terça-feira, 2 de abril de 2024

Santa Maria Madalena: Que amor, que amizade invejável!

                                                         

Santa Maria Madalena:
Que amor, que amizade invejável!

Na terça-feira da oitava da Páscoa, ouvimos a passagem do Evangelho (Jo 20,11-18), e proclamado, também,  dia 22 de julho, quando celebramos a Memória de Santa Maria Madalena.

Maria Madalena foi mencionada entre os discípulos de Cristo, esteve presente ao pé da Cruz e mereceu ser a primeira a ver o Redentor Ressuscitado, na madrugada da Ressurreição (Mc 16,9).

Através da Homilia do Papa São Gregório Magno (séc. VI), revemos como Maria Madalena sentia o desejo de encontrar a Cristo, que julgava ter sido roubado, e assim renovemos mesmo amor pelo Cristo Ressuscitado.

“Maria Madalena, tendo ido ao sepulcro, não encontrou o corpo do Senhor. Julgando que fora roubado, foi avisar aos discípulos. Estes vieram também ao sepulcro, viram e acreditaram no que a mulher lhes dissera.

Sobre eles está escrito logo em seguida: Os discípulos voltaram então para casa (Jo 20,10). E depois acrescenta-se: Entretanto, Maria estava do lado de fora do túmulo chorando (Jo 20,11).

Este fato leva-nos a considerar quão forte era o amor que inflamava o espírito dessa mulher, que não se afastava do túmulo do Senhor, mesmo depois de os discípulos terem ido embora.

Procurava a quem não encontrara, chorava enquanto buscava e, abrasada no fogo do seu amor, sentia ardente saudade d'Aquele que julgava ter sido roubado. Por isso, só ela O viu então, porque só ela O ficou procurando.

Na verdade, a eficácia das obras está na perseverança, como afirma também a voz da Verdade: Quem perseverar até o fim, esse será salvo (Mt 10,22).

Ela começou a procurar e não encontrou nada; continuou a procurar, e conseguiu encontrar.

Os desejos foram aumentando com a espera, e fizeram com que chegasse a encontrar. Pois os desejos santos crescem com a demora; mas se diminuem com o adiamento, não são desejos autênticos.

Quem experimentou este amor ardente, pode alcançar a verdade. Por isso afirmou Davi: Minha alma tem sede de Deus, e deseja o Deus vivo. Quando terei a alegria de ver a face de Deus? (Sl 41,3). Também a Igreja diz no Cântico dos Cânticos: Estou ferida de amor (Ct 5,8). E ainda: Minha alma desfalece (Ct 5,6).

Mulher, por que choras? A quem procuras? (Jo 20,15). É interrogada sobre o motivo de sua dor, para que aumente o seu desejo e, mencionando o nome de quem procurava, se inflame ainda mais o seu amor por Ele.

Então Jesus disse: Maria (Jo 20,16). Depois de tê-la tratado pelo nome comum de mulher sem que ela o tenha reconhecido abertamente: Reconhece Aquele por quem és reconhecida. Não é entre outros, de maneira geral, que te conheço, mas especialmente a ti.

Maria, chamada pelo próprio nome, reconhece quem lhe falou; e imediatamente exclama: Rabuni, que quer dizer Mestre (Jo 20,16).

Era Ele a quem Maria Madalena procurava exteriormente; entretanto, era Ele que a impelia interiormente a procurá-Lo.” (1)

Santa Maria Madalena: que amor, que amizade!
Imitemo-la!
Procuremo-Lo!
Que nosso amor e amizade pelo Senhor
seja de tamanha intensidade e profundidade,
que O testemunhemos Vivo e Ressuscitado,
com renúncias quotidianas necessárias,
na fidelidade plena no carregar de nossa cruz!

Eis o verdadeiro amor que haveremos de
testemunhar por Cristo Jesus!
Aleluia! Aleluia!


 (1) Liturgia das Horas – Vol. III - pág. 1435-1436.

Procura, reconhecimento e Missão

                                                       

Procura, reconhecimento e Missão

Ele Vive! Aleluia!

No Evangelho, da terça-feira da Oitava de Páscoa, é proclamada a passagem que Maria Madalena vai ao túmulo onde Jesus Se encontrava morto, para chorar a Sua ausência (Jo 20,11-18).

Neste relato, encontramos uma tríplice dimensão das narrativas de aparições: iniciativa, reconhecimento e missão.

Maria Madalena procura um morto. Entretanto, o reconhecimento do Ressuscitado não se dá no mero encontro com Jesus, que ainda permanece desconhecido, o encontro acontece quando Sua presença se torna apelo "pessoal", quando Ele a chama pelo nome: "Maria!".

Iluminadora a citação do Lecionário comentado:

Nesta página evangélica Maria Madalena passa da condição inicial de imobilidade e de choro junto do sepulcro, para jubiloso movimento conclusivo com o qual anuncia aos discípulos a sua experiência do Ressuscitado...

A estada de Maria junto do sepulcro é o sinal do seu apego a Jesus, e o seu pranto é determinado pela ausência do corpo do Mestre no túmulo” (1).

Somente quando ela faz o gesto de deter Jesus, temos a revelação do pleno sentido do acontecimento: a volta de Jesus ao Pai e a investidura para a missão do anúncio aos irmãos. Da iniciativa ao reconhecimento, do reconhecimento à missão!

O propósito do Evangelista é levar-nos a compreender o novo modo de presença do Senhor, bem como um o novo modo de entrar em contato com Ele; e também, indicar-nos 
o novo modo de presença do Senhor entre nós, funda-se a Seu novo modo de "estar com o Pai", glorioso, ainda que não tenha subido para junto do Pai (v. 17):

“Maria não deve deter Jesus, como se Ele tivesse regressado à vida terrena. O Filho, pelo contrário, entrara na comunhão com o Pai, e ela é enviada a anunciar que esta comunhão é oferecida também aos discípulos.

A estes Maria proclama agora a sua fé: ‘Vi o Senhor’ e leva-lhes a mensagem Pascal” .(2)

Sendo nossa fé Pascal, é tempo de exultarmos de alegria, porque a tristeza, o desânimo e o medo cederam lugar à alegria, à esperança e à coragem.

Com as forças renovadas no Mistério Pascal celebrado, tornamo-nos alegres testemunhas de Jesus Cristo Ressuscitado, renovando compromissos com uma humanidade nova, pacificadora e justa.

É Páscoa! Ele caminha conosco, vivo e vitorioso. Prantos e lamentos haverão de dar lugar, em nosso coração, à alegria, à exultação, e palavras trocadas de mútua ajuda, para que jamais recuemos na fé.

De fato, a Páscoa do Senhor não dispensa nossos compromissos batismais, antes, são renovados e fortalecidos.

Aprendamos com Maria Madalena a passar da procura ao reconhecimento, e deste à Missão de testemunhar que Ele Vive, Ele Reina. Eis a nossa Missão! Aleluia! Aleluia!


PS: Fonte de pesquisa: Missal Cotidiano - Editora Paulus - pp. 338-339
(1)  Lecionário Comentado - Editora Paulus - Lisboa - p. 378.
(2)  idem - p. 379.

Mistério de escuridão e luz

 


Mistério de escuridão e luz
 
“No primeiro dia da semana, Maria Madalena
 foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada,
 quando ainda estava escuro, e viu que a
pedra tinha sido retirada do túmulo” (Jo 20,1)
 
Maria Madalena viu a pedra removida e, aos poucos, a Boa Nova da Ressurreição vai aquecer e iluminar seu coração, assim como o coração dos discípulos, que vão testemunhar o glorioso acontecimento que mudou o rumo da história e a condição da humanidade para sempre.
 
A escuridão da noite cedeu à luminosidade de um novo dia,
O primeiro dia da semana, “Por que estais procurando e tre os mortos Aquele que está vivo? Ele não está aqui. Ressuscitou! Lembrai-vos do que Ele vos falou quando ainda estava na Galileia” (Lc 24,5-6).
 
Ressurreição do Senhor, duelaram o ódio e o amor, a impotência da condição humana e a onipotência do amor divino, no Mistério da agonia, Paixão e Morte crudelíssima do Senhor na Cruz - “Deus amou tanto o mundo que nos deu o Seu Filho para que quem n’Ele crê não morra, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). 
 
A tenebrosa e tétrica escuridão da crueldade e morte do Justo, cedeu ao esplendor da luz da Ressurreição, d’Aquele que tendo nos amado, não poderia morto para sempre ficar, a fim de nos redimir pelo Sangue derramado, na fidelidade ao Pai, jamais abandonado, amado.
 
Não poderiam vencer os vorazes e atrozes inimigos do Redentor, da Luz que Veio para o que era Seu, e os Seus não O receberam. Mas, a todos que O receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus: aos que creem em Seu nome” (Jo 1,11-12).
 
Nem todas as luzes das velas, candeias e estrelas serão o bastante para resplandecer a luz que ilumina nossos caminhos, como Ele mesmo dissera – “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida’ (Jo 8,12).
 
Por vezes, caminhamos quando ainda está escuro a procura de uma luz para situações obscuras, procurando manter aceso o fogo sob as cinzas das verdades que passam, com ânsias da verdade que jamais passa, a Verdade que é Ele próprio, que uma vez conhecida nos faz livres (Jo 8,32).
 
Não há nada que nos amedronte a ponto de nos fazer submergir, devorando a coragem para enfrentar os ventos das contrariedades presentes na história em todos os seus âmbitos: – “Eu vos disse tais coisas para terdes paz em mim. No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: Eu venci o mundo!” (Jo 16,33).
 
Não há escuridão que seja para sempre, também os santos tiveram suas “Noites Escuras”, na inquieta procura sedenta e inquieta de Deus, a fim de que a luz dos olhos jamais se apague e as palavras nos lábios, de louvor, encantamento, apaixonamento pelo Senhor aos céus elevadas.
 
Trevas e luz...
Depois da escuridão da noite, a madrugada da Ressurreição.
“A Vida venceu a morte. Aleluia.
Ressuscitou como disse. Aleluia!”

“Ele Ressuscitou. Não está aqui.” Aleluia!

“Ele Ressuscitou. Não está aqui.”

No primeiro dia da semana, ao nascer do sol, Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e Salomé, tendo comprado perfumes para a unção do corpo de Jesus, tiveram a grande surpresa da pedra muito grande do túmulo removida e apenas encontraram um jovem que assim falou:

Não vos assusteis! Vós procurais Jesus de Nazaré que foi crucificado? Ele Ressuscitou. Não está aqui. Vede o lugar onde O puseram. Ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que Ele irá à vossa frente, na Galileia. Lá O vereis, como Ele mesmo tinha dito” (Mc 16,6-7).

Tendo vivenciado, com empenho e intensidade, o itinerário Quaresmal, e ressoando a Boa-Nova contemplada na proclamação da Vigília Pascal, demos os primeiros passos para o novo itinerário Pascal, na preparação da grande Festa de Pentecostes, o nascimento da Igreja e a comunicação do dom do Espírito Santo, que a conduz com os sete dons.

Voltemo-nos à Palavra dirigida àquelas mulheres no mais belo e radiante amanhecer: “Ele Ressuscitou. Não está aqui”. Não está morto e inerte no túmulo.

Não ficaria morto e derrotado Aquele que nos amou até o fim. A escuridão experimentada pela morte de Jesus foi transformada na mais plena e perfeita luminosidade: a luz do Ressuscitado, que ilumina os caminhos sombrios da história.

“pedra muito grande” do túmulo foi removida, ou seja, nada pode impedir a ação de Deus vivo e verdadeiro, que não abandonou Seu Filho, mas O ressuscitou, glorificando-O, e fazendo com que Ele se sentasse à Sua direita, para reinar sobre todos os povos, em todos os tempos: Juiz dos vivos e dos mortos.

Tendo ressuscitado, confia-nos a continuidade de Sua missão; tendo passado pela morte, em amor intenso e imenso por nós, agora vive junto do Pai, e está presente em nosso meio com o envio do Seu Espírito, que nos assiste nesta divina missão.

Vivamos o Tempo Pascal como tempo do transbordamento da alegria que se percebeu em nosso coração ao celebrarmos o Sábado Santo e o Domingo da Páscoa: o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim de nossa vida, é o vencedor.

Que a nossa alegria seja percebida do mesmo modo como os discípulos se manifestaram ao sentir a presença do Ressuscitado. Como os apóstolos, Pedro e o discípulo que Jesus amava, corramos ao encontro da Boa Notícia: o Senhor Ressuscitou. 

Quem O ama, corre ao seu encontro, vê os sinais de Sua Ressurreição e acredita. Acreditando, anuncia e testemunha, esforçando-se em buscar as coisas do alto onde Ele habita gloriosamente, sentado à direita de Deus (Cl 3,1-2).

Não houvesse Jesus Ressuscitado, vazia seria nossa pregação, ilusória seria a nossa fé, seríamos falsas testemunhas de Deus, como afirmou o Apóstolo Paulo (1 Cor 15,14-15).

“Ele Ressuscitou. Não está aqui”. Este acontecimento mudou o rumo da história. Agora é o nosso tempo, tempo de missão, de fazer o mesmo caminho que fizeram as primeiras testemunhas do Ressuscitado: comunicar Sua Palavra, para a Páscoa de um mundo marcado pela tristeza, desânimo, medo, violência, e outros tantos sinais de morte, para a alegria transbordante, à esperança, à coragem, à paz e à vida plena.

“Ele Ressuscitou. Não está aqui”. Sejamos, pois, sinais de Sua presença viva, em todos os âmbitos de nossa vida. Feliz Páscoa! Aleluia.

Verdadeiramente, uma incrível História de Amor!

                                                 

Verdadeiramente, uma incrível História de Amor!

O Amor teve a última palavra! 
Morte onde está tua vitória?

Reflitamos a partir de um dos Sermões de Santo Anastácio de Antioquia (Séc. XV),  sobre a incrível História de Amor que não conheceu final, pois Deus nos ama e nos amará sempre.

“Cristo, por Suas palavras e ações, revelou que era verdadeiro Deus e Senhor do universo. Ao subir para Jerusalém com Seus discípulos, dizia-lhes:

Eis que estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos  gentios, aos sumos sacerdotes e aos mestres da Lei, para ser escarnecido, flagelado e crucificado (Mt 20,18.19). Fazia, na verdade, estas afirmações em perfeita consonância com as predições dos profetas, que haviam anunciado Sua morte em Jerusalém.

Desde o princípio, a Sagrada Escritura havia predito a morte de Cristo com os sofrimentos que a precederiam, e também tudo quanto aconteceu com Seu corpo depois da morte; predisse igualmente que Aquele a quem tudo isto sucedeu é Deus impassível e imortal.

De outro modo, nunca poderíamos afirmar que era Deus se, ao contemplarmos a verdade da encarnação, não encontrássemos nela razões para proclamar, com clareza e justiça, uma e outra coisa, ou seja, Seu sofrimento e Sua impassibilidade.

O motivo pelo qual o Verbo de Deus, e, portanto, impassível, Se submeteu à morte é que, de outra maneira, o homem não podia salvar-se. Este motivo somente Ele o conhece e aqueles aos quais revelou. De fato, o Verbo conhece tudo o que é do Pai, como o Espírito que esquadrinha tudo, mesmo as profundezas de Deus (1Cor 2,10).

Realmente, era preciso que Cristo sofresse. De modo algum a Paixão podia deixar de acontecer. Foi o próprio Senhor quem declarou, quando chamou de insensatos e lentos de coração os que ignoravam ser necessário que Cristo sofresse, para assim entrar em Sua glória. Por isso, veio ao encontro do Seu povo para salvá-lo, deixando aquela glória que tinha junto do Pai, antes da criação do mundo.

Mas a salvação devia consumar-se por meio da morte do autor da nossa vida, como ensina São Paulo: Consumado pelos sofrimentos, Ele Se tornou o princípio da vida (cf. Hb 2,10).

Deste modo se vê como a glória do Filho unigênito, glória esta que por nossa causa Ele havia deixado por breve tempo, foi-lhe restituída, por meio da Cruz, na carne que tinha assumido. É o que afirma São João, no seu Evangelho, ao indicar qual era aquela água de que falava o Salvador:

Aquele que crê em mim, rios de água viva jorrarão do seu interior. Falava do Espírito, que deviam receber os que tivessem fé n'Ele; pois ainda não tinha sido dado o Espírito, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado (Jo 7,38-39); e chama glória a Morte na Cruz. Por isso, quando o Senhor orava, antes de ser crucificado, pedia ao Pai que o glorificasse com aquela glória que tinha junto d'Ele, antes da criação do mundo”.


Quantas vezes contemplamos, meditamos sobre a real necessidade do sofrimento de Cristo para entrar em Sua glória!

Oportuno é este Sermão no fortalecimento de nossa espiritualidade para que esta incrível História de Amor perpetue na adoração e fidelidade a Ele que agora vive e reina em nosso meio.

A Ressurreição de Jesus, o Filho amado, pelo Pai foi eternizado o Amor, e a vida; a morte foi destruída pelo Seu aniquilamento, Paixão e Morte!

Concluindo:

Servo amado, passível de todo sofrimento e dor,
Escreveu página inédita e indispensável de amor.
Poderia ter ficado deitado eternamente no leito de morte...
Quem à humanidade veio gestar para nova vida e sorte?

Que amor! Que incrível História de Amor!
Crer em sua Ressurreição é não conhecer o fim da mesma.
É escrever a cada dia uma nova página com Ele Vitorioso.
Ele Vive, Ele reina, à direita do Pai: Senhor e Glorioso!

Aleluia! Aleluia! Aleluia!

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Carta da 5ª Romaria das águas e da Terra da Bacia do Rio Doce


Carta da 5ª Romaria das águas e da Terra da Bacia do Rio Doce

Tema: Bacia do Rio Doce, nossa Casa Comum
Lema: Aos pés do bom Jesus, cuidar da Mãe Terra, das Águas e da Vida

Queridos irmãos e irmãs

Nossa 5ª Romaria das Águas e da Terra da Bacia do Rio Doce está sendo celebrada neste de 15 a 19 de julho de 2020, por meio das mídias sociais.

Refletimos sobre o temaBacia do Rio Doce, nossa Casa Comum” e o lema “Aos pés do Bom Jesus, cuidar da Mãe Terra, das Águas e da Vida”.

Esta Romaria foi programada para ser celebrada no Santuário do Bom Jesus, em Conceição do Mato Dentro, Diocese de Guanhães – MG, mas devido a este tempo de quarentena que nos foi imposto, não por nossa própria vontade, mas pela dolorosa imposição da pandemia do coronavírus, que vem disseminando a covid-19 e ceifando milhares de vida, tivemos que realiza-la de forma não presencial, mas aguardando o tempo oportuno para realizá-la presencialmente no ano de 2021.

Contamos com a participação da comissão do Meio Ambiente da Arquidiocese de Mariana, Comissão da Romaria da Diocese de Guanhães e Caritas Regional Minas Gerais.

Dom Otacílio Ferreira de Lacerda, bispo da Diocese de Guanhães e Bispo Referencial da  Comissão Episcopal para a Ação Social Transformadora do Regional Leste 2 da CNBB, acolheu nossa Romaria e a presidência da Celebração Eucarística na Catedral de São Miguel e Almas, no dia 19 de julho, às 10horas.

Nessa 5ª Romaria celebramos também os 5 anos da Carta Encíclica do Papa Francisco Laudato Si, que é um importante documento na defesa de uma ecologia integral, do meio ambiente e no cuidado com a criação divina, na nossa Casa Comum.

Urge recordar que o meio ambiente é um bem coletivo, patrimônio de toda a humanidade e responsabilidade de todos (LS 95) e que o princípio da maximização do lucro, que tende a isolar-se de todas as outras considerações, é uma distorção conceitual da economia (LS 195).

E ainda, adverte-nos o Papa Francisco de que não podemos ser testemunhas mudas das gravíssimas desigualdades, quando se pretende obter benefícios significativos, fazendo pagar ao resto da humanidade, presente e futura, os altíssimos custos da degradação ambiental (LS 36).

Somos todos desafiados a adotar um comportamento inspirado no princípio de que formamos uma única família humana, que tudo está interligado nesta Casa Comum, e que o genuíno cuidado de nossa própria vida e de nossa relação com a natureza é inseparável da fraternidade, da justiça e da fidelidade aos outros. Portanto, não podemos aceitar o custo dos danos provocados pela negligência egoísta das atividades minerárias, pois este é muitíssimo maior do que o benefício econômico que se possa obter.

Nossa Romaria quer ser o eco de tantos gritos e a expressão solidária e esperançosa de numerosas pessoas, família, comunidades e grupos étnicos que sofrem direta ou indiretamente por causa das consequências, muitas vezes negativas das atividades mineradoras.

É também um grito profético contra a extração de tantos bens minerários em nosso solo que, paradoxalmente, não tem produzido conforto e dignidade para as populações locais que permanecem pobres e o meio ambiente degradado.

Um grito de dor em reação às violências, ameaças e corrupção; um grito de tristeza e impotência pela poluição das águas, do ar e dos solos; um grito de incompreensão pela ausência de processos inclusivos e de apoio por parte das autoridades civis, locais e nacionais, que têm o dever de promover o bem comum.

Um grito de alerta contra esse modelo depredatório e desumano que parece não ter fim e que permitem a existência de mais de 700 barragens de rejeito somente em Minas Gerais, dentre as quais, 43 em alto risco de rompimento, algumas com potencial maior do que as de Mariana e Brumadinho, causadoras de danos humanos e ambientais irreversíveis como a contaminação das águas, da fauna e da flora nas Bacias do Rio Doce e São Francisco.

Queremos ser solidários aos sofrimentos e alegrias de cada pessoa e de toda criação divina (1Cor 12, 25 e Rom 8, 14), reerguendo as mãos enfraquecidas e os joelhos calejados (Hb 12,12), e também edificar uma Igreja samaritana que é capaz de ver, sentir compaixão e cuidar da vida em todas as suas dimensões.

Sejamos fortalecidos nesta Romaria da Vida pelo testemunho de tantos profetas e profetizas, de ontem e de hoje, de perto e de longe, quais discípulos missionários que doaram suas vidas no anúncio do Evangelho da Vida, na defesa dos povos e do meio ambiente.

Que sob a proteção do Senhor Bom Jesus, sejam renovadas e revigoradas nossas esperanças e nossas lutas por uma ecologia integral.

Diocese de Guanhães – MG, 19 de julho de 2010



Dom Otacilio Ferreira Lacerda
Bispo da Diocese de Guanhães - MG               
Bispo Referencial da Comissão para Ação Social Transformadora da CNBB Leste 2

Pe. Nelito Nonato Dornelas
Representante da Comissão do Meio Ambiente da Província Eclesiástica de Mariana
Assessoria de formação da Comissão para Ação Social Transformadora da CNBB Leste 2


Rodrigo Pires Vieira
Secretário Executivo da Comissão para Ação Social Transformadora da CNBB Leste 2


“O amor é um abismo de luz, uma fonte de fogo”


“O amor é um abismo de luz, uma fonte de fogo”

O monge São João Clímaco (séc. VI) nos apresenta, no trigésimo degrau da Escada Santa, “o amor”, como vemos:

“O amor: sua natureza e semelhante a Deus (...) sua ação: embriaguez da alma; sua força própria: fonte da fé, abismo de paciência, oceano de humildade.

O amor, a liberdade interior e a adoção filial não se distinguem senão pelo nome, como a luz, o fogo, a chama.

Se o rosto de um ser amado (...) nos torna felizes, que não fará a força do Senhor quando vier secretamente habitar a alma purificada?

O amor é um abismo de luz, uma fonte de fogo. Quanto mais ele corre, mais queima aquele que tem sede (...) Eis porque o amor é uma progressão eterna”.

Ser discípulo missionário é propor-se a subir esta “escada santa”, degrau por degrau, até chegar ao seu ápice, que consiste no amor.

Asim somos conhecidos como discípulos do Senhor: se nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou, assim como ele próprio afirmou (Jo 13,35).

Roguemos a Deus, para que jamais desistamos desta subida, incansavelmente, até que alcancemos este “abismo de luz” e “fonte de fogo”, como nos falou o monge.

É tempo de formar comunidades que vivam como as primeiras comunidades cristãs, perseverantes na Doutrina dos Apóstolos, na fração do Pão, na comunhão fraterna e na oração.

Tudo isto em perfeita sintonia com as novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil (2019-2023), a fim de construirmos comunidades como uma casa, com seus quatro pilares indispensáveis: o pilar da Palavra, do Pão, da Caridade e da ação missionária.


PS: A Escada Santa, 30º degrau – citado em Fontes: Os Místicos Cristãos dos primeiros séculos – textos e comentários – Edições Subíaco – p.224

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