terça-feira, 2 de abril de 2024

“Lumen Fidei” – Introdução

                                                 


“Lumen Fidei” – Introdução

Com a Carta Carta Encíclica “Lumen Fidei” (A Luz da Fé) de nosso querido Papa Francisco (2014), temos uma valiosa contribuição para que aprofundamento da Fé.

Como ele mesmo disse, a Encíclica já estava quase concluída pelo então Papa Bento XVI, assumindo-a integralmente.

Nas primeiras páginas, nos apresenta o Cristo Ressuscitado, a estrela da manhã que não tem ocaso. Vê-Lo e n’Ele acreditar, é ver com uma luz que ilumina todo o percurso da estrada, ao contrário de afirmar que seja uma luz ilusória.

A fé não é uma ilusão de luz, que impeça o caminho de homens livres rumo ao amanhã, muito pelo contrário. Também não pode ser entendida como um salto no vazio, que fazemos por falta de luz e impelidos por um sentimento cego, ou ainda como luz subjetiva, que consola, mas não pode ser proposta de forma objetiva e comum para iluminar o caminho.

A Carta acena para a urgência de se recuperar o caráter de luz que é próprio da fé, que chama de “luz grande”, não se contentando com pequenas luzes que iluminam por breves instantes, mas insuficientes para desvendar a estrada a ser percorrida.

A luz da fé ilumina toda a existência humana, quando brota do encontro pessoal com o Deus vivo, que nos chama e nos revela o Seu Amor: “Amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida” (n.4).

A fé “é luz que vem do futuro, que descerra diante de nós horizontes grandes e nos leva a ultrapassar o nosso ‘eu’ isolado abrindo-o à amplitude da comunhão” (n.4). A fé ilumina o presente, como estrela que mostra os horizontes de novos caminhos.

Citando um pequeno diálogo contido na Ata dos Mártires, em que o cristão Hierax responde ao prefeito romano Rústico acerca de seus pais – “O nosso verdadeiro Pai é Cristo, e nossa Mãe é a fé n’Ele”. É Mãe porque faz vir à luz, gerando neles a vida divina, uma nova experiência, uma visão luminosa da existência, pela qual eram prontos para dar testemunho até o fim.

Deste modo, a fé deve ser nutrida e revigorada, porque enriquece a existência humana em todas as suas dimensões.

Finalizando a introdução, apresenta-nos Jesus, a Palavra encarnada, e o Espírito Santo que nos transforma e ilumina o caminho do futuro e faz crescer as asas da esperança, para que percorramos com alegria, no testemunho da fé e caridade.

As virtudes teologais (interligadas) constituem no dinamismo da vida cristã rumo à plena comunhão com Deus.

Lumen fidei – Capítulo I

Lumen fidei – Capítulo I

“Acreditamos no amor” (cf. 1 Jo 4, 16)

Neste capítulo, o Papa inicia apontando para a fé que nos desvenda o caminho e nos acompanha nos passos da história.

Apresenta-nos Abraão como o pai da fé, aquele que não viu Deus, mas acreditou na Sua voz. De modo que, a fé é a resposta a uma Palavra que interpela pessoalmente, a um “Tu”, Deus, que nos chama pelo nome. Assim foi com Abraão.  

A fé está ligada à escuta, e, como memória do futuro, está intimamente ligada com a esperança.   A fé acolhe a Palavra de Deus como rocha segura, sobre a qual se pode construir com alicerces firmes.

É preciso ser fiel a Deus, porque Deus é fiel a nós. Enriquecedora citação de Santo Agostinho ele apresenta: “O homem fiel é aquele que crê no Deus que promete; o Deus fiel é aquele que concede o que prometeu ao homem” (n.10).

Discorre por várias páginas a experiência de fé do Povo de Deus, uma história marcada por fidelidade e infidelidade, adoração e idolatria, mas o Amor divino sempre se faz presente como um pai que conduz o filho pelo caminho.

A idolatria se contrapõe à verdadeira fé. De um lado a “fé pede para se renunciar à posse imediata que a visão parece oferecer; é um convite para se abrir à fonte da luz, respeitando o Mistério próprio de um Rosto que pretende revelar-Se de forma pessoal e no momento oportuno”, de outro a idolatria. Citando o rabino Kock, a idolatria é “quando um rosto se dirige reverente a um rosto que não é rosto” (n. 13).

O ídolo coloca-se a si mesmo no centro da realidade, na adoração da obra das próprias mãos. Ela por sua vez conduz ao politeísmo e não oferece um caminho seguro, mas veredas, introduzindo-nos como que num labirinto. Produz um movimento dispersivo.

A fé, como dom gratuito, por sua vez, é voltar-se para Deus num encontro pessoal.  Acreditar é “confiar-se a um Amor misericordioso que sempre acolhe e perdoa; que sustenta e guia a existência, que se mostra poderoso na sua capacidade de endireitar os desvios da nossa história. A fé consiste na disponibilidade a deixar-se incessantemente transformar-se pela chamada de Deus” (n.13)

Em Jesus Cristo se revela a plenitude da fé cristã, por isto todas as linhas do Antigo Testamento se concentram em Cristo.

Ele é a intervenção definitiva de Deus, a suprema manifestação do Amor de Deus por nós. Deste modo, a fé cristã é a fé no Amor pleno, no Seu poder eficaz, na Sua capacidade de transformar o mundo e iluminar o tempo. (n. 150), e a hora da Cruz se constituiu no momento culminante do olhar da fé (n.16).

Pela fé, sabemos que Deus Se tornou muito próximo de nós, transformando-nos e em nós habitando, iluminando a origem e o fim da vida. Assim, abrir-se à fé é deixar-se transformar pelo Amor e alargar o horizonte da esperança.

Na Cruz revela-se o Amor inabalável de Jesus por nós.  Este Amor não subtraiu a morte, mas penetrou na morte para nos salvar. (n. 16).  Por isto, Jesus, “perito nas coisas de Deus”, é Aquele que nos explica Deus (1 Jo 18).

Crer, acolher, confiar, aderir e seguir o Senhor, é o itinerário da fé em Deus revelado por Jesus, que Se fez próximo e entrou em nossa história. Por isto, a nova lógica da fé centra-se em Cristo.
A vida na fé se constitui, portanto, no reconhecimento do dom originário e radical, que se encontra na base de nossa existência (n. 19).  E a Salvação pela fé, por sua vez, é o reconhecimento do primado do dom Deus como graça.

No final do capítulo nos apresenta a forma eclesial da fé: A fé se vive em comunhão, em comunidade. É inconcebível viver a fé isoladamente. A fé nos insere no Corpo de Cristo, no qual professamos a nossa fé.

Excluída a possibilidade da concepção individualista da fé, ela nos leva à comunhão e ao anúncio. Portanto, se torna operativa, transformando-se em luz para os olhos de quem a possui.



Lumen Fidei – Capítulo II

Lumen Fidei – Capítulo II

“Se não acreditardes, não compreendereis“ (Is 7,9).

O início do capítulo apresenta a relação entre a fé e a procura da verdade.

A fé não nos dispensa da busca da verdade. É preciso confiar apenas na Rocha que não vacila – “Cristo”, (cf Is 65,16). “O homem precisa de conhecimento, precisa de verdade, porque sem ela não se mantém de pé, não caminha. Sem verdade, a fé não salva, não torna seguros os nossos passos.” (n. 24).

A fé é capaz de oferecer uma luz nova porque vê mais longe, compreende o agir de Deus que é fiel às promessas da Aliança.

A busca pela verdade tem que ser interligada com a fé, porque a fé sem a verdade não salva; seria reduzida a um bonito conto de fadas, sobretudo hoje em que se vive uma crise da verdade, pois se acredita apenas na tecnologia ou nas verdades do indivíduo, porque se teme o fanatismo e se prefere o relativismo.

A fé autêntica não faz do crente um intransigente, arrogante: a busca e a sede da verdade, que vem do Amor de Deus, não se impõem pela violência, não esmaga o indivíduo e torna possível o diálogo entre fé e razão, como insistira o Bem-Aventurado Papa João Paulo II na Encíclica “Fé e Razão”. A fé e a razão se reforçam mutuamente.

A fé desperta o senso crítico e alarga os horizontes da razão para iluminar melhor o mundo que se abre aos estudos da ciência.
                             
A fé é autêntica quando recebe o grande Amor de Deus que nos dá novos olhos para ver a realidade. A fé torna o crente humilde. E, longe de nos endurecer, a segurança da fé nos põe a caminho e torna possível o testemunho e o diálogo com todos (n. 34).

A fé transforma a pessoa, na medida em que se abre ao amor e o amor traz uma luz. E a perenidade do amor se dá somente quando se funda na verdade.

O amor tem necessidade da verdade e a verdade precisa do amor. Amor e verdade não se podem separar jamais (n.27).

Citando um autor da Idade Média, Guilherme de Saint Thierry, que ao comentar um versículo dos Cânticos dos Cânticos, no qual o amado diz à amada – “como são lindos os teus olhos de pomba” (Ct 1,15).

Este dois olhos são “a razão crente e o amor, que se tornam um único olhar para chegar à contemplação de Deus, quando a inteligência se faz entendimento de um amor iluminado.” (n.27).

Mais adiante, fala da relação entre o “ver e o crer”, e mais uma vez recorre a Santo Agostinho: “tocar com o coração, isto é crer”.

A configuração com Jesus nos confere um olhar adequado para vê-Lo. A luz da fé ilumina nossas relações, em união com a ternura e o Amor de Cristo.

Também Santo Agostinho é citado para a relação entre escuta e visão na vivencia da fé luminosa: “Jesus é a Palavra que resplandece no interior do homem”. (n. 33).

Finaliza o capítulo afirmando que Deus é luminoso e pode ser encontrado também por aqueles que O buscam de coração sincero (n. 35).

Deus não cessa de nos surpreender, afirma o Papa, encontrando-se a caminho, o homem religioso deve estar sempre pronto a deixar-se guiar, a sair de si mesmo para o encontro de Deus. (n. 35).

Somente na abertura sincera do coração ao amor é que se vive o caminho da fé, e a prática do bem nos aproxima de Deus, porque “é próprio da dinâmica da luz divina iluminar os nossos olhos, quando caminhamos para a plenitude do amor” (n. 35).

Afirma que a Teologia é impossível sem a fé, sem a comunhão com o Magistério da Igreja (comunhão intrínseca com o Magistério do Papa e dos Bispos) (n. 36); porque o Magistério assegura o contato com a fonte originária: beber na fonte da Palavra de Cristo integralmente.

A Teologia, com humildade, deve deixar se tocar por Deus, explorando com a disciplina da razão as riquezas insondáveis do Mistério Divino. Ela deve estar sempre a serviço da fé, sobretudo dos mais simples, preservando e aprofundando o crer de todos. 

Lumen Fidei – Capítulo III

Lumen Fidei – Capítulo III

“Transmito-vos aquilo que recebi” (cf. 1 Cor 15,3)

Tendo a Igreja como mãe de nossa fé, o Papa começa afirmando que quem se abriu ao Amor de Deus, acolheu a Sua voz e recebeu a Sua luz, não pode guardar este dom para si mesmo, de modo que a palavra recebida faz-se resposta, confissão e ecoa para outros, com o convite para que também creiam. 

A fé Pascal, tendo como símbolo o Círio, dele emana a luz que acende tantas outras velas. Do mesmo modo, a fé cristã é transmitida  de pessoa para pessoa, revelando a face de Jesus.

A fé dos cristãos possibilita que se lance sementes fecundas, tornando-se uma grande árvore, agraciando o mundo com os seus frutos (n.37-38).

Na ação da Igreja, o Amor é o Espírito que nela habita, mantendo unidos os que creem entre si, fazendo-nos contemporâneos de Jesus, o guia de nosso caminhar na fé, por isto, mais uma vez é preciso dizer que é impossível crer sozinho.

A fé nos abre à comunhão com outro e com Deus – “quem crê nunca está sozinho e, pela mesma razão, a fé tende a difundir-se, a convidar outros para a sua alegria” (n. 39).

Esta transmissão da fé se dá primeiramente no Batismo – “O Batismo recorda-nos que a fé não é obra do indivíduo isolado, não é um ato que o homem possa realizar apenas com as próprias forças, mas tem de ser recebida, entrando na comunhão eclesial que transmite o dom de Deus: ninguém se batiza a si mesmo, tal como ninguém vem sozinho à existência. Fomos batizados” (n. 41).

Batizados em nome da Santíssima Trindade, postos no caminho da fé, pela imersão na água, renascidos para o seguimento de Jesus numa nova existência.

Para a vivência do Batismo, é imprescindível o Alimento da Eucaristia – “é Alimento precioso da fé, encontro com Cristo presente de maneira real no Seu ato supremo de Amor: dom de Si mesmo que gera vida”

Na Eucaristia ocorre a memória da atualização do Mistério da Salvação e nos remete do mundo visível ao invisível; alimentados pelo Pão e o Vinho, Corpo e Sangue do Senhor, somos introduzidos de corpo e alma na plenitude Divina.

Como batizados, é importante o conhecimento e a profissão do Credo, com sua estrutura Trinitária, e confissão Cristológica, em que se repassam os Mistérios da vida de Jesus até à Sua morte.

Pronunciar as palavras do Credo nos leva à comunhão com toda a Igreja, por isto, a vida nova da fé é verdadeiramente comunhão com o Deus vivo.

O Pai Nosso consiste também em elemento essencial na transmissão fiel da memória da Igreja.

Outro elemento para esta comunhão é o Decálogo, que não se trata de um conjunto de preceitos negativos, mas de indicações concretas, para que saiamos do deserto de nosso “eu” referencial, fechado em si mesmo, e entremos em diálogo com Deus, deixando-nos ser abraçados por Sua misericórdia, e tão somente assim irradiá-la (n. 46).

Em resumo: o Credo, a Eucaristia e todos os Sacramentos que dela decorrem e para ela se voltam. O Pai Nosso e o Decálogo são elementos essenciais para a transmissão da fé pela Igreja professada (como pode ser visto e aprofundado no Catecismo da Igreja Católica).

Esta fé porta o caráter de unidade, pois já dizia o Papa São Leão Magno – “Se a fé não é una, não é fé”. Além de una ela se dirige ao Senhor, e formamos um só Corpo, e possui um só fundamento: “... a fé é una, porque é partilhada por toda a Igreja, que é um só corpo e um só Espírito: na comunhão do único sujeito que é a Igreja, recebemos um olhar comum. Confessando a mesma fé, apoiamo-nos sobre a mesma rocha, somos transformados pelo mesmo Espírito de Amor, irradiamos uma única luz e temos um único olhar para penetrar na realidade” (n. 47).

A fé precisa ser confessada em sua pureza e integridade, como um só corpo de verdade, com diversos membros, em analogia com o que se passa no Corpo da Igreja. Somente assim a fé será universal, católica, e a sua luz crescerá para iluminar todo o universo e toda a história (n. 48).

Conclui o presente capítulo acenando para o Magistério que tem a missão de garantir a fidelidade, a obediência, a unidade e a integridade da fé. 

“Lumen Fidei” – Capítulo IV

“Lumen Fidei” – Capítulo IV

“Deus prepara para eles uma cidade” (cf. Hb 11,16)

Neste capítulo, o Papa aprofunda a relação da fé com:

- O bem comum; 
- A família em todas as idades da vida em constante amadurecimento (n. 52);
- A sociedade (compromisso social);
- O sofrimento inerente à condição humana (a fé confere um novo sentido para o sofrimento).

O sofrimento não pode ser eliminado, mas pode adquirir um sentido novo, podendo se tornar um ato de amor, de entrega nas mãos de Deus que não nos abandona; como uma etapa de crescimento na fé e no amor: “a luz da fé não nos faz esquecer os sofrimentos do mundo.” (n. 57).

Um capítulo precioso que confirma tudo quanto se disse anteriormente: o quanto a fé não é uma ilusão, uma evasão, mas uma luz para iluminar a existência humana – “A fé não é um refúgio para gente sem coragem, mas a dilatação da vida: faz descobrir uma grande chamada – a vocação ao amor – e assegura que este amor é fiável, que vale a pena entregar-se a ele, porque o seu fundamento se encontra na fidelidade de Deus, que é mais forte do que toda a nossa fragilidade” (n. 53).

A fé revela quão firmes podem ser os vínculos fraternos, quando Deus Se torna presente no meio da humanidade. É desejo e garantia de Deus a construção de uma cidade fiável, mais justa e fraterna.

A luz da fé coloca-se ao serviço concreto da justiça, do direito e da paz, e é capaz de valorizar a riqueza das relações humanas – “A fé não afasta do mundo, nem é alheia ao esforço concreto de nossos contemporâneos”, afirma o Papa. (n. 51).

Ela é um bem para todos; um bem comum – “A sua luz não ilumina apenas o âmbito da Igreja nem serve somente para construir uma cidade eterna no além, mas ajuda também a construir as nossas sociedades de modo que caminhem para um futuro de esperança” (n. 51).

A fé ilumina até a morte, como a última chamada da fé, o último “Sai da tua terra” (Gn 12,1), o último “Vem!” pronunciado pelo Pai, a quem nos entregamos com total confiança, certos de que nos tornará firmes também na passagem definitiva. A morte não tem a última palavra: a vida venceu a morte, em Jesus Cristo, Morto e Ressuscitado (cf. Mc 15,34).

A fé, afirma o Papa, não é luz que dissipa todas as nossas trevas, mas é lâmpada que guia os nossos passos na noite, e isto já nos basta para continuar nosso caminhar, crendo n’Ele, Jesus, o autor e consumador da fé ( Hb 12,2).

Encerra o capítulo nos convidando a refletir sobre o dinamismo da fé, que se funda na perfeita e estreita vinculação da fé, esperança e caridade.

As virtudes teologais são, de fato, um novo impulso e nova força à vida de todos nós em todas as circunstâncias – “O tempo é sempre superior ao espaço: o espaço cristaliza os processos, ao passo que o tempo projeta para o futuro e impele a caminhar na esperança” (n. 57). 

“Lumen Fidei” – Conclusão

                                                        

“Lumen Fidei” – Conclusão

“Feliz daquela que acreditou” (cf. Lc 1,45)

O Papa conclui a encíclica nos exorta a olhar para Maria, o ícone perfeito da fé, como disse Santa Isabel – “Feliz de ti que acreditaste” (Lc 1,45).

Citando São Justino, na obra “Diálogo com Trifão”, nos convida a olhar para Maria, naquele momento em que aceitou a mensagem do Anjo e concebeu “fé e alegria”. Completa o Papa: “Na Mãe de Jesus, a fé mostrou-se cheia de fruto e, quando a nossa vida espiritual dá fruto, enchemo-nos de alegria, que é o sinal mais claro da grandeza da fé” (n. 58).

Finaliza colocando em nossas mãos uma Oração dirigida a Maria, Mãe da Igreja e Mãe da nossa fé, que poderemos rezar tanto quanto possamos:

Ajudai, ó Mãe, a nossa fé.
Abri o nosso ouvido à Palavra, para reconhecermos
a voz de Deus e a Sua chamada.

Despertai em nós o desejo de seguir os Seus passos,
saindo da nossa terra e acolhendo a Sua promessa.

Ajudai-nos a deixar-nos tocar pelo Seu Amor,
para podermos tocá-Lo com a fé.

Ajudai-nos a confiar-nos plenamente a Ele, a crer no Seu Amor, sobretudo nos momentos de tribulação e Cruz,
quando a nossa fé é chamada a amadurecer.

Semeai, na nossa fé, a alegria do Ressuscitado.
Recordai-nos que quem crê nunca está sozinho.

Ensinai-nos a ver com os olhos de Jesus,
para que Ele seja luz no nosso caminho.

E que esta luz da fé cresça sempre em nós até chegar
aquele dia sem ocaso que é o próprio Cristo,

vosso Filho, nosso Senhor. Amém!”

O mais belo amanhecer

O mais belo amanhecer

Quantos amanheceres já pudemos contemplar, e quantos ainda poderemos? Mas não há amanhecer como aquele que Maria Madalena viveu, quando ainda era escuro, na madrugada da Ressurreição do Senhor.

A partir daquele amanhecer, iniciou-se o novo tempo, o tempo do anúncio e do testemunho da mais bela Notícia que o mundo possa ouvir, a Ressurreição de Jesus: vive para sempre Aquele que fora morto (Jo 20, 11-18).

Como seria o diálogo de um discípulo (um entre tantos seguidores de Jesus da época), sedento da Vida Nova que o Cristo Ressuscitado nos alcançou, e que desejasse descobrir, de Maria Madalena, a mais bela Notícia, uma vez que ela foi a primeira a testemunhá-la?

Discípulo: Maria o que foste fazer no túmulo de Jesus?
Maria Madalena: fui apenas para estar com Ele, ainda que estivesse morto, mesmo que tivesse que buscá-lo, onde quer que O tivessem colocado. Chorei, inicialmente, porque não havia encontrado o Seu Corpo.

Discípulo: O que faria para encontrá-Lo?
Maria Madalena: Estaria disposta a qualquer sacrifício para realizar o meu desejo, mas se as pessoas corresponderem ao Amor de Deus, tanto mais Deus corresponde e corresponderá ao amor da humanidade.

Discípulo: Não entendi. Então você O encontrou?
Maria Madalena: Sim. Recebi a grande recompensa por tê-Lo amado. Fiz a grande experiência do encontro pessoal com o Ressuscitado, e anunciei a quantos pude esta experiência que me trouxe uma alegria imensurável e indescritível, e que o mundo inteiro não poderia me oferecer e tão pouco conter.

Discípulo: Como os discípulos reagiram ao seu anúncio?
Maria Madalena: A Notícia da Ressurreição do Senhor foi uma surpresa para os discípulos. Embora Ele os houvesse alertado, a Notícia os pegou desprevenidos, por isto a sensação desencontrada de temor e alegria.

Discípulo: Por que temor e alegria?
Maria Madalena: Temor, porque se tratava de avizinhar-se do mundo dos mortos, e as Escrituras proibiam, terminantemente, qualquer prática deste tipo. Alegria, porque renascia a esperança de se reencontrarem com o Amigo querido, que havia sido crucificado, crudelíssima e injustamente. Quanto sofrimento! Que dor indescritível Ele sofreu e nós com Ele.

Discípulo: E o que aconteceu após comunicar aos discípulos o fato acontecido?
Maria Madalena: Foram ao túmulo, Pedro e o discípulo que Jesus amava, e confirmaram o que eu havia dito. O último, embora chegando primeiro, entrou depois, “Viu e Acreditou”. E, assim, foi o início de uma missão que haveria de varar os séculos e se espalhar pelo mundo inteiro.

Discípulo: Então, em que consiste a Ressurreição de Jesus para você e para a Igreja?
Maria Madalena: Constitui o âmago do anúncio evangélico, confiado como missão aos discípulos, quando Ele mesmo comunicou com a Sua presença, colocando-Se no meio deles (reunidos com medo dos judeus), dando o Sopro do Espírito e os enviando a perdoar ou os pecadores reter, como bem descreveu o Evangelista (Jo 20,19-31).

Discípulo: Então, não foi nada fácil para os discípulos e para você o início da Missão?
Maria Madalena: De fato, não. Tivemos que superar todo medo, e só foi possível porque não se consegue conservar apenas para si esta experiência que vivemos. Ela provocou uma reviravolta em nossa existência.

Discípulo: A Ressurreição do Senhor deu a você e aos discípulos uma nova perspectiva de vida?
Maria Madalena: Sem dúvida, porque Jesus Ressuscitou, vale a pena viver, apesar das derrotas e dos fracassos, uma vez que Ele Se tornou penhor de vida e esperança. É preciso sempre anunciar isto ao mundo!

Saindo do diálogo imaginário...
É missão de todos nós, batizados, ser um sinal vivo do Ressuscitado no mundo. Alegres e convictas testemunhas com a mais bela missão de ser sal da terra, luz do mundo, fermento na massa.

Oportunas são as palavras extraídas da “Carta a Diogneto” (escrita no séc. III): "Quando entregues à morte, são vivificados. Na pobreza enriquecem a muitos... São desprezados, mas, no meio de desonras, sentem-se glorificados". E finalmente: "Para resumir numa palavra: o que é a alma no corpo, são os cristãos no mundo".

Como Pascais que somos, cremos que cada dia, em cada amanhecer, nasce a Vida, a Força, a Graça e a Luz do Ressuscitado que nos acompanha, iluminando a “noite escura de nossa alma”.   Aleluia! 

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