domingo, 9 de junho de 2024

A Amizade Divina e a felicidade desejada (XDTCB)


A Amizade Divina e a felicidade desejada

A Liturgia do décimo Domingo do Tempo Comum (ano B) nos convida a refletir sobre o Projeto de Deus oferecido à humanidade e a liberdade de nossa resposta. Podemos optar pelo bem ou pelo mal, pela pertença ou não de Sua família; tendo como critério para a pertença a realização da Sua vontade.

A passagem da primeira leitura (Gn 3,9-15) retrata a criação de uma forma essencialmente catequética, a partir dos nossos primeiros pais (Adão e Eva), nos oferece a oportunidade de  refletir sobre o que acontece quando rejeitamos as propostas de Deus e preferimos os caminhos do egoísmo, do orgulho e da autossuficiência. 

Inevitavelmente quando vivemos à margem de Deus trilhamos caminhos amargos de sofrimento, destruição, infelicidade e morte.

O mal no mundo não tem origem em Deus, mas resulta de nossas escolhas erradas, do mau uso de nossa liberdade, de modo que é impossível o encontro da felicidade quando se prescinde de Deus, da Sua amizade, do Seu bem querer para todos nós: a felicidade plena e eterna.

Prescindir de Deus leva a duas consequências extremamente negativas: a hostilidade para com o outro e a inimizade com toda a criação.

Sem uma relação profunda e sincera com Deus, nos desencontramos e nos perdemos em relação a nós mesmos, em relação ao outro e ao mundo que nos cerca. Numa palavra, sem Deus não há felicidade possível.

Sem a amizade divina, somos imersos num lamaçal de mediocridade e infelicidade; na areia movediça do orgulho, do vazio, da inutilidade, da depressão, da vida sem sentido.

Sem a amizade divina, o encontro sofrível com a escuridão eterna. Rejeitar o Amor de Deus é fechar a porta para a felicidade e a eternidade.

Na passagem da segunda Leitura (2Cor 4,13-5,1), com o Apóstolo Paulo, aprendemos que viver somente tem sentido na perspectiva da Ressurreição, numa vida cristã coerente, agindo como verdadeiros discípulos missionários do Senhor.

O Apóstolo ainda nos assegura que a fé no Ressuscitado, crer em Sua presença, contando com a força e a vida do Espírito, na fidelidade a Deus que nos criou e nos ama, nossa esperança é sustentada e nossa caridade animada, na provisoriedade e brevidade de nossa existência.

Com a passagem do Evangelho (Mc 3,20-35), contemplamos a ação de Jesus em favor da vida, com aceitação de uns, rejeição e incompreensão de outros.

A cena se passa numa casa: há os que ficam do lado de fora e os que estão dentro. Há sempre aqueles que são arredios, os que ficam à porta, são os que chamamos de “católicos não praticantes”. Há aqueles que fazem parte da família de Deus, porque compreenderam a lógica desta pertença, que consiste em fazer a Sua vontade em qualquer tempo e em qualquer lugar.

Com a passagem do Evangelho, refletimos sobre a liberdade que Deus nos concede,  fazer a melhor escolha, ou seja, tudo fazer para pertencer à família de Deus, crendo na Vida Trinitária, inseridos e comprometidos com esta Comunhão Maior, promovendo e fortalecendo as outras tantas comunhões necessárias, na família, no mundo e em todo lugar.

Somente no fazer a vontade de Deus nossa felicidade se realiza. Somente neste “fazer” é que seremos autênticas testemunhas do Ressuscitado e viveremos a relação de nossos pais no Paraíso, não mais como saudade de algo que se perdeu, mas como algo que pode ser reconquistado, vivido e no céu eternizado.

Nunca voltar ao paraíso pela saudade, mas tê-lo na mente e no coração, para que nos alavanque para águas mais profundas. Jardins belos e férteis, Deus nos tem preparado, pois foi para isto que, pelo Filho, nos criou.

Somente quem entra no movimento do Espírito, o Movimento do Amor, redescobre que o Paraíso existe e é possível; de modo que, usando a liberdade que Deus nos deu, façamos nossas escolhas, saibamos a vontade de Deus realizar.

Em poucas palavras...

                                                                 


“Não se dialoga com o demônio...” 

“Não se dialoga com o demônio […] A vida cristã é uma luta permanente. Requer-se força e coragem para resistir às tentações do demônio e anunciar o Evangelho. […] Não pensemos que é um mito, uma representação, um símbolo, uma figura ou uma ideia. Este engano leva-nos a diminuir a vigilância, a descuidar-nos e a ficar mais expostos. 

O demônio não precisa de nos possuir. Envenena-nos com o ódio, a tristeza, a inveja, os vícios. E assim, enquanto abrandamos a vigilância, ele aproveita para destruir a nossa vida, as nossas famílias e as nossas comunidades, porque, ‘como um leão a rugir, anda a rondar-vos, procurando a quem devorar’” (1Pd 5,8)”  (1)

 

(1)Gaudete et Exsultate  n.158.161

 

 

 

"Deus nos ama e nós cremos no amor"

“Deus nos ama e nós cremos no amor”

Para aprofundamento da Liturgia do 10º Domingo do Tempo Comum, transcrevo uma reflexão do Frei Raniero Cantalamessa, que reconstrói este processo do amor de Deus por nós em quatro etapas:

- A primeira etapa: somos transportados para antes do tempo e da história, na mesma eternidade de Deus – “Deus é amor” (1 Jo 4,8):

“É amor em si mesmo, antes de a criatura tomar consciência disso. Aparentemente nós estamos ausentes desta primeira etapa: Deus só tem que amar a Si mesmo. Sabemos, porém, que Deus, embora sendo único, não é solitário também nesta primeira fase que precede a criação.

Tem consigo, com efeito, Seu Filho, Sua imagem perfeita que ama e por quem é amado com um amor tão forte que chega a constituir uma terceira Pessoa, o Espírito Santo. Há, portanto, já, o amor de Deus, mas um amor não criado, trinitário, inacessível...

Estávamos já contidos e contemplados em Seu coração como criaturas ainda ocultas no seio e no pensamento de quem as gerou, e se espera que venham à luz”.

- A segunda etapa: é a criação, a revelação do amor oculto:

“É um gesto fundamental do amor de Deus pelas criaturas, aquele que lhe confere o ser e as faz existir... A criação é um ato de amor... este amor de Deus encontra em Seus Profetas Seus cantores insuperáveis. Deus deu a alguns homens (como Isaías, Jeremias, Oseias) um coração grande, cheio de capacidades, sensível a todo espécie de amor, para que revelassem aos homens algo de Seu insondável amor. Os Profetas fizeram o máximo...”.

- A terceira etapa: abrange as anteriores e esta etapa se chama Jesus Cristo:

“Jesus é amor de Deus feito carne; Ele é a manifestação tangível do amor do Pai – Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em nos ter enviado ao mundo o Seu Filho único, para que vivamos por Ele (1 Jo 4,9)...

Em Jesus, o amor de Deus se adequou à nossa condição humana, que tem necessidade de ver, de sentir, de tocar, de dialogar... O amor de Jesus pelos homens é forte, viril, terno, constante, até a prova suprema da vida.

Porque ninguém tem amor maior do quem dá a vida pela pessoa amada (cf. Jo 5,13). E Ele deu a vida! Amor cheio de delicadeza e de calor humano: como ama as mulheres, com que delicadeza se abaixa sobre sua humilhação, sem, todavia, condescender minimamente ao mal!

Como ama os discípulos; como ama as crianças, os doentes, os pobres, os intocáveis da época... Amado, Ele muda, faz renascer, liberta (a Samaritana. Madalena). Diante do túmulo de Lázaro, disseram d’Ele: ‘Vede como Ele o amava’”.

A quarta etapa: é aquela que se estende até os dias de hoje e que se chama Espírito Santo:

“O amor de Deus que se manifestou em Cristo Jesus permanece entre os homens e vivifica a Igreja através do Espírito Santo.

O que é afinal o Espírito Santo? É o amor recíproco entre Pai e Filho que, depois da Ressurreição, se difundiu sobre os crentes, como perfume que jorra do vaso de alabastro quebrado e enche a casa: o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rm 5,5); nisso é que conhecemos que estamos n’Ele e Ele em nós, por Ele nos ter dado o Seu Espírito (1 Jo 4,13)...

Não se trata de um amor subjetivo, isto é, de um sentimento fugaz; é algo de soberanamente objetivo e concreto. Chega a ser até uma pessoa. No Novo testamento é apresentado como O Consolador, que dá paz, força, coragem, alívio. É ‘Espírito de amor’. É chamado também ‘coração novo’, o ‘coração de carne’, porque Sua presença nos torna não só amados, mas também capazes de amar (amar de modo novo a Deus e aos irmãos). Ele é agora Aquele que realiza a impossível fidelidade do homem; tendo-O presente, com efeito, o crente pode observar os Mandamentos, pode ‘corresponder’ ao amor de Deus, o que não era possível antes de Cristo”.

De fato, assim falou o Evangelista São João: “Deus amou tanto o mundo, que deu Seu Filho Unigênito, para que não morra todo o que n’Ele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).

O amor de Deus é o centro de toda a Sagrada Escritura, revelado numa sucessão de gestos, de manifestações, que chamamos de “História da Salvação”.

Frei Raniero Cantalamessa finaliza nos falando da dificuldade que temos de crer no amor, considerando numerosas traições e decepções: “quem foi traído ou ferido uma vez, tem medo de amar e de ser amado, porque sabe quanto é dolorido ser enganado...”

No entanto, o cristão deve se libertar deste medo, pois esta é a sua vocação: amar, pois o amor de Deus foi derramado em nossos corações no batismo, e é preciso descobri-lo dentro de nós mesmos, na Igreja e ao mundo testemunhá-lo: 

“É o momento decisivo na História da Salvação, Aquele em que um homem, ou antes, uma comunidade movida pelo Espírito Santo, diz, como fazemos nós agora: ‘Deus nos ama e nós cremos no amor’”.

Oremos:

“Deus bom e fiel, que jamais Vos cansais de chamar os errantes a uma verdadeira conversão e no Vosso Filho levantado na Cruz nos curais das mordeduras do Maligno, concedei-nos a riqueza da Vossa Graça, para que, renovados no Espírito, possamos corresponder ao Vosso amor eterno e infinito”. (2)


(1)  O Verbo Se faz Carne – Raniero Cantalamessa - Editora Ave Maria - 2013 
(2) Lecionário Comentado – Volume Quaresma-Páscoa Ed. Paulus – 2011 Lisboa – p. 184

PS: Reflexão apropriada para a 13ª Sexta-feira do Tempo Comum

Deus misericordioso tem fome e sede de nossa conversão

 


Deus misericordioso tem fome e sede de nossa conversão

Sejamos enriquecidos pelo sermão do bispo e doutor da Igreja, São Pedro Crisólogo (séc. V):

“Acusa-se a Deus de inclinar-Se para o homem, de colocar-Se junto ao pecador, de ter fome de sua conversão e sede de seu retorno, de tomar o alimento da misericórdia e o cálice da benevolência.

Porém Cristo, irmãos, veio a esta ceia: a Vida veio ao seio destes convidados para que, condenados à morte, vivam com a Vida; a Ressurreição inclinou-Se para que aqueles que jaziam se levantassem de suas tumbas; a Bondade abaixou-Se para elevar aos pecadores até o perdão; Deus veio ao homem para que o homem chegue a Deus; o Juiz veio para o alimento dos culpáveis para subtrair a humanidade da sentença de condenação; o Médico veio à casa dos enfermos para restabelecê-los comendo com eles; o Bom Pastor encurvou-Se para carregar a ovelha perdida até o redil da salvação.

Por que o seu mestre come com os publicanos e pecadores? Porém quem é o pecador, a não ser aquele que recusa considerar-se como tal? Não é isto afundar em seu pecado, e verdadeiramente identificar-se com ele, ao deixar de se reconhecer pecador? E quem é injusto, senão o que se estima justo?...

Enquanto vivemos neste corpo mortal, a fragilidade domina; mesmo que triunfemos sobre os pecados de obra, não podemos vencer os de pensamento nem evitar toda injustiça; e se temos a força de escapar materialmente, e se somos capazes de vencer toda falta inconsciente, como poderemos suprimir as faltas de negligência e os pecados da ignorância...

Confessa teu pecado e poderás vir à mesa de Cristo; Cristo se fará por ti Pão, esse Pão que se partirá para o perdão de teus pecados. Cristo Se fará por ti Cálice, esse Cálice que se derramará para a remissão de tuas culpas.

Vamos, ... participa da refeição dos pecadores e Cristo participará da tua; reconhece-te pecador, e Cristo comerá contigo: entra com os pecadores no festim de teu Senhor e poderás não voltar a ser pecador; entra com o perdão de Cristo na casa da Misericórdia, não seja que com tua própria justiça sejas excluído desta morada.

Vamos, reconhece a Cristo, escuta a Cristo, Sim, escuta o teu Senhor, escuta ao médico do alto, aquele que refuta sem apelação tuas acusações falsas. Os que têm boa saúde não necessitam de médico, mas aqueles que estão enfermos. Se queres ser curado, reconhece tua enfermidade...

Não veio chamar os justos, mas aos pecadores. Sim, irmãos, sejamos pecadores em nossa confissão para não sermos pecadores graças ao perdão de Cristo.” (1)

Este sermão nos convida a reconhecer nossa condição pecadora, e a nos colocarmos em atitude de penitência, com a necessária confissão de nossos pecados, para que sejamos acolhidos, envolvidos e perdoados pela misericórdia divina.

Concluindo, urge trabalhar pelo nosso aperfeiçoamento espiritual, como nos exorta o Apóstolo Paulo na Carta aos Coríntios:

“Irmãos: Alegrai-vos, trabalhai no vosso aperfeiçoamento, encorajai-vos, cultivai a concórdia, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco. Saudai-vos uns aos outros com o beijo santo. Todos os santos vos saúdam. A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós.” (1 Cor 13,11-13).

  

(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – pp.152-153 

Adoro-Vos, ó Senhor

 


Adoro-Vos, ó Senhor

“A esperança, com efeito, é para nós qual ancora da vida, segura e firme, penetrando para além da cortina do santuário, onde Jesus entrou por nós, como precursor, feito Sumo-Sacerdote e eterno na ordem de Melquisedec” (Hb 6,19-20)

Adoro-Vos, ó Senhor Jesus Cristo, pois graças à Vossa Páscoa, mistério de morte e ressurreição, entrastes de uma vez por todas na morada de Deus, quando tão somente o Sumo-Sacerdote era o único homem que podia penetrar no Santo dos Santos, o lugar mais sagrado Templo, e encontrar-se na presença de Deus.

Adoro-Vos, ó Senhor Jesus, pois uma vez tendo entrado, sois uma âncora lançada, não no mar, mas no próprio coração do Pai; e com esta ancoragem deriva para todos, que em Vós cremos, a certeza da Sua comunhão com Deus.

Adoro-Vos, ó Senhor Jesus, pois dando Vossa vida por amor de nós, fostes fiel a Deus Pai que não falta à Sua palavra; quando muito pelo contrário, confirmou as promessas a Abraão, certificando-a com juramento; por isso estamos certos da esperança que nos é oferecida.

Adoro-Vos, ó Senhor Jesus e em cada Eucaristia, de modo especialíssimo na Missa Dominical assiduamente participada, fazemos memória do Vosso Mistério Pascal e celebramos a libertação da morte e do pecado e a entrada na própria vida de Deus, e o nome desta liberdade sois Vós: Jesus.

Adoro-Vos, ó Senhor Jesus, pois nos abristes o caminho que nos leva para além do véu do Santuário, e ajudai-nos, a fim de que vivamos em perfeita comunhão com Vosso Pai, com a força, presença e luz do Santo Espírito.  

“Senhor Deus, criador e renovador de todas as coisas, abri-nos as portas da Vossa misericórdia, e fazei que celebremos santamente o dia de Jesus Ressuscitado, dia da escuta e da ágape eucarística, dia da fraternidade e do repouso, para que todas as criaturas cantem conosco os novos céus e a nova terra”. Amém.  

 

PS: Passagem da Leitura - Hb 6,10-20

Fonte: Lecionário Comentado – Volume I do Tempo Comum – Editora Paulus – Lisboa – 2011 – pp.801-805

Em poucas palavras...

                                                  


Sacramentos da Iniciação Cristã

“A iniciação cristã faz-se pelo conjunto de três sacramentos: o Batismo, que é o princípio da vida nova; a Confirmação, que é a consolidação da mesma vida; e a Eucaristia, que alimenta o discípulo com o corpo e sangue de Cristo, em vista da sua transformação n'Ele.” (1)

 

 

(1)Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 1275

O Plano de Deus para nós: Vida plena e feliz (XDTCB)

                                                      

O Plano de Deus para nós: Vida plena e feliz

A Liturgia do 10º Domingo do Tempo Comum (ano B) nos convida a refletir sobre o Projeto de vida e Salvação que Deus tem para nós, e sobre a liberdade de resposta que temos.

Na passagem da primeira Leitura (Gn 3,9-15), o autor sagrado nos apresenta a mensagem catequética: aceitar o Projeto de Deus, ou enveredar por caminhos de egoísmo, orgulho e autossuficiência.

A passagem pode ser dividida em três partes:

- Na primeira, temos a narração da criação, em que tudo era muito bom, na mais perfeita harmonia e comunhão com Deus, e também entre as criaturas;

- A segunda,  descreve o pecado do homem e da mulher e a quebra desta harmonia/amizade, introduzindo o desequilíbrio e a morte;

- Na terceira, temos as consequências do pecado para o homem e mulher e toda a criação.

Para o autor sagrado (que não faz uma descrição jornalística, mas catequética), Deus criou o homem e a mulher para a felicidade, mas o egoísmo, a injustiça e a violência foram introduzidos pelo próprio homem e mulher, devido às escolhas erradas, que provocam dinamismos de sofrimento e morte na obra da criação.

A serenidade e a paz dão lugar à vergonha e ao medo, quando nos rebelamos contra Deus e nos afastamos de Sua presença e Projeto.

Na passagem, “serpente” é um símbolo literário, para nos advertir que também podemos ser seduzidos pela mesma, e trilhar o mesmo caminho de orgulho, autossuficiência, com o prescindir de Deus e de Sua autêntica e única Proposta de felicidade. Evidentemente que não se trata de pecado cometido nos primórdios da humanidade, mas pode acontecer a cada instante e por todos nós.

A nós é dada a liberdade de escolha entre o bem e o mal: aceitar ou não o Projeto de amor e vida plena que Deus tem para nós.

Evidentemente, sem Deus incorremos em hostilidade para com o outro e com toda a criação. Viver à margem de Deus e de Sua presença, conduz a humanidade a trilhar caminhos de sofrimento, de destruição, de infelicidade e morte, como nos retrata a primeira experiência de pecado e desobediência de nossos pais no Paraíso:

“Rompendo a relação com Deus, o pecado subverte todas as relações do homem e altera também a própria percepção que a criatura tem de si mesma. Mas Deus é maior que o pecado: conserva o Seu amor fiel pelo homem e abre-lhe um futuro de esperança e de salvação.

Tem assim início, a partir desta página bíblica, a histórica do pecado da Humanidade, mas também tem início aqui, e, sobretudo, a espera messiânica, a História da Salvação. A liberdade e o coração do homem serão o campo de batalha entre os dois grandes contendores: o Maligno e Deus. Desde agora, porém, já é dito quem será o vencedor” (1)

Na passagem da segunda Leitura (2 Cor 4, 13-5,1), o Apóstolo nos fala da centralidade e fundamento de nossa fé: a Ressurreição, que confere o verdadeiro sentido à vida cristã, para que não se perca diante do que for efêmero, e tão pouco desanimar diante das incompreensões e dificuldades, aprofundando a coerência exigida daqueles que se propõem a ser discípulos de Jesus Cristo (2).

O Evangelista Marcos nos apresenta, na passagem do Evangelho (Mc 3, 20-35),  a condição para pertencermos à família de Deus: fazer a Sua vontade e reconhecer Jesus como enviado do Pai, que realizou plenamente a Sua vontade.

Com a chegada de Jesus, inicia-se um novo tempo, porque “Ele é o Santo de Deus”. Ele veio “impor silêncio aos espíritos malignos, derrotá-los e acabar com o seu domínio. Ele revela com autoridade a vontade de Deus. Os que a cumprem são Seus irmãos e membros, com Ele, da família de Deus” (3).

A mensagem evangélica apresenta três diálogos de Jesus, sendo dois deles com Seus familiares e um com os escribas.

De modo especial, em relação aos diálogos com os familiares, Jesus nos apresenta a exigência para pertencer à Sua família: fazer a vontade de Deus, como Ele mesmo o disse:

E olhando para os que estavam sentados ao Seu redor, disse: ‘Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe’” (Mc 3, 34).

No diálogo com os mestres da Lei, que tinham vindo de Jerusalém, é acusado de ser possuído por Belzebu, o príncipe dos demônios, e que por meio deste expulsava os demônios.

O fechamento à ação de Jesus revelava-se como blasfêmia contra o Espírito, que nunca poderá ser perdoada. A ação de Jesus é a plena manifestação do Espírito Santo, que sobre Ele pousava e continuará pousando sobre a Sua Igreja.

Cabe-nos reconhecer a força e ação do Espírito a agir em nós, para nos libertarmos das amarras do pecado. Somente Jesus tem Palavra de Vida Eterna, e somente Sua Palavra, acolhida com fé e vivida, nos faz verdadeiramente livres, pois Ele é a Verdade que nos liberta.

“A mensagem da Liturgia da Palavra está cheia de esperança: não há pecado pessoal ou universal que não possa encontrar o perdão de Deus, melhor, a alegria do Seu perdão: não há história de pecado pessoal ou original que não possa tornar-se história de salvação, graças ao Médico Divino que veio curar todos os doentes do corpo ou do espírito. Jesus é o redentor e o salvador de todos e de cada um, de cada pecado e de todos os pecados”. (4)

Dando mais um passo em nossa caminhada de fé, renovemos nossa fidelidade ao Senhor, suplicando o perdão de nossos pecados, para que, uma vez amados e perdoados, com alegria e ardor, coloquemo-nos diante de Deus, em relação de temor e piedade, para participar da construção do Seu Reino de amor e vida plena, e deste modo, Paraíso não será sinônimo de algo perdido, uma página virada do passado, mas sempre uma nova página a ser escrita, na obediência, amizade, intimidade com Ele.

Oremos:

“Pai Santo, que nos enviastes Vosso Filho para nos libertar da escravidão de Satanás, amparai-nos com as armas da fé, para
que no combate cotidiano contra o Maligno,
tomemos parte na vitória Pascal. Amém.” (5).


(1) Lecionário Comentado - Tempo Comum – Ed Paulus - p.463
(2) (4) (5) Idem p.466
(3) Missal Quotidiano e Dominical – Paulus – p.1397

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