segunda-feira, 1 de julho de 2024

Memórias Missionárias...

                                                       


Uma página Missionária

 “O Deus da esperança, que nos cumula de toda 
alegria e paz em nossa fé, pela ação do
Espírito Santoesteja convosco!" (Rm 15,13)
Era o mês de julho de 2002, e eu estava em Missão na Diocese de Ji-Paraná – R(2000-2002).

Acabávamos de realizar a segunda rodada de visitas às Comunidades, que começamos em abril. Excepcionalmente, procuramos fazê-las aos sábados e domingos, pois era o tempo da colheita do café, e o povo das Comunidades ficava muito sobrecarregado.

Tivemos, em maio, uma Semana de reciclagem teológica para Padres e Irmãs, e, no começo de junho, o Encontro dos Presbíteros de nosso Regional Noroeste na Diocese de Ji-Paraná.

Foi uma experiência muito rica ao longo do Encontro. Diversos presbíteros, diversas realidades. Procuramos neste encontro um rosto, uma identidade para o presbítero nesta desafiadora realidade amazônica, como ainda o é.

No final de junho, ajudei o Pe. Afonso, Pároco da Paróquia de São João Batista, em Presidente Médici-RO, nas visitas às Comunidades simples e acolhedoras, sedentas de Deus, pois devido à falta de Sacerdotes, ficavam meses sem a Celebração Eucarística.

Em julho, recebemos a Visita Pastoral do Bispo D. Antonio Possamai, aos setores de nossas Comunidades (eram 10), e em cada um ficava o dia todo, conversando com pais, mães, juventude e crianças.

Ao final do dia, presidia a Celebração Eucarística, num clima de muita fé e alegria e esperança, pois o Povo estava muito abatido pela situação econômica que pesava sobre seus ombros. Sua presença renovava e estimulava as forças das lideranças das comunidades.

No dia 09 de julho, presidiu a Celebração Eucarística na Cidade, conferindo o Ministério do Batismo, da Eucaristia, da Visitação e do Matrimônio (testemunhas qualificadas) para aproximadamente 80 Ministros (as), que tiveram, anteriormente, um retiro num final de semana, com dias memoráveis de profunda espiritualidade:

Tudo isto num cenário político e econômico desafiador, pois estávamos preocupados com algumas questões que nos tocavam profundamente. Dentre elas, a gravíssima realidade da água no planeta, “o ouro azul do milênio”, as eleições, o fortalecimento dos Conselhos Municipais, o Mutirão Nacional contra a fome e a miséria etc.

No final de julho, participei de passeio Ecológico dos Padres da Diocese, em plena floresta amazônica Memorável pelos desafios, sobretudo para mim que vinha de uma realidade essencialmente urbana.

Em agosto e setembro, faríamos a terceira rodada de visita as Comunidades, indo pela manhã e voltando bem à noite, cansados, mas felizes pela missão realizada, revigorados pelo carinho e acolhida das comunidades.

Pela manhã, daríamos a formação para os Agentes, e à tarde, celebraríamos a Eucaristia com todo o Povo da Comunidade. Este jeito de visitar seria uma novidade. Ir ao encontro do Povo, procurar ser maior presença, dentro de nossos limites econômicos e recursos humanos.

Ainda sobrou um tempinho para a Copa do Mundo 2002, em julho! Ganhamos o penta! E torcíamos também para que o Brasil encontrasse caminhos para superação da fome e da miséria a que eram condenados mais de 53 milhões de brasileiros (as). Deste modo, venceríamos outros campeonatos que nos desafiam...

Caminhava para o final do terceiro ano em Missão. E 2003? Ainda não sabia. Os Bispos de lá me pediram para trabalhar no Seminário, na Formação, mas a Diocese de Guarulhos precisava que eu voltasse.

Em conversa com D. Luiz (in memoriam), o mesmo deixou a decisão em minhas mãos. Continuar em Rondônia seria minha livre e espontânea decisão, desligar-me de Guarulhos e incardinar naquela Diocese.

Por fim, depois de muita oração para discernimento, retornaria a Guarulhos, no final de dezembro de 2002.

O Amor e a Felicidade

                                                       



O Amor e a Felicidade

Reflitamos sobre o imensurável Mistério do Matrimônio, como nos disse o Apóstolo Paulo na Carta aos Efésios (Ef 5, 21-33), partindo do pressuposto que o princípio de um matrimônio é o amor, e a sua meta é a felicidade.

- Mas, como alcançá-la?
- Quem e como a buscam?
- Quais são as exigências para que ela, a felicidade se concretize em sua melhor expressão?

- Quantos ignoram a Igreja, a Celebração, a Bênção, o Mistério Sagrado do Matrimônio?
- Quantos são levados pela indiferença do caráter sagrado e religioso do casamento?
- E quantos o buscam por aparência e conveniência social, sem os sinceros propósitos que são necessários para que seja celebrado?

Felizmente, há casais com sede de algo sagrado, que não se busca no imediatismo e durabilidade temporária das coisas; ou na superficialidade dos fatos; na precariedade dos relacionamentos e tão pouco na instabilidade dos sentimentos.

Há algumas exigências para que o matrimônio seja Sacramento, sinal do Amor de Deus pela humanidade, de Cristo pela Igreja. Reflitamos brevemente sobre elas.

O AMOR.
Com todas as letras em maiúsculo, pois, há casamentos que são amores com letras minúsculas, não suportam os ventos, as tempestades, porque muitas vezes edificados sobre a areia (Mt 7, 21-27).

Num casamento o princípio indispensável e fundamental de tudo é o Amor. Vive-se sem algumas coisas por algum tempo, mas não se vive sem o Amor por um segundo apenas!

O Amor é o princípio e a fonte do Amor é Deus.


A liberdade:
Ninguém pode casar por imposição, nem sob nenhuma condição exterior. Há de ser a expressão máxima da liberdade assumida diante de Deus.
Compromisso mútuo assumido na mesma medida e intensidade.

A fidelidade:
Acompanha o princípio do amor, que traz em si a semente da indissolubilidade – “O que Deus uniu o homem não separe”, e há de ser vivida na liberdade de dois corações que se uniram, não por imposição, tão pouco sob condição.
Casamento exige a liberdade e maturidade de ambos.

A indissolubilidade:
Realidade de comunhão indissolúvel, pois, expressa a mais bela e perfeita união de Deus com a humanidade e de Cristo com Sua Igreja.
Deixam de ser dois, tornam-se um.

A fecundidade:

Filhos não serão obras do acaso, mas frutos do amor que, por Deus, foi abençoado e vocacionado a frutificar em novas vidas.

Some-se ao que foi dito, o respeito, a responsabilidade, o zelo, a cumplicidade (como sinônimo de proteção e edificação mútua), e outros elementos podem ser mencionado para que o Casamento não perca seu brilho, para que a chama do primeiro amor não se apague, não perca seu brilho e vigor.

Os filhos devem estar presentes como graça de perpetuar a humanidade.

A Felicidade deve ser a Meta de todo casamento.
Desde o princípio Deus quis que o casamento fosse realização de sonhos; não a perpetuação de pesadelos.

Um casamento abençoado pelo Deus de Abraão, Isaac, Jacó terá como princípio fundamental o AMOR e como meta a FELICIDADE.

Amor vivido permanentemente e a felicidade buscada em perfeita sintonia e comunhão é compromisso irrevogável, inadiável, intransferível...

Mas, AMOR como princípio e FELICIDADE como meta passam pelo Mistério da Paixão, Cruz, Morte e Ressurreição; assumida em renúncias e esforços quotidianos:

 “Quem quiser Me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz de cada dia e me siga” (Lc 9,23).

Por isto diante do altar os noivos trocando palavras dizem – “Eu... Recebo você... por meu (minha) esposa (o) e lhe prometo ser fiel, amar e respeitar, na alegria e na tristeza; na saúde e na doença; todos os dias das nossas vidas!”. 

Portanto, é sempre tempo de revisão, amadurecimento, reorientação dos passos, revigoramento, reencantamento para que o horizonte do casamento, traga um ângulo diferenciado, redimensionado na busca da autêntica felicidade, com a desejável santificação do casamento.

Urge que não se intensifique as angústias, mas que se regue o chão da fé do coração humano; as sementes da esperança; deste modo farão florir o jardim do amor que todo lar deve ser.

E que esta reflexão ilumine também quem pretende chegar um dia diante do Altar para um Sacramento celebrar, testemunhando com a palavra e a vida que o Matrimônio é Sagrado, por Deus, abençoado, que jamais pode ser banalizado, diminuído, desacreditado, desvalorizado…

Cada lar, cada família deveria ser, e há de ser, um ensaio, e por que não, um pedaço de céu, onde a Felicidade frutificará como expressão de relacionamentos verdadeiros e fraternos; ternos e eternos.

Em poucas palavras...

 


Pedro e Paulo segundo a Liturgia bizantina

 

“Eles são as asas do conhecimento de Deus que percorreram voando os confins da terra e se levantaram até o céu; são as mãos do Evangelho da graça, os pés da verdade do anúncio, os rios da sabedoria, os braços da cruz”.

 

Supliquemos ao nosso Salvador, a Testemunha fiel

 


Supliquemos ao nosso Salvador, a Testemunha fiel

 

Senhor Jesus, nosso Salvador e Testemunha fiel,

a Vós  que nos remistes com o Vosso divino Sangue 

derramado por amor de nós, 

com coração pleno de confiança,

a Vós nos dirigimos,

 

E contamos com a intercessão de Vossos mártires, 

que a vida livremente deram, 

no testemunho e proclamação da fé em Vós.

 

Contamos com eles que, seguindo Vossos passos, 

derramaram também o sangue, 

lavando a vestes no Vosso Sangue, 

Vós que sois o Cordeiro de Deus por nós imolado.

 

Dai-nos, Senhor, nós Vos pedimos, 

pureza e constância na fé, 

a fim de que tenhamos a  verdadeira liberdade de espírito

para suportar, com coragem, as dificuldades da vida

e vencer todas as ciladas da carne e do mundo. Amém.

 

Livre adaptação da Oração da Manhã do Tempo Comum – Liturgia das Horas

 


Os desafios da Pós Jornada Mundial da Juventude

Os desafios da Pós Jornada Mundial da Juventude 

“Com o ruído que se produziu a multidão acorreu e ficou perplexa, pois cada qual os ouvia falar em seu próprio idioma” (At 2, 6)

Onze anos passados, vivíamos dias memoráveis com a visita do Papa Francisco e a realização da 28ª Jornada Mundial da Juventude, cujo lema é sempre oportuno lembrar - “Ide e fazei discípulos entre as nações!”. 

Na Basílica Nacional de Aparecida, o Papa foi e é uma “Voz Viva” que o mundo parou para ouvir. Foi um grande Pentecostes, lembrando a passagem da Sagrada Escritura:

“De repente, veio do céu um ruído como o agitar-se de um vendaval impetuoso, que encheu toda a casa onde se encontravam. Apareceram-lhes, então, línguas como de fogo, que se repartiam e pousavam sobre cada um deles. E todos ficaram repletos do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia se exprimirem” (At 2, 2-4).

Ocupando espaço na mídia televisiva, impressa, internet, pelo carisma próprio e, sobretudo, pela mensagem marcada pela simplicidade e profundidade, beleza e profecia, força e ternura.

O Papa veio como que reavivar a chama do rebanho católico, e não há dúvida que suas palavras também aqueceram o coração de quem o viu e ouviu. 

Fomos desafiados a buscar ações solidárias em favor da vida, e de modo especial em favor dos empobrecidos. Fomos exortados a uma conversão sincera a Jesus Cristo e à mensagem de Seu Evangelho.

E, de modo especial está reafirmado o compromisso da evangelização da Juventude, descobrindo métodos, caminhos para que estes sejam, de fato, uma primavera na Igreja, protagonistas preciosos no anúncio e testemunho da Boa-Nova de Jesus.

Temos que continuar o aprofundamento do que o Papa disse e deixou escrito, fazendo uma revisão do caminho feito e alargando sempre os horizontes, para que a opção pelos pobres e os jovens (desde a Conferência Episcopal Latino Americana em Puebla – 1979) seja efetiva. 

Não há alegria verdadeira se nos tornarmos indiferentes à realidade de quem sofre e precisa de uma palavra de carinho, um gesto de solidariedade.  

Como Igreja que somos, o Papa nos convidava e convida a nos deixarmos surpreender pelo Amor de Deus e a Ele correspondermos, servindo com alegria, irradiando a luz da fé, multiplicando ações que viabilizem a esperança de um novo céu e uma nova terra, colocando-nos como eternos aprendizes da linguagem do amor que nos uniu, independentemente de nação, cultura ou língua.

O Papa não somente nos ensinou, mas assim o fez, tornou-se próximo de nós, tocando o rebanho ficou com o seu cheiro, como ele já dissera no começo de seu pontificado: “os presbíteros precisam ter cheiro do rebanho”.

Continuemos sentindo a presença de Deus em nosso meio, como uma incessante e suave brisa divina, e o fogo do Espírito, que faz arder nossos corações, e assim, renovemos a graça da missão que o Senhor nos confia.

Um novo amanhecer, podemos esperar!

Um novo amanhecer, podemos esperar!

Onze anos passados, multiplicavam-se nas ruas e praças de nossas cidades, acontecimentos inéditos e inauditos.

De forma surpreendente, e inexplicável para muitos, os clamores se somaram, os encontros se multiplicaram, para que nossas esperanças não fossem subtraídas, para que aprendamos melhor dividir uns com os outros as forças que temos, para o novo inaugurar. 

A indignação, através das redes sociais, se difundiu, como lavas vulcânicas, em vibrantes protestos, manifestando o despertar de sonhos aparentemente adormecidos, e projetos de um mundo novo sufocado, asfixiado pelos poderes constituídos, com seus mandos e desmandos, improbidades, governos e desgovernos, práticas de impunidade acobertadas por interesses escusos, que apenas fizeram avolumar a situação clamorosa de nosso povo, com desigualdades sociais aviltantes, precariedade da situação da saúde, educação, habitação, lazer e outras tantas.

O clamor subia aos céus, expressão de insatisfação, jamais de saudosismo, pessimismo ou derrotismo. Não há, e nunca houve espaço para indiferença e resignação, pois somente agravaria o momento pelo qual passamos.

É inaceitável entrar no cortejo dos que pregam o “quanto pior, melhor”, mas sim no cortejo daqueles que se empenham e não se omitem na missão que realizam, para um amanhecer mais iluminado e feliz para todos.

Ontem e hoje, olhares envinagrados não nos permitirão vislumbrar novos caminhos de superação e reconstrução de uma verdadeira democracia.

Somente olhares reluzentes de indignação, acompanhados de fremir profético, mas sem a ira, loucura passageira e estéril, é que alcançaremos os nossos direitos.

É preciso reconhecer e acolher esta força da manifestação que veio das ruas e praças e que, de um modo ou de outro, continuam a acontecer. 

Como Igreja, na realidade em que estamos inseridos, com suas marcas nem sempre positivas, há a necessidade de estabelecer as urgências e perspectivas da ação evangelizadora, para que todos tenham vida, e vida plena.

Urge que continuemos nosso caminho, participando da construção de uma sociedade mais fraterna, justa e solidária.

Revestidos de Cristo sempre sejamos!

Revestidos de Cristo sempre sejamos!

“Vós sois filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo.
Vós todos que fostes batizados em Cristo vos
 revestistes de Cristo” (Gl 3, 26-27)

Onze anos passados, estávamos com os olhos voltados para o Rio de Janeiro, onde aconteceu a 28ª Jornada Mundial da Juventude, precedida pela Semana Missionária da Juventude em todo o Brasil.

Com o lema “Ide e fazei discípulos entre todas as nações!” (Mt 28,19), testemunhamos um grande sopro do Espírito, como em Pentecostes, em que a Igreja se volta de modo especial para a Juventude,  vendo nesta um potencial imensurável de força evangelizadora, não somente dentro da própria Igreja, mas fora dela, nos diversos ambientes em que vive (familiar, acadêmico, profissional) e se comunica (comunidades e espaços virtuais).

Mas a Evangelização somente alcança o seu objetivo se nos revestirmos de Cristo, com a força da oração, abertos ao que o Espírito diz a Igreja em cada tempo e realidade, nas diferentes circunstâncias. 

Revestidos com esta força e assistidos pelo Espírito Santo, a Palavra de Deus será anunciada e testemunhada, e novos discípulos faremos para o Senhor, em total fidelidade ao seu mandato.

Deste modo, víamos com bons olhos as manifestações populares, num grito profético contra os desmandos e abusos que são cometidos contra a cidadania, desde há muito (evidentemente, sem compactuar com vandalismos ou coisas semelhantes).

É sempre importante que ações organizadas e sérias, com liberdade de expressão, se multipliquem, para que numa atitude de diálogo estabelecido, tenhamos mais igualdade, fraternidade e comunhão, com direitos preservados e deveres cumpridos.

Estávamos vivendo o Ano da Fé, solidificando a nossa fé na rocha firme da Palavra de Jesus Cristo, e assim a esperança, que brota da Vida Nova da Ressurreição, inflame a prática da caridade, em gestos de amor, partilha, solidariedade, perdão.

Estávamos também acolhendo e aprofundando a primeira Encíclica do Papa Francisco – “Lumen Fidei” (A Luz da Fé) ­– para que nossa fé não seja um refúgio e falta de compromissos de santidade e santificação da família e do mundo. 

Uma fé autêntica nos faz olhar para um amanhã mais esperançoso, procurando, no tempo presente, compromissos concretos para a sua viabilização.

Tendo Deus plantado em nós a semente da fé, ela se torna luminosa, incapaz de ser ocultada.

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG