sexta-feira, 5 de julho de 2024

Jesus cura as ovelhas enfermas

 


Jesus cura as ovelhas enfermas

Sejamos enriquecidos pelo Sermão n.26 de São Basílio de Selêucia (séc. V), que nos apresenta Jesus, Aquele que cura as ovelhas enfermas:

“Com razão Cristo, sendo Pastor, exclamava: Eu sou o Bom Pastor. Eu sou Aquele que curo as ovelhas enfermas, saro as frágeis, enfaixo as feridas, faço voltar as desgarradas, busco as perdidas. Eu vi o rebanho de Israel presa da enfermidade, vi o redil transformar-se em morada dos demônios, vi a grei acossada pelos demônios como se fossem lobos. E o que Eu vi, não o desamparei.

Pois Eu sou o Bom Pastor: não como os fariseus que invejavam as ovelhas; não como aqueles que, em benefício próprio, foram para a grei causa de tormentos; não como aqueles que deploram a libertação dos males e se lamentam das enfermidades curadas. Ressuscita um morto, chora o fariseu; é curado um paralítico, e se lamentam os letrados; devolve-se a vista para um cego e o conselho se indigna; um leproso fica limpo e disputam os sacerdotes. Ó altivos pastores da infeliz grei, que têm como prazeres próprios as calamidades do rebanho!

Eu sou o Bom Pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. Por suas ovelhas, o pastor deixa-se conduzir ao matadouro como um cordeiro: não recusa a morte, não julga, não ameaça com a morte aos carrascos. Como a Paixão não era fruto da necessidade, assim voluntariamente aceitou a morte pelas ovelhas: Tenho poder para tirar a vida e tenho poder para recuperá-la.

Expia a desgraça com a desgraça, remedia a morte com a morte, aniquila o sepulcro com o sepulcro, arranca os cravos e mina os fundamentos do inferno. A morte manteve seu império, até que Cristo aceitou a morte; os sepulcros eram um pesadelo e intransponíveis os cárceres, até que o Pastor, descendo, levou a feliz notícia se sua libertação às ovelhinhas que estavam prisioneiras. Os infernos O viram dar a ordem de partida; O viram repetindo a chamada da morte para a vida.

O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. Por este meio procura ganhar a amizade das ovelhas. Ama a Cristo aquele que escuta solícito a Sua voz. O pastor sabe separar os cabritos das ovelhas: Vinde, benditos de meu Pai: herdai o reino preparado para vós desde a criação do mundo. Em recompensa de quê? Porque tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, fui forasteiro e me hospedastes... Pois aquilo que concedes aos meus, de mim colherás. Eu, por sua causa, estou nu, sou hóspede, peregrino e pobre: seu é o dom, porém minha é a graça. Suas súplicas me dilaceram a alma.

Cristo sabe deixar-Se vencer pelas orações e pelas dádivas dos pobres, sabe perdoar grandes tormentos baseado em pequenos dons. Extingamos o fogo com a misericórdia, afugentemos as ameaças contra nós mediante a observância da mútua amizade, abramos uns para os outros as entranhas de misericórdia, tendo nós mesmos recebido a graça de Deus em Cristo, a quem corresponde a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém.” (1)

Sejamos envolvidos pela ternura do Bom Pastor, Jesus, que jamais nos desampara, pois sabe de nossas fraquezas, limitações e cansaços.

Acolhidos e envolvidos pelo Seu olhar de ternura, nosso olhar é iluminado para trilharmos os caminhos obscuros do cotidiano.

Com o Salmista, concluímos: “O Senhor é o meu pastor, nada me faltará” (Sl 23,1).

 

 

(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pp. 431-432

Covardes e desertores, jamais!

Covardes e desertores, jamais!

Para que Discípulos Missionários do Senhor o sejamos, recorramos a um invejável Sermão do Presbítero Santo Antônio Maria Zacaria a seus confrades (Séc. XVI), à luz do Apóstolo Paulo em suas Cartas.

O que se pode esperar dos Discípulos de Jesus?

Compaixão, paciência e mansidão para com os que nos entristecem e nos decepcionam; para com os que não nos compreendem. Um desejo profundo de que se inflamem no Amor de Deus e não na gelidez de nossas indiferenças, rancores, julgamentos, sentenças condenatórias:

“Nós somos os tolos por causa de Cristo (1Cor 4,10), dizia de si, dos demais Apóstolos e de todos os que professam a Doutrina cristã e apostólica, o nosso santo guia e santíssimo patrono. Mas isto não é para admirar ou temer, irmãos caríssimos, pois o discípulo não está acima do mestre, nem o servo acima do seu senhor (Mt 10,24).

Quanto aos que se opõem a nós, devemos ter compaixão e amá-los, ao invés de detestá-los e odiá-los; pois fazem mal a si mesmos e atraem o bem sobre nós; contribuem para alcançarmos a coroa da glória eterna, ao passo que, sobre si, provocam a ira de Deus.

E mais ainda: devemos rezar por eles, e não nos deixarmos vencer pelo mal, mas vencer o mal pelo bem, amontoando atos de piedade como brasas acesas de caridade em cima de suas cabeças (cf. Rm 12,20-21), como ensina nosso apóstolo. Desta maneira, vendo a nossa paciência e mansidão, convertam-se a melhores sentimentos e se inflamem no Amor de Deus.”

O que mais se pode esperar dos Discípulos de Jesus?

Perseverar no serviço evangelizador, produzir abundantes frutos de caridade, alegria nas tribulações; para sermos merecedores da glória futura reservada para quem persevera até o fim.

Compaixão, paciência e mansidão para com os que nos entristecem e nos decepcionam; para com os que não nos compreendem, acompanhado de um desejo profundo de que se inflamem no Amor de Deus e não na gelidez de nossas indiferenças, rancores, julgamentos, sentenças condenatórias:

Apesar da nossa indignidade, Deus nos escolheu do mundo por sua misericórdia a fim de que, entregues ao seu serviço, vamos progredindo cada vez mais na virtude; e pela nossa paciência, possamos produzir abundantes frutos de caridade. Assim, alegremo-nos não apenas na esperança da glória dos filhos de Deus, mas também nas tribulações.”

Como comparar os Discípulos de Jesus?

São soldados de Cristo, comparativamente falando, empenhados no bom combate da fé para bem viver a vocação:

“Considerai a vossa vocação (cf. 1Cor 1,26), caríssimos irmãos.
Se quisermos examiná-la com atenção, veremos facilmente o que ela exige de nós: já que começamos a seguir, embora de longe, os passos dos Apóstolos e dos outros soldados de Cristo, não recusemos também participar dos seus sofrimentos.

Empenhemo-nos com perseverança no combate que nos é proposto, com os olhos em Jesus, que em nós começa e completa a obra da fé (Hb 12,1-2)".

O que jamais se pode esperar dos Discípulos de Jesus?

A covardia e a deserção; o abandono ou o recuo nos santos propósitos, no caminho de santidade na construção do Reino, de modo que não apenas estejamos na Igreja, mas Igreja o sejamos, de fato:

“Nós que escolhemos um tão grande Apóstolo como guia e pai, e fazemos profissão de imitá-lo, esforcemo-nos para que a nossa vida seja expressão da sua doutrina e do seu exemplo. Pois não seria conveniente que, sob as ordens de tão insigne chefe, fôssemos soldados covardes e desertores, ou que sejam indignos os filhos de um tão ilustre Pai.”

É sempre tempo de revermos nossa vida batismal, nossa fidelidade no carregar da cruz, para que testemunhas credíveis do Ressuscitado sejamos.

Reflitamos:

- O Senhor conta conosco, embora não precise, e qual é a nossa resposta?

Se dificuldades houver, se provações se multiplicarem, apenas supliquemos:

Da covardia, da deserção, da fuga e da omissão, livrai-nos, Senhor, a cada dia, para que seduzidos, apaixonados e enraizados em Vosso Amor, tornemos Seu nome conhecido, Seu Evangelho acolhido e vivenciado; uma Igreja mais Santa e um mundo fraterno e renovado. Amém!

Pai Nosso que estais nos céus... 

Se você quiser ser feliz...

                                                          


Se você quiser ser feliz...

Se você quiser ser feliz,
Abra-se à ação da graça divina e reconheça a presença de Jesus, que jamais se afasta de você, porque o carrega em Seu Dulcíssimo Coração, e nos ombros do Bom Pastor. Ele que disse:

"Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve". (Mt 11, 28-30)

Se você quiser ser feliz,
Aceita de bom coração a presença de Jesus, e O acolha, sobretudo no Tempo do Advento, em que preparamos Seu Nascimento, e caminhe com Ele, vivendo intensamente cada dia de sua vida, em mais um ano que se anuncia.

Abra à ação do Espírito Santo de modo que, conduzido por Ele, renuncie à sabedoria do mundo como um fim em si, e aberto a Verdadeira Sabedoria do Espírito, conduza cada pensamento, palavra e ação sem o pecado indesejável de omissão.

Se você quiser ser feliz,
Aceita o Mistério que nos abre para as realidades eternas e imutáveis, acolhendo o invisível que Se fez visível no Menino Deus, tocável por nossas mãos, e perpetuado para sempre na Palavra e na Eucaristia, que contemplamos com o novo olhar da fé.

Se você quiser ser feliz,
Sinta-se amado por Deus que, a partir da Revelação que nos veio por meio de Jesus, nos permitiu viver conscientemente aqui na terra as realidades do céu, crendo n’Ele, que reina gloriosamente, e nos convida a buscar, incansavelmente, as coisas do alto, onde habita.

Se você quiser ser feliz,
Caminhemos juntos, ajudemo-nos mutuamente no carregar da cruz, e não esmoreçamos no testemunho da fé, para que guardemos a necessária esperança, acompanhada de pequenos e grandes gestos de caridade, até que mereçamos a eternidade.

PS: Passagem bíblica inspiradora desta reflexão: Lc 10, 21-24; Mc 6,30-34

“Vim chamar os pecadores”

                                                         

“Vim chamar os pecadores”

Reflexão à luz da passagem proclamada na sexta-feira da 13ª semana do Tempo Comum (Mt 9,9-13), e vemos quão misericordioso é o nosso Deus, através da prática de Jesus que nos diz não ter vindo chamar os justos, mas os pecadores para a conversão.

Assim Se expressa o Senhor:

– “Aprendei, pois, o que significa: ‘Quero misericórdia e não sacrifício’De fato, eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores” (v. 13).

O Missal Cotidiano nos enriquece com este comentário:

Deus foi sempre o grande incompreendido por parte dos homens. Incompreendido em Seu agir, em Suas intervenções, incompreendido em Seu silêncio, incompreendido em Suas exigências e em Sua lei.

Mas a incompreensão maior e mais estranha refere-se à Sua misericórdia. É a incompreensão de quem não crê na misericórdia de Deus, de quem tem medo d’Ele, de quem treme ao pensar em comparecer à Sua presença, e foge do mal unicamente para evitar os Seus castigos...”.

Somente poderá compreender o Coração de Deus quem souber:

- viver a misericórdia para com o próximo, na sincera e frutuosa prática da acolhida, do perdão, da superação;

- saborear a mais bela e pura alegria que nasce do perdão dado e recebido;

- não crer que o ódio, o rancor, o ressentimento fossilizarão nas entranhas mais profundas do coração;

- transformar o coração de pedra num coração de carne, terno e manso, para que nele Deus possa frutuosa e ricamente fazer Sua morada;

- não crer que a obscuridade ao outro deva ser para sempre imposta pelo seu erro, tropeço, falha;

- compreender na exata medida o erro cometido, sem nada acrescentar, e ter também a maturidade de se colocar no lugar do outro, porque todos passíveis de erros o somos.

Somente poderá compreender o Coração de Deus quem do Senhor Jesus mesmos sentimentos e ações tiver. Quem souber gerar e formar Cristo em Si e no outro, no amor que renova, recria, reencanta, refaz, reconduz...

Quem poderá compreender o Coração de Deus?

Ó incompreendido Amor de Deus que questiona o amor humano, tão pequeno, quantificável, porque limitado, medido, calculado, com parcimônia por vezes comunicado.

Ó incompreendido Amor de Deus, que o nosso assim também o seja. Amor não é para ser compreendido, amor é para amar, simplesmente; sem teorias, explicações, racionalizações. Amor de Cruz, que ama, acolhe, perdoa, renova, faz renascer e rompe a barreira do aparentemente impossível.

O Amor vivido no extremo da Cruz, foi, é e será para sempre o verdadeiro Amor. Tão incompreendido, mas tão necessário e desafiador para a humanidade em todo tempo.

Amor que, se vivido, nos credencia para a eternidade de Deus, que é a vivência e mergulho na plenitude de Seu amor, luz, alegria e paz. Amém. 


PS: Proclamado no Sábado depois das cinzas a passagem paralela -  Evangelho de Lucas (Lc 5,27-32).


quinta-feira, 4 de julho de 2024

Perdoados e libertos pelo Senhor (17/01)

                                                          

Perdoados e libertos pelo Senhor

A Liturgia da Palavra, da Sexta-feira da 1ª Semana do Tempo Comum, nos apresenta a passagem do Evangelho (Mc 2,1-12).

Reflitamos sobre o Projeto de Salvação que Deus tem para toda a humanidade, e que se viu realizado na Pessoa de Jesus, que deve ser acolhido como Caminho, Verdade e Vida (Jo 14,6). 

Reflitamos, também,  sobre o perdão dos pecados, a verdadeira doença da humanidade que Jesus combate e derrota ao cuidar da pessoa humana em sua totalidade.

Através d’Ele, a humanidade pode se voltar novamente para Deus (reconciliação), sobretudo se considerarmos que em cada um de nós existe uma profunda necessidade de libertação do exílio de nós mesmos, das nossas múltiplas paralisias, do nosso afastamento de Deus (pecado).

Deste modo, Jesus é a manifestação da bondade, da misericórdia e do Amor divino que liberta o homem de toda paralisia, de todo pecado. Começa a ser desenhado um conflito que o levará à Cruz, por ação e rejeição das autoridades constituídas.

Lembramos que Marcos não faz uma reportagem jornalística, mas uma autêntica catequese sobre a pessoa e a missão de Jesus, que deverá ser por sua vez a missão de todo aquele que O seguir.

Um paralítico é levado por quatro homens e introduzido pelo telhado na casa onde Jesus Se encontrava. Ele será liberto e perdoado manifestando o poder que Jesus possuía, pelo Pai confiado.

Quatro homens significa a humanidade solidária com quem sofre, e vai ao encontro d'Aquele que tem a última Palavra, a resposta, a libertação.

O paralítico sem nome é a mesma humanidade sedenta de vida, liberdade, movimento, dinamismo, enfim, de uma nova possibilidade.

Também revela que a Salvação de Jesus não é somente para a comunidade judaica, mas para a humanidade inteira. Os esforços feitos para que o paralítico chegasse até Jesus retratam os esforços que devemos fazer para chegarmos até Jesus.

Nada pode impedir nosso encontro com a Fonte da Vida e da Liberdade. Tudo se torna nada, para conhecê-Lo, encontrá-Lo. Os esforços são a revelação da ânsia por libertação. Normalmente Jesus Se revela precisamente em nossas fraquezas, temores, cansaços, incertezas.

Ele tem a Palavra e a resposta. Ele é a própria Palavra que cura, liberta, perdoa, porque a plena manifestação do Amor de Deus.

O perdão que Jesus nos concede é a oportunidade do começo de uma nova vida, ao mesmo tempo revela o poder divino que possui, pois é Deus, e somente Deus pode perdoar (aqui o grande conflito: as autoridades reagem dizendo tratar-se de blasfêmia).

A grande mensagem catequética do Evangelista: Jesus tem autoridade para trazer a vida em plenitude. N’Ele, Deus Se revelou como misericórdia, bondade, amor e perdão.

A humanidade que percorre diariamente as estradas de sofrimento e angústia encontra em Jesus uma resposta, uma palavra de Libertação e Vida plena. Somente Ele pode colocar a humanidade numa órbita de vida nova. Sem Ele nada pode ser feito.

O pecado redimido deixa a lembrança no coração do pecador perdoado, não para imobilizá-lo, mas para que relembre sempre a história de um amor vivenciado, de uma nova oportunidade encontrada. Recorda-se como uma História de Salvação, como que um sigilo de um amor que foi e continua a ser maior do que qualquer enfermidade, qualquer pecado, quaisquer deslizes ou infidelidades.

O perdão purifica e renova. No coração de quem foi perdoado, por um pecado cometido, fica a  lembrança do amor vivido; força impulsionadora para um novo modo de ser e agir, para a não repetição indesejável das mesmas faltas.

Reflitamos:

- Como testemunhamos Jesus e Seu poder?
- Quem nós conduzimos até Jesus?
- Quem recebe da Igreja a solidariedade necessária para o encontro da vida digna e plena?

- Procuramos superar a cada instante o perigo de uma forma de vida cômoda, instalada, medíocre?

- Testemunhamos nossa fé com coragem para a transformação em todos os níveis?

- Quais são as paralisias que nos roubam o compromisso com a construção do Reino?

- Quais são os pecados assumidos, para que confessados diante da misericórdia de Deus mereçam o perdão?

- Antes de nosso pedido de perdão chegar até Deus, quais são os esforços que fazemos para alcançá-lo?

Deste modo, por meio de palavras e gestos, Jesus ama, salva, perdoa, liberta.

Concluindo:

A Face misericordiosa de Deus Se revela em Sua ternura, solidariedade, fidelidade, perdão, liberdade e vida plena para todos.

PS: Passagem paralela - Evangelho de Mateus (Mt 9,1-8)

Nada pode nos paralisar

                                                   

Nada pode nos paralisar

Com a passagem do Evangelho da quinta-feira da 13ª semana do Tempo Comum (Mt 9,1-8), refletimos sobre o  poder que Jesus tem, não somente de perdoar os pecados da humanidade, bem como de libertá-la das possíveis paralisias físicas, e também de outras com maiores consequências: a paralisia espiritual.

Jesus é a manifestação da misericórdia de Deus que pode ser experimentada de diversos modos, e um deles é através do Sacramento da Penitência com uma sincera, válida, e frutuosa confissão junto a um Presbítero da Igreja.

Há aqueles que não gostam de se confessar, por vezes pela dificuldade de como e o que confessar. Evidentemente, que podemos confessar diretamente com Deus, mas não podemos prescindir e ignorar a forma salutar da confissão individual; quando o penitente reconhece a sua miséria, com seus limites e imperfeições, e curva-se diante da misericórdia de Deus.

Confessar é no mínimo um ato de humildade e de coragem; de colocar-se diante de si mesmo, do outro e de Deus, numa abertura necessária para reconhecer os pecados cometidos, as faltas que possam ter prejudicado os relacionamentos com Deus e com o outro.

Há uma forma de paralisia que brota da ausência do perdão, matando amizades, amores, convivências, lares, projetos, sonhos, conquistas...

Reflitamos sobre a misericórdia de Deus e a nossa realidade incontestável de pecadores que somos, assim como sobre as paralisias das quais temos que ser libertos.

Quanto ao paralítico curado, como não pensar nas múltiplas manifestações de paralisias das quais podemos estar acometidos?

Muitos pelas dificuldades enfrentadas, e a maior delas, a morte de um ente querido, são levados até mesmo à perda do sentido e da razão de viver.

Não podemos paralisar nem mesmo diante da morte de um ente querido, ainda que esposo/esposa, mãe/pai, filho/filha, irmão/irmã, e mesmo um amigo que tenhamos apreço como a um irmão.

Os Apóstolos não ficaram paralisados diante da morte de Jesus, ao contrário, fazendo a experiência de Sua Ressurreição, contemplando Sua nova presença, redimensionaram e reorientaram os passos da Igreja nascente.

A fé na Ressurreição, a força do Ressuscitado rompe as portas fechadas do medo que nos paralisa, fragiliza, e nos faz sucumbir em possíveis mediocridades dos recuos.

Oremos:

Ó Deus, fonte de Misericórdia,
Suplico Vosso perdão,
Reconheço meus pecados, em pensamentos,
palavras, atos e omissão.

Coloco-me em Vossas mãos,
Que Vossa misericórdia penetre as fibras mais íntimas do meu ser.
Renovai-me, Senhor, revesti-me com Vosso Amor.
Fazei-me uma nova criatura, para a Vossa imagem melhor refletir.

Libertai-me, Senhor, de toda e qualquer paralisia,
Que me impeça sinceros compromissos com o Vosso Reino.
Que Vossa Palavra ressoe no mais profundo de mim,
Para que a vocação profética do Batismo se reacenda.

Que me alegre ser Vossa presença, Vossa voz,
A tantos que precisarem de Vossa Palavra ouvir.
Quero tão apenas, Senhor, por Vós ser perdoado e liberto.
E a quem precisar ser um sinal de Vossa misericórdia e poder. Amém! 

Temos sede de Deus

                                                     

Temos sede de Deus

Sejamos iluminados pela Homilia do Presbítero São Jerônimo (séc. V) aos neófitos, à luz do Salmo 41.

“Como o cervo deseja as fontes das águas, assim minha alma te deseja, ó Deus. Como aqueles cervos desejam as fontes das águas, assim os nossos cervos que, afastando-se do Egito e do século, afogaram o faraó em suas águas e mataram todo o seu exército no batismo, depois da morte do diabo, desejam as fontes da Igreja, isto é, o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Que o Pai seja dito fonte, encontramos em Jeremias: Afastaram-me a Mim, fonte de água viva, e cavaram para si cisternas rachadas que não podem reter as águas. Sobre o Filho, lemos em certo lugar: Abandonaram a fonte da sabedoria. E sobre o Espírito Santo: Quem beber da água que Eu lhe der, dele brotará uma fonte de água que jorra para a vida eterna, que logo o Evangelista explica tratar-se do Espírito Santo nesta Palavra do Salvador. Prova-se assim claramente que as três fontes da Igreja são o mistério da Trindade.  

A esta Trindade aspira o fiel, aspira o batizado que diz: Minha alma tem sede de Deus, fonte viva. Não quer ver a Deus apenas de leve, mas com todo o ardor, todo abrasado em sede. Com efeito, antes do Batismo, os futuros cristãos falavam entre si e diziam: Quando irei e me apresentarei diante da face de Deus? Agora obtiveram o que pediam: vieram e ficaram diante da face de Deus, apresentaram-se ante o altar, perante o mistério do Salvador.

Admitidos no Corpo de Cristo e renascidos na fonte da vida, proclamam com confiança: Entrarei no lugar do admirável tabernáculo, até a casa de Deus. A casa de Deus é a Igreja, é ela o admirável tabernáculo, nele mora a voz da exultação e do louvor, o ruído dos convivas.

Dizei, portanto, vós que agora, guiados por nós, vos revestistes de Cristo, fostes retirados pela Palavra de Deus do mar deste mundo como um peixinho preso pelo anzol. Em nós, porém, a natureza se transformou, pois enquanto os peixes morrem, quando retirados das águas, a nós os Apóstolos nos tiraram e pescaram do mar deste mundo para que de mortos passemos a vivos. Enquanto estávamos no século, com os olhos nas profundezas, nossa vida se passava no lodo. Depois de erguidos das ondas, começamos a ver o sol, começamos a olhar a verdadeira luz; e deslumbrados pela imensa alegria dizemos a nossa alma: Espera em Deus porque O louvarei, a Ele, salvação de minha face e meu Deus”.

Oremos:

Ó Eterna Trindade Santa, Vos glorificamos,
Vós que sois a fonte genuína e inesgotável da Igreja,
A Divina Fonte de amor, alegria, vida, luz e paz,
E quanto mais precisamos para o encontro da felicidade,
E do sentido para o existir, no tempo presente e
Também para o tempo futuro, o desabrochar da eternidade: céu.

Desejamos ardentemente contemplar Vossa divina face,
Com o coração abrasado de sede, diante de Vosso altar,
Contemplando na Eucaristia Vossa divina presença,
Assim como no silêncio do sacrário,
Pois estais presente no tão sublime Sacramento,
Que adoramos e contemplamos,
Os joelhos dobramos, com nossos lábios, louvamos e suplicamos.

Suplicamos que nos tireis sempre do mar deste mundo,
Atraídos por Vós e por Vossa Palavra e Projeto de Vida,
Aconteça em nós o que dissestes ao Vosso servo:
Fomos retirados pela Palavra de Deus do mar deste mundo,
Como um peixinho preso pelo anzol, e de fato, em nós
A natureza se transformou: “pois enquanto os peixes morrem,
Quando retirados das águas, a nós os Apóstolos nos tiraram e pescaram do mar deste mundo para que de mortos passemos a vivos”.

Então, retirados do mar deste mundo,
Abrasados de sede de modo especial do amor,
Do qual sois, Trindade Santíssima e Eterna,
A única e insubstituível Fonte,
Animados e iluminados pela Vossa presença no Pão Palavra,
Alimentados e revigorados 
pela mesma presença no Pão da Eucaristia,
Viveremos a graça da vocação que nos concedestes:
Reis, sacerdotes e profetas seremos,
Irradiando Vossa luz onde quer que estejamos. Amém.


(1) Liturgia das Horas – Ed. Paulus - pp. 392-393.

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