quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Vossa Palavra ilumina nossos passos

                                                         

Vossa Palavra ilumina nossos passos

Ó Deus, não permitais que apenas estudemos a Sagrada Escritura, compreendendo-a como tão apenas um livro pertencente ao passado, como uma história distante da nossa, mas que a compreendamos entrelaçada com a nossa, hoje, iluminando e abrindo caminhos novos para a construção de Vosso Reino, e melhor correspondermos aos Vossos desígnios de amor para com toda a humanidade.

Ó Deus, ensinai-nos o verdadeiro e fecundo modo de leitura da Sagrada Escritura, de Vossas Santas Palavras, sobretudo os Evangelhos, a fim de torná-los sempre uma Boa Notícia para o mundo, anunciando e testemunhando a Vida Nova do Ressuscitado, e a vida nova do Espírito, viver e comunicar, para que sejam transformadas todas as marcas do pecado, e vivamos na plena vida e liberdade que somente Vós podeis nos conceder.

Ó Deus, ajudai-nos a redescobrir sempre a atualidade da Mensagem do Vosso Filho, o Cristo Vivo, Glorioso e Ressuscitado, com a assistência de Vosso Santo Espírito, a partir da situação concreta do mundo no qual estamos inseridos e somos chamados a ser sal, fermento e luz, procurando saídas e respostas para os problemas que a todos nos afligem, sem jamais perdermos a luminosidade da fé, a perenidade da esperança e a eterna caridade. Amém.


Fonte de inspiração: At 13,13-25 e Comentário do Missal Cotidiano – Editora Paulus – p. 415-416

Testemunhar a fé resplandecendo a luz divina

                                                      

Testemunhar a fé resplandecendo a luz divina

“A messe é grande, mas os trabalhadores
são poucos. Por isso, pedi ao dono da messe
 que mande trabalhadores para a colheita” (Lc 10, 2)

Renovemos nossos compromissos no aprofundamento e anúncio da nossa fé, para que a mesma resplandeça a luz da Palavra de Deus.

Precisamos compreender as inúmeras formas de atitudes que revelam, comunicam e testemunham a nossa fé, a fim de que sejamos sal da terra e luz do mundo.

Deste modo, testemunhamos a nossa fé quando não nos distanciamos do conhecimento e cumprimento da Lei Divina contida no Decálogo. Avançando, refletimos sobre o sétimo mandamento: “Não matar”.

Testemunhamos a nossa fé quando não nos dobramos aos pecados capitais que maculam a vida, roubam o que ela tem de mais belo e sagrado.

Testemunhar a nossa fé resplandecendo a luz divina, como bem tem insistido o papa, exige também que lancemos mão dos diversos meios de comunicação, e a internet sem dúvida é um instrumento eficaz para comunicarmos o Evangelho a todos os povos, manifestarmos nosso amor a Deus na construção de relações mais fraternas com o nosso próximo. Todavia é preciso que estejamos atentos às implicações que seu uso indevido pode nos causar.

Viver intensamente a Fé exige corajosa e generosa resposta ao Senhor que nos chama para o cuidado da messe, pois como Ele disse “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos.”

Renovemos nossa alegria de amar e servir a Igreja, colocando nossos dons e carismas a serviço nas  diversas pastorais, movimentos e serviços.

Jesus volta permanentemente o seu olhar cheio de amor para nós pede que vendamos tudo para segui-Lo com alegria, disponibilidade, desapego, confiança e coragem, e nos garante cem vezes mais tudo que tenhamos renunciado, mas não sem perseguição.

Enfim, peçamos ao Senhor da messe, o verdadeiro consumador da nossa fé, que em todo tempo muitos corações se abram à alegria da Boa Nova do Reino, que a exemplo de Maria, respondam “sim” a vontade de Deus, para que empenhados e dedicados, dentro e fora da Igreja, construamos um mundo melhor.

Urge vivermos uma fé autêntica, fecunda, correspondendo ao chamado do Pai, para que nosso coração seja como a terra boa onde a Palavra de Deus cai e produz frutos de amor, alegria, vida e paz. Não há porque temer, recuar... Sua presença, força, ternura, amor e coragem nunca há de nos faltar.

A Palavra do Senhor é luz para o meu caminho

                                                     

A Palavra do Senhor é luz para o meu caminho

Ressoem em nós, as palavras do Apóstolo:

“E não só isso, pois nos gloriamos também de nossas tribulações,
sabendo que a tribulação gera a constância, A constância leva a uma virtude provada E a virtude provada desabrocha em esperança. E a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,3-5).

Quando a Palavra de Deus é anunciada com ardor e zelo,
E encontra um coração que a acolhe com fé pura e fecunda,
Comunica a alegria que é dom do Espírito e fruto desta fé.

Quando a Palavra de Deus é anunciada com mesmo ardor e zelo,
E encontra um coração que a acolhe com pouca fé e entusiasmo,
Não se consegue enxergar, para além dos fatos dolorosos, a Manifestação da força e ação do Espírito.

Quando a Palavra de Deus é anunciada com ardor e zelo,
E encontra um coração que a acolhe com fé comprovada,
Edifica-se uma Igreja peregrina e profética.

Quando a Palavra de Deus é assim anunciada,
A Igreja torna-se verdadeiramente a Igreja do
Crucificado Ressuscitado, aberta e enriquecida pela graça divina.

Quando a Palavra de Deus é anunciada com ardor e zelo,
E encontra um coração que a acolhe com fé,
Os dias de sofrimentos, crise e contestações ganham novo sentido. Amém.


Febris de amor para amar e servir

                                                            

Febris de amor para amar e servir

 “Minhas lágrimas e minha penitência
têm sido para mim como o Batismo”

Na quarta-feira da 22ª Semana do Tempo Comum, ouviremos a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 4,38-44), em que Jesus cura a sogra de Pedro que estava com febre.

Sejamos iluminados pelo Comentário de São Jerônimo, doutor da Igreja, (séc. V).

“A sogra de Pedro estava com febre.
Oxalá venha e entre em nossa casa o Senhor e com uma ordem Sua cure as febres de nossos pecados! Porque todos nós temos febre.

Tenho febre, por exemplo, quando me deixo levar pela ira. Existem tantas febres como vícios. Por isso, peçamos que intercedam frente a Jesus, para que venha a nós e segure nossa mão, porque se Ele segura a nossa mão, a febre foge em um instante. Ele é um médico nobre, o verdadeiro protomédico. Médico foi Moisés, médico Isaías, médico todos os Santos, mas este é o protomédico. Sabe tocar sabiamente as veias e perscrutar os segredos das enfermidades.

Ele não toca o ouvido, não toca a fronte, não toca nenhuma outra parte do corpo, mas a mão. Tinha febre, porque não possuía boas obras.

Em primeiro lugar, portanto, tem que curar as obras, e logo remover a febre. A febre não pode fugir se não são curadas as obras. Quando nossa mão possui más obras, jazemos no leito, sem podermos levantar, sem poder andar, pois estamos totalmente consumidos na enfermidade.

E aproximando-Se daquela que estava enferma.
Ela mesma não pôde levantar-se, pois jazia no leito e, portanto, não pôde sair ao encontro do que vinha. Porém, este médico misericordioso, ele mesmo acode ao leito; Aquele que tinha levantado sob Seus ombros a ovelhinha enferma, Ele mesmo acorre ao leito. E aproximando-Se... Sobretudo Se aproxima, e o faz para curá-la. E aproximando-Se... Observa o que Ele diz. É como dizer: seria suficiente sair-me ao encontro, achegar-te à porta e receber-me, para que tua saúde não fosse totalmente obra de minha misericórdia, mas também de tua vontade. Porém, já que te encontras oprimida pelas altas febres e não pode levantar-se, Eu mesmo venho a ti.

E aproximando-Se, a levantou.
Visto que ela mesma não podia levantar-se, é segurada pelo Senhor. Ele a levantou, tomando-a na mão. Segurou-a precisamente na mão. Também Pedro, quando perigava no mar e afundava, foi agarrado na mão e erguido. E levantou-a tomando-a pela mão, Com Sua mão o Senhor tomou a mão dela. Ó feliz amizade, ó formoso afago! Levantou-a segurando-a com Sua mão: com Sua mão curou a mão dela. Segurou sua mão como um médico, tomou o pulso, comprovou a intensidade das febres, Ele mesmo, que é médico e medicina ao mesmo tempo.

Jesus a toca e a febre foge. Que Ele toque também a nossa mão, para que nossas obras sejam purificadas, que Ele entre em nossa casa: por fim, levantemo-nos do leito, não permaneçamos abatidos. Jesus está de pé frente ao nosso leito, e nós permanecemos deitados? Levantemo-nos e fiquemos de pé: é para nós uma vergonha que estejamos recostados diante de Jesus.

Alguém poderá dizer: Onde está Jesus? Jesus está aqui agora. No meio de vós, diz o Evangelho, está alguém a quem não conheceis. O Reino de Deus está no meio de vós. Creiamos e vejamos que Jesus está presente. Se não podemos tocar Sua mão, prostremo-nos aos Seus pés. Senão podemos chegar à Sua cabeça, ao menos lavemos Seus pés com nossas lágrimas. Nossa penitência é unguento do Salvador. Vede quão grande é a Sua misericórdia. Nossos pecados fedem, são podridão e, contudo, se fizermos penitência pelos pecados, se os chorarmos, nossos pútridos pecados se convertem em unguento do Senhor. Peçamos, portanto, ao Senhor que nos tome pela mão.

E no mesmo instante, afirma, a febre a deixou.
Apenas a segura pela mão e a febre a deixa. Observa o que segue: No mesmo instante a febre a deixou. Tem esperança, pecador, contanto que te levantes do leito.

O mesmo ocorreu com o santo Davi, que tinha pecado, deitado na cama com a mulher de Urias, o hitita, sentindo a febre do adultério, depois que o Senhor o curou, depois de ter dito: tem piedade de mim, ó Deus, por tua grande misericórdia, assim como: Contra Ti, só contra Ti pequei, cometi o mal aos Teus olhos. Livra-me do sangue, ó Deus, Deus meu... Porque ele tinha derramado o sangue de Urias, ao ter ordenado derramá-lo. Disse: livra-me do sangue, ó Deus, Deus meu, e renova meu espírito em meu interior.

Observa o que diz: Renova. Porque o tempo em que cometi o adultério e perpetrei o adultério e o homicídio, o Espírito Santo envelheceu em mim. E o que mais ele diz? Lava-me e ficarei mais branco do que a neve. Porque me lavaste com minhas lágrimas.

Minhas lágrimas e minha penitência têm sido para mim como o Batismo. Observa, então, de penitente em que se converte. Fez penitência e chorou, por isso foi purificado. O que acontece em seguida? Ensinarei aos iníquos Teus caminhos e os pecadores voltarão a Ti. De penitente se tornou mestre.

Por que disse tudo isto? Porque aqui está escrito: E no mesmo instante a febre a deixou e se pôs a servir-lhes. Não basta que a febre a deixasse, mas também se levanta para o serviço de Cristo. E se pôs a servi-lhes. Servia-lhes com os pés, com as mãos, corria de um lugar ao outro, venerava ao que lhe tinha curado. Sirvamos também nós a Jesus. Ele acolhe com gosto o nosso serviço, mesmo que tenhamos as mãos manchadas: Ele Se digna olhar aquele que curou, porque Ele mesmo o curou. A Ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.” (1)

Jesus é, o Médico e tem a cura para nossas enfermidades, sejam quais forem.

Assim como Jesus curou a sogra de Pedro da febre que a acometia, e ela logo se pôs a serviço, também sejamos curados de nossas febres de tantos nomes (soberba, avareza, luxúria, ira, inveja, gula e preguiça), que consistem exatamente nos sete pecados capitais, que nos escravizam e nos roubam a alegria do serviço.

Curados pelo Médico, pelo Protomédico, curados pelo próprio Senhor, tomados pela Sua Mão, levantemo-nos e coloquemo-nos a serviço da vida e da esperança, para que a justiça e a paz se abracem, o amor e a verdade se encontrem, como rezou o Salmista (Sl 85,11). 

A sogra foi curada de uma febre para pôr-se a serviço; Pedro precisou, mais tarde, ser tomado pela febre de amor, para que o Senhor lhe confiasse o rebanho.

Há febres que precisamos ser curados, e há uma febre que deve, a cada dia mais, tomar conta de nosso coração: a febre de amor pelo Senhor.

Tão somente febris de amor pelo Senhor, somos curados das febres indesejáveis que nos afastam da alegria da participação da construção do Seu Reino.


 Lecionário Patrístico Dominical – 2013 - Editora Vozes - pp.382-384

O Senhor cura-nos para o discipulado

                                                         

O Senhor cura-nos para o discipulado

A Liturgia da quarta-feira da 22ª Semana do Tempo Comum nos apresenta a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 4,38-44), em que Jesus cura a sogra de Pedro, e curada põe-se a servir.

Oportuno para refletirmos sobre qual é o sentido do sofrimento e da dor, que acompanham a caminhada da humanidade, apesar de Deus possuir um Projeto de vida verdadeira e felicidade plena e infinita para a mesma.

Como explicar o sofrimento dos bons, dos justos, dos inocentes?

No Livro de Jó (Jó 7, 1-4.6-7), já fora retratado sobre o sofrimento do justo, do inocente.

O sofrimento de Jó leva-nos a afirmar que fora de Deus não há nenhuma possibilidade de salvação: Deus é nossa única esperança.

O grito de revolta de Jó é, ao mesmo tempo, a afirmação de que somente em Deus encontra-se o sentido da existência e da salvação, insisto.

Jó procura o verdadeiro rosto de Deus – “... numa busca apaixonada, emotiva, dramática, veemente, temperada pelo sofrimento, marcada pela rebeldia e, às vezes, pela revolta, Jó chega ao face a face com Deus. Descobre um Deus onipotente, desconcertante, incompreensível, que ultrapassa infinitamente as lógicas humanas; mas descobre também um Deus que ama com Amor de Pai cada uma das Suas criaturas. Jó reconhece, então, a sua pequenez e finitude, a sua incapacidade para compreender os Projetos de Deus. Reconhece que ele não pode julgar Deus, nem entendê-Lo à luz da lógica dos homens. A Jó, o homem finito e limitado, só resta uma coisa: entregar-se totalmente nas mãos desse Deus incompreensível, mas cheio de Amor, e confiar plenamente n'Ele. É isso que Jó faz, finalmente”

Voltando à passagem do Evangelho, vemos qual é a preocupação de Deus a partir da atividade pastoral de Jesus, que torna o Reino uma realidade na vida das pessoas.

A ação de Jesus é para nos libertar de nossas misérias mais profundas, sejam quais forem. Jesus Se aproxima da sogra de Pedro, levanta-a tomando pela mão e esta, curada, põe-se a servir. Assim acontece quando o Senhor de nós Se aproxima, nos toca, nos cura. Põe-nos curados, de pé para amar e servir. Assim é a atitude e a vida de quem crê no Ressuscitado.

Reflitamos:

- Como enfrentamos a dor e sofrimento em nossa vida?
- O que eles nos ensinam?

- O que aprendemos com Jó?
- Como e onde procuramos encontrar a verdadeira Face de Deus?

- O que aprendemos com a cura da sogra de Pedro?
- O que a ação de Jesus nos ensina para que sejamos discípulos missionários como assim Ele deseja?


Oremos: Ó Deus, enraizados no Vosso Amor de Pai, tornemo-nos testemunhas eficazes do Reino, na fidelidade a Boa-Nova do Vosso Filho com a Luz e Sabedoria do Espírito. Amém.

Continuemos a missão do Senhor

                                                   

Continuemos a missão do Senhor

A Liturgia da quarta-feira da 22ª Semana do Tempo Comum nos apresenta a passagem do Evangelho, em que Jesus cura a sogra de Pedro, à porta da casa deste, faz curas e expulsa demônios ao cair da tarde, e ainda quando era escuro, retira-Se para rezar em lugar deserto (Lc 4,38-44).

Para aprofundamento, apresento esta reflexão de São Pedro Crisólogo (séc. V).

“A Leitura evangélica de hoje ensina ao ouvinte atento porque o Senhor do céu e restaurador do universo entrou nos domicílios terrenos de Seus servos. Mesmo que nada tenha de estranho que se tenha mostrado afavelmente próximo a todos, ele que com grande clemência tinha vindo para socorrer a todos.

Já conheceis o que moveu Cristo a entrar na casa de Pedro: com certeza não o prazer de recostar-se à mesa, mas a enfermidade daquela que se encontrava na cama; não a necessidade de comer, mas a oportunidade de curar; a obra do poder divino, não a pompa do banquete humano.

Na casa de Pedro não se servia vinho, somente se derramavam lágrimas. Por isso Cristo entrou ali, não para banquetear, mas para vivificar. Deus busca aos homens, não as coisas dos homens; deseja dispensar bens celestiais, não espera conseguir as terrenas. Em resumo: Cristo veio buscar-nos, e não buscar as nossas coisas.

Ao chegar Jesus à casa de Pedro, encontrou sua sogra na cama com febre. Entrando Cristo na casa de Pedro, viu ao que vinha buscando. Não se fixou na qualidade da casa, nem na afluência de pessoas, nem nas cerimoniosas saudações, nem na reunião familiar; também não pensou no adorno dos preparativos: Fixou-se nos gemidos da enferma, dirigiu sua atenção ao ardor daquela que estava sob a ação da febre. Viu o perigo daquela que estava para além de toda esperança, e imediatamente coloca mãos para obra de Sua santidade: Cristo nem se sentou para tomar alimento humano, antes que a mulher que jazia se levantasse para as coisas divinas.

Tomou sua mão e sua febre passou. Vês como a febre abandona a quem segura a mão de Cristo. A enfermidade não resiste, onde o Autor da saúde assiste; a morte não tem acesso algum onde entrou o Doador da vida.

Ao anoitecer, levaram-lhe muitos endemoniados; Ele expulsou os espíritos. O anoitecer acontece ao acabar o dia do século, quando o mundo pende para entardecer da luz dos tempos. Ao cair da tarde vem o Restaurador da luz para introduzir-nos o dia sem ocaso, a nós que viemos da noite secular do paganismo.

Ao anoitecer, ou seja, no último momento, a piedosa e solene devoção dos Apóstolos nos oferece a Deus Pai, a nós que somos procedentes do paganismo: são expulsos de nós os demônios, que nos impunham o culto aos ídolos. Desconhecendo ao único Deus, cultuávamos a inumeráveis deuses em nefanda e sacrílega servidão.

Como Cristo já não vem a nós na carne, vem na Palavra: e aonde quer que a fé nasça da mensagem, e a mensagem consiste em falar de Cristo, ali a fé nos liberta da servidão do demônio, enquanto que os demônios, de ímpios tiranos, converteram-se em prisioneiros. Por isso os demônios, submetidos a nosso poder, são atormentados a nossa vontade. O único que importa, irmãos, é que a infidelidade não volte a reduzir-nos a sua servidão: coloquemos antes em nosso ser e nosso fazer, nas mãos de Deus, entreguemo-nos ao Pai, confiemo-nos a Deus: porque a vida do homem está nas mãos de Deus; em consequência, como Pai dirige as ações de Seus filhos, e como Senhor não deixa de preocupar-se por Sua família.” (1)

Esta passagem do Evangelho nos apresenta a identidade de Jesus: compassivo, contemplativo e missionário.
             
Três adjetivos que exprimem a identidade de Jesus: compassivo, contemplativo e missionário.

Compassivo, pois Se compadece da sogra de Pedro e a cura da febre, para que esta se coloque a serviço, como também curou todos que vieram ao Seu encontro, à porta da casa, bem como expulsou muitos demônios.

Contemplativo, pois retira-Se antes do amanhecer para colocar-Se em Oração, em diálogo íntimo com o Pai, para continuar a missão que lhe foi confiada, na presença do Espírito que pousa sobre Ele (Lc 4,16-21). A Oração de Jesus revela a Sua perfeita comunhão com o Pai e o Espírito Santo. A Oração é para Ele o que será para Seus discípulos, fonte e cume para que continue a missão.

Missionário, pois não Se instala nem Se acomoda com a possível acolhida na casa da sogra de Pedro, mas, aos discípulos, diz que é preciso continuar a missão em outros lugares.

Assim também é a Igreja, anunciando a Palavra de Deus, realizando a missão do Senhor, com a força e presença do Espírito, verdadeiro protagonista da missão na construção do Reino.

Anunciar e testemunhar o Senhor e Sua Boa-Nova, exige que sejamos como o Divino Mestre: compassivos, contemplativos e missionários.



(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes - pp.380-382

Cura: interação da ação divina e humana

 


Cura: interação da ação divina e humana 

"Pois a glória de Deus é o homem vivo, 

e a vida do homem é a visão de Deus. "

Reflitamos sobre a enfermidade e a cura, quando Jesus curou a sogra de Pedro, bem como a muitos enfermos de diversas doenças, ao final da tarde (Mc 1,29-39; Lc 4,38-44).

Assim lemos no Comentário do Missal Dominical:

“A experiência de uma enfermidade ou de uma situação de perigo pertence à da bagagem de todo homem.

Numa sociedade secularizada não existe o dilema entre dirigir-se ao médico ou recorrer à oração e acender uma vela.

Isto não quer dizer que tenha desaparecido a religiosidade ou que seja sintoma de ateísmo. Talvez se tenha simplesmente mudado o modo de encontrar-se com Deus.

O mundo foi confiado ao homem para que o transforme, construindo uma realidade sempre mais humana através da ciência e da organização social, que constituem o instrumento e as modalidades de transformação.

Esta tarefa se insere no quadro da relação Deus-homem e a ciência se torna seu lugar de encontro. E o é porque o homem, enquanto artífice no meio das realidades terrestres, se torna colaborador de Deus, e a ciência é a nova síntese baseando-se nos elementos do ‘criado-por-Deus’.

A ciência, pois, longe de afastar de Deus, aproxima mais profundamente dele, pelo respeito ao homem.

No quadro da fé, Cristo é libertador-vencedor da morte por Sua Ressurreição. Sua vitória é radical, mas em estado potencial. Cabe ao homem ‘novo’ tornar consistente esta vitória de Cristo.

Vencer a doença pela pesquisa científica significa ‘viver a Ressurreição de Cristo’. A libertação da moléstia, que a ciência realiza, assume uma significação particular no contexto do símbolo da libertação radical.

Debelar uma enfermidade, eliminar uma praga social, é símbolo-sacramento da libertação para a qual o Pai conduz a humanidade.”

Retomo duas afirmações para reflexão:

- “Numa sociedade secularizada não existe o dilema entre dirigir-se ao médico ou recorrer à oração e acender uma vela”;

- “Vencer a doença pela pesquisa científica significa ‘viver a Ressurreição de Cristo’”.

A oração, como expressão da fé em Deus, não dispensa a interação e colaboração do saber humano, das tecnologias, do desenvolvimento dos recursos disponíveis para debelar, curar as enfermidades das quais somos todos vulneráveis.

A fé em Deus, ao contrário, é um impulso para que mais pessoas tenham acesso ao que a medicina pode oferecer para curar e tornar a vida mais digna, mais humana.

A fé não dispensa compromissos com políticas públicas para que todos tenham acesso a um melhor atendimento médico, em Unidades Básicas, Postos de Saúde, Hospitais etc.

A fé em Deus nos leva à indignação e denúncia de desvios dos recursos que deveriam ser revertidos na promoção do bem comum, favorecendo melhores condições de atendimento a um enfermo, sobretudo os mais pobres.

Acender velas a Deus, confiando em Seu poder de curar, é possível e necessário, mas não se pode exigir que Ele faça o que esteja ao alcance de todos nós.

Urge vencer a doença pela pesquisa científica, a cada dia mais avançada, e isto nos faz verdadeiramente pascais, partícipes do Mistério da Paixão e Morte do Senhor, que veio no curar e nos salvar.

A cura de Deus, portanto, é graça, e podemos acender nossas velas em oração, mas sejam favorecidos todos os meios possíveis que o saber científico desenvolveu, como graça de Deus, para que as dores sejam amenizadas, enfermidades curadas.

Cura do corpo e da alma foram ações de Jesus, e serão sempre, pois Deus nos quer vivos e saudáveis, porque fomos criados à Sua imagem e semelhança, e, o Seu sopro de criador, recebemos, e nos tornamos Sua morada.

Finalizo com as palavras do Bispo Santo Irineu (séc. II):

“Pois a glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus. Com efeito, se a manifestação de Deus, através da criação dá a vida a todos os seres da terra, muito mais a manifestação do Pai, por meio do Verbo, dá a vida a todos os que veem a Deus”.  

 

 

(1) Comentário do Missal Dominical - pág.893

 

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