangelho de Marcos (Mc 12,28b-34), Jesus nos apresenta os inseparáveis mandamentos: amor a Deus e ao próximo, que devem ser expressos em relações de doação, partilha e solidariedade.

A passagem nos apresenta Jesus em Jerusalém, no centro da cidade, onde dará os últimos passos do caminho percorrido com os discípulos, desde a Galileia.

Mais uma vez, Jesus enfrenta os líderes religiosos de Seu tempo, após as questões polêmicas do tributo a César e da Ressurreição (não acreditada pelos Saduceus), Ele é interrogado sobre qual é o maior Mandamento. 

Consideremos que os fariseus conservavam 613 mandamentos (sendo 365 proibições e 248 prescrições). Um verdadeiro emaranhado de preceitos e prescrições. 

Evidentemente, os pobres estavam impossibilitados deste conhecimento, e por eles eram considerados impuros e distantes de Deus. 

À pergunta feita pelo escriba sobre qual seria o primeiro de todos os Mandamentos, assim respondeu Jesus: 

“E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes” (Mc 12, 29-31).

 O Mandamento do Amor é o resumo de toda a Lei, pois a vida cristã consistirá em amar como Jesus ama ao Pai, com Seu Espírito – o Amor Trinitário.  

Na verdade, os dois Mandamentos são o resumo de toda a Bíblia: que a vontade de Deus seja feita, numa entrega quotidiana de amor em favor do Reino, fazendo da vida um dom total de si mesmo, como Jesus o fez - o Missionário amado pelo Pai, na força do Espírito, o Amor que nos acompanha em todos os  momentos. 

Amando a Deus, escutaremos Sua palavra e haveremos de nos empenhar no cumprir da vontade divina. No amor aos irmãos, haveremos de nos solidarizar com todos os que encontrarmos pelo caminho. O amor, a solidariedade, o serviço, a partilha, o dom da vida em favor do outro nos fazem adoradores de Deus, em espírito e verdade. 

Na vivência do amor a Deus e ao próximo, Jesus fez cair as máscaras da hipocrisia de Seus opositores, que conhecedores da Lei, do Mandamento divino, mas tão apenas conhecedores, pois não os colocavam em prática, como Ele o fez em relação aos pequeninos, aos pobres, aos enfermos, aos marginalizados. 

Bem sabemos que este amor que ama até o fim incomodou aqueles bem estabelecidos, porque com os preferidos de Deus jamais comprometidos.

Tudo que Deus faz é simplesmente por amor, e esta é essencialmente a marca de Seu agir. Assim, tudo quanto fizermos, tanto os gestos mais grandiosos de fidelidade, quanto os menores, se ausente o amor, perdem a sua beleza e consistência. 

Acrescentemos uma afirmação do Bispo Santo Agostinho: “Esses dois Preceitos devem ser sempre lembrados, meditados, conservados na memória, praticados, cumpridos. O amor de Deus ocupa o primeiro lugar na ordem dos Preceitos, mas o amor do próximo ocupa o primeiro lugar na ordem da execução. Pois, quem te deu esse duplo preceito do amor não podia ordenar-te amar primeiro ao próximo e depois a Deus, mas primeiramente a Deus e depois ao próximo”.

Concluindo, o Papa Bento XVI, em sua Encíclica “Deus caritas est”, assim afirmou: “O amor ao próximo é também uma estrada que conduz a Deus. Não amar o próximo é tornar-se míope de Deus”.

Reflitamos: 


 -   Como vivemos os Dez Mandamentos da Lei de Deus?
 -   De que modo amamos e servimos ao Deus Vivo e Verdadeiro?
 
 -   Existe algum ídolo que nos afasta deste Deus?
 -   Como é a nossa relação com Deus e com nosso próximo?

Oremos: 

Ó Deus de Amor, suplicamos o Vosso Espírito Santo, Espírito de Amor, para que vivamos um amor verdadeiro, fiel, profundo e sofredor, para que mais configurados ao Vosso Filho, vivamos a fidelidade aos ensinamentos e Mandamento do Amor, curados de toda a miopia espiritual, e assim, a Trindade amar na primeira ordem dos preceitos e ao próximo em primeiro lugar na ordem da execução. Amém.


Fonte inspiradora: www.Dehonianos.org/portal


A perfeita coerência dai-nos, Senhor! (XXXIDTCA)

A perfeita coerência dai-nos, Senhor!

A Liturgia do 31º Domingo do Tempo Comum (ano A) nos apresenta algumas exigências do ser cristão: seriedade, verdade, coerência e o irrenunciável compromisso com o Reino.

À luz da primeira Leitura (Ml 1,14b-2,1-2.8-10), refletimos sobre as dramáticas consequências quando se dá o divórcio entre o Povo e Deus; quando aqueles que deveriam zelar pelo bem do primeiro em fidelidade ao segundo não o fazem o resultado é sofrimento, injustiça, cultos abomináveis e idolátricos.

Malaquias que significa “O meu mensageiro” retrata com preciosidade esta realidade do período pós-exílio (primeira metade do século V - 480/450 a.C.). 

O Profeta intervém contra o resfriamento da fé, o desleixo dos sacerdotes e dos fiéis nas celebrações litúrgicas e contra a decadência moral que sofre a comunidade.

Trata-se de um quadro com marcas de apatia religiosa, falta de confiança em Deus, o desleixo do culto e o enfraquecimento da ética, a banalização do nome e o respeito aos compromissos para com Deus. Abandonaram o “Primeiro Amor” e a tristeza marcava os cultos.

Como mensageiro de Deus, exige o Profeta a conversão do povo e a reforma cultural e não deixa de fazer perceber os primeiros culpados desta realidade: “os sacerdotes do templo” que falsificam o culto, bem como a Palavra de Deus. Além de se desviarem de sua missão fazem o povo vacilar e o trata com indiferença.

O Profeta vê saídas, mas desde que todos se coloquem num processo contínuo de conversão e fidelidade , de modo especial as lideranças se colocando em postura de dedicação, entusiasmo, doação e entrega aos compromissos a que foram chamados em fidelidade a Deus e compromisso com o Povo que a Ele pertence.

É preciso tomar consciência da condição de criaturas que nos torna iguais. Deixarmo-nos amar pelo Senhor, que como Criador e Pai quer fazer de nós Sua amada família.

Na segunda Leitura (1 Ts 2,7b-9.13), encontramos o perfil de um verdadeiro missionário que tem amor nas entranhas de seu ser, com isto acompanha a humildade, simplicidade, doação, entrega de si mesmo em favor do outro em fidelidade total e incondicional a Deus.

Mais uma vez refletimos sobre a comunidade de Tessalônica onde se acolheu com alegria a Palavra do Missionário, apesar das dificuldades, provações. Era notável a sua fé ativa, caridade esforçada e a firmeza de sua esperança; sempre acompanhados de gestos de acolhida, fidelidade e solidariedade.

O coração de Paulo transborda de alegria e agradecimento para com esta comunidade, a ponto de se dirigir a ela falando que a mesma nasceu do esforço missionário feito com “ternura de Mãe” e com autenticidade ao anúncio. A corrente de amor que se criou entre o Apóstolo e os fiéis foi crescendo em intensidade e qualidade.

Paulo não se tornou um peso para as comunidades, pois sobreviveu de seu trabalho, objetivando única e exclusivamente a salvação de todos. Paulo fala de uma comunidade que escuta, acolhe e vive a Palavra.

Reflitamos:
 - Somos testemunhas alegres, vivas entusiastas, generosas, uma comunidade onde se vive a gratuidade e o amor para com Deus e com o próximo ou contratestemunhamos, sendo amargos, egoístas, agressivos, cansados e desanimados?
 - Quais são as características principais da comunidade que participamos?
 - Deixamo-nos interpelar pela Palavra de Deus?
 - Pregamos a Palavra de Deus ou a nós mesmos?

Com a passagem do Evangelho (Mt 23,1-12), somos questionados sobre possíveis posturas farisaicas que podem estar presentes em nosso discipulado: domínio e monopólio da verdade, incoerência, exibicionismo e insensibilidade ao amor e à misericórdia.

Notável o confronto de Jesus e o farisaísmo: Jesus reconhece que são sérios e bem intencionados, mas são fundamentalistas no cumprimento da Lei, acompanhado do desprezo do próximo. Esqueciam o essencial, o amor e a misericórdia. Os fariseus detinham em suas mãos a interpretação e a aplicação da Lei, mas pelo viver transparecia a sua incoerência. A escravidão à Lei os desqualifica diante dos pequenos. O exibicionismo próprio dos fariseus lhes manchava a imagem e a honra.

Afastando-se do essencial, afastam-se da verdadeira fraternidade, não vivem o amor e o serviço que devem consistir todo o existir daquele que a Deus teme, pois passam a tratar o outro com diferenças e esvaziam uma verdade tão bela: somos todos iguais em dignidade diante dAquele que nos criou.

Reflitamos:
 Ø   Os fariseus falavam muito bem e nada faziam. Quais são os erros farisaicos presentes em nossas comunidades?
 Ø   Como eliminar o espírito farisaico que pode se fazer presente em nossas relações comunitárias e até mesmo sociais?
 Ø   O que fazer para recuperar a alegria e a serenidade no testemunho de nossa fé cristã?
 Ø   Impomos ou somos uma carga pesada sobre o outro com quem nos relacionamos e convivemos, a exemplo dos fariseus no Evangelho mencionado?

Concluo com esta citação do Lecionário Comentado:

“Os profissionais do sagrado estão sempre expostos a uma tentação: ter na Igreja uma competência doutrinal; tratar continuamente das coisas de Deus, mas chegar tarde ao encontro com o próprio Senhor; enfeitar a moldura e não olhar para o Seu rosto... O obstáculo a superar é uma certa familiaridade com a fé e com os Sacramentos, que não é aquela de quem adora ama e encontra o Senhor no terreno fértil da humildade e do assombro perante o Seu Mistério infinito, mas é a familiaridade alterada pela superficialidade, pelo desinteresse, quando se trata de testemunhar, pela indiferença perante o tesouro escondido num campo e a pérola de grande valor, que não nos surpreendem já como antes (Mt 13,44-46)". (1)

Voltemo-nos ao “Primeiro Amor”!

  
(1)Lecionário Comentado - Tempo Comum – Vol. II - 2011 - Giuseppe Casarin - Paulus - Portugal

Acolhidos e transformados pelo Amor de Deus (XXXIDTCC)

 


Acolhidos e transformados pelo Amor de Deus 

Uma reflexão sobre o amor de Deus, sempre pronto a nos acolher e oferecer uma nova vida, desde que nos proponhamos à conversão e uma vida nova, com salutares compromissos, com gestos de amor e partilha, à luz da passagem do Evangelho de São Lucas (Lc 19,1-10). 

A acolhida de Jesus por Zaqueu em sua casa, é marcante para a espiritualidade e muito nos ajuda na caminhada de fé, como discípulos missionários do Senhor.

Os autores da Sagrada Escritura, de modo geral, não economizam tinta para descrever a face do Amor de Deus que nos transforma. 

Zaqueu vendo a Misericórdia, e sendo por Ela visto, na sua expressão maior, que é o próprio Jesus, é transformado e faz sagrados propósitos: “… Senhor, eu dou metade dos meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais”  (Lc 19,8).  

Zaqueu não somente acolhe, mas se converte a partir da presença de Jesus. Ele é a representação de nossa miséria, nossa condição pecadora, que corre para ver a misericórdia.  

Sua baixa estatura revela nossa pequenez, insignificância, nossa condição de criaturas diante do Criador, que apesar de nossas infidelidades, nossos pecados, jamais nos abandona… É próprio do amor não abandonar o amado. 

Quando o homem corre para encontrar Deus e não corre de Deus, por Ele é encontrado e sente o desejo profundo de levar outros ao mesmo encontro. Verdadeiramente, o encontro com Deus nos transforma para sermos instrumentos de transformação da vida do outro. 

Contemplemos, silenciosamente, a cena maior da história: Jesus é Deus, que veio ao encontro dos homens, no entanto, ainda há quem não quer encontrá-Lo, e deixar-se por Ele encontrar, porque não ama e não se sente amado, distanciando-se, assim, da vida e da felicidade. 

Somente a experiência de amar e ser amado nos possibilita subir degraus na escada do conhecimento de Deus. Se assim não acontece é porque ainda não O encontramos.   

Quando abrimos as portas para a Salvação a novidade se instaura em nosso coração e desejamos ardentemente comunicá-la, e escrevemos belas páginas de nossa história. 

A experiência de Zaqueu pode ser a nossa experiência quotidiana, depende de cada um de nós. 

A transformação acontece porque somos acolhidos pelo amor de Deus; e uma vez acolhidos e amados, transformados somos revivificados e na comunidade reintegrados, para que nos tornemos partícipes da História da Salvação que insistentemente quer conosco escrever.  

A História da Salvação é única e acolhe nossa realidade de pecado: em Deus o pecado cede lugar para a graça, a morte para a vida, a escuridão para a luz, o ódio para o amor, o rancor para o perdão, a carência do essencial para a abundância daquilo que é de fato vital.  

Afinal, Ele veio para que tenhamos vida plena, consumando no seu ápice, o céu, a eternidade, a plenitude de seu Amor. 

É próprio do amor de Deus não exterminar, não excluir, a fim de que todos sejam salvos. 

Infinita é a superioridade da lógica de Deus em comparação com a lógica dos homens. A lógica do amor de Deus, passando pelo AT e NT, é sempre aquela que nos garante a verdadeira sabedoria e felicidade, e ninguém e nem nada nos poderá tirar desta lógica. 

Assim podemos ver na passagem do Livro da Sabedoria (Sb 11,22-12,2), o amor de Deus que é transformador e vivificador. Bem como a sua presença de Deus e Seu amor, na passagem  da Segunda Carta de Paulo as Tessalonicenses (2 Ts 1,11-2.2). 

Deste modo, nada poderá nos desviar do Caminho, porque n’Ele encontra-se a plena Verdade que nos garante a Vida abundante. 

O rosto de Deus onipotente manifesta-se na grandiosidade de Sua tolerância e misericórdia, na Sua prontidão em conceder o perdão, no amor para com todas as criaturas, porque todas receberam o sopro da vida. 

Falar de Seu rosto misericordioso não é romantismo inútil, estéril, discurso evasivo, ao contrário, crendo neste Deus bíblico, somos questionados na nossa capacidade de acolher o diferente, o pecador e a ele dirigir nosso perdão.   

Esperando a Sua segunda vinda, é tempo favorável para o relacionamento e aprofundamento da nossa amizade com este Deus Amor que nos é revelado na Sagrada Escritura. 

O Senhor aguardamos vigilantes amando, e  somente assim sentiremos sua presença, sentindo-nos plenamente mergulhado no Seu coração, no Seu Amor. Acomodação, desistência, abandono do mandamento do amor que nos dá vida nova, jamais!  

Finalmente, o encontro de Jesus com Zaqueu nos possibilita a reflexão sobre três olhares: 

- O próprio olhar de Zaqueu, o olhar do pecador; 

- O olhar dos olhares, o olhar de Jesus, o olhar d’Aquele que acolhe e ama, porque ama transforma; 

- O olhar da multidão que recrimina e não compreende a intensidade e profundidade do amor de Deus pela humanidade, sobretudo a humanidade pecadora, que por Seu amor, amor extremado na Cruz a redimiu. Sim, por amor e por um amor filial, incondicional, fomos redimidos. Este é o nosso caminho: mais que o Deus de amor contemplar, Seu amor viver. 

Que nossos olhares sejam como o olhar de Zaqueu, reconhecendo nossa condição pecadora, e fazendo a experiência da acolhida, amor e perdão divinos, por Deus enxergados, corações transformados. Somente assim os outros olhares também poderão se renovar…  

É próprio do amor de Deus curar nossa cegueira. E curados, podemos ajudar a curar a cegueira do próximo. Curados de toda cegueira pelo Amor divino, podemos nos ver e nos relacionar como irmãos e irmãs! 

“O amor do Senhor é uma chama devoradora, que se te pega te envolve todo, ainda antes que tu te percebas”, diz o teólogo Hans Urs Von Baltazar. 

Reflitamos:
-  Como amamos o pecador e o possibilitamos a se libertar de seu pecado?

-  Qual a intensidade de perdão que somos capazes de viver? 

-  Como vivemos a lógica do amor que tem sua alta expressão na vivência do perdão? 

-  Como amar o pecador e odiar o pecado? 

Somente o Amor de Deus transforma o mundo e o coração dos homens! É próprio do amor transformar o coração do amado! 

“Deixe a luz do céu entrar...” (XXXIDTCC)


“Deixe a luz do céu entrar...”

A passagem do Evangelho proclamada no 31º Domingo do Tempo Comum (ano C) e na terça-feira da 33ª Semana do Tempo Comum, fala-nos da conversão de Zaqueu, chefe dos cobradores de impostos, quando Jesus passava pela cidade de Jericó, a caminho de Jerusalém.

Duas vezes Jesus se dirigiu a Zaqueu.  A primeira quando ele estava ainda na árvore, na qual subira para ver Jesus passar: “Zaqueu, desça rápido, porque hoje devo ficar em sua casa” (Lc 19,5).

E depois, já na casa de Zaqueu, após seu compromisso de uma nova atitude:

- “Hoje a salvação chegou a esta casa, pois também este é um filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,9-10).

Nas duas intervenções, Jesus fala do “hoje”, e Suas palavras são dirigidas também a todos nós:

Hoje também precisamos descer rápido para ir ao encontro do Senhor, abrindo-nos para a Salvação que Ele tem a nos oferecer.

Hoje queremos ver o Senhor passar e, com Sua Palavra, mudar nossa vida. Queremos que a Salvação também entre em nossa casa.

Também, por vezes, podemos nos encontrar perdidos entre tantas ofertas que o mundo nos oferece de felicidade, realização.

Hoje é o dia fundamental para aderirmos à proposta de Salvação que Jesus tem a nos oferecer.

Hoje é dia de abrirmos nosso coração, permitindo que a luz do Espírito do Senhor sonde sua profundeza.

Não tenhamos medo de confessar nossas apropriações indevidas, como Zaqueu assim o fez.

Não tenhamos medo de revelar ao Senhor nossos medos, fragilidades, nossas cruzes secretas, nossa vulnerabilidade, inconstância. O Senhor conhece nossa miséria mesmo antes de as confessarmos.

Mas Jesus, expressão da misericórdia divina, a própria Misericórdia de Deus, vem ao nosso encontro, ao encontro de nossa miséria para nos modelar, aperfeiçoar.

O Senhor sabe que O carregamos em vasos de barro. Ele nos fez Seus templos.

Iluminai, Senhor, Vos suplicamos, os cantos mais escuros de nossa vida. Somente por Vós iluminados, poderemos resplandecer a Vossa radiante e necessária Luz.

“Abramos a porta de nosso coração
e deixemos a Luz do Céu entrar...”

Quem sou eu

Minha foto
4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG