terça-feira, 3 de setembro de 2024

Silenciemo-nos para a divina escuta

Silenciemo-nos para a divina escuta

Senhor, como tantos que, na história de fé, sentiram a verdadeira necessidade de “permanecer no deserto” para renovar as reservas de força e serenidade, e não ceder às tentações, assim também nós a mesma necessidade sentimos.

Senhor, por vezes é forte e aparentemente insuportável a pressão do mundo em que vivemos, e sucumbiríamos sem forças, com sonhos desfeitos, utopias rarefeitas, se não pusermos em nosso caminho faixas de silêncio, de absoluto recolhimento para Vos escutar.

Sobretudo quando vemos multiplicar gestos de arrogância e violência, que desprezam os direitos fundamentais do homem e da mulher, maculando a beleza da vida, sua dignidade inviolável, desde a concepção até o seu natural declínio.

Senhor, bem sabemos que não fostes assim, e nem se alegraria se vivêssemos uma fé acompanhada da indiferença ou expressa em total apatia e impotência, escondendo-nos  sob as cortinas da covardia, dizendo que não é problema nosso e que o mundo foi sempre assim.

Senhor, concedei-nos a sabedoria, para que tomemos consciência da parte de responsabilidade que temos no combate à violência e à injustiça, bem como do esforço para tornar o mundo mais humano, a exemplo de Matatias, como nos revelam as Sagradas Escrituras.

Senhor, que a Vosso corajoso exemplo, recusemos queimar incenso ante os ídolos, pela conveniência ou pelas paixões individuais ou de grupo, tão pouco nos sacrificarmos aos “modernos ídolos” do bem- estar, da carreira, da posição, da fama, do prestígio a qualquer preço.

Senhor, permanecendo no deserto, e com coragem de seguir o caminho, concedei-nos pequenos oásis em que possamos recuperar nossas forças, e continuarmos, intrépidos, nossa caminhada, no bom combate da fé, até que consigamos fazer a grande travessia por Vós desejada. Amém.

Fonte inspiradora: 1 Mc 2, 15-29 - Missal Cotidiano - p.1515

Sagrada Escritura: indispensável fonte de espiritualidade


Sagrada Escritura: indispensável fonte de espiritualidade

Como Igreja, dedicamos o mês de setembro à Sagrada Escritura, dada sua importância em todo o tempo.

A Bíblia é a Palavra que irradia luz; é Pão que alimenta; Água cristalina para a sede de vida nova e amor saciar; Boa-Nova para o mundo reencantar e reinventar, e horizonte inédito poder encontrar.

O Papa São João Paulo II, no início do seu pontificado, disse: “Cristo Se faz presente pela Sua Palavra proclamada na assembleia e que é comentada na homilia: Tal Palavra deve ser ouvida com fé e assimilada na oração. Tudo isto há de resultar da dignidade do Livro e do lugar escolhido para a proclamação da mesma Palavra de Deus, da apresentação do leitor e da consciência que ele demonstra de sentir porta-voz de Deus diante de seus irmãos”.

O Bispo e Doutor da Igreja, Santo Agostinho, explicitou todo o esplendor e sua importância da mesma em nossa vida: “A Sagrada Escritura é para nos ajudar a decifrar o mundo; para nos devolver o olhar da fé e da contemplação, e transformar a realidade numa grande revelação de Deus”.

A Sagrada Escritura ajuda-nos a decifrar o mundo, com seus segredos, mistérios e desafios; buscar respostas para as questões humanas; alento nas questões que nos pedem esperança; certeza nas coisas que nos pedem unidade; instrumento precioso e indispensável no alimentar da caridade.

A Palavra de Deus lida, meditada e vivida, aponta novos caminhos, alarga horizontes mesquinhos; rompe o barulho da pós-modernidade, levando-nos ao mergulho no amor da Trindade.

Ouvida no silêncio, para melhor Deus escutar, é a Palavra útil, oportuna e necessária, para instruir, corrigir, animar e exortar.

A Sagrada Escritura nos devolve o olhar da fé e da contemplação: quando muitos em mais nada acreditam, ela emerge renovando a esperança, contra toda esperança humana.

Lida na perspectiva da fé, podemos transpor montanhas, inaugurar novos tempos e novos espaços; criar e fortalecer elos de comunhão, solidariedade, perdão, refazendo nossos sonhos.

Com ela deslumbramos o inédito no mundo, sem olhares pessimistas e derrotistas; e assim firmamo-nos na âncora da esperança – Jesus Cristo, que refaz nossas forças para o bom combate da fé.

Seja a Sagrada Escritura acolhida no mais profundo de nosso coração, para contemplarmos os mistérios de Deus, na busca constante e incansável de um novo olhar.

A Sagrada Escritura no coração enraizada, acompanhada de gestos concretos, transforma a realidade numa grande revelação de Deus: a Palavra que tem germe de transformação, força de mudança, acompanhada do apelo constante de conversão do pensamento e atitude, rompendo com toda e qualquer mesquinha omissão; e assim continuamos a participar da transformação da realidade e do mundo, conferindo ao nosso olhar o brilho de uma grande revelação.

Haverá de surgir um mundo mais justo e fraterno, em que “a verdade e o amor se encontrarão”; “justiça e paz se abraçarão”, de modo que não serão apenas as palavras e sonhos do salmista (Sl 85), mas a expressão mais pura e verdadeira presente em todo coração.

Sagrada Escritura: luz para o nosso caminho

Sagrada Escritura: luz para o nosso caminho

“Tua Palavra é lâmpada para os meus pés
e  luz para o meu caminho” (Sl 119,105)

Como bem expressou o Salmista acima, é imensurável valor da Sagrada Escritura, que ilumina nossa vida, nosso caminho, em todo tempo e lugar.

Entretanto, tão doce e tão amarga é a Palavra, porque nos conforta, alimenta, sacia a nossa sede, nos orienta, mas também exige de nós compromissos irrenunciáveis na transformação da realidade, por vezes, difícil e sombria em que vivemos, como sal da terra, luz do mundo e fermento na massa.

Por isso é necessário que nos empenhemos em conhecer cada vez mais a Sagrada Escritura, não o conhecimento pelo conhecimento, não apenas como assíduos ouvintes, mas colocando em prática seus ensinamentos, como afirmou São Tiago (cf. Tg 1,22)

E indispensável para conhecer e praticar os ensinamentos bíblicos, é a Leitura Orante, tesouro da Tradição de nossa Igreja, com seus passos: leitura, meditação, contemplação, oração e ação.

Deste modo, nutridos pela Palavra, viveremos o que afirmou o Bispo Santo Agostinho (séc. V):

A Sagrada Escritura é para nos ajudar a decifrar o mundo; para nos devolver o olhar da fé e da contemplação, e transformar a realidade numa grande revelação de Deus”.

De fato, a Palavra de Deus sendo acolhida como luz, tudo faremos para que surja um mundo mais justo e fraterno, onde “a verdade e o amor se encontrarão”; “justiça e paz se abraçarão”, tornando realidade, a mais pura verdade, porque as palavras e sonhos do salmista estarão presentes também em nosso coração.

Iluminados e alimentados pela Palavra de Deus, num contínuo processo de conversão, vivamos de tal modo que a nossa chama profética possa reluzir cada vez mais forte; e a chama do primeiro amor do encontro pessoal com Jesus, que deu novo sentido à nossa vida e alargou nossos horizontes fique para sempre acesa, até que possamos contemplar o esplendor da luz eterna.

Do ativismo estéril livrai-nos, Senhor!

                                              


Do ativismo estéril livrai-nos, Senhor!

A Homilia do Papa São Gregório Magno (séc. VI), sobre a vocação do Profeta Ezequiel é oportuna para refletirmos sobre o Ministério Presbiteral e toda vocação da Igreja; para nos iluminar em nossas atividades, para que não nos cansemos ou nos esvaziemos neste indesejável ativismo, com complicadas consequências.

“Por amor de Cristo, me consagro totalmente a Sua palavra Filho do homem, Eu te coloquei como sentinela da casa de Israel (Ez 3,16). É de se notar que o Senhor chama de sentinela aquele a quem envia a pregar.

A sentinela, de fato, está sempre no alto para enxergar de longe quem vem. E quem quer que seja sentinela do povo deve manter-se no alto por sua vida, para ser útil por sua providência.

Como é duro para mim isto que digo!
Ao falar, firo-me a mim mesmo, pois minha língua não mantém, como seria justo, a pregação e, mesmo que consiga mantê-la, a vida não concorda com a língua.

Eu não nego ser culpado, conheço minha inércia e negligência. Talvez haja diante do juiz bondoso um pedido de perdão no reconhecimento da culpa. Na verdade, quando no mosteiro podia não só reter a língua de palavras ociosas, mas quase continuamente manter o espírito atento à oração.

Mas depois que pus aos ombros do coração o cargo pastoral, meu espírito não consegue recolher-se sempre, porque está dividido entre muitas coisas.

Sou obrigado a decidir ora questões das Igrejas, ora dos mosteiros; com frequência ponderar a vida e as ações de outrem; ora auxiliar em certos negócios dos cidadãos, ora gemer sob as espadas dos bárbaros invasores e temer os lobos que rondam o rebanho sob minha guarda.

Por vezes, devo encarregar-me da administração, para que não venha a faltar o necessário aos submetidos à disciplina da regra. Às vezes devo tolerar com igualdade de ânimo certos ladrões, ora opor-me a eles pelo desejo de conservar a caridade.

Estando assim dispersa e dilacerada a mente, quando voltará a recolher-se toda na pregação, e não se afastar do Ministério da Proclamação da Palavra?

Por obrigação do cargo, muitas vezes tenho de encontrar-me com seculares; por isso sempre relaxo a guarda da língua. Pois se constantemente me mantenho sob o rigor de minha censura, sei que sou evitado pelos mais fracos e nunca os atraio para onde desejo.

Por esta razão, muitas vezes tenho de ouvi-los pacientemente em questões ociosas. Mas, sendo eu mesmo fraco, arrastado aos poucos pelas palavras vãs, começo a dizer sem dificuldade aquilo que a princípio tinha ouvido com má vontade; e ali onde me aborrecia cair, agrada-me permanecer.

Que, pois, ou que espécie de sentinela sou eu, que não estou de pé no monte da ação, mas ainda deitado no vale da fraqueza? Poderoso é, porém, o Criador e Redentor do gênero humano para conceder-me, a mim, indigno, a elevação da vida e a eficácia da palavra. Por Seu amor, me consagro totalmente a Sua Palavra.”

A cada dia, as atividades se multiplicam, a realidade do rebanho nos consome, e nos debatemos com a necessidade de muito para fazer e com tão pouco tempo; com atividades múltiplas a serem feitas, mergulhando-nos num perigoso ativismo...

Oportuno retomarmos a indagação apresentada no final da Homilia:

“Que, pois, ou que espécie de sentinela sou eu, que não estou de pé no monte da ação, mas ainda deitado no vale da fraqueza?” 

No “monte da ação”, devemos estar de pé. Mas sem vigilância e oração, fortalecimento da fé, revigoramento com o Pão da Eucaristia, jamais êxito teremos.

Sem contemplarmos o Senhor, e Sua Palavra não ouvirmos em belas e santas Liturgias, sem nos nutrirmos do Pão de Eternidade, remédio de imortalidade, antídoto para não morrer, deitar-nos-emos no vale da fraqueza, sucumbidos e enterrados no vale da morte, na triste mansão dos mortos!

O “monte da ação” nos desafia todo dia com múltiplos apelos e compromissos. Jamais sucumbir às dificuldades, provações, inquietações, incertezas, jamais ficar deitados no vale de nossa fraqueza!

Não podemos perder o horizonte por Deus para nós querido; pondo-nos sempre de pé, como sentinelas, no monte da ação e com coragem o subamos.

E ainda que o vale da fraqueza tivermos que enfrentar, e se no monte da ação de lutar nos cansarmos, lembremo-nos que Deus sempre tem a última palavra e não nos deixará sucumbir no vale de nossa fraqueza.

Nutrindo uma espiritualidade essencialmente eucarística,
pelo vale da fraqueza passaremos, 
e “no monte da ação” momentaneamente de pé estaremos,
até que um dia possamos adentrar nas alturas onde Deus se encontra: Céu! 
Hosana no mais alto dos céus!

Do vale da fraqueza livrai-nos, Senhor! Amém.

PS: Oportuna para o 16º Domingo do Tempo Comum -  ano B

“O Magnífico jardim da Sagrada Escritura”

“O Magnífico jardim da Sagrada Escritura”

Apresento a exposição da fé ortodoxa do Presbítero e Doutor da Igreja, São João Damasceno (séc. VIII), sobre a importância da Sagrada Escritura, como fonte da espiritualidade cristã.

“Diz o Apóstolo: ‘Muitas vezes e de diversos modos Deus falou outrora por meio dos Profetas; mas nestes últimos tempos nos falou por meio do Filho’. Por meio do Espírito Santo falaram a lei e os Profetas, os evangelistas, os pastores e mestres. Por isso, ‘ toda Escritura é inspirada por Deus e útil’.

É, portanto, coisa bela e salutar investigar as divinas Escrituras. Como uma árvore plantada junto aos cursos d’água, assim a alma regada pela Sagrada Escritura cresce e traz o fruto ao seu tempo; a saber, a fé reta, e está sempre adornada de folhas verdes, isto é, de obras agradáveis a Deus.

Pelas Santas Escrituras, de fato, somos conduzidos para cumprir ações virtuosas e para a pura contemplação. Nelas encontramos o estímulo para todas as virtudes, e o afastamento de todos os vícios. Por isso, se aprendemos com amor, aprenderemos muito; pois mediante o empenho, o esforço e a graça de Deus que dá todas as coisas, obtém-se tudo: ‘aquele que pede, recebe; o que procura, encontra; a quem chama, lhe será aberto’.

Exploremos, portanto, este magnífico jardim da Sagrada Escritura, um jardim que é perfumado, suave, repleto de flores, que alegra os nossos ouvidos com o canto de variadas aves espirituais, plenas de Deus; que toca o nosso coração e o consola quando se encontra triste, o acalma quando se irrita, o enche de eterna alegria; que eleva o nosso pensamento sobre o dorso brilhante e dourado da divina pomba, que com suas asas majestosas nos leva até o Filho Unigênito e herdeiro do Senhor da vinha espiritual, e por meio d’Ele ao Pai das luzes.

Porém, não o exploremos desanimados, mas com ardor e constância; não nos cansemos de explorá-lo. Deste modo ele nos será aberto.

Se lemos uma vez ou outra uma passagem e não a compreendemos, não desanimemos; pelo contrário, temos de insistir, refletir, interrogar. De fato, está escrito: ‘interroga a teu pai e ele contará, aos teus anciãos, e eles te dirão. A ciência não é coisa de todos’.

Vamos à fonte deste jardim para tomar as águas puríssimas e perenes que brotam para a vida eterna. Gozaremos e nos saciaremos, sem saciar-nos, porque sua graça e inesgotável. Se podemos tomar algo de útil também dos profanos, nada nos proíbe; porém, comportemo-nos como expertos cambistas, que recolhem o ouro genuíno e puro, enquanto rejeitam o ouro falso.” (1)

Voltemo-nos sempre a este jardim da Sagrada Escritura, para explorá-lo, a fim de que a Palavra de Deus tenha centralidade em nossa vida, como fonte genuína de espiritualidade.

É sempre enriquecedor que prolonguemos o tempo da oração e intimidade com a Sagrada Escritura, vivenciando a riqueza da Leitura Orante, para que também se torne mais evidente e concreto nosso compromisso com a Boa-Nova do Reino.

Assistidos pelo Espírito Santo que repousa sobre nós, na fidelidade ao Filho, renovamos sagrados compromissos com um mundo novo querido pelo Pai de Misericórdia, nutridos e iluminados pela Santa Palavra, o “magnífico jardim” ao qual se referiu São João Damasceno.


(1) Lecionário Patrístico Dominical – Ed. vozes, 2013 – PP.626-627

Um pouco mais sobre Cristo, o Bom Pastor!

                                                              

Um pouco mais sobre Cristo, o Bom Pastor!

“Minhas ovelhas escutam a minha voz,
Eu as conheço e elas me seguem”

Sejamos enriquecidos à luz da reflexão escrita pelo Papa São Gregório Magno (séc. VI) sobre Jesus Cristo, o Bom Pastor.

“Eu sou o Bom Pastor. Conheço minhas ovelhas, isto é, Eu as amo, e minhas ovelhas me conhecem (Jo 10,14).

É como se quisesse dizer francamente: Elas correspondem ao Amor d'Aquele que as ama. Quem não ama a verdade, é porque ainda não conhece perfeitamente.

Depois de terdes ouvido, irmãos caríssimos, qual é o perigo que corremos, considerai também, por estas palavras do Senhor, o perigo que vós também correis.

Vede se sois Suas ovelhas, vede se O conheceis, vede se conheceis a luz da verdade. Se O conheceis, quero dizer, não só pelo que credes, mas também pelas obras.

O mesmo evangelista João de quem são estas palavras, afirma ainda: ‘Quem diz: Eu conheço Deus, mas não guarda Seus Mandamentos é mentiroso’ (1Jo 2,4).

Por isso, nesta passagem do Evangelho, o Senhor acrescenta imediatamente:
‘Assim como o Pai me conhece, eu também conheço o Pai e dou minha vida por minhas ovelhas’ (Jo 10,15).

Como se dissesse explicitamente: a prova de que Eu conheço o Pai e sou por Ele conhecido, é que dou minha vida por minhas ovelhas; por outras palavras, este amor que me leva a morrer por minhas ovelhas, mostra o quanto Eu amo o Pai.

Continuando a falar de Suas ovelhas, diz ainda: Minhas ovelhas escutam a minha voz, Eu as conheço e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna (Jo 10,27-28).

É a respeito delas que fala um pouco acima: Quem entrar por mim será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem (Jo 10,9).

Entrará, efetivamente, abrindo-se à fé, sairá passando da fé à visão e à contemplação, e encontrará pastagem no banquete eterno.

Suas ovelhas encontram pastagem, pois todo aquele que O segue na simplicidade de coração é nutrido por pastagens sempre verdes.

Quais são afinal as pastagens dessas ovelhas, senão as profundas alegrias de um paraíso sempre verdejante?

Sim, o Alimento dos eleitos é o rosto de Deus sempre presente. Ao contemplá-Lo sem cessar, a alma sacia-se eternamente com o alimento da vida,

Procuremos, portanto, irmãos caríssimos, alcançar estas pastagens, onde nos alegraremos na companhia dos cidadãos do céu. Que a própria alegria dos bem-aventurados nos estimule.

Corações ao alto, meus irmãos! Que a nossa fé se afervore nas verdades em que acreditamos; inflame-se o nosso desejo pelas coisas do céu. Amar assim já é pôr-se a caminho.

Nenhuma contrariedade nos afaste da alegria desta solenidade interior. Se alguém, com efeito, pretende chegar a um determinado lugar, não há obstáculo algum no caminho que o faça desistir de chegar aonde deseja.

Nenhuma prosperidade sedutora nos iluda. Insensato seria o viajante que, contemplando a beleza da paisagem, se esquece de continuar sua viagem até o fim”.

Quantos pensamentos afloram ao ouvirmos "Bom Pastor"!

Inflamemos o nosso desejo pelas coisas do céu. 
Renovemos a alegria de pertencermos ao rebanho do Senhor. 
Coloquemo-nos diante da ternura, da acolhida, do amor, da voz do Bom Pastor, que nos interpela a novas atitudes, novos compromissos, imitando-O nos mais diversos pastoreios que Deus nos confia, tanto dentro como fora da Igreja:

Na fidelidade ao Cristo Bom Pastor,
Sejamos conduzidos às verdes pastagens:
Da vida em abundância, da paz, do amor, da alegria,
Na fidelidade no carregar da Cruz a cada dia!

Seja inflamado nosso desejo pelas coisas do céu,
Procurando torná-las visíveis, possíveis aqui na terra...
Tão somente assim, o paraíso não será saudade de algo perdido,
Mas, de fato, um projeto, uma meta, um sonho a ser construído!

PS: Liturgia das Horas - pág. 679-680 - Vol. II.

Fiquemos firmes no Senhor!

                                                  

Fiquemos firmes no Senhor!

 “Portanto, meus irmãos, a quem amo e de quem tenho saudade,
 vocês que são a minha alegria e a minha coroa, permaneçam
assim firmes no Senhor, ó amados!” (Fl 4,1)

São Gregório Magno,em uma de suas homilias,  assim se interrogou:

“Que, pois, ou que espécie de sentinela sou eu, que não estou de pé no monte da ação, mas ainda deitado no vale da fraqueza?”

Com a mesma inquietação do Santo, contemplemos o Senhor, e Sua Palavra e O ouçamos em belas e santas Liturgias, nutrindo-nos com o Pão de Eternidade, remédio de imortalidade, antídoto para não morrer, pois tão somente assim, não nos deitaremos no vale da fraqueza, e não seremos sucumbidos e enterrados no vale da morte, na triste mansão dos mortos, e já podemos nos alegrar com a certeza do êxito alcançado.

O “monte da ação” nos desafia todos os dias, com múltiplos apelos e compromissos, para vencermos as dificuldades, provações, inquietações, incertezas, cansaços e nunca nos deitarmos no vale de nossa fraqueza, pois, com Deus, “somos mais que vencedores”, e “tudo podemos n’Aquele que nos fortalece”.

Enfim, que nossa espiritualidade seja genuinamente Eucarística, e se pelo vale da fraqueza passarmos, não permaneceremos para sempre, pois como zelosas sentinelas do Senhor nos colocaremos de pé no  “no monte da ação”, até que um dia possamos adentrar nas alturas onde Deus Se encontra: Céu! Hosana no mais alto dos céus! Com o Espírito do Senhor, permaneçamos firmes no Senhor em total fidelidade a Deus que tanto nos ama.

Do vale da fraqueza, livrai-nos, Senhor!
De pé, no “monte da ação”.  firmai-nos, Senhor!
Zelosas sentinelas Vossos sejamos.

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