quinta-feira, 11 de julho de 2024

Santa Escolástica e São Bento: O mundo precisa de irmãos assim!

                                                                 

Santa Escolástica e São Bento: O mundo precisa de irmãos assim!

No dia 10 de fevereiro, a Igreja celebra a memória de Santa Escolástica, e no dia 11 de julho a memória de seu irmão, São Bento.

É sempre muito oportuno refletirmos a relação entre irmãos e irmãs dentro de uma família, a luz destes dois irmãos.

Não poucos são os irmãos e irmãs que vivem fechados uns para os outros… Há irmãos e irmãs que quase nada conversam dentro de casa, por diversos motivos…

Muitos irmãos e irmãs entram em contendas intermináveis, em disputa de quirelas materiais de heranças deixadas… Mas hão de se multiplicar irmãos e irmãs que passam horas e horas juntos com conversas sadias, edificantes… Hão de se multiplicar irmãos e irmãs que nem o túmulo (a morte) possa separar…

A reflexão é um convite a revermos nossos relacionamentos fraternais. Que ao fim da mesma possamos descobrir se há algo a mudar em nós a partir destes grandes exemplos a serem imitados na fidelidade ao Senhor.

Conheçamos um pouco da vida destes dois irmãos e santos da Igreja, e mais que conhecer é preciso reaprender o caminho da verdadeira fraternidade/amizade…

No séc. V tivemos dois irmãos que até hoje têm muito a nos ensinar. Como sempre os santos estão no seu tempo, mas o transcendem. Santa Escolástica nasceu provavelmente por volta do ano 480 na Úmbria (Itália), e dedicou-se junto a seu irmão, São Bento, ao culto e louvor de Deus.

Sentiu-se sempre ligada ao santo irmão pelo ideal de consagração a Deus e por uma comum vocação de fundadores. Bento, de monges, Escolástica, de irmãs, que passaram a ter o nome de beneditinas, ou por ter São Bento codificado os estatutos da Ordem, ou por ter sido ele o seu grande inspirador.

Consagrada a Deus desde sua infância costumava visitar o irmão uma vez por ano no mosteiro. E assim, por sua vez, São Bento procedia e costumava visitar a irmãzinha. Passavam o dia em santas conversas e louvores ao Senhor e à noite tomavam juntos a refeição.

Segundo conta a tradição, São Bento, que era extremamente rigoroso a Regra, recebeu uma demonstração do poder divino: Deus quis lhe provar que, de fato, o que vale mais é o amor.

Uma noite, Escolástica pediu a Bento que ficasse em seu mosteiro para continuarem a conversa que estavam tendo sobre assuntos espirituais. Bento recusou por causa das regras de sua ordem. 

Quando a religiosa ouviu a negativa do irmão, juntou as mãos sobre a mesa e apoiou a cabeça para rogar a Deus que não o deixasse ir. Naquele momento trovões prenunciaram uma grande tempestade que nem São Bento e os freis, que com eles estavam, poderiam sair. 

Seu irmão foi obrigado a ficar, mas a culpou pelo fato. E ela disse:

Pedi a você e você não me ouviu. Pedi ao Senhor e Ele me ouviu.
Pode ir embora para o seu mosteiro. Vá, se você puder!

E assim passaram a noite, conforme Escolástica desejou: em santas conversas com todos os freis.

Três dias após, estando em oração, São Bento viu a alma de sua irmã subindo ao céu em forma de pomba. Teve tanta certeza de sua partida para a eternidade que pediu que fossem buscar seu corpo para enterrá-lo no próprio túmulo.

Não foi por pouco a insistência dessa sua irmã: Era uma despedida em que Deus realizava Sua santa vontade!

Segundo autores da época, São Bento tão cheio de júbilo por tão grande glória que lhe havia sido concedida, deu graças a Deus onipotente com hinos e cânticos de louvor. O corpo da irmã foi trazido para o mosteiro e depositado no túmulo que ele mesmo preparara para si.

Como disse São Gregório Magno: “… nem o túmulo separou aqueles que sempre tinham estado unidos em Deus”.

Reflitamos:

- Como nos relacionamos como irmãos e irmãs?
- Qual o conteúdo de nossas conversas?

- Qual a intensidade de nossa confiança em Deus quando a Ele nos dirigimos e algo suplicamos?
- O que mais há de se aprender com estes dois irmãos da Igreja?

- Sentimos alegria em partilhar com o outro as maravilhas de Deus em nossa vida?
- Quais são outras possíveis lições que apreendemos deste belo testemunho de Santa Escolástica e São Bento?

Pai Nosso que estais nos céus… 

Santa Escolástica: “Foi mais poderosa aquela que mais amou”

 


Santa Escolástica: “Foi mais poderosa aquela que mais amou”

Vejamos o que nos diz o Papa São Gregório Magno (Séc.VI) em seus Diálogos sobre Santa Escolástica, irmã de São Bento.

“Escolástica, irmã de São Bento, consagrada ao Senhor desde a infância, costumava visitar o irmão uma vez por ano. O homem de Deus descia e vinha encontrar-se com ela numa propriedade do mosteiro, não muito longe da porta.

Certo dia, veio ela como de costume, e ao seu encontro veio seu irmão, com alguns discípulos. Passaram todo o dia no louvor a Deus e em santas conversas, de tal modo que já se aproximavam as trevas da noite quando sentaram-se à mesa para tomar a refeição.

Como durante as santas conversas o tempo foi passando, a santa monja rogou-lhe: ‘Peço-te, irmão, que não me deixes esta noite, para podermos continuar falando até de manhã sobre as alegrias da vida celeste’. Ao que ele respondeu-lhe: ‘Que dizes tu, irmã? De modo algum posso passar a noite fora da minha cela’.

A santa monja, ao ouvira recusa do irmão, pôs sobre a mesa as mãos com os dedos entrelaçados e inclinou a cabeça sobre as mãos para suplicar o Senhor onipotente. Quando levantou a cabeça, rebentou uma grande tempestade, com tão fortes relâmpagos, trovões e aguaceiro, que nem o venerável Bento nem os irmãos que haviam vindo em sua companhia puderam pôr um pé fora da porta do lugar onde estavam.

Então o homem de Deus, vendo que não podia regressar ao mosteiro, começou a lamentar-se, dizendo: ‘Que Deus onipotente te perdoe, irmã! Que foi que fizeste?’ Ela respondeu: ‘Eu te pedi e não quiseste me atender. Roguei ao meu Deus e ele me ouviu. Agora, pois, se puderes, vai-te embora; despede-te de mim e volta para o mosteiro’.

E Bento, que não quisera ficar ali espontaneamente, teve que ficar contra a vontade. Assim, passaram a noite toda acordados, animando-se um ao outro com santas conversas sobre a vida espiritual. Não nos admiremos que a santa monja tenha tido mais poder do que ele: se, na verdade, como diz São João, Deus é amor (1Jo 4,8), com justíssima razão, teve mais poder aquela que mais amou. 

Três dias depois, estando o homem de Deus na cela, levantou os olhos para o alto e viu a alma de sua irmã liberta do corpo, em forma de pomba, penetrar no interior da morada celeste. Cheio de júbilo por tão grande glória que lhe havia sido concedida, deu graças a Deus onipotente com hinos e cânticos de louvor; enviou dois irmãos a fim de trazerem o corpo para o mosteiro, onde foi depositado no túmulo que ele mesmo preparara para si.

E assim, nem o túmulo pôde separar aqueles que sempre tinham estado unidos em Deus.”

De fato, foi mais poderosa aquela que mais amou, como vemos no diálogo entre estes dois irmãos, e quão fecunda é a oração de quem a faz com o coração pleno de amor.

Brotem nossas orações de um coração que muito ama, em total confiança em Deus e sua onipotência e misericórdia.

Com eles, aprendamos a dialogar como irmãos, com conversas sadias e que nos façam progredir no temor de Deus, e na amizade entre nós.

Oremos:

“Celebrando a Festa de Santa Escolástica, nós Vos pedimos, ó Deus, a graça de imitá-la, servindo-Vos com caridade e alegrando-nos com os sinais do Vosso amor. Por N. S. J. C. Amém.”

 

PS: Celebramos a Memória de Santa Escolástica no dia 11 de fevereiro e a de São Bento no dia 11 de julho.

Porta e portais se abram ao Senhor

                                                   

Porta e portais se abram ao Senhor

“Eis que estou à porta, e bato;
se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta,
entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo”. (Ap 3,20)

A Liturgia das Horas nos apresenta um Comentário sobre o Salmo 118, escrito pelo Bispo Santo Ambrósio, que nos recorda que somos templos divinos, e precisamos abrir as portas e portais ao Senhor, para que venha fazer morada.

“’Eu e o Pai viremos e faremos nele nossa morada’. Franqueia, então, a tua porta ao que vem, abre tua alma, alarga o íntimo de tua mente para veres as riquezas da simplicidade, os tesouros da paz, a doçura da graça.

Dilata o coração e corre ao encontro do sol, da eterna luz, ‘a que ilumina a todo homem’. Esta luz verdadeira brilha para todos. Mas, se alguém fecha as janelas, priva-se da eterna luz. Assim também Cristo é repelido se fechas a porta de teu espírito. Embora possa entrar, não quer ser importuno, não quer entrar à força. Recusa-Se a usar de coação!

Nascido da Virgem, Ele saiu do seio, irradiando luz sobre o mundo inteiro, refulgindo para todos. Os que desejam, acolhem a claridade inextinguível que noite alguma interrompe. Pois à do sol que vemos diariamente, sucede a noite escura; mas o sol da justiça jamais se põe, porque à sabedoria não sucede a maldade.

Feliz aquele a cuja porta Cristo bate. Nossa porta é a fé, que, quando sólida, defende a casa toda. Por esta porta Cristo entra. Daí dizer a Igreja no Cântico: ‘A voz de meu irmão bate à porta’. Escuta o que bate, escuta o que deseja entrar: ‘Abre para mim, minha irmã esposa, minha pomba, minha perfeita, porque tenho a cabeça coberta de orvalho e meus cabelos, das gotas da noite’.

Observa que o Deus Verbo bate à porta principalmente quando sua cabeça está coberta de orvalho noturno. Digna-Se visitar os atribulados e tentados, para que não sucumbam às amarguras. A cabeça cobre-se de orvalho e de gotas quando o corpo sofre. Importa, portanto, vigiar para não ficar excluído à chegada do Esposo. Se dormes e o teu coração não vigia, afasta-se antes de bater. Se o teu coração está vigilante, bate e pede ser-lhe aberta a porta.

Possuímos a porta de nossa alma, possuímos também portais sobre os quais se diz: ‘Levantai, príncipes, vossos portais, erguei-vos, portas eternas, e entrará o Rei da glória’. Se quiseres levantar os portais de tua fé, entrará em ti o Rei da glória, trazendo a vitória de Sua paixão. Tem também portas a justiça. Delas lemos o que disse o Senhor Jesus por meio de Seu profeta: ‘Abri-me as portas da justiça’.

Há quem tenha portas, há quem tenha portais. A essas portas Cristo bate, bate aos portais. Abre, então, para Ele; quer entrar, quer encontrar vigilante a Esposa”.

É preciso que abramos a porta e portais de nossa fé ao Senhor, para que nossa alma seja iluminada, e não nos percamos nos caminhos escuros que a vida nos apresenta.

Quando abrimos a caverna escura de nossa existência ao Senhor, e nos abrimos ao Seu Plano e Projeto de amor, há o encontro conosco mesmos, e ao mesmo tempo com Ele.

Da mesma forma, é preciso estar vigilantes para a chegada do Senhor, que baterá à nossa porta, para entrar e cear conosco, como nos falou o Autor do Livro do Apocalipse:

“Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo”. (Ap 3,20).

Felizes seremos com a chegada do Senhor, que veio, vem e virá, e como não sabemos nem o dia e nem a hora, importa sempre vigiar.

quarta-feira, 10 de julho de 2024

Enviados para testemunhar a Palavra da Salvação

                                                  

Enviados para testemunhar a Palavra da Salvação

“A Palavra da Salvação
coloca-nos a caminho...”

Na passagem do Evangelho (Mt 10,1-7), proclamada na quarta-feira da 14ª Semana do Tempo Comum, Jesus escolhe e envia os doze Apóstolos em missão. 

Bem sabemos que "doze" representa a “totalidade” da população (doze Patriarcas, doze tribos, etc.).

A eles Jesus confere a Sua autoridade, com o poder de expulsar demônios, curar enfermidades e pregar a Boa Notícia da chegada do Reino, como Apóstolos (enviados).

Jesus os envia com sua realidade existencial concreta, marcada por ímpetos de heroísmos, intuições, interrogações sinceras, renegações, fugas e, por fim, a traição.

São Enviados para comunicar a Palavra da Salvação, que tantas vezes aclamamos, quando ao terminar a proclamação do Evangelho, dizemos: –“Glória a Vós Senhor!”.

A Palavra da Salvação ouvida, acolhida, acreditada, precisa ser vivida, testemunhada e, assim, com ela, sermos sinais e instrumentos do Reino:

"A Palavra da Salvação coloca-nos a caminho, na Igreja, para a dimensão de plenitude do Reino”.(1)

A Palavra da Salvação, encarnada corajosamente em nossa vida, tornará iluminado nosso caminho, e de quantos possamos esta luz comunicar.

Portanto, torna-se necessário que estejamos sempre atentos à voz do Espírito Santo que anima, conduz, ilumina, orienta a Igreja, guiando-a com o esplendor da verdade, para que a fé seja luminosa, dando razão de nossa esperança, e a caridade vivida, gere um mundo novo, tão desejado, como sinal do Reino de Deus.

A fé não se vive isoladamente, como gesto intimista, porque possui dimensão comunitária, eclesial.

Alimentados e revigorados com a força da Palavra (Pão) e saciados pelo Pão de Imortalidade (Eucaristia), continuamos nossa viagem para a eternidade, comprometidos na transformação de nossa provisoriedade, até o esplendor da glória na eternidade. A Eucaristia é verdadeiramente o viático, o Alimento nesta viagem para a eternidade.

Por vezes moribundos e fracos, devido às dificuldades a serem enfrentadas, temos que nos alimentar sempre deste Pão Eucarístico, acolhendo no mais profundo de nós a Palavra de Salvação, que ilumina os recônditos mais obscuros de nossa alma e de nossa história.

A Eucaristia é, de fato, Banquete luminoso, porque é o Mistério da Fé que professamos.

Concluindo, meditemos estas Palavras que são ditas nas Missas, e que devem, com toda intensidade de piedade, nos comprometer com a Sua segunda vinda:

“Anunciamos Senhor a Vossa Morte e proclamamos a
Vossa Ressurreição, Vinde Senhor Jesus”.



(1) Lecionário Comentado - Editora Paulus - Tempo Comum - Volume I - pág. 681

terça-feira, 9 de julho de 2024

Operários da messe e testemunhas da compaixão divina

                                                      

Operários da messe e testemunhas da compaixão divina


“A messe é grande, mas os trabalhadores
são poucos. Por isso, pedi ao dono da messe
 que mande trabalhadores para a colheita” (Mt 9,37-38)

Reflexão à luz da passagem do Evangelho de São Mateus (Mt 9,32-38), em que Jesus foi tomado de compaixão pela multidão, pois andavam como ovelhas sem pastor.

Renovemos nossos compromissos no aprofundamento e anúncio da nossa fé, para que a mesma resplandeça à luz da Palavra de Deus, como testemunhas da compaixão divina, vivendo a graça de discípulos missionários do Senhor.

Testemunhamos a nossa fé quando não nos dobramos aos pecados capitais que maculam a vida (soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja e preguiça), que roubam o que ela tem de mais belo e sagrado.

Testemunhar a nossa fé resplandecendo a luz divina, exige também que lancemos mão dos diversos meios de comunicação, e a internet sem dúvida é um instrumento eficaz para comunicarmos o Evangelho a todos os povos, manifestarmos nosso amor a Deus na construção de relações mais fraternas com o nosso próximo. Todavia é preciso que estejamos atentos às implicações que seu uso indevido pode nos causar.

Viver intensamente a Fé exige corajosa e generosa resposta ao Senhor que nos chama para o cuidado da messe, pois como Ele disse “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos” (L 10,2).

Renovemos nossa alegria de amar e servir a Igreja, colocando nossos dons e carismas a serviço nas  diversas pastorais, movimentos e serviços.

Jesus volta permanentemente o seu olhar cheio de amor para nós pede que vendamos tudo para segui-Lo com alegria, disponibilidade, desapego, confiança e coragem, e nos garante cem vezes mais tudo que tenhamos renunciado, mas não sem perseguição.

Enfim, peçamos ao Senhor da messe, o verdadeiro consumador da nossa fé, que em todo tempo muitos corações se abram à alegria da Boa Nova do Reino, que a exemplo de Maria, respondam “sim” a vontade de Deus, para que empenhados e dedicados, dentro e fora da Igreja, construamos um mundo melhor.

Urge vivermos uma fé autêntica, fecunda, correspondendo ao chamado do Pai, para que nosso coração seja como a terra boa onde a Palavra de Deus cai e produz frutos de amor, alegria, vida e paz. Não há porque temer, recuar... Sua presença, força, ternura, amor e coragem nunca há de nos faltar na prática da compaixão divina, como indignos operários da messe do Senhor.

No Amor de Cristo, somos um!

                                                                  

No Amor de Cristo, somos um!

“Portanto, derramai diante de Deus
por eles o âmago de Vossa caridade.”

A Liturgia das Horas nos apresenta um dos “Comentários sobre os Salmos”, do Bispo Santo Agostinho (séc. V), em que nos convida a fortalecer os laços de unidade, não apenas com os que professam a fé em Cristo.

“Irmãos, exortamos-vos instantemente à caridade, não apenas entre vós, mas também em relação aos que estão de fora, quer sejam os ainda pagãos e descrentes, quer se tenham separado de nós, e de modo que, professando conosco a Cabeça, separaram-se do corpo.

Sintamos pesar por eles, irmãos, porque eles continuam sendo nossos irmãos. Quer queiram, quer não queiram, são nossos irmãos. De fato, só deixariam de ser nossos irmãos se deixassem de dizer: Pai nosso.

Assim o Profeta falou de alguns: Àqueles que vos dizem: Não sois irmãos nossos, respondei: Sois nossos irmãos. Observai de quem se poderia dizer isto, será que dos pagãos? Não, pois nem os chamamos de nossos irmãos segundo as Escrituras e o modo de tratar da Igreja. Será que dos judeus que não creram em Cristo?

Lede o Apóstolo e notai que quando fala de ‘irmãos’ sem mais, somente se refere aos cristãos: Tu, porém, por que julgas teu irmão, ou tu, por que desprezas teu irmão? E em outro trecho: Vós cometeis a iniquidade e a fraude e isto fazeis contra irmãos.

Por conseguinte, aqueles que dizem: ‘Não sois nossos irmãos’, estão nos chamando de pagãos. Por isso eles querem batizar-nos de novo, declarando que não possuímos o que dão. Por conseguinte, seu erro consiste em negar que somos seus irmãos.
Mas então por que nos disse o Profeta: Quanto a vós, respondei-lhes: Sois nossos irmãos; a não ser porque reconhecemos neles aquele Batismo que não repetimos?

Não aceitando nosso Batismo, eles negam que somos seus irmãos. Nós, porém, não repetindo o deles, mas reconhecendo-o como nosso, dizemos: Sois nossos irmãos.

Se eles disserem: ‘Por que nos procurais? Que quereis de nós?’ respondamos: Sois nossos irmãos. Mesmo que nos digam: ‘Podeis ir embora, nada temos convosco!’ Pelo contrário, nós temos muito convosco! Nós confessamos um mesmo Cristo, e assim devemos estar em um só Corpo, sob uma só Cabeça.

Portanto, nós vos suplicamos, irmãos, por aquelas mesmas entranhas da caridade, cujo Leite nos alimenta, cujo Pão nos fortalece, isto é, por Cristo, nosso Senhor.

Com efeito, é agora a ocasião de termos para com eles grande caridade, muita misericórdia, rogando a Deus por eles, a fim de que lhes conceda sobriedade de pensamento para caírem em si e enxergarem, porque nada absolutamente têm a dizer contra a verdade.

De fato, apenas lhes resta a fraqueza da animosidade, tanto mais enferma quanto mais julga possuir maior força.

Assim, pela mansidão de Cristo, nós vos conjuramos suplicando em favor dos fracos, dos sábios segundo a carne, dos puramente humanos e carnais, mas ainda nossos irmãos, que frequentam os mesmos Sacramentos, embora não conosco, mas os mesmos.

Eles respondem um só Amém, embora não conosco, mas o mesmo. Portanto, derramai diante de Deus por eles o âmago de Vossa caridade.”

Além do forte apelo à unidade, como Corpo de Cristo que somos, retomo os dois últimos parágrafos para reflexão:

Glorifiquemos ao Pai, ao Filho e ao Santo Espírito,
Por nos permitirem participar das Divinas entranhas da caridade,
Podermos beber copiosamente o “Leite” que nos alimenta,
E comermos o Pão que nos fortalece,
A Sagrada Eucaristia, que é o próprio Cristo, nosso Senhor.

Alimentados e entranhados no Amor de Cristo,
Somos sempre impelidos a derramar, a quantos possamos,
O âmago de Vossa caridade divina, imensurável.

Assim é o Amor, como o Senhor nos ensinou:
Um amor que se renova e se multiplica quando se ama,
Porque se amor verdadeiro, impossível conter, reter, diminuir.
Amar como Deus ama, é romper barreiras,
Criar e fortalecer laços fraternos e solidários.

Bebamos deste “Leite”, comamos deste Pão!
Digamos Leite, digamos Vinho Novo,
Digamos Cálice Sagrado do qual participamos.
Digamos Pão, digamos Pão da Eucaristia,
Alimento salutar, Alimento Diviníssimo de eternidade. Amém.

Maturidade e serenidade no seguimento do Senhor

                                                   

Maturidade e serenidade no seguimento do Senhor

À luz da passagem do Evangelho da terça-feira da 14ª Semana Tempo Comum (Mt 9,32-38), refletimos sobre qual deve ser a verdadeira atitude dos discípulos de Jesus, diante de Sua ação.

Quando Jesus realiza a expulsão de um demônio, é caluniado, pois afirmam que é pelo poder do mal que Ele faz exorcismos.

Sem Se deixar abalar, Jesus simplesmente continua a Sua caminhada, preocupando-Se com o sofrimento e as dores de todos aqueles que encontra pelo caminho, fazendo o bem a todos, olhando a todos, com compaixão, preocupando-Se porque são como ovelhas que não têm pastor.

Assim também devemos ser, não devemos viver preocupados com as calúnias que nos são dirigidas, mas sim preocupados em fazer o bem.

Oportunas são as palavras do Apóstolo Pedro: “Porque melhor é que sofreis fazendo bem (se a vontade de Deus assim o quer), do que fazendo mal” (1 Pd 3,17).

Existem pessoas que vivem chorando pelos cantos, por causa das ofensas e calúnias das quais são vítimas no trabalho evangelizador. A Humanidade, por vezes, se apresenta como uma multidão doente e esgotada, perante a qual, a exemplo de Jesus, precisamos nos comover até as entranhas, comprometidos com a misericórdia de Deus, bebendo do seio de Amor, de onde nascem a nossa vida e a nossa Salvação.

Todos somos chamados a participar deste desígnio, colocando nossos talentos a serviço dos que mais precisam, pois tão somente assim são multiplicados, e rendemos a Deus verdadeira adoração, em espírito e verdade.

A fidelidade ao Senhor nos pede sempre crescimento em maturidade e serenidade diante das dificuldades, provações, perseguições, calúnias e difamações, como Ele mesmo nos disse, no Sermão da Montanha:

"Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa" (Mt 5, 11). 


PS: Oportuno para reflexão da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 11,14-23)

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