quinta-feira, 6 de junho de 2024

O duplo Preceito do Amor

                                                     

O duplo Preceito do Amor

“Ama, pois, o teu próximo e procura
no teu íntimo a origem deste Amor...”

Amor a Deus e ao próximo,
duplo Preceito indissociável


Reflexão à luz do “Tratado sobre o Evangelho de São João”, escrito por Santo Agostinho (séc. V), sobre o duplo Preceito da Caridade, que nos torna verdadeiramente promotores da paz, realizando uma das Bem-Aventuranças que o Senhor, na Sagrada Montanha, nos apresentou - "Bem-Aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus" (Mt 5,9).

“Veio o Senhor, mestre da caridade, cheio de caridade, cumprir prontamente a Palavra sobre a terra (cf. Rm 9,28 Vulg.), como d’Ele foi anunciado, e sintetizou a Lei e os Profetas nos dois preceitos da caridade.

Recordai comigo, irmãos, quais são esses dois Preceitos. É preciso que os conheçais profundamente, de tal modo que não vos venham à mente só quando vo-los lembramos, mas os conserveis sempre bem gravados em vossos corações. 

Recordai-vos em todo momento de que devemos amar a Deus e ao próximo: a Deus de todo o nosso coração, de toda a nossa alma, e de todo o nosso entendimento; e ao próximo como a nós mesmos (cf. Mt 22,37-39).

Esses dois Preceitos devem ser sempre lembrados, meditados, conservados na memória, praticados, cumpridos. O amor de Deus ocupa o primeiro lugar na ordem dos Preceitos, mas o amor do próximo ocupa o primeiro lugar na ordem da execução. Pois, quem te deu esse duplo preceito do amor, não podia ordenar-te amar primeiro ao próximo e depois a Deus, mas primeiramente a Deus e depois ao próximo.

Entretanto, tu que ainda não vês a Deus, merecerás vê-Lo se amas o próximo; amando-o purificas teu olhar para veres a Deus, como afirma expressamente São João: 'Quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê '(1Jo 4,20).

Ouviste o Mandamento: Ama a Deus. Se me disseres: 'Mostra-me a quem devo amar', que responderei senão o que disse o mesmo São João: A Deus, ninguém jamais viu? (Jo 1,18). E para pensares que está absolutamente fora de teu alcance ver a Deus, o mencionado Apóstolo afirma: 'Deus é Amor: quem permanece no amor, permanece com Deus '(1Jo 4,16). Ama, pois, o teu próximo e procura no teu íntimo a origem deste amor; lá verás a Deus o quanto agora te é possível.

Começa, portanto, a amar o próximo. Reparte o pão com o faminto, acolhe em casa o pobre sem abrigo; quando encontrares um nu, cobre-o, e não dês as costas ao teu semelhante (cf. Is 58,7).

Procedendo assim, o que alcançarás? Então brilhará a tua luz como a aurora (Is 58,8). Tua luz é o teu Deus; Ele é a aurora que despontará sobre ti depois da noite desta vida. Essa luz não conhece princípio nem ocaso, porque existe eternamente.

Amando o próximo e cuidando dele, vais percorrendo o teu caminho. E para onde caminhas senão para o Senhor Deus, para Aquele que devemos amar com todo o nosso coração, com toda a nossa alma, de toda a nossa mente? É certo que ainda não chegamos até junto do Senhor; mas já temos conosco o próximo. Ajuda, portanto, aquele que tens ao lado, enquanto caminhas neste mundo, e chegarás até junto d’Aquele com quem desejas permanecer para sempre.”

A dupla face do Mandamento do Amor que o Senhor nos deixou: amar a Deus e ao próximo. 

E nós os vivemos:

Quando não ilhamos os dois amores.
Quando não os esvaziamos de conteúdos.
Quando não os tornamos apenas teorias.
Quando não os dissociamos do Mistério da Cruz.

Quando damos a eles matizes Pascais.
Quando sabemos viver renúncias, desapegos...
Quando temos coragem de morrer por algo melhor.
Quando o coração plenificado do Amor Divino
Se visibiliza em pequenos e grandes gestos solidários.

Quando não nos curvamos diante dos pecados capitais
Que roubam a beleza da vida, porque nos escravizam.
Quando pautamos nossa vida pelos dons do Santo Espírito,
Que se vividos, acolhidos, nos humanizam, divinizam.

Espírito que na criatura, em Mistério insondável habita,
Divinizados nos fez, semente da eternidade nos concedeu.
Se imagem de Deus convicção tivermos de que somos,
Empenho pela paz fará mais belo um mundo novo possível. Amém.

“O amor não fala. O amor ama”

                                                       


“O amor não fala. O amor ama”

"Dou-vos um novo mandamento: Amai-vos uns aos outros.
Como Eu vos tenho amado, assim também vós deveis
amar-vos uns aos outros'' (Jo 13, 34) 

Vejamos o que diziam os padres do deserto sobre o “amor”:

“Perguntaram-lhe a um grande mestre:
Quando o amor é verdadeiro?
Quando é fiel – foi a resposta.
E quando é profundo?
Quando é sofredor – foi a resposta.
E como fala o amor?
A resposta foi:
O amor não fala.
O amor ama”. (1)

Reportemo-nos ao “Tratado sobre o Evangelho de São João”, do Bispo Santo Agostinho, para que melhor vivamos o duplo Preceito da Caridade, que nos torna verdadeiramente promotores da paz, realizando uma das Bem-Aventuranças que o Senhor, na Sagrada Montanha, nos apresentou, amando como Ele nos amou, e assim viver o Novo Mandamento que nos deu.

“Esses dois Preceitos devem ser sempre lembrados, meditados, conservados na memória, praticados, cumpridos. O amor de Deus ocupa o primeiro lugar na ordem dos Preceitos, mas o amor do próximo ocupa o primeiro lugar na ordem da execução. Pois, quem te deu esse duplo preceito do amor não podia ordenar-te amar primeiro ao próximo e depois a Deus, mas primeiramente a Deus e depois ao próximo”.

O Papa Bento XVI, em sua Encíclica “Deus caritas est”, assim afirmou:

“O amor ao próximo é também uma estrada que conduz a Deus. Não amar o próximo é tornar-se míope de Deus”.

Oremos:

Ó Deus de Amor, suplicamos o Vosso Espírito Santo, Espírito de Amor, para que vivamos um amor verdadeiro, fiel, profundo e sofredor, para que mais configurados ao Vosso Filho vivamos a fidelidade aos ensinamentos e Mandamento do Amor que Ele nos deu, curados de toda a miopia espiritual, e assim, a Trindade amar na primeira ordem dos preceitos e ao próximo em primeiro lugar na ordem da execução. Amém.



(1) Teologia da Ternura – Um “Evangelho a descobrir” – Ed. Paulus – 2002 – p.72

“A messe é grande, poucos são os operários”

“A messe é grande, poucos são os operários”

“Pois é claro que são vocês uma carta de Cristo, redigida por nós, escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo,
não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne,
nos corações” (2 Cor 3,3).

Inspirado nas Palavras do Apóstolo Paulo, quatro anos passado, glorifiquei a Deus pelo Jornal Voz Viva que chegava à sua centésima Edição.

A plena abertura ao sopro do Espírito do Deus possibilita que em nosso Jornal sejam impressos artigos, reflexões, reportagens, enfim, temas diversificados que nos ajudam a solidificar nossa fé, reavivando nossa esperança, inflamando a chama da caridade como discípulos missionários do Filho Amado do Pai.

Nas reuniões preparatórias, no fechamento da edição, na diagramação e envio à gráfica, até que chegue às nossas mãos, sentimos como que um “parto”, fecundado pelo Espírito Santo, recordando à Igreja as Palavras de Cristo (Jo 14,26).

Como tantos acontecimentos que testemunhamos na Igreja, o Jornal Voz Viva nos remete ao milagre da multiplicação dos cinco pães e dois peixes: Não são muitos em sua produção, – como bem lembrou o Senhor – “A messe é grande, poucos são os operários”.

De modo especial, glorifico a Deus pela Pastoral da Comunicação de nossa Paróquia, e a todos que de tantas formas contribuem para o êxito de nosso Jornal.

Que o Jornal Voz Viva continue cumprindo o objetivo a que se propõe: evangelizar, anunciar a Boa Nova do Evangelho a toda criatura, em todos os âmbitos, na Igreja e em todo lugar.



PS: Depoimento para o jornal “Voz Viva” – Paróquia Santo Antônio de Gopoúva - Diocese de Guarulhos - SP - Edição nº100. 

quarta-feira, 5 de junho de 2024

A esperança no Senhor não nos decepciona


 

A esperança no Senhor não nos decepciona

Somos peregrinos da esperança, incansáveis, e não podemos estagnar, tão pouco retroceder, pois como nos falou o Apóstolo - “E a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).

Anunciamos e testemunhos Aquele que é a divina fonte de toda esperança, e na fidelidade a Ele, que  nos chamou, não pelos nossos méritos, avançando para águas mais profundas (Lc 5,1-11), atravessando os mares agitados pelos ventos do cotidiano, com seus nomes tantos.

Peregrinos da esperança:

- voaremos nas asas do Espírito, na busca das coisas do alto onde habita Deus (cf 3,1-4); e testemunharemos as virtudes divinas que nos movem: fé, esperança e caridade;

- desabrocharemos, teimosamente, onde nada se pode esperar, assim como Abraão que esperou contra toda a esperança, acreditou e se tornou pai de muitos povos, conforme lhe fora dito (cf. Rm 4,180);

- floresceremos na aridez do deserto da cidade, com seus cenários, ora com sua bela, ora nem tanto assim: flores de solidariedade, amizade, compaixão, proximidade e fraternidade;

- viveremos a graça de sermos jardineiros do criador e cuidaremos da Casa Comum, tão vilipendiada por insanos desejos de lucro que se sobrepõem à sacralidade da condição humana, com suas consequências multiplicadas;

- testemunharemos a graça do batismo, renovando nossas forças na Mesa Sagrada da Palavra e da Eucaristia, Santíssimo Alimento, que nos veio do coração trespassado do Senhor. (Jo 19,31-37). Amém.

Oro ao Pai...


 

Oro ao Pai...


Oro ao Pai, por Cristo, no Espírito, como nos ensina a Igreja,
Confiante na onipotência da misericórdia divina,
Para que não desistas de teus sonhos e sigas em frente.
 
Oro ao Pai, por Cristo, no Espírito,
Para que tuas “asas” por vezes feridas, pelas decepções,
Sejam curadas para os voos da persistência.
 
Oro ao Pai, por Cristo, no Espírito,
para que sejas persistente nos santos esforços,
na edificação e santificação de tua família.
 
Oro ao Pai, por Cristo, no Espírito,
Para que quando as portas parecerem para sempre fechadas,
Encontres janelas, onde raios da esperança divina entrem.
 
Oro ao Pai, por Cristo, no Espírito,
Para que teu agir seja conduzido pelas virtudes cardeais:
prudência, justiça, fortaleza e temperança.
 
Oro ao Pai, por Cristo, no Espírito,
Para que em teu coração, como um espaço do jardim do Criador,
Fecundem as sementes das virtudes divinas: fé, esperança e caridade.
 
Oro ao Pai, por Cristo, no Espírito,
Para que a luz do Senhor ilumine teus caminhos,
A Eucaristia, Divino Alimento, Pão para o peregrinar. Amém.
 

Pássaro enlameado

                                                            

Pássaro enlameado

“Como cantar o cântico do Senhor
em terra estranha?
(Sl 137,4)

Já não há como voar, quando se está enlameado.
Sinto em minhas asas um peso que nunca senti.
Não há mais alturas a alcançar.
Haverá razões para voltar a cantar?

O ninho que tecia sem pressa,
Já não sei mais onde se encontra,
E nem tenho porque mais tecer,
Pois não há mais filhotes a alimentar.

Sou apenas um pássaro enlameado,
Vítima tão frágil de um deus voraz
Que a outros pássaros enterrou,
Na ambição desmedida e criminosa.

Meu canto é de dor e lamento
Pelas vidas humanas sacrificadas,
Centenas de falecidos e desaparecidos;
Aos lamentos que sobem aos céus, uno o meu.

Meu canto é de dor e profecia,
Pois a quem foi confiado nossa casa comum,
Haverá de reaprender o valor sagrado da vida,
Que em nada pode ser submetido e subtraído.

Meu canto é de dor e esperança,
Que nunca mais haverá pássaros enlameados,
E os cantos soarão como bela sinfonia na mata
E crianças, jovens e idosos, com sorrisos e a mesa farta.

Embora seja apenas um pássaro enlameado,
Estou unido no mistério de dor e paixão
De tantos corações doloridos.
É tempo de revigorar as asas e voltar a cantar.

Pássaro enlameado compadecido,
Canto meu canto de dor, lamento, profecia e esperança
De que um dia acordaremos e cantaremos juntos:
Nasceu novo dia, sem resquícios de insana idolatria.

PS: Em 25 de janeiro de 2019, aconteceu um dos maiores desastres ambientais no Brasil, o rompimento da barragem de Brumadinho-MG, provocando 252 mortes.

Escrevi este poema, expressando minha solidariedade com a dor de seus familiares, somado às orações por todos os mortos.

"Fiquemos firmes no combate”

                                                                 

"Fiquemos firmes no combate”

São Bonifácio, cujo nome significa aquele que realiza boas ações, foi Bispo e mártir da Igreja, exemplo de Pastor solícito, vigilante no cuidado do rebanho de Cristo a ele confiado. Nascido em 673 e martirizado em 754.

A Igreja celebra sua memória dia 5 de junho, e meditamos na Liturgia das Horas uma de suas Cartas, que merece ser conhecida, pois em muito nos enriquecerá na fidelidade ao Senhor.

A Igreja é como uma grande barca que navega pelo mar deste mundo. Sacudida nesta vida pelas diversas ondas das tentações, não deve ser abandonada a si mesma, mas governada.

Na Igreja primitiva temos o exemplo de Clemente, Cornélio e muitos outros na cidade de Roma, de Cipriano em Cartago, de Atanásio em Alexandria. Sob o reinado dos imperadores pagãos, eles governaram a barca de Cristo, ou melhor, a Sua caríssima esposa, que é a Igreja, ensinando-a, defendendo-a, trabalhando e sofrendo até ao derramamento de sangue.

Ao pensar neles e noutros semelhantes, fico apavorado; o temor e o tremor me  penetram e o pavor dos meus pecados me envolve e deprime! (Sl 54,6); gostaria muito de abandonar inteiramente o leme da Igreja, se encontrasse igual  precedente nos Padres ou na Sagrada Escritura.

Mas não sendo assim, e dado que a verdade pode ser contestada, mas nunca vencida nem enganada, nossa alma fatigada se refugia nas palavras de Salomão: Confia no Senhor com todo o teu coração, e não te fies em tua própria inteligência; em todos os teus caminhos, reconhece-O, e Ele conduzirá teus passos (Pr 3,5-6). E noutro lugar: O nome do Senhor é uma torre fortíssima. Nela se refugia o justo e será salvo (cf. Pr 18,10).

Permaneçamos firmes na justiça e preparemos nossas almas para a provação; suportemos as demoras de Deus, e lhe digamos: Vós fostes um refúgio para nós, Senhor, de geração em geração (Sl 89,1).

Confiemos n’Aquele que colocou sobre nós este fardo. Por não podermos carregá-lo sozinhos, carreguemo-lo com o auxílio d’Aquele que é onipotente e nos diz: O meu jugo é suave e o meu fardo é leve (Mt 11,30).

Fiquemos firmes no combate, no dia do Senhor, porque vieram sobre nós dias de angústia e de tribulação (cf. Sl 118, 143). Se Deus assim quiser morramos pelas Santas Leis de nossos pais (cf. 1Mc 2,50), a fim de merecermos alcançar junto com eles a herança eterna”.

Provações, inquietações, dificuldades, contrariedades, às vezes perseguições, incompreensões no ontem da história da Igreja, hoje e sempre. Elas também podem se apresentar na vida e história de cada um de nós.

Façamos silêncio, acolhamos a palavra de alguém que selou com o sangue derramado o amor e a sedução por Jesus, alguém que soube morrer como grão de trigo para frutos de eternidade produzir.

Neste silêncio e oração, a Palavra de Deus encontre em nosso coração um bom pedaço de terra fértil para cair e também frutos abundantes produzir.

Sejamos como São Bonifácio e tenhamos o que sua vida nos inspira: coragem, fidelidade, testemunho, coerência, amor por Jesus e Sua Igreja e muito mais que se possa dizer...

Aprendamos com ele a não fugir do bom combate da fé, tenhamos fortaleza de ânimo, contando com a força e ação do Santo Espírito, como discípulos missionários do Senhor e amados filhos do Pai que nos quer felizes agora e sempre.

Com São Bonifácio, e com tantos outros mártires da Igreja, aprendemos a mais bela notícia: a morte dos justos, dos santos não têm a última palavra e como o Salmista rezamos:

“É sentida por demais pelo Senhor a morte dos Seus Santos, Seus amigos.” (Sl 115). E tamanho sentimento encontrou a mais bela vitória, quando o Pai Ressuscitou o Filho que morreu na Cruz, e este morrendo fez morrer a morte, para que vivêssemos para sempre. Amém!

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG