Jesus
cura as ovelhas enfermas
Sejamos
enriquecidos pelo Sermão n.26 de São Basílio de Selêucia (séc. V), que nos
apresenta Jesus, Aquele que cura as ovelhas enfermas:
“Com
razão Cristo, sendo Pastor, exclamava: Eu
sou o Bom Pastor. Eu sou Aquele que curo as ovelhas enfermas, saro as
frágeis, enfaixo as feridas, faço voltar as desgarradas, busco as perdidas. Eu
vi o rebanho de Israel presa da enfermidade, vi o redil transformar-se em
morada dos demônios, vi a grei acossada pelos demônios como se fossem lobos. E
o que Eu vi, não o desamparei.
Pois Eu sou o Bom
Pastor: não como
os fariseus que invejavam as ovelhas; não como aqueles que, em benefício
próprio, foram para a grei causa de tormentos; não como aqueles que deploram a
libertação dos males e se lamentam das enfermidades curadas. Ressuscita um
morto, chora o fariseu; é curado um paralítico, e se lamentam os letrados;
devolve-se a vista para um cego e o conselho se indigna; um leproso fica limpo
e disputam os sacerdotes. Ó altivos pastores da infeliz grei, que têm como
prazeres próprios as calamidades do rebanho!
Eu sou o Bom Pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. Por suas ovelhas, o pastor
deixa-se conduzir ao matadouro como um cordeiro: não recusa a morte, não julga,
não ameaça com a morte aos carrascos. Como a Paixão não era fruto da
necessidade, assim voluntariamente aceitou a morte pelas ovelhas: Tenho poder para tirar a vida e tenho poder
para recuperá-la.
Expia
a desgraça com a desgraça, remedia a morte com a morte, aniquila o sepulcro com
o sepulcro, arranca os cravos e mina os fundamentos do inferno. A morte manteve
seu império, até que Cristo aceitou a morte; os sepulcros eram um pesadelo e
intransponíveis os cárceres, até que o Pastor, descendo, levou a feliz notícia
se sua libertação às ovelhinhas que estavam prisioneiras. Os infernos O viram
dar a ordem de partida; O viram repetindo a chamada da morte para a vida.
O bom pastor dá a
vida por suas ovelhas.
Por este meio procura ganhar a amizade das ovelhas. Ama a Cristo aquele que
escuta solícito a Sua voz. O pastor sabe separar os cabritos das ovelhas: Vinde, benditos de meu Pai: herdai o reino
preparado para vós desde a criação do mundo. Em recompensa de quê? Porque tive fome e me destes de comer, tive
sede e me destes de beber, fui forasteiro e me hospedastes... Pois aquilo
que concedes aos meus, de mim colherás. Eu, por sua causa, estou nu, sou
hóspede, peregrino e pobre: seu é o dom, porém minha é a graça. Suas súplicas
me dilaceram a alma.
Cristo
sabe deixar-Se vencer pelas orações e pelas dádivas dos pobres, sabe perdoar
grandes tormentos baseado em pequenos dons. Extingamos o fogo com a
misericórdia, afugentemos as ameaças contra nós mediante a observância da mútua
amizade, abramos uns para os outros as entranhas de misericórdia, tendo nós
mesmos recebido a graça de Deus em Cristo, a quem corresponde a glória e o
poder pelos séculos dos séculos. Amém.” (1)
Sejamos envolvidos pela ternura do Bom Pastor, Jesus, que jamais
nos desampara, pois sabe de nossas fraquezas, limitações e cansaços.
Acolhidos e envolvidos pelo Seu olhar de ternura, nosso olhar é
iluminado para trilharmos os caminhos obscuros do cotidiano.
Com o Salmista, concluímos: “O
Senhor é o meu pastor, nada me faltará” (Sl 23,1).
(1)
Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pp.
431-432