sábado, 8 de junho de 2024

O coração do Padre à luz dos mais Belos Corações!

                                                         

O coração do Padre à luz dos mais Belos Corações!

Retomo esta reflexão que fiz, por ocasião do encerramento do Ano Sacerdotal (2009-2010), por sua pertinência, para que tenhamos Presbíteros conforme o Coração de Jesus.

O Lema que o motivou ressoará para sempre no coração de cada Sacerdote e no coração de todo o Povo de Deus: “Fidelidade de Cristo, fidelidade do Sacerdote”, bem como a célebre frase do Padroeiro de todos os Padres: “O Sacerdote é o amor do Coração de Jesus” – São João Maria Vianney.

É preciso tornar o coração do Presbítero semelhante aos mais Belos Corações: O Imaculado Coração de Maria e o Dulcíssimo Sagrado Coração de Jesus, e assim o lema e a frase acima encontrem conteúdo e iluminem o seu caminhar.
  
A exemplo de Maria deve ter: 

- um coração pleno de ternura, para ser sinal d’Aquele que é Fonte de toda ternura;
- um coração radiante porque se nutre Daquele que é a Fonte dos bens mais necessários;

- um coração alegre, porque servidor Daquele que é Fonte da plena alegria;
- um coração pleno de esperança, porque a reacende na Fonte da preciosa e eterna chama que jamais se apaga;

- um coração transparente, para revelar ao mundo a Face Divina, em perfeita configuração ao Cristo, em envolvente relação de apaixonamento;
- um coração singelo e meigo, para acolher no coração a Semente do Verbo, em que flores e frutos do Reino abundantemente se multiplicam;

- um coração que perdoa, porque servo do perdão que vem Daquele que da humanidade é Fonte de redenção;

- um coração com marcas da solidariedade, porque aprendiz e servidor da Solidariedade Divina, que não consentiu que ficasse para sempre decaída a humanidade pelo pecado;
- um coração pleno de virtudes, porque enriquecido por Aquele do qual procede todos os carismas, virtudes em infinidade;

- um coração plenamente livre, porque ama, testemunha o Evangelho Daquele que é a Verdade que nos Liberta;
- um coração iluminado, pleno de luz, porque é sinal d’Aquele que das nações é a Eterna Luz;

- um coração cristalino, porque sacia sua sede Naquele que é Fonte de toda Água cristalina!
- um coração inebriante, porque  se nutre do mais puro Pão, do Sangue d’Aquele que na Cruz, abundantemente derramou. Sangue inebriante, que nos redime e inebria, presente na Eucaristia!

Deste modo será apaixonado pela vida, porque servidor d'Aquele que dela é Fonte, e por isto amante e defensor da sacralidade da vida, portadora da imaculada e inviolável dignidade.

Deste modo, viverá o Puro Amor, amando a humanidade como Aquele que a humanidade, até o fim amou, com um coração indiviso à vontade Divina, para servir e consagrar Aquele que foi Todo fidelidade a Deus!São estes, entre outros, os compromissos que devem estar enraizados em seu coração, ocupando as entranhas de sua alma...

É imperativo que o sacerdote tenha um coração semelhante ao Imaculado Coração de Maria, porque somente assim ele será o amor do Coração do Filho, o amor do Coração de Jesus!  Somente assim poderá, revigorado a cada dia em seu Ministério, ser da massa o fermento, da terra o sal, do mundo um raio de luz! 

No coração de Maria, o fogo da caridade inflamava...

                                                         

No coração de Maria, o fogo da caridade inflamava...

À luz do Sermão do Bispo São Lourenço Justiniano  (Séc. XVIII), contemplemos  o Imaculado Coração de Maria.

“Maria refletia consigo mesma em tudo quanto tinha conhecido, através do que lia, escutava e via; assim, progredia de modo admirável na fé, na sabedoria e em méritos, e sua alma se inflamava cada vez mais com o fogo da caridade!

O conhecimento sempre mais profundo dos Mistérios celestes a enchia de alegria, fazia-lhe sentir a fecundidade do Espírito, a atraía para Deus e a confirmava na sua humildade.

Tais são os efeitos da graça divina: eleva do mais humilde ao mais excelso e vai transformando a alma de claridade em claridade.

Feliz o coração da Virgem que, pela luz do Espírito que nela habitava, sempre e em tudo obedecia à vontade do Verbo de Deus.

Não se deixava guiar pelo seu próprio sentimento ou inclinação, mas realizava, na sua atitude exterior, as insinuações internas da sabedoria inspiradas na fé.

De fato, convinha que a Sabedoria de Deus, ao edificar a Igreja para ser o templo de Sua morada, apresentasse Maria Santíssima como modelo de cumprimento da lei, de purificação da alma, de verdadeira humildade e de sacrifício espiritual.

Imita-a tu, ó alma fiel! Se queres purificar-te espiritualmente e conseguir tirar as manchas do pecado, entra no templo do teu coração.

Aí Deus olha mais para a intenção do que para a exterioridade de tudo quanto fazemos.

Por isso, quer elevemos nosso espírito à contemplação, a fim de repousarmos em Deus, quer nos exercitemos na prática das virtudes para sermos úteis ao próximo com as nossas boas obras, façamos uma ou outra coisa de maneira que só a caridade de Cristo nos impulsione.

É este o sacrifício perfeito da purificação espiritual, que não se oferece em templo feito por mão humana, mas no templo do coração onde Cristo Senhor entra com alegria”. (1)

Entremos em Oração contemplando aquela que teve o coração puro, totalmente aberto e disponível para Deus, em perfeita sintonia e comunhão com o Coração de seu Filho!

Que o nosso coração, também puro seja, e bata na perfeita sintonia com mais Belos Corações!

Aquecidos e iluminados pelo Fogo da Caridade, pelo Fogo do Espírito, também seja ricamente inflamado, para que Templos do Eterno, correspondamos em palavras e ações, por nos ter divinizado. Amém!


(1) Liturgia das Horas Vol. III – pág. 1330-1331.

Iluminando as profundezas de nosso coração

                                                             

Iluminando as profundezas de nosso coração

Meditemos sobre o Imaculado Coração de Maria, memória litúrgica obrigatória para todos os católicos desde 1996, conforme definição do Papa São João João Paulo II.  

Meditando sobre seu Imaculado Coração, a profundeza de nosso coração ficará iluminada, pois mergulharemos num abismo de pureza e luz, graça e paz...

A promoção desta devoção litúrgica começou em 1648, com São João Eudes. O Papa Pio VII, em 1805, autorizou a celebração da Festa Litúrgica. Na revelação de Fátima, a devoção se fortaleceu. Em 1942 Pio XII consagrou o mundo ao Imaculado Coração de Maria.

Finalmente o Papa João Paulo II, em 1984, voltou a consagrar o mundo todo ao mesmo Imaculado Coração.

O Imaculado Coração da Mãe conduz ao Sagrado Coração do Filho, pois “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8).

Maria, pela pureza de coração, preservada do pecado e possuidora de absoluta fidelidade ao Projeto Divino, contempla a face de Deus. Seu Coração não se dividiu entre o querer de Deus e vontades próprias: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim a Vossa vontade!”.

O mundo jamais conheceu quem tamanha pureza de coração possa ter; e por isto cremos, piamente, que ela vê a Deus e nos aponta o caminho para até Ele chegar.

O Imaculado Coração de Maria está em profunda sintonia com o Sagrado Coração de Jesus, porque ambos expressam o abismo de amor e fidelidade ao Pai. São ligados pela graça do Espírito Santo, tanto no tempo como na eternidade.

O Coração de Maria bate em sintonia com o Coração do Filho; o Coração do Filho bate em sintonia com o coração da Mãe. Não houve, até então, mais perfeita sintonia, reveladora da mais perfeita harmonia.

Somente numa afinação com estes dois Corações é que nosso coração conhecerá o gozo, a alegria, a paz, a felicidade tão almejada, mas em tantos caminhos errados procurados...

Imaculado Coração de Maria aponta para o Sagrado Coração, fornalha ardente de Caridade, do qual nascemos; do qual nos alimentamos. Coração trespassado pela lança do qual jorrou Sangue e Água (Jo 19,34).

Contemplar o Imaculado Coração de Maria é ter certeza de que a pureza nos levará ao fim sem fim: a eternidade, experimentando no tempo presente o gosto de eternidade, pois como disse Santo Agostinho: “lá descansaremos e veremos, veremos e amaremos, amaremos e louvaremos. Eis a essência do fim sem fim. E que outro fim mais nosso que chegarmos ao reino que não terá fim?” (cf CIC. 1720).

Imaculado Coração de Maria, como grande Arca da Aliança, depósito de sabedoria, espaço do recolhimento, da meditação, da contemplação, da procura incansável dos Mistérios e desígnios divinos.

No mais profundo de seu ser as virtudes apreciadas pelo Senhor, geradoras de novos pensamentos, sonhos e atitudes... Abismo de virtudes e atitudes: contemplação, acolhida, caridade, simplicidade, humildade, misericórdia, amor a Deus vivenciado nas relações quotidianas de fraternidade e ternura, esperança contra toda falta de esperança.

Fixemos nosso olhar no Imaculado Coração de Maria, inevitavelmente chegaremos até o Coração de Seu Filho. Seremos renovados na fidelidade do Evangelho, revigorados no Batismo, nutridos pela Eucaristia, saborearemos o gosto do céu, gosto de eternidade, o gosto do amor.

Pureza de coração é condição para se chegar até Deus, porque a pureza na terra nos aproxima de Deus, no amor que passa pelos pobres. 

Como disse o Papa Bento XVI, em sua Encíclica  "Deus Caritas est": “o amor ao próximo é também uma estrada para chegar até Deus. Não amar o próximo é tornar-se cego de Deus”.

Meditando sobre o Imaculado Coração de Maria,
a profundeza de nosso coração ficará iluminada,
pois mergulharemos num abismo
de pureza e luz, graça e paz…

sexta-feira, 7 de junho de 2024

Em poucas palavras...

                                                 


“Maravilhosa aventura da oração e da fé”

“Para que a oração possa obter os resultados surpreendentes da fé, é necessário que, antes, se perdoe aos inimigos; caso contrário, a oração não será ouvida.

Israel perdera a sua fecundidade religiosa porque, explorando o povo simples no templo de Deus, não amava a humanidade e não podia, por conseguinte, correr o risco da maravilhosa aventura da oração e da fé.” (1)

(1) Comentários à Bíblia Litúrgica – Editora Gráfica Coimbra 2 – Editora Paulus – Palheira – pp.1008-1009 – sobre a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 11,11,-26)

Em poucas palavras...

 


“Os leigos realizam a sua missão profética também pela evangelização...”

“Os leigos realizam a sua missão profética também pela evangelização, «isto é, pelo anúncio de Cristo, concretizado no testemunho da vida e na palavra». Para os leigos, «esta ação evangelizadora [...] adquire um carácter específico e uma particular eficácia, por se realizar nas condições ordinárias da vida secular» (Vaticano II – Lumen Gentium n.35).

«Este apostolado não consiste só no testemunho da vida: o verdadeiro apóstolo procura todas as ocasiões de anunciar Cristo pela palavra, tanto aos não-crentes [...] como aos fiéis» (Vaticano II Decr. Apostolicam actuositatem, 6: AAS 58 (1966) 843: cf. Id, Decr. Ad gentes, 15: AAS 58 (1966) 965.).”

 

(1) Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 905

“Carta Apostólica Totum Amoris Est” - “Tudo pertence ao amor” (Síntese)

 


“Carta Apostólica Totum Amoris Est” - “Tudo pertence ao amor 

Uma síntese da Carta Apostólica escrita pelo Papa Francisco, em 28 de dezembro de 2022, quando se celebrou o IV Centenário da Morte de São Francisco de Sales, bispo e doutor da Igreja.

O título “Tudo pertence ao amor”, é a expressão do grande legado espiritual por ele deixado, afirma o Papa ao iniciar a Carta.

São Francisco de Sales nasceu no dia 21 de agosto de 1567, na Província de Savoia, no castelo de Sales, foi ordenado Sacerdote em 18 de dezembro de 1593, e ordenado bispo em 8 de dezembro de 1602, morreu no dia 28 de dezembro de 1622

O Papa Francisco menciona e desenvolve a Carta a partir do célebre “Tratado do Amor de Deus”, e para São Francisco de Sales, não havia melhor lugar para encontrar Deus e ajudar a procurá-lo, do que no coração de cada mulher e homem do seu tempo, afirma o Papa Francisco.

No Prefácio do Tratado, encontra-se uma síntese do seu modo de proceder: “Na santa Igreja, tudo pertence ao amor, vive no amor, faz-se por amor e vem do amor”.

A caridade e o amor é que dão valor às nossas obras, e sua vida e escritos assim expressaram, de modo que, não foi por acaso que São João Paulo II o chamava de “Doutor do amor divino”.

Possuía dotes de mediador, como homem do diálogo, e revelou-se inventor de práticas pastorais originais e ousadas, como os famosos «panfletos», afixados por todo o lado e até metidos por baixo da porta das casas.

Deu-se conta de uma verdadeira «mudança de época», à qual era preciso responder através de linguagens antigas e novas.

São Francisco de Sales, controversista hábil e incansável, ia-se transformando, pela graça, num sagaz intérprete do tempo e extraordinário diretor de almas.

Além de “Tratado do Amor de Deus”, também escreveu a “Introdução à Vida Devota”, somado a milhares de cartas de amizade espiritual.

Sobre São Francisco de Sales, assim falou o Papa Bento XVI: “É apóstolo, pregador, escritor, homem de ação e oração; comprometido na realização dos ideais do Concílio de Trento; empenhado na controvérsia e no diálogo com os protestantes, experimentando cada vez mais, para além do necessário confronto teológico, a eficácia da relação pessoal e da caridade; encarregado de missões diplomáticas a nível europeu e de tarefas sociais de mediação e de reconciliação”.

Seu apostolado ilumina o nosso tempo na edificação de uma Igreja não autorreferencial, liberta de toda a mundanidade, mas capaz de habitar no seio do mundo, partilhar a vida das pessoas, caminhar juntos, escutar e acolher; a fim de que saiamos da preocupação excessiva conosco, com as estruturas, a imagem social, perguntando antes quais são as necessidades concretas e as expectativas espirituais de nosso povo, afirma o Papa Francisco, retomando citações da Evangelli Gaudium.

Os seus escritos, além do que se disse, é um convite para que nos abramos, com confiança, às asas ao Espírito, e assim, façamos os voos necessários, pois a graça de Deus não nos torna passivos, mas protagonistas e concriadores.

Também nos ajuda na compreensão da falsa e verdadeira devoção, que é o caminho da perfeição e santidade para todos (como veremos, séculos depois, claramente expresso na Lumen Gentium – Concílio Vaticano II, sobre a vocação universal à santidade).

Na “Introdução à Vida Devota”, São Francisco define a falsa devoção, e, segundo o Papa, não é difícil nela nos revermos, pois é uma descrição graciosa e sempre atual:

Quem se consagra ao jejum, pensará que é devoto porque não come, enquanto tem o coração cheio de rancor; e enquanto não se permite banhar a língua no vinho e nem sequer na água por amor da sobriedade, não sentirá qualquer escrúpulo em mergulhá-la no sangue do próximo com a maledicência e a calúnia. Outro pensará que é devoto porque bisbilha todo o dia uma série interminável de orações; e não dará peso às palavras más, arrogantes e injuriosas que a sua língua lançará, no resto do dia, aos servos e vizinhos. Outro ainda levará de bom grado a mão à carteira para dar esmola aos pobres, mas não conseguirá extrair do coração uma migalha de doçura para perdoar os inimigos; e outrem, por sua vez, perdoará aos inimigos, mas pagar as dívidas nem lhe passará pela cabeça; será preciso o tribunal.”

À luz dos seus escritos, o Papa reflete sobre o êxtase da vida, de modo que, para São Francisco, a vida cristã nunca acontece sem êxtase e, todavia, o êxtase não é autêntico sem a vida.

Deste modo, São Francisco de Sales, com uma imagem muito bela, descreve no mencionado Tratado, o Calvário como “o monte dos enamorados” – lá e somente lá, se compreende que “não é possível ter a vida sem o amor, nem o amor sem a morte do Redentor; mas, fora de lá, tudo é morte eterna ou amor eterno, e toda a sabedoria cristã consiste em saber escolher bem”.

Encerra a carta citando o final do seu Tratado, que é a conclusão de um discurso de Santo Agostinho sobre a caridade:

“Que há de mais fiel que a caridade? Fiel não ao efêmero, mas ao eterno. Ela tudo suporta na vida presente, pela simples razão que acredita em tudo sobre a vida futura: suporta todas as coisas que aqui nos são dadas suportar, porque espera tudo o que lhe foi prometido lá. Justamente nunca acaba. Por isso praticai a caridade e produzi, meditando-a santamente, frutos de justiça. E se encontrardes, em louvor dela, outras coisas que não vos tenha dito agora, que isso se veja no vosso modo de viver”.

Finalmente, o Papa nos convida a crescer em sua devoção a São Francisco de Sales, e contar com sua intercessão, a fim de que sejam derramados, abundantemente, os dons do Espírito no caminho do santo Povo fiel de Deus.

 

 

PS: Desejando ler a mensagem na integra, acesse:

https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_letters/documents/20221228-totum-amoris-est.html

Neste Coração manso e humilde...(SCJ)

                                                       

Neste Coração manso e humilde...

"Vinde, pois, e aprendei de mim,
que sou manso e humilde de coração!"

Reflitamos sobre o Sagrado Coração de Jesus, à luz da passagem do Evangelho de Mateus (Mt 11,25-30).

Retomemos o  Sermão do Bispo São João Crisóstomo (séc. IV), que nos fala sobre a humildade e mansidão de coração de Nosso Senhor.

“Vês, amante de Cristo, quanta seja a misericórdia do Criador para conosco?

Vês como nas mesmas ameaças brilha a benignidade? Vês como Sua misericórdia se antecede a Sua indignação? Vês como o castigo é superado pela bondade?

Isto não é maravilhoso! Porque Ele mesmo é manso e benigno Senhor nosso, e solícito, como é de Seu costume, de nossa salvação, que claramente nos fala no Evangelho, como a pouco nos fazia quando nos lia:

Vinde a mim e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração! Quanto Se abaixa o Criador, e, apesar disso, a criatura não O reverencia!

Vinde e aprendei de mim!, disse o Senhor quando veio aos Seus servos para consolá-los em suas quedas. Assim Cristo Se porta conosco, e assim nos demonstra a Sua misericórdia.

Quando convinha castigar os pecadores e acabar com sua espécie que O irritou, justamente então Se dirige aos réus com Palavras brandas e lhes diz:

Vinde e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração! Deus Se humilha e o homem se ensoberbece!

Manso é o juiz e soberbo o réu! Humilde voz lança o artífice, e o barro fala como se fosse algum rei! Ó, vinde e aprendei de mim, que Sou manso e humilde de coração!

Não vos curvaram os acontecimentos anteriores; não vos amansaram os que logo se seguiram; nem finalmente os que ao pouco sobrevieram!

Porém Ele, como então, também agora, uma vez que fez tremer as criaturas, logo as pacificou com a Sua misericórdia. Vinde, pois, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração!

Ele não vem com chicote para açoitar, mas com nossa natureza para curar! Vinde e vede Sua inefável bondade!

Quem não ama ao amo que não açoita? Quem não se admira do juiz que suplica ao réu? Te enches completamente de admiração a humildade de Suas Palavras?

Sou Artífice e amo a minha obra! Eu sou Obreiro e perdoo aquele que Eu mesmo inventei! Se eu uso do supremo direito que me dá minha dignidade, não levantarei a humanidade caída; e como ela padece de uma enfermidade incurável, se não uso de remédios suaves, ela não poderá se curar!

Se não trato a humanidade e a pessoa humana com benignidade, perece! Se somente uso de ameaças, perde-se! Por isto, aplico, como a quem está caído, medicamentos de suavidade. Abaixo-me ao máximo na comiseração para levantá-la de sua queda!

Aquele que está em pé não consegue levantar ao caído se não abaixar sua mão. Pois vinde e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração! Não falo para ostentação: pelos fatos vos dei experiência. Que Eu seja manso e humilde de coração, podes deduzir do estado em que me vês e ao qual Eu vim.

Analisa minha forma e qual seja minha dignidade: medita-o e adora-me! Por ti me humilhei! Pensa de que lugar desci e em que lugar falo contigo.

Sendo o céu meu trono, agora falo contigo na terra. Nas alturas sou glorificado, porém, como magnânimo, não me encolerizo, porque sou manso e humilde de coração!

Se Eu não fosse um manso Filho do Rei, não teria escolhido por mãe uma serva. 

Se Eu não fosse manso, o Artífice das substâncias visíveis e invisíveis, não teria me desterrado aqui convosco.

Se não fosse manso, não teria estado Eu, o Pai do século futuro, envolto em pano.

Se não fosse manso, não teria suportado a pobreza do presépio, Eu que possuo todas as riquezas de todas as criaturas.

Se não fosse manso, não me teria encontrado entre animais, Eu a quem os querubins não ousam olhar.

Se Eu não fosse manso, que com minha saliva dou vista aos cegos, jamais teria sido cuspido pela boca de homens maus.

Se não fosse manso, nunca teria tolerado a bofetada de um servo, Eu que sou quem dá liberdade aos servos.

Se não fosse manso, jamais teria apresentado minhas costas aos açoites em benefício dos escravos.

Mas por que não digo o que é ainda maior?

Se eu não fosse manso, nunca teria carregado a dívida de morte, Eu que nada devia, em lugar daqueles que deviam padecê-la.” (1)

Concluindo, a mansidão do Senhor e o Seu Amor dão “vertigem”, porque ultrapassam todas as medidas, parâmetros, lógicas humanas.

Neste Coração manso e humilde, o discípulo amado recostou sua cabeça, e também nós, podemos fazer quantas vezes quisermos, para que nos sintamos amados, perdoados, e renovados para carregar, com fidelidade e coragem, nossa cruz.

Neste Coração manso e humilde encontramos espaço, porque dilatado na Cruz, para que nele coubéssemos.

Neste Coração manso e humilde, encontramos forças para alcançarmos a vida plena e digna já, nesta travessia por que passamos, até que um dia possamos na glória dos céus, entrar, e a face do Pai contemplar, na plena comunhão do Espírito, vivendo e crendo em Jesus, que Se fez o Caminho, a Verdade e a Vida.

Neste Coração manso e humilde, enfermos renovam forças; desesperados reencontram a esperança; os fracassos superados seguidos de vitórias; entristecidos reencontram a alegria; aflitos reencontram a paz; pecadores, a pureza de alma; ansiosos, a serenidade; dependentes, a sobriedade; os apáticos e indiferentes se libertam destas amarras em sadios compromissos com a Boa Nova do Reino.

Neste Coração manso e humilde...



(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – pp. 267-268.

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