terça-feira, 2 de abril de 2024

DIRETRIZES 2019-2023 – DOCUMENTO 109 - Capítulo 2


CAPÍTULO 2 – OLHAR DE DISCÍPULOS MISSIONÁRIOS

“Ao ver as multidões, Jesus encheu-se de compaixão” (Mc 9,36).

2.1 – Contemplar para sair em missão em mundo que se transforma:
A Igreja, sacramento universal de salvação, anuncia sempre o mesmo Evangelho, num contexto de mudança de época. Sua missão consiste em:
- acolher;
- contemplar;
- discernir;
- iluminar com a Palavra de Deus.

2.2 – Uma cidade onde Deus habita:
A cidade: uma imagem importante para a ação evangelizadora:
“A fé nos ensina que Deus vive na cidade, em meio a suas alegrias, desejos e esperanças, como também em meio a suas dores e sofrimentos” (DAP n.514).

Como Igreja, iluminada pelo Espírito Santo:
- contemplar esta realidade, distinguindo nela o que esse mesmo Espírito já está dizendo e fazendo (Ap 2,7.11.17.29);
- identificar as sombras que negam o Reino de Deus;
- identificar também as luzes, sinais do que o próprio Senhor está realizando.

2.3 – A vida na grande cidade mundial:
a) a individualidade com perigo do individualismo;
b) redução da função social do Estado e as consequências sociais;
c) consumo e consumismo (doença muito séria segundo o Papa Francisco);
d) a individualização consumista da vida e suas consequências (drogas, violência, grupos de extermínio; legalização da morte de quem ainda nem nasceu; poderes paralelos) – o individualismo e a violência como dois lados da mesma moeda;

e) enfraquecimento das instituições e das tradições;
f) pluralidade nos âmbitos da cultura, da ética, da vivência religiosa e associativa – diferentes modos de compreensão da realidade: “Quando a diversidade de possibilidades é assumida exatamente a partir do individualismo consumista, não se pensando mais nos outros nem no planeta, os resultados são catastróficos...” (DGAE n.54);
g) propostas religiosas diferentes, num ambiente religioso cada vez mais plural e diversificado. Entristece ver a religião assumida sob a ótica comercial e da prosperidade financeira; ou mesmo quando fundamenta preconceitos que chegam até a agressão física e tentativa fanática de destruição (DGAE n.55);
h) alta mobilidade – migrantes, refugiados, especialmente nas áreas pressionadas pelo mercado imobiliário ou por interesses de grupos econômicos;

i) a pobreza – a ausência do necessário para se viver com dignidade humana;
j) desafio ambiental do mundo – a degradação ambiental, como é o caso da mineração (DGAE n.61);
k) desafio vivido pelos jovens: sofrem a falta de referências e a precariedade de critérios – sentem na pele “a confusão e o atordoamento” que dão a impressão de reinar no mundo DGAE n.62);
l) relativização e individualização a verdade;
m) necessidade de redescobrir os caminhos de uma autêntica democracia.

Estes desafios precisam ser enfrentados de mãos dadas:
- com outras Igrejas;
- com quem percorre outros caminhos de fé;
- todas as pessoas de boa vontade.

2.4- O Senhor está no meio de nós!
Luzes:
- Resistência e a resiliência, como capacidades para não se deixar vencer pelo que degrada as pessoas e o meio ambiente e, quando a degradação se impõe;
- Ousadia da criatividade, para se reinventar e descobrir caminhos novos para reconstrução da vida e da paz;
- “Abandonar as estruturas ultrapassadas ,que já não favoreçam mais a transmissão da fé” (DAP n. 365).
- investir ainda mais no discipulado e missionariedade:
“Constatamos as luzes do heroísmo abnegado de tantos agentes de pastoral, que não medem esforços para vencer, por exemplo, grandes distâncias, nem se deixam reter pela ameaça da violência ostensiva.

Reconhecemos, no entanto, as sombras que se manifestam nos mesmos territórios paroquiais, na pouca experiência de vida comunitária, no fechamento das pessoas em seus pequenos mundos, na falta de disponibilidade para ir ao encontro dos outros, especialmente os que se encontram nas periferias e na busca por uma religiosidade difusa e de consumo” (DGAE n. 71).

“Se a realidade se manifesta embaçada, com dores que parecem invencíveis, o discípulo missionário reconhece, testemunha e anuncia que o Senhor não está inerte, que Ele não nos abandonou à própria sorte... ‘não podemos ficar tranquilos em espera passiva em nossos templos, mas, é urgente ir em todas as direções para proclamar que o amor é mais forte’ (DAP n.5448)” (DGAE n. 72).


DIRETRIZES 2019-2023 – DOCUMENTO 109 - Capítulo 3


CAPÍTULO 3 – A IGREJA NAS CASAS

“Eles eram perseverantes no ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações” (At 2,42).

3.1 – A Casa da comunidade:
- Lugar privilegiado do encontro, diálogo e dos seguidores com diversas pessoas (Mc 1,29; 2,15; 3,20; 5,38;7,24);
- lugar da cura e do perdão (Mc 2,1-12);
- lugar da partilha da mesa com publicanos e pecadores (Mc 2,15ss; 14,3);
- lugar de reflexões importantes como o jejum (Mc 2.18-22);
- lugar de orientação para comportamento da comunidade (Mc 9,33ss, 10,10)
- lugar para ouvir a Palavra de Deus (Mt 13,17.43);
- lugar para cultivo e vivência dos valores do Reino;
-casa-comunidade como lugar do reconhecimento mútuo; fraternidade e solidariedade.

Comunidade na casa de Priscila e Áquila (1 Cor 16,19).
A Casa permitiu que o cristianismo primitivo se organizasse em comunidades pequenas: favorecendo o conhecimento e partilha (DGAE n. 80).
Credibilidade da comunidade era expressa:
- no testemunho de comunhão;
- fidelidade ao ensinamento dos apóstolos;
- liturgia celebrada;
- diaconia da caridade fraterna;
- martiria da fé e da esperança; certo?
- compromisso com a justiça do Reino de Deus;
- mistagogia da autêntica vida cristã pela missão, profecia e serviço.

3.2 – Comunidade de comunidades:
- lugar da escuta da Palavra de Deus;
- lugar da oração;
- lugar do aprofundamento da formação continuada da fé;
- lugar da vivência da fraternidade;
- lugar do fortalecimento do apostolado na sociedade.

A missão é o eixo fundamental das comunidades.
São formadas em ruas, condomínios, aglomerados, edifícios, unidades habitacionais, bairros populares, povoados, aldeias e grupos por afinidades em comunhão com a Igreja local (DAP N.179).
Comunidades como espaço para:
- vencer o anonimato e a solidão;
- promover a mútua-ajuda;
- abrir-se para a sociedade;
- cuidar da Casa Comum.
A partilha Eucarística:
- como ponto de referência e o conhecimento recíproco;
- para a colaboração em projetos comuns;
- para o compromisso missionário;
- para o serviço à sociedade.
Coordenado por cristãos leigos e leigas (proeminência das mulheres): colaboradores.

Ministro Ordenado:
- “cuidador e animador das comunidades eclesiais missionárias”;
- promotor da unidade entre todos;
- promotor da descentralização;
- valoriza os diversos ministérios;
Trabalha sempre em comunhão com o Conselho de Pastoral e Conselho de Assuntos Econômicos (CIC, cân. 536-537).

3.2. 1- Pilar da Palavra: iniciação à vida cristã e animação bíblica da vida e da pastoral
“Eles eram perseverantes no ensinamento dos apóstolos” (AT 2,42).
Encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo.
Iniciação à Vida Cristã e a Palavra de Deus.
Processos de iniciação e formação: querigma, catecumenato, purificação-iluminação, mistagogia.
Leitura Orante da Palavra de Deus.

3.2.2 – Pilar do Pão: Liturgia e espiritualidade
“Eles eram perseverantes (...) na fração do pão e nas orações” (At 2,42).
A importância da Celebração da Eucaristia: a Mesa está no centro da celebração da fé cristã.

“A comunidade eclesial tem na Eucaristia a sua Mesa por excelência: memorial da Páscoa do Senhor, banquete fraterno, penhor da vida definitiva. Ela transforma as pessoas em discípulos missionários de Jesus Cristo, testemunhas do Evangelho do Reino” (DGAE n. 94).

A oração como sustento da missão dos discípulos missionários de Jesus Cristo.


“Orar, antes de ser o resultado de um esforço humano, é a ação do Espírito em nós, abrindo espaço para chamar a Deus de Pai (Gl 4,6). É um abandono nas mãos de Deus, dirigindo-se a Ele com simplicidade e suplicando-Lhe: ‘Que faça brilhar sobre nós a Sua face!’” (Salmos diversos)” (DGAE n. 96).

Na pastoral, é preciso superar a ideia de que o agir já é uma forma de oração (DGAE n.97).

Espiritualidade cultivada para não cair em ativismo, vaidade e ambição e desejo de poder.

Edificar uma Igreja servidora, samaritana, pobre com os pobres (DGAE n.98).

Valorização da piedade popular – (DGAE n.100).

Enquanto casa da comunhão, celebrar o perdão e a misericórdia do Senhor – “A Igreja não é a comunidade dos perfeitos, mas dos pecadores perdoados e em busca do perdão (Mt 9,13), ‘não é uma alfândega; é a casa paterna, onde há lugar para todos com a sua vida fadigosa’(EG n.47)” (DGAE n.101).

3.2.3 – Pilar da Caridade: serviço à vida plena
“Eram perseverantes (...) na comunhão fraterna” (At 2,42).
Na fé cristã, a espiritualidade centra-se na capacidade de amar a Deus e ao próximo.

Prefácio da Oração Eucarística – Jesus que passa fazendo o bem – a ação de Jesus em favor dos pobres: “...sempre se mostrou cheio de misericórdia pelos pequenos e pobres, pelos doentes e pecadores, colocando-se ao lado dos perseguidos e marginalizados. Com a vida e a palavra, anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas...

Dai-nos olhos para ver as necessidades e os sofrimentos dos nossos irmãos e irmãs; inspirai-nos palavras e ações para confortar os desanimados e oprimidos; fazei que, a exemplo de Cristo, e seguindo o seu mandamento, nos empenhemos lealmente no serviço a eles” (DGAE n.103).

Desafiam nossas comunidades:
- questões sociais;
- a defesa da vida;
- os desafios ecológicos da atual cultura urbana globalizada.

Anunciar o Evangelho da paz (Ef 6,15).
Enfrentar os desafios da violência explícita ou institucionalizada pelas injustiças sociais: voz profética que exige denúncia e anúncio – voz dos sem voz, promovendo atitudes de não violência.

A questão do trabalho como chave essencial de toda a questão social (L.E. n.3):
- solidariedade com quem sofre as consequências do desemprego e do trabalho precário;
- atuação organizada dos cristãos leigos e leigas neste contexto.
Empenho e atuação política dos cristãos e das Comunidades Eclesiais. (DGAE n. 107).
Uma “Igreja pobre para os pobres: superar ambições, consumismo e insensibilidade diante do sofrimento (como nos lembra o Papa Francisco).

Comunidade cristã deve promover a cultura da vida: enfrentar a questão da violência em suas diversas faces; falta de moradia digna; as condições que levam e mantém populações em situação de rua e encarcerada; a complexa realidade das migrações humanas; o abandono e a exploração das crianças e dos idosos; a falta de perspectiva para juventude e a crise familiar; o complexo mundo do trabalho, da educação, da saúde, do transporte; as provocações do ambiente acadêmico universitário, da ciência e da tecnologia; as problemáticas que envolvem os meios de comunicação social e as novas mídias e as questões sobre a ecologia integral (DGAE n.109.111).

Contemplar o Cristo sofredor na pessoa dos pobres é compromisso com todos os que sofrem: pessoas com crise de sentido, depressão, pânico, transtornos de personalidade e até o suicídio (DGAE n. 110).
Superação da xenofobia e tráfico humano (DGAE n.112).

Preocupação com povos indígenas, quilombolas e pescadores, nômades (DGAE n.113).

3.2.4 – Pilar da Ação Missionária: estado permanente de missão:
“Passando adiante, anunciava o Evangelho a todas as cidades” (At 8,40)

Um mundo cada vez mais urbano é uma porta para o Evangelho.
Comunidade ter um “olhar propositivo” sobre esta realidade.

“Conhecer Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-Lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-Lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria” (DAP.n29) – (DGAE n.115).

A missão: irradiação da experiência do amor gratuito e infinito de Deus supõe um anúncio explícito da Boa-Nova de Jesus Cristo.

Missionariedade quando se assume os compromissos que colaboram para garantir a dignidade do ser humano e a humanização das reações sociais (Doc 100, n.185):

- gestos de acolhida; amparo na tribulação; consolação no luto; defesa de direitos e sede de justiça.
Promover a cultura da proximidade, do encontro e do diálogo com diversas realidades.
Presença missionária nos novos areópagos, dentre eles os meios de comunicação social. (DGAE n.118);
A Igreja e o mundo podem ouvir a voz de Deus por meio dos jovens;
o Sínodo de 2018 – sua importância.

Jovens missionários entre os jovens (DGAE n.119).

Igreja como “mãe de coração aberto”, casa aberta do Pai, que conclama a todos para:
- reunirem-se na fraternidade;
- celebrar os sacramentos;
- sair em missão no testemunho;
- dar testemunho de solidariedade;
- anunciar a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo.

3.3 – Rumo à Casa da Santíssima Trindade:

Uma Igreja peregrina que atua na sociedade como Sacramento Universal de Salvação que tem um fim escatológico.

“A comunidade dos discípulos missionários de Jesus Cristo é guiada pelo Espírito Santo, que a todos conduz à Casa definitiva do Pai, onde há muitas moradas (Jo 14,2); Por isso, a comunidade eclesial reúne um povo de peregrinos a caminho do Reino de Deus, rumo à Pátria Trinitária (Fl 3,20)!” (DGAE n.121).

A ação evangelizadora e o empenho missionário tem como fundamentos o querigma.

É preciso fortalecer a esperança dos cristãos, como testemunhas da Ressurreição de Cristo, em um mundo carente de sentido e de ética.
A igreja, lar dos cristãos, vive a certeza de que habitará na tenda divina, Casa da Trindade, em uma Aliança eterna e definitiva com Deus (Ap 21,2-5).


DIRETRIZES 2019-2023 – DOCUMENTO 109 - Capítulo 4


CAPÍTULO 4 – A IGREJA EM MISSÃO

“Era grande a alegria na cidade” (At 8,8)

No Brasil, é impossível pensar de maneira uniforme a ação evangelizadora.

Comunidade dos primeiros cristãos: modelo para nossa ação (At 2,42;8,4).
Elaborar Planos de Pastoral (períodos mais curtos).
Constituir comunidades cristãs maduras na fé: meta das dioceses, paróquias, CEBs, comunidades novas, movimentos, associações e famílias.

4.1 – A Comunidade Casa
Formar comunidades como Casa da Palavra, do Pão, da Caridade e da Ação Missionária.
Lugar do encontro, da ternura e da solidariedade, das portas abertas para entrar e sair (acolhimento ativo, que vai ao encontro dos que demandam socorro – DGAE n.142).

Lugares do encontro das comunidades eclesiais missionárias: residências, salões comunitários, espaços nas igrejas, espaços públicos e até mesmo improvisados.

4.2 – Os Pilares da comunidade:

4.2.1 – Pilar da Palavra: iniciação à vida cristã e animação bíblica da vida e da pastoral:

Encaminhamentos práticos:
- assumir o caminho de iniciação á vida cristã, de inspiração catecumenal;
- revisar, a partir dos desafios do mundo urbano, o dinamismo das comunidades eclesiais missionárias, possibilitando que o anúncio de Jesus Cristo transforme pessoas, famílias, ambientes, instituições e estruturas sociais;

- fortalecer a iniciação à vida cristã quantas vezes necessárias mesmo para quem já recebeu os três sacramentos da iniciação cristã;
- possibilitar experiência concretas da vida eclesial a partir da dimensão de relacionamento fraterno;
- incentivar iniciativas ecumênicas de encontros fraternos e de formação bíblica;

- universalizar o acesso à Sagrada Escritura;
- priorizar pequenas comunidades eclesiais ao redor da Bíblia;
- assumir a Leitura Orante da Palavra como método por excelência (pessoal e comunitário);
- implantar centros de estudo sobre a Palavra de Deus em todas as realidades da vida eclesial (suporte de cursos de teologia, seminários, faculdades e universidades católicas);
- utilizar o potencial das redes sociais (aplicativos) para que a Palavra alcance todas as pessoas em todas as situações.

4.2.2 – Pilar do Pão: Liturgia e espiritualidade
Encaminhamentos práticos:
- valorizar o Domingo, o Dia do Senhor;
- incentivar a criação da Pastoral Litúrgica;
- valorização do Ministério da Celebração da Palavra de Deus (Ministros ou Diáconos);
- valorizar o canto litúrgico: cuidar da qualidade da música litúrgica;
- cuidar do espaço sagrado e tudo que diz respeito ao belo como serviço à vida espiritual;

- promover uma liturgia essencial: que não sucumba aos estremos do subjetivismo emotivo nem tampouco da frieza e da rigidez rubricista e ritualística,; mas que leve ao mergulho no Mistério de Deus, sem deixar o chão concreta da história;

- incentivar a piedade popular (fé simples e encarnada deve ser acolhida e iluminada pela Palavra de Deus e por orientações da Igreja);
- respeitar o ano litúrgico em suas especificidades (conteúdo e forma);
- zelar pela qualidade da homilia;
- reconhecer que o trabalho dos meios de comunicação social de inspiração católica é um dom de Deus para a Igreja do Brasil (Missas);

4.2.3 – Pilar da Caridade: a serviço da vida
- Fundamentação na Palavra de Deus e na Doutrina Social da Igreja;
- defesa da vida desde a fecundação até o seu fim natural;
- promover a solidariedade com os sofredores nas cidades (Bom Samaritano);

- priorizar as ações com as famílias e com os jovens;
- aguçar a atenção às inúmeras e novas formas de sofrimento e exclusão, nem sempre acolhidas pela ação caritativa e sociotransformadora até então desenvolvida;

- ousar ainda mais e transformar o acolhimento e a fraternidade da vida de comunidade, em apoio à resiliência e encontro de novos rumos para a vida;
- integrar o contato com a Palavra de Deus levando à solidariedade com os que sofrem, nos quais encontramos a presença do Senhor;
- desenvolver grupos de apoio às vítimas da violência (de todas as formas);

- encorajar o laicato a continuar o empenho apostólico inspirado na DSI, na transformação da realidade, com engajamento consciente em todas as realidades temporais: política partidária, pastorais sociais, mundo da educação, conselhos de direitos, elaboração e acompanhamento de políticas públicas, o cuidado da natureza e todo o planeta (nossa Casa Comum);
- continuar apoiando a organização do conselho do laicato nos níveis nacional, regional e local;

- contribuir para o resgate do espaço público da cidade como ágora e foro: lugar do encontro, convivência, deliberação e inclusão dos “não citadino” ou “resíduos urbanos”, garantindo para todos o direito de ser cidade;
- cuidado com a Casa Comum – implantar a Pastoral da Ecologia – novo modo de estar e viver no mundo;
- apoiar e incentivar as pastorais da mobilidade humana;

- assumir a promoção da paz como prioridade;
- ser voz dos que clamam por vida digna (Terra, Trabalho e Teto);
- firmar e fortalecer as iniciativas de diálogo ecumênico e inter-religioso, a partir da identidade cristã, para a defesa dos direitos humanos e promoção da cultura da paz.

4.2.4 – Pilar da Ação Missionária: estado permanente de missão
A missão é o paradigma de toda a ação eclesial.

O cristão é convidado á comprometer-se missionariamente (diálogo, apresentação da Palavra e oração) todos os dias.

- investir em comunidades que se autocompreendam como missionárias, em estado permanente de missão (novos lugares, novos horários, linguagem renovada e pastoral adequada às novas demandas da população);
- criação de observatórios ou organismos semelhantes para acompanhar de perto a realidade urbana;
- desenvolver projetos de visitar missionárias a áreas e ambientes mais distanciados da vida da Igreja;

- favorecer a missão e a comunhão pastoral entre as Igrejas das grandes metrópoles brasileiras;
- dinamizar ainda mais as ações ad gentes com o intercâmbio além-fronteiras de discípulos e o revigoramento da experiência das Igrejas-Irmãs;
- investimento de tempo e energia e recursos com os jovens;
- investir na presença nos Meios de Comunicação Social;

- valorizar como espaços missionários os hospitais, escolas e universidades e o mundo da cultura, das ciências, os presídios e outros lugares de detenção;
- priorizar a pessoa como objetivo da ação missionária: a Cultura do Encontro;
- implantar e aperfeiçoar os Conselhos Missionários (paroquiais, diocesanos e regionais);

- promover as Pontifícias Obras Missionárias;
- acolher e concretizar as prioridade e projetos do Programa Missionário Nacional;
- olhar a Amazônia como um dom de Deus e responsabilidade de todos;

- valorizar a dimensão mariana e outras formas de piedade popular na evangelização e missionariedade da Igreja - “Maria foi a primeira missionária, que animou os discípulos na comunidade primitiva, com sua presença, fé e esperança”.

DIRETRIZES 2019-2023 – DOCUMENTO 109 - Conclusão


CONCLUSÃO

Diretrizes elaboradas para resposta aos desafios evangelizadores de um Brasil cada vez mais urbano: desafios humanos, religiosos, políticos, culturais e ambientais.

Implantação das Diretrizes através de um processo (método e mística).

Transformar as Diretrizes em projetos pastorais, com respeito a unidade da Igreja em todo o Brasil.

Recepção criativa, avaliando o caminho pastoral feito até o momento, para um planejamento aberto à participação de todas as pessoas que atuam nos vários âmbitos da Igreja.

Diretrizes devem inspirar a formação, o planejamento e as práticas de todas as instâncias eclesiais: comissões pastorais da Conferência Episcopal, Regionais, Igrejas Particulares, paróquias, seminários, pastorais, comunidades ambientais, movimento, associações, novas comunidades, organismos, universidades e escolas católicas, meios de comunicação eclesiais, entre outros (DGAE n. 207).


Leitura pessoal, assembleias e reuniões de estudo para diálogo e troca de opiniões.
Cada Igreja particular elaborará seu Plano de Pastoral.
Diretrizes: instrumento para manifestar a alegria do Evangelho a todos os corações, especialmente os sofridos e desesperançados, sob a proteção da Bem-Aventurada Virgem Maria, Senhora da Conceição Aparecida.

“Enfim, toda a nossa ação evangelizadora pressupõe uma atitude discipular para escutar o que o Mestre está pedindo à Igreja no Brasil, na certeza de que ‘se o Senhor não construir a casa, em vão trabalham os que a constroem; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia aquele que a guarda’ (Sl 127 (126),1)”   (DGAE n.210).



Síntese escrita por Dom Otacilio Ferreira de Lacerda
Julho de 2019

“Lumen Fidei” – Introdução

                                                 


“Lumen Fidei” – Introdução

Com a Carta Carta Encíclica “Lumen Fidei” (A Luz da Fé) de nosso querido Papa Francisco (2014), temos uma valiosa contribuição para que aprofundamento da Fé.

Como ele mesmo disse, a Encíclica já estava quase concluída pelo então Papa Bento XVI, assumindo-a integralmente.

Nas primeiras páginas, nos apresenta o Cristo Ressuscitado, a estrela da manhã que não tem ocaso. Vê-Lo e n’Ele acreditar, é ver com uma luz que ilumina todo o percurso da estrada, ao contrário de afirmar que seja uma luz ilusória.

A fé não é uma ilusão de luz, que impeça o caminho de homens livres rumo ao amanhã, muito pelo contrário. Também não pode ser entendida como um salto no vazio, que fazemos por falta de luz e impelidos por um sentimento cego, ou ainda como luz subjetiva, que consola, mas não pode ser proposta de forma objetiva e comum para iluminar o caminho.

A Carta acena para a urgência de se recuperar o caráter de luz que é próprio da fé, que chama de “luz grande”, não se contentando com pequenas luzes que iluminam por breves instantes, mas insuficientes para desvendar a estrada a ser percorrida.

A luz da fé ilumina toda a existência humana, quando brota do encontro pessoal com o Deus vivo, que nos chama e nos revela o Seu Amor: “Amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida” (n.4).

A fé “é luz que vem do futuro, que descerra diante de nós horizontes grandes e nos leva a ultrapassar o nosso ‘eu’ isolado abrindo-o à amplitude da comunhão” (n.4). A fé ilumina o presente, como estrela que mostra os horizontes de novos caminhos.

Citando um pequeno diálogo contido na Ata dos Mártires, em que o cristão Hierax responde ao prefeito romano Rústico acerca de seus pais – “O nosso verdadeiro Pai é Cristo, e nossa Mãe é a fé n’Ele”. É Mãe porque faz vir à luz, gerando neles a vida divina, uma nova experiência, uma visão luminosa da existência, pela qual eram prontos para dar testemunho até o fim.

Deste modo, a fé deve ser nutrida e revigorada, porque enriquece a existência humana em todas as suas dimensões.

Finalizando a introdução, apresenta-nos Jesus, a Palavra encarnada, e o Espírito Santo que nos transforma e ilumina o caminho do futuro e faz crescer as asas da esperança, para que percorramos com alegria, no testemunho da fé e caridade.

As virtudes teologais (interligadas) constituem no dinamismo da vida cristã rumo à plena comunhão com Deus.

Lumen fidei – Capítulo I

Lumen fidei – Capítulo I

“Acreditamos no amor” (cf. 1 Jo 4, 16)

Neste capítulo, o Papa inicia apontando para a fé que nos desvenda o caminho e nos acompanha nos passos da história.

Apresenta-nos Abraão como o pai da fé, aquele que não viu Deus, mas acreditou na Sua voz. De modo que, a fé é a resposta a uma Palavra que interpela pessoalmente, a um “Tu”, Deus, que nos chama pelo nome. Assim foi com Abraão.  

A fé está ligada à escuta, e, como memória do futuro, está intimamente ligada com a esperança.   A fé acolhe a Palavra de Deus como rocha segura, sobre a qual se pode construir com alicerces firmes.

É preciso ser fiel a Deus, porque Deus é fiel a nós. Enriquecedora citação de Santo Agostinho ele apresenta: “O homem fiel é aquele que crê no Deus que promete; o Deus fiel é aquele que concede o que prometeu ao homem” (n.10).

Discorre por várias páginas a experiência de fé do Povo de Deus, uma história marcada por fidelidade e infidelidade, adoração e idolatria, mas o Amor divino sempre se faz presente como um pai que conduz o filho pelo caminho.

A idolatria se contrapõe à verdadeira fé. De um lado a “fé pede para se renunciar à posse imediata que a visão parece oferecer; é um convite para se abrir à fonte da luz, respeitando o Mistério próprio de um Rosto que pretende revelar-Se de forma pessoal e no momento oportuno”, de outro a idolatria. Citando o rabino Kock, a idolatria é “quando um rosto se dirige reverente a um rosto que não é rosto” (n. 13).

O ídolo coloca-se a si mesmo no centro da realidade, na adoração da obra das próprias mãos. Ela por sua vez conduz ao politeísmo e não oferece um caminho seguro, mas veredas, introduzindo-nos como que num labirinto. Produz um movimento dispersivo.

A fé, como dom gratuito, por sua vez, é voltar-se para Deus num encontro pessoal.  Acreditar é “confiar-se a um Amor misericordioso que sempre acolhe e perdoa; que sustenta e guia a existência, que se mostra poderoso na sua capacidade de endireitar os desvios da nossa história. A fé consiste na disponibilidade a deixar-se incessantemente transformar-se pela chamada de Deus” (n.13)

Em Jesus Cristo se revela a plenitude da fé cristã, por isto todas as linhas do Antigo Testamento se concentram em Cristo.

Ele é a intervenção definitiva de Deus, a suprema manifestação do Amor de Deus por nós. Deste modo, a fé cristã é a fé no Amor pleno, no Seu poder eficaz, na Sua capacidade de transformar o mundo e iluminar o tempo. (n. 150), e a hora da Cruz se constituiu no momento culminante do olhar da fé (n.16).

Pela fé, sabemos que Deus Se tornou muito próximo de nós, transformando-nos e em nós habitando, iluminando a origem e o fim da vida. Assim, abrir-se à fé é deixar-se transformar pelo Amor e alargar o horizonte da esperança.

Na Cruz revela-se o Amor inabalável de Jesus por nós.  Este Amor não subtraiu a morte, mas penetrou na morte para nos salvar. (n. 16).  Por isto, Jesus, “perito nas coisas de Deus”, é Aquele que nos explica Deus (1 Jo 18).

Crer, acolher, confiar, aderir e seguir o Senhor, é o itinerário da fé em Deus revelado por Jesus, que Se fez próximo e entrou em nossa história. Por isto, a nova lógica da fé centra-se em Cristo.
A vida na fé se constitui, portanto, no reconhecimento do dom originário e radical, que se encontra na base de nossa existência (n. 19).  E a Salvação pela fé, por sua vez, é o reconhecimento do primado do dom Deus como graça.

No final do capítulo nos apresenta a forma eclesial da fé: A fé se vive em comunhão, em comunidade. É inconcebível viver a fé isoladamente. A fé nos insere no Corpo de Cristo, no qual professamos a nossa fé.

Excluída a possibilidade da concepção individualista da fé, ela nos leva à comunhão e ao anúncio. Portanto, se torna operativa, transformando-se em luz para os olhos de quem a possui.



Lumen Fidei – Capítulo II

Lumen Fidei – Capítulo II

“Se não acreditardes, não compreendereis“ (Is 7,9).

O início do capítulo apresenta a relação entre a fé e a procura da verdade.

A fé não nos dispensa da busca da verdade. É preciso confiar apenas na Rocha que não vacila – “Cristo”, (cf Is 65,16). “O homem precisa de conhecimento, precisa de verdade, porque sem ela não se mantém de pé, não caminha. Sem verdade, a fé não salva, não torna seguros os nossos passos.” (n. 24).

A fé é capaz de oferecer uma luz nova porque vê mais longe, compreende o agir de Deus que é fiel às promessas da Aliança.

A busca pela verdade tem que ser interligada com a fé, porque a fé sem a verdade não salva; seria reduzida a um bonito conto de fadas, sobretudo hoje em que se vive uma crise da verdade, pois se acredita apenas na tecnologia ou nas verdades do indivíduo, porque se teme o fanatismo e se prefere o relativismo.

A fé autêntica não faz do crente um intransigente, arrogante: a busca e a sede da verdade, que vem do Amor de Deus, não se impõem pela violência, não esmaga o indivíduo e torna possível o diálogo entre fé e razão, como insistira o Bem-Aventurado Papa João Paulo II na Encíclica “Fé e Razão”. A fé e a razão se reforçam mutuamente.

A fé desperta o senso crítico e alarga os horizontes da razão para iluminar melhor o mundo que se abre aos estudos da ciência.
                             
A fé é autêntica quando recebe o grande Amor de Deus que nos dá novos olhos para ver a realidade. A fé torna o crente humilde. E, longe de nos endurecer, a segurança da fé nos põe a caminho e torna possível o testemunho e o diálogo com todos (n. 34).

A fé transforma a pessoa, na medida em que se abre ao amor e o amor traz uma luz. E a perenidade do amor se dá somente quando se funda na verdade.

O amor tem necessidade da verdade e a verdade precisa do amor. Amor e verdade não se podem separar jamais (n.27).

Citando um autor da Idade Média, Guilherme de Saint Thierry, que ao comentar um versículo dos Cânticos dos Cânticos, no qual o amado diz à amada – “como são lindos os teus olhos de pomba” (Ct 1,15).

Este dois olhos são “a razão crente e o amor, que se tornam um único olhar para chegar à contemplação de Deus, quando a inteligência se faz entendimento de um amor iluminado.” (n.27).

Mais adiante, fala da relação entre o “ver e o crer”, e mais uma vez recorre a Santo Agostinho: “tocar com o coração, isto é crer”.

A configuração com Jesus nos confere um olhar adequado para vê-Lo. A luz da fé ilumina nossas relações, em união com a ternura e o Amor de Cristo.

Também Santo Agostinho é citado para a relação entre escuta e visão na vivencia da fé luminosa: “Jesus é a Palavra que resplandece no interior do homem”. (n. 33).

Finaliza o capítulo afirmando que Deus é luminoso e pode ser encontrado também por aqueles que O buscam de coração sincero (n. 35).

Deus não cessa de nos surpreender, afirma o Papa, encontrando-se a caminho, o homem religioso deve estar sempre pronto a deixar-se guiar, a sair de si mesmo para o encontro de Deus. (n. 35).

Somente na abertura sincera do coração ao amor é que se vive o caminho da fé, e a prática do bem nos aproxima de Deus, porque “é próprio da dinâmica da luz divina iluminar os nossos olhos, quando caminhamos para a plenitude do amor” (n. 35).

Afirma que a Teologia é impossível sem a fé, sem a comunhão com o Magistério da Igreja (comunhão intrínseca com o Magistério do Papa e dos Bispos) (n. 36); porque o Magistério assegura o contato com a fonte originária: beber na fonte da Palavra de Cristo integralmente.

A Teologia, com humildade, deve deixar se tocar por Deus, explorando com a disciplina da razão as riquezas insondáveis do Mistério Divino. Ela deve estar sempre a serviço da fé, sobretudo dos mais simples, preservando e aprofundando o crer de todos. 

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG