O Plano de Deus para nós: Vida plena e feliz
A Liturgia do 10º Domingo do Tempo Comum (ano B) nos convida a refletir sobre o Projeto de vida e Salvação que Deus tem para nós, e sobre a liberdade de resposta que temos.
Na passagem da primeira Leitura (Gn 3,9-15), o autor sagrado nos apresenta a mensagem catequética: aceitar o Projeto de Deus, ou enveredar por caminhos de egoísmo, orgulho e autossuficiência.
A passagem pode ser dividida em três partes:
- Na primeira, temos a narração da criação, em que tudo era muito bom, na mais perfeita harmonia e comunhão com Deus, e também entre as criaturas;
- A segunda, descreve o pecado do homem e da mulher e a quebra desta harmonia/amizade, introduzindo o desequilíbrio e a morte;
- Na terceira, temos as consequências do pecado para o homem e mulher e toda a criação.
Para o autor sagrado (que não faz uma descrição jornalística, mas catequética), Deus criou o homem e a mulher para a felicidade, mas o egoísmo, a injustiça e a violência foram introduzidos pelo próprio homem e mulher, devido às escolhas erradas, que provocam dinamismos de sofrimento e morte na obra da criação.
A serenidade e a paz dão lugar à vergonha e ao medo, quando nos rebelamos contra Deus e nos afastamos de Sua presença e Projeto.
Na passagem, “serpente” é um símbolo literário, para nos advertir que também podemos ser seduzidos pela mesma, e trilhar o mesmo caminho de orgulho, autossuficiência, com o prescindir de Deus e de Sua autêntica e única Proposta de felicidade. Evidentemente que não se trata de pecado cometido nos primórdios da humanidade, mas pode acontecer a cada instante e por todos nós.
A nós é dada a liberdade de escolha entre o bem e o mal: aceitar ou não o Projeto de amor e vida plena que Deus tem para nós.
Evidentemente, sem Deus incorremos em hostilidade para com o outro e com toda a criação. Viver à margem de Deus e de Sua presença, conduz a humanidade a trilhar caminhos de sofrimento, de destruição, de infelicidade e morte, como nos retrata a primeira experiência de pecado e desobediência de nossos pais no Paraíso:
“Rompendo a relação com Deus, o pecado subverte todas as relações do homem e altera também a própria percepção que a criatura tem de si mesma. Mas Deus é maior que o pecado: conserva o Seu amor fiel pelo homem e abre-lhe um futuro de esperança e de salvação.
Tem assim início, a partir desta página bíblica, a histórica do pecado da Humanidade, mas também tem início aqui, e, sobretudo, a espera messiânica, a História da Salvação. A liberdade e o coração do homem serão o campo de batalha entre os dois grandes contendores: o Maligno e Deus. Desde agora, porém, já é dito quem será o vencedor” (1)
Na passagem da segunda Leitura (2 Cor 4, 13-5,1), o Apóstolo nos fala da centralidade e fundamento de nossa fé: a Ressurreição, que confere o verdadeiro sentido à vida cristã, para que não se perca diante do que for efêmero, e tão pouco desanimar diante das incompreensões e dificuldades, aprofundando a coerência exigida daqueles que se propõem a ser discípulos de Jesus Cristo (2).
O Evangelista Marcos nos apresenta, na passagem do Evangelho (Mc 3, 20-35), a condição para pertencermos à família de Deus: fazer a Sua vontade e reconhecer Jesus como enviado do Pai, que realizou plenamente a Sua vontade.
Com a chegada de Jesus, inicia-se um novo tempo, porque “Ele é o Santo de Deus”. Ele veio “impor silêncio aos espíritos malignos, derrotá-los e acabar com o seu domínio. Ele revela com autoridade a vontade de Deus. Os que a cumprem são Seus irmãos e membros, com Ele, da família de Deus” (3).
A mensagem evangélica apresenta três diálogos de Jesus, sendo dois deles com Seus familiares e um com os escribas.
De modo especial, em relação aos diálogos com os familiares, Jesus nos apresenta a exigência para pertencer à Sua família: fazer a vontade de Deus, como Ele mesmo o disse:
“E olhando para os que estavam sentados ao Seu redor, disse: ‘Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe’” (Mc 3, 34).
No diálogo com os mestres da Lei, que tinham vindo de Jerusalém, é acusado de ser possuído por Belzebu, o príncipe dos demônios, e que por meio deste expulsava os demônios.
O fechamento à ação de Jesus revelava-se como blasfêmia contra o Espírito, que nunca poderá ser perdoada. A ação de Jesus é a plena manifestação do Espírito Santo, que sobre Ele pousava e continuará pousando sobre a Sua Igreja.
Cabe-nos reconhecer a força e ação do Espírito a agir em nós, para nos libertarmos das amarras do pecado. Somente Jesus tem Palavra de Vida Eterna, e somente Sua Palavra, acolhida com fé e vivida, nos faz verdadeiramente livres, pois Ele é a Verdade que nos liberta.
“A mensagem da Liturgia da Palavra está cheia de esperança: não há pecado pessoal ou universal que não possa encontrar o perdão de Deus, melhor, a alegria do Seu perdão: não há história de pecado pessoal ou original que não possa tornar-se história de salvação, graças ao Médico Divino que veio curar todos os doentes do corpo ou do espírito. Jesus é o redentor e o salvador de todos e de cada um, de cada pecado e de todos os pecados”. (4)
Dando mais um passo em nossa caminhada de fé, renovemos nossa fidelidade ao Senhor, suplicando o perdão de nossos pecados, para que, uma vez amados e perdoados, com alegria e ardor, coloquemo-nos diante de Deus, em relação de temor e piedade, para participar da construção do Seu Reino de amor e vida plena, e deste modo, Paraíso não será sinônimo de algo perdido, uma página virada do passado, mas sempre uma nova página a ser escrita, na obediência, amizade, intimidade com Ele.
Oremos:
“Pai Santo, que nos enviastes Vosso Filho para nos libertar da escravidão de Satanás, amparai-nos com as armas da fé, para
que no combate cotidiano contra o Maligno,
tomemos parte na vitória Pascal. Amém.” (5).
(1) Lecionário Comentado - Tempo Comum – Ed Paulus - p.463
(2) (4) (5) Idem p.466
(3) Missal Quotidiano e Dominical – Paulus – p.1397