segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Mensagem para o 54º dia Mundial da Paz - (Papa Francisco) (2021)


Mensagem do Santo Padre Francisco para a celebração do 54º dia Mundial Da Paz - 1º De Janeiro De 2021

A cultura do cuidado como percurso de paz

Inicialmente, o Papa saúda os Chefes de Estado e de Governo, responsáveis das Organizações Internacionais, líderes espirituais e fiéis das várias religiões, aos homens e mulheres de boa vontade, exortando para o necessário progresso no caminho da fraternidade, da justiça e da paz entre as pessoas, as comunidades, os povos e os Estados.

Descreve o gravíssimo cenário do ano de 2020, marcado pela pandemia, em suas manifestações de crise sanitária da covid-19, agravada fortemente pelas crises inter-relacionadas como a climática, alimentar, económica e migratória, e provocando grandes sofrimentos e incómodos.

Este cenário foi motivador para a escolha do tema da mensagem “A cultura do cuidado como percurso de paz”, com a promoção da cultura do cuidado para erradicar a cultura da indiferença, do descarte e do conflito, que hoje muitas vezes parece prevalecer.

À luz da Palavra divina, retrata a obra da criação divina, a origem da vocação humana e a necessidade de cuidarmos uns dos outros, tendo como fundamentação bíblica: Gn 2,8; 2,15; Gn 4,9, 4,15, Gn 2,1-3; Lv 25, alusão aos Profetas Amós e Isaías, Ezequiel, e de modo especial a prática e ministério de Jesus nos Evangelhos (Jo 3,16; Lc 4,18; Jo 10,11-18; Lc 10,20-37  - Jesus é o Bom Pastor que cuida das ovelhas, o Bom Samaritano que Se inclina sobre o ferido, trata as suas feridas e cuida dele.

O ponto culminante da missão de Jesus se dá na Cruz, quando sela o seu cuidado por nós, oferecendo-Se nela e nos liberta da escravidão do pecado e da morte.

Com o dom da Sua vida e o Seu sacrifício, abriu-nos o caminho do amor e disse a cada um de nós: “Segue-Me! Faz tu também o mesmo” (cf. Lc 10, 37).

Fundamental neste sentido é a prática das obras de misericórdia corporais e espirituais vivida pela Igreja ao longo da história, somada aos princípios da Doutrina Social da Igreja como base da cultura do cuidado, que apresenta em parágrafos seguintes, como uma bússola a guiar a todos nós (em todos os âmbitos):

- o cuidado como promoção da dignidade e dos direitos da pessoa;

- o cuidado do bem comum;

- o cuidado através da solidariedade;

- o cuidado e a salvaguarda da criação.

“Através desta bússola, encorajo todos a tornarem-se profetas e testemunhas da cultura do cuidado, a fim de preencher tantas desigualdades sociais. E isto só será possível com um forte e generalizado protagonismo das mulheres na família e em todas as esferas sociais, políticas e institucionais”.

Esta bússola dos princípios sociais é “necessária para promover a cultura do cuidado, vale também para as relações entre as nações, que deveriam ser inspiradas pela fraternidade, o respeito mútuo, a solidariedade e a observância do direito internacional. A este respeito, hão de ser reafirmadas a proteção e a promoção dos direitos humanos fundamentais, que são inalienáveis, universais e indivisíveis”.

Acena para a criação de “Fundo Mundial” com o dinheiro que se gasta em armas e outras despesas militares para a eliminação da fome e contribuição para o desenvolvimento dos países pobres.

Esta cultura do cuidado pressupõe um processo educativo que nasce na família, e se desenvolve nas Escolas e Universidades; com contribuição das religiões em geral e seus líderes religiosos junto aos fiéis; e todas as pessoas empenhadas no serviço das populações, nas organizações internacionais, governamentais e não governamentais.

Deste modo, não há a paz sem a cultura do cuidado, e esta enquanto compromisso comum, solidário e participativo para proteger e promover a dignidade e o bem de todos, pois a barca da humanidade foi sacudida pela tempestade da crise, e avança com dificuldade à procura dum horizonte mais calmo e sereno.

Neste sentido, o leme da dignidade da pessoa humana e a “bússola” dos princípios sociais fundamentais podem consentir-nos de navegar com um rumo seguro e comum.

Exorta a todos os cristãos que mantenham o olhar fixo na Virgem Maria, Estrela do Mar e Mãe da Esperança.

Urge que todos juntos colaborem, a fim de avançar para um novo horizonte de amor e paz, de fraternidade e solidariedade, de apoio mútuo e acolhimento recíproco.

Conclui motivando-nos, para que não cedamos à tentação de nos desinteressarmos uns dos outros, especialmente dos mais frágeis, não nos habituando a desviar o olhar; ao contrário, é preciso empenho, cada dia, concretamente, para formar uma comunidade feita de irmãos que se acolhem mutuamente e cuidam uns dos outros.

 

PS: Se desejar conferir na integra, acesse:

http://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/peace/documents/papa-francesco_20201208_messaggio-54giornatamondiale-pace2021.html 

 

Aprendizes da concórdia e da paz (Dia Mundial da Paz 2020)

Aprendizes da concórdia e da paz


Ressoando a mensagem para o Dia Mundial da Paz 2020, escrita pelo Papa Francisco, com o título: “A paz como caminho de esperança: diálogo, reconciliação e  conversão ecológica”, voltemo-nos para esta estória:

“Dois anciãos viviam juntos por muitos anos e nunca brigaram. Então, um disse ao outro: ‘Briguemos também nós, como fazem os outros homens!’. E o outro respondeu ao irmão: ‘Não sei como se começa uma briga’.

O primeiro disse: ‘Pois bem, eu coloco no meio uma jarra e digo: ‘é minha’, e você diz: ‘não, é minha’. É assim que se começa uma briga’.

Colocaram, pois, no meio uma jarra e um disse ao outro: ‘é minha’, e o outro disse: ‘é minha’. E o primeiro disse: ‘Se é sua, pegue-a e vai embora’. E se separaram sem terem encontrado um motivo para brigar um com o outro”.

Nem sempre assim agimos ou vemos isto acontecer. Portanto iniciando mais um ano, reaprendamos como viver na concórdia, sem cobiças, possessões e acúmulos desnecessários.

Libertemo-nos de quaisquer atitudes materialistas e consumistas, que não levam em conta a necessidade dos que mais precisam.

Desarmemos tudo aquilo que destrói a paz, a concórdia e a comunhão, em todos os âmbitos: família, comunidade e sociedade.

Despojemo-nos de tudo que pareça nos dar segurança como indispensável, quando na verdade, tão bem e livremente podemos viver.

Sem cobiças, apegos demasiados às coisas que passam, revestidos de Cristo, como novas criaturas, aprendamos a abraçar o essencial, as coisas que não passam: a esperança, a fé, o amor, a verdade, a concórdia, a solidariedade.

Feliz Ano Novo!

Mensagem para o 53º Dia Mundial da Paz – (Papa Francisco) (2020)


Mensagem para o 53º Dia Mundial da Paz – (Síntese)

“A paz como caminho de esperança: diálogo,
reconciliação e conversão ecológica”

A Mensagem para o 53º Dia Mundial da Paz do Papa Francisco traz como tema – “A paz como caminho de esperança: diálogo, reconciliação e conversão ecológica”.

Inicialmente, fala-nos da paz como caminho de esperança face aos obstáculos e provações, porque ela é um bem precioso e o objeto da esperança de toda a humanidade.

A esperança é a virtude que nos coloca a caminho, dando asas para continuar, mesmo quando os obstáculos parecem ser intransponíveis:

“A nossa comunidade humana traz, na memória e na carne, os sinais das guerras e conflitos que têm vindo a suceder-se, com crescente capacidade destruidora, afetando especialmente os mais pobres e frágeis. Há nações inteiras que não conseguem libertar-se das cadeias de exploração e corrupção que alimentam ódios e violências... Inúmeras vítimas inocentes carregam sobre si o tormento da humilhação e da exclusão, do luto e da injustiça, se não mesmo os traumas resultantes da opressão sistemática contra o seu povo e os seus entes queridos”.

Deste modo, o Papa nos fala da guerra como a revelação de um “fratricídio”, que destrói o próprio projeto de fraternidade, inscrito na vocação da família humana.

Começa pelo fato de não se suportar a diversidade do outro,  que fomenta o desejo de posse e a vontade de domínio:

Nasce, no coração do homem, a partir do egoísmo e do orgulho, do ódio que induz a destruir, a dar uma imagem negativa do outro, a excluí-lo e cancelá-lo.”

Nutre-se com a perversão das relações, com as ambições hegemônicas, os abusos de poder, com o medo do outro e a diferença vista como obstáculo; e, simultaneamente, alimenta tudo isso.

Alerta-nos para o fato de que “...não podemos pretender manter a estabilidade no mundo através do medo da aniquilação, num equilíbrio muito instável, pendente sobre o abismo nuclear e fechado dentro dos muros da indiferença, onde se tomam decisões socioeconômicas que abrem a estrada para os dramas do descarte do homem e da criação, em vez de nos guardarmos uns aos outros”.

Apresenta algumas questões essenciais na procura de uma fraternidade real, em que se concretize o desejo de paz, profundamente inscrito no coração da humanidade:

-  Como construir um caminho de paz e mútuo reconhecimento?
-  Como romper a lógica morbosa da ameaça e do medo?
-  Como quebrar a dinâmica de desconfiança atualmente prevalecente?

Na segunda parte, reflete sobre a paz e o caminho da escuta  baseado na “memória, solidariedade e fraternidade”.

Referindo-se aos sobreviventes aos bombardeamentos atômicos de Hiroxima e Nagasáqui – denominados os hibakusha, o horror que aconteceu em agosto de 1945, afirma: “Não podemos permitir que as atuais e as novas gerações percam a memória do que aconteceu, aquela memória que é garantia e estímulo para construir um futuro mais justo e fraterno”.

Deste modo, é imprescindível a memória, como horizonte da esperança, devendo ser preservada – “não apenas para evitar que se voltem a cometer os mesmos erros ou se reproponham os esquemas ilusórios do passado, mas também para que a memória, fruto da experiência, constitua a raiz e sugira a vereda para as opções de paz presentes e futuras”.

Multiplicar pequenos gestos de solidariedade, pois o mundo não precisa de palavras vazias, mas de testemunhas convictas, artesãos da paz abertos ao diálogo sem exclusões nem manipulações, pois “a paz é uma construção que deve estar constantemente a ser edificada, um caminho que percorremos juntos procurando sempre o bem comum e comprometendo-nos a manter a palavra dada e a respeitar o direito...”, num empenho que se prolonga no tempo.

Assinala a missão da Igreja neste processo, participando plenamente na busca de uma ordem justa, continuando a servir o bem comum e a alimentar a esperança da paz, através da transmissão dos valores cristãos, do ensinamento moral e das obras sociais e educacionais.

No terceiro momento, reflete sobre a paz e o caminho de reconciliação na comunhão fraterna.

Tendo como inspiração a Bíblia, particularmente através da palavra dos profetas, que chama as consciências e os povos à aliança de Deus com a humanidade, apontando o caminho do “respeito” imprescindível para que se rompa a espiral da vingança, empreendendo o caminho da esperança.

Citando a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 18,21-22), em que narra o diálogo entre Pedro e Jesus: “Senhor, se o meu irmão me ofender, quantas vezes lhe deverei perdoar? Até sete vezes?” Jesus respondeu: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”, fala nos deste caminho de reconciliação, que nos convida a encontrar, no mais fundo do nosso coração, a força do perdão e a capacidade de nos reconhecermos como irmãos e irmãs.

Este aprendizado do perdão aumenta a nossa capacidade de nos tornarmos mulheres e homens de paz, afirma o Papa.

É preciso que se compreenda esta paz em todas as dimensões da vida: na esfera social, no campo político e econômico – “nunca haverá paz verdadeira, se não formos capazes de construir um sistema econômico mais justo”.

Em seguida, nos fala da paz, e o caminho de conversão ecológica, ressoando aqui a Encíclica “Laudato Si” Vendo as consequências da nossa hostilidade contra os outros, da falta de respeito pela casa comum e da exploração abusiva dos recursos naturais – considerados como instrumentos úteis apenas para o lucro de hoje, sem respeito pelas comunidades locais, pelo bem comum e pela natureza –, precisamos duma conversão ecológica”.

Menciona o recente Sínodo sobre a Amazônia, que nos impele a dirigir, de forma renovada, o apelo em prol duma relação pacífica entre as comunidades e a terra, entre o presente e a memória, entre as experiências e as esperanças.

O caminho de reconciliação inclui também escuta e contemplação do mundo que nos foi dado por Deus, para fazermos dele a nossa casa comum – De modo particular brotam daqui motivações profundas e um novo modo de habitar na casa comum, de convivermos uns e outros com as próprias diversidades, de celebrar e respeitar a vida recebida e partilhada, de nos preocuparmos com condições e modelos de sociedade que favoreçam o desabrochar e a permanência da vida no futuro, de desenvolver o bem comum de toda a família humana”.

Esta conversão, por sua vez, “... deve ser entendida de maneira integral, como uma transformação das relações que mantemos com as nossas irmãs e irmãos, com os outros seres vivos, com a criação na sua riquíssima variedade, com o Criador que é origem de toda a vida. Para o cristão, uma tal conversão exige ‘deixar emergir, nas relações com o mundo que o rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus’.

Na última parte da Mensagem, afirma que a paz deve ser esperada, e que o caminho da reconciliação requer paciência e confiança.

É preciso acreditar na possibilidade da paz, e crer que o outro tem a mesma necessidade de paz que nós, e nisto, pode-nos inspirar o amor de Deus por cada um de nós, amor libertador, ilimitado, gratuito, incansável”.

Sendo o medo, frequentemente, fonte de conflito, é importante ir além dos nossos temores humanos, reconhecendo-nos filhos necessitados diante d’Aquele que nos ama e espera por nós, como o Pai do filho pródigo (cf. Lc 15, 11-24).

Favorecer a cultura do encontro entre irmãos e irmãs rompe com a cultura da ameaça – “Torna cada encontro uma possibilidade e um dom do amor generoso de Deus. Faz-nos de guia para ultrapassarmos os limites dos nossos horizontes estreitos, procurando sempre viver a fraternidade universal, como filhos do único Pai celeste”.

Como discípulos de Cristo, somos apoiados pelo Sacramento da Reconciliação, no qual temos a remissão de nossos pecados, e assim devemos depor toda a violência nos pensamentos, nas palavras e nas obras quer para com o próximo quer para com a criação (Cl 1,20):

“A graça de Deus Pai oferece-se como amor sem condições. Recebido o Seu perdão, em Cristo, podemos colocar-nos a caminho para ir oferecê-lo aos homens e mulheres do nosso tempo. Dia após dia, o Espírito Santo sugere-nos atitudes e palavras para nos tornarmos artesãos de justiça e de paz”.

Finaliza concedendo-nos a bênção de Deus, e invoca o acompanhamento e apoio de Maria, a Mãe do Príncipe da Paz e Mãe de todos os povos da terra, passo a passo, no caminho da reconciliação, a fim de que toda pessoa que venha a este mundo possa conhecer uma existência de paz e desenvolver plenamente a promessa de amor e vida que traz em si.


PS: Se desejar, leia a mensagem na integra: 

Mensagem para o 52º Dia Mundial da Paz – Papa Francisco (2019)




Mensagem para o 52º Dia Mundial da Paz – Papa Francisco

“A boa política está ao serviço da paz” –
“A paz esteja nesta casa”

Ofereço uma síntese da Mensagem do Papa Francisco para o 52º Dia Mundial da Paz, celebrado no dia 1º de janeiro de 2019.

A mensagem tem como titulo: “A boa política está ao serviço da paz”, e como inspiração bíblica, a passagem do Evangelho de Lucas: “Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa! ’ E, se lá houver um homem de paz, sobre ele repousará a Vossa paz; se não, voltará para Vós” (Lc 10, 5-6).

“Casa” refere-se a cada família, cada comunidade, cada país, cada continente, na sua singularidade e história; antes de tudo, é cada pessoa, sem distinção nem discriminação alguma. E é também a nossa «casa comum»: o planeta onde Deus nos colocou a morar e do qual somos chamados a cuidar com solicitude.

A paz parecida com a esperança, como uma flor frágil, que procura desabrochar entre as pedras da violência (citando o poeta Carlos Péguy) é compromisso de todos.

Neste sentido, somos desafiados a exercer a boa política, uma vez que a busca do poder a todo custo leva a abusos e injustiças.

A boa política é um meio fundamental para construir a cidadania e as obras do homem, mas, quando aqueles que a exercem não a vivem como serviço à coletividade humana, pode tornar-se instrumento de opressão, marginalização e até destruição.

O Santo Padre retoma as palavras do Papa São Paulo VI, na Octogésima Adveniens (1971) – “tomar a sério a política, nos seus diversos níveis – local, regional, nacional e mundial – é afirmar o dever do homem, de todos os homens, de reconhecerem a realidade concreta e o valor da liberdade de escolha que lhes é proporcionada, para procurarem realizar juntos o bem da cidade, da nação e da humanidade”.

Se a política for implementada no respeito fundamental pela vida, à liberdade e à dignidade das pessoas, ela pode se tornar verdadeiramente uma forma eminente de caridade.

No terceiro parágrafo, acentua sobre a importância da caridade e as virtudes humanas, para uma política ao serviço dos direitos humanos e da paz.

Recorda-nos as “bem-aventuranças do político”, que nos foram propostas por uma testemunha fiel do Evangelho, o Cardeal vietnamita Francisco Xavier Nguyen Van Thuan, falecido em 2002:

“Bem-aventurado o político que tem uma alta noção e uma profunda consciência do seu papel.

Bem-aventurado o político de cuja pessoa irradia a credibilidade.
Bem-aventurado o político que trabalha para o bem comum e não para os próprios interesses.

Bem-aventurado o político que permanece fielmente coerente.
Bem-aventurado o político que realiza a unidade.

Bem-aventurado o político que está comprometido na realização duma mudança radical.

Bem-aventurado o político que sabe escutar.
Bem-aventurado o político que não tem medo”.

Cada renovação nos cargos eletivos, cada período eleitoral, cada etapa da vida pública constitui uma oportunidade para voltar à fonte e às referências que inspiram a justiça e o direito, de modo que a  boa política está ao serviço da paz; respeita e promove os direitos humanos fundamentais, que são igualmente deveres recíprocos, para que se teça um vínculo de confiança e gratidão entre as gerações do presente e as futuras, afirmou o Papa.

No quarto parágrafo, apresenta-nos os vícios da política que  enfraquecem o ideal duma vida democrática autêntica, são a vergonha da vida pública e colocam em perigo a paz social: “a corrupção – nas suas múltiplas formas de apropriação indevida dos bens públicos ou de instrumentalização das pessoas –, a negação do direito, a falta de respeito pelas regras comunitárias, o enriquecimento ilegal, a justificação do poder pela força ou com o pretexto arbitrário da «razão de Estado», a tendência a perpetuar-se no poder, a xenofobia e o racismo, a recusa a cuidar da Terra, a exploração ilimitada dos recursos naturais em razão do lucro imediato, o desprezo daqueles que foram forçados ao exílio”.

No parágrafo seguinte, fala da boa política que promove a participação dos jovens e a confiança no outro, tornando-nos “Artesãos da paz” – “Uma tal confiança nunca é fácil de viver, porque as relações humanas são complexas. Nestes tempos, em particular, vivemos num clima de desconfiança que está enraizada no medo do outro ou do forasteiro, na ansiedade pela perda das próprias vantagens, e manifesta-se também, infelizmente, a nível político mediante atitudes de fechamento ou nacionalismos que colocam em questão aquela fraternidade de que o nosso mundo globalizado tanto precisa. Hoje, mais do que nunca, as nossas sociedades necessitam de ‘artesãos da paz’ que possam ser autênticos mensageiros e testemunhas de Deus Pai, que quer o bem e a felicidade da família humana.

No sexto parágrafo, exorta-nos a dizer não à guerra e à estratégia do medo – “O terror exercido sobre as pessoas mais vulneráveis contribui para o exílio de populações inteiras à procura duma terra de paz. Não são sustentáveis os discursos políticos que tendem a acusar os migrantes de todos os males e a privar os pobres da esperança...

O nosso pensamento detém-se, ainda e de modo particular, nas crianças que vivem nas zonas atuais de conflito e em todos aqueles que se esforçam por que a sua vida e os seus direitos sejam protegidos. No mundo, uma em cada seis crianças sofre com a violência da guerra ou pelas suas consequências, quando não é requisitada para se tornar, ela própria, soldado ou refém dos grupos armados.

O testemunho daqueles que trabalham para defender a dignidade e o respeito das crianças é extremamente precioso para o futuro da humanidade”.

No parágrafo seguinte, fala-nos da necessidade de um grande projeto de paz–“Com efeito, a paz é fruto dum grande projeto político, que se baseia na responsabilidade mútua e na interdependência dos seres humanos. Mas é também um desafio que requer ser abraçado dia após dia”

A tríplice dimensão da paz pressupõe a conversão do coração e da alma:

– “a paz consigo mesmo, rejeitando a intransigência, a ira e a impaciência e – como aconselhava São Francisco de Sales – cultivando «um pouco de doçura para consigo mesmo», a fim de oferecer «um pouco de doçura aos outros»;

– a paz com o outro: o familiar, o amigo, o estrangeiro, o pobre, o atribulado…, tendo a ousadia do encontro, para ouvir a mensagem que traz consigo;

– a paz com a criação, descobrindo a grandeza do dom de Deus e a parte de responsabilidade que compete a cada um de nós, como habitante deste mundo, cidadão e ator do futuro”.

Finaliza convidando-nos a promover a política da paz, tendo como inspiração o espírito do Magnificat que Maria, Mãe de Cristo Salvador e Rainha da Paz, canta em nome de todos os homens:

A «misericórdia [do Todo-Poderoso] estende-se de geração em geração sobre aqueles que O temem. Manifestou o poder do Seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes (…), lembrado da Sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência, para sempre» (Lc 1, 50-55).




Mensagem para o 51º Dia Mundial da Paz (Papa Francisco) (2018)

Mensagem para o 51º Dia Mundial da Paz

Apresento uma síntese da Mensagem do Papa Francisco para o 51º Dia Mundial da Paz, celebrado no dia 1° de Janeiro de 2018, com o título: - “Migrantes e refugiados: homens e mulheres em busca de paz”

O Papa inicia a mensagem com votos de paz a todas as pessoas e a todas as nações da terra; a paz, que os anjos anunciam aos pastores na noite de Natal.

Logo no início, acena para a desafiadora realidade da migração: “... quero recordar de novo os mais de 250 milhões de migrantes no mundo, dos quais 22 milhões e meio são refugiados”, e estes são  homens e mulheres, crianças, jovens e idosos que procuram um lugar onde viver em paz.

Exorta o acolhimento de todos com misericórdia: “Com espírito de misericórdia, abraçamos todos aqueles que fogem da guerra e da fome ou se veem constrangidos a deixar a própria terra por causa de discriminações, perseguições, pobreza e degradação ambiental”.

Acena para a responsabilidade de todos diante desta situação, bem como a de governantes que, praticando a virtude da prudência, saberão acolher, promover, proteger e integrar, estabelecendo medidas práticas, nos limites consentidos pelo bem da própria comunidade retamente entendido, para lhes favorecer a integração.

Num segundo momento, analisa o porquê de tantos refugiados e migrantes, que São João Paulo II já mencionara, e hoje permanece decorrente dos conflitos armados, e as outras formas de violência organizada, que continuam a provocar deslocações de populações no interior das fronteiras nacionais e para além delas.

Aponta ainda outras razões, sendo a primeira delas o desejo de uma vida melhor, unido muitas vezes ao desejo de deixar para trás o “desespero” de um futuro impossível de construir; fuga da miséria agravada pela degradação ambiental.

Na terceira parte, exorta-nos o “olhar contemplativo”, fundamentado na sabedoria da fé que nutre este olhar, capaz de intuir que todos pertencemos “a uma só família, migrantes e populações locais que os recebem, e todos têm o mesmo direito de usufruir dos bens da terra, cujo destino é universal, como ensina a doutrina social da Igreja. Aqui encontram fundamento a solidariedade e a partilha”, como vemos nas passagens Bíblicas (Is 60; Ap 21).

Com este olhar, afirma o Papa, “descobre-se que os migrantes não chegam de mãos vazias, pois trazem uma bagagem feita de coragem, capacidades, energias e aspirações, para além dos tesouros das suas culturas nativas, e deste modo enriquecem a vida das nações que os acolhem”.

Este olhar é fundamental para guiar o discernimento dos responsáveis governamentais, de modo a impelir políticas de acolhimento até ao máximo dos “limites consentidos pelo bem da própria comunidade retamente entendido”.

Na quarta parte, apresenta-nos e desenvolve quatro pedras miliárias para a ação diante dos requerentes de asilo, refugiados, migrantes e vítimas de tráfico humano: acolher, proteger, promover e integrar.

Na quinta parte, acena para a proposta de dois Pactos internacionais, no decurso de 2018: um para migrações seguras, ordenadas e regulares; outro, referido aos refugiados.

Menciona o trabalho da Seção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, que sugeriu 20 pontos de ação:

“Estas e outras contribuições pretendem expressar o interesse da Igreja Católica pelo processo que levará à adoção dos referidos pactos globais das Nações Unidas. Um tal interesse confirma uma vez mais a solicitude pastoral que nasceu com a Igreja e tem continuado em muitas das suas obras até aos nossos dias”.

Concluindo, fala-nos da importância de cuidar de nossa casa comum, inspirado nas palavras de São João Paulo II, o sonho de um mundo em paz, partilhado por tantas pessoas, valorizando a contribuição dos migrantes e dos refugiados.

Deste modo, afirma o Papa Francisco, a humanidade pode tornar-se sempre mais família de todos, e a nossa terra, uma real “casa comum”.

Lembra-nos o centenário do nascimento para o Céu, neste ano de 2017 da Santa Francisca Xavier Cabrini, cuja Memória é celebrada no  dia 13 de novembro:

Esta pequena grande mulher, que consagrou a sua vida ao serviço dos migrantes tornando-se depois a sua Padroeira celeste, ensinou-nos como podemos acolher, proteger, promover e integrar estes nossos irmãos e irmãs”

Finaliza orando ao Senhor, para que todos façamos a experiência de que “o fruto da justiça é semeado em paz por aqueles que praticam a paz”.

Mensagem para o 50º Dia Mundial da Paz (Papa Francisco) (2017)


Mensagem para o 50º Dia Mundial da Paz – Papa Francisco
“A não-violência: estilo de uma política para a paz”

O Papa Francisco em sua Mensagem para 50º Dia Mundial da Paz (1º de janeiro de 2017) nos convida a viver a não-violência, fazendo desta um estilo de política para a paz, assim como se intitula sua Mensagem.

Inicia ressaltando a semelhança de Deus impressa em cada pessoa, o que, consequentemente, a torna portadora de dons sagrados, com dignidade imensa. Deste modo, todos somos chamados a respeitar esta dignidade, sobretudo nas situações de conflito.

Retoma a primeira Mensagem feita pelo Beato Papa Paulo VI em que se dirigiu a todos os povos – e não só aos católicos – com palavras inequívocas: “Finalmente resulta, de forma claríssima, que a paz é a única e verdadeira linha do progresso humano (não as tensões de nacionalismos ambiciosos, nem as conquistas violentas, nem as repressões geradoras duma falsa ordem civil)”.

 E ainda a referência ao que o Beato fez a São João XIII, em que exaltava “o sentido e o amor da paz baseada na verdade, na justiça, na liberdade, no amor” pela notável atualidade.

O Papa Francisco exorta para a não-violência como estilo duma política de paz, pedindo a  Deus para nos ajudar a todos na inspiração da não-violência nas profundezas dos sentimentos e valores pessoais.

“Sejam a caridade e a não-violência a guiar o modo como nos tratamos uns aos outros nas relações interpessoais, sociais e internacionais... Desde o nível local e diário até ao nível da ordem mundial, possa a não-violência tornar-se o estilo caraterístico das nossas decisões, dos nossos relacionamentos, das nossas ações, da política em todas as suas formas” (n.1).

Em seguida nos apresenta a realidade um mundo dilacerado, marcado por guerra mundial aos pedaços (diferentemente do século passado que foi arrasado por duas guerras mundiais devastadoras, conheceu a ameaça da guerra nuclear e um grande número de outros conflitos).

Uma violência que se exerce «aos pedaços», de maneiras diferentes e a variados níveis, provocando enormes sofrimentos: guerras em diferentes países e continentes; terrorismo, criminalidade e ataques armados imprevisíveis; os abusos sofridos pelos migrantes e as vítimas de tráfico humano; a devastação ambiental.

Enfatiza que a violência não é o remédio para o nosso mundo dilacerado: “Responder à violência com a violência leva, na melhor das hipóteses, a migrações forçadas e a atrozes sofrimentos, porque grandes quantidades de recursos são destinadas a fins militares e subtraídas às exigências do dia-a-dia dos jovens, das famílias em dificuldade, dos idosos, dos doentes, da grande maioria dos habitantes da terra. No pior dos casos, pode levar à morte física e espiritual de muitos, se não mesmo de todos (n.2).

É preciso voltar para a Boa-Nova de Jesus que traçou o caminho da não-violência que Ele percorreu até o fim, até a Cruz, tendo assim estabelecido a paz e destruído a hostilidade (Ef 2,14-16, Mt 5,44):

“O próprio Jesus viveu em tempos de violência. Ensinou que o verdadeiro campo de batalha, onde se defrontam a violência e a paz, é o coração humano: «Porque é do interior do coração dos homens que saem os maus pensamentos» (Mc 7, 21) (n.3)

Assim compreendeu São Francisco de Assis, que exortava: «A paz que anunciais com os lábios, conservai-a ainda mais abundante nos vossos corações» (n.3)

Como verdadeiros discípulos de Jesus, precisamos aderir também à Sua proposta de não-violência, desde que esta seja entendida não como sinônimo de rendição, negligência ou passividade.

Citando madre Tereza, ressalta que nossa missão é ir ao encontro das vítimas com generosidade e dedicação, tocando e vendando cada corpo ferido, curando cada vida dilacerada (n.4).

Cita outras pessoas que entenderam e viveram a não-violência: Mahatma Gandhi Khan Abdul Ghaffar Khan, na libertação da Índia; Martin Luther King Jr contra a discriminação racial nunca serão esquecidos; Leymah Gbowee e milhares de mulheres liberianas, que organizaram encontros de oração e protesto não-violento (pray-ins), obtendo negociações de alto nível para a conclusão da segunda guerra civil na Libéria, e por fim São João Paulo II também é lembrado

–“Que os seres humanos aprendam a lutar pela justiça sem violência, renunciando tanto à luta de classes nas controvérsias internas, como à guerra nas internacionais” (n.4).

Ressalta o compromisso da Igreja na implementação de estratégias não-violentas para promoção da paz em muitos países solicitando, inclusive aos intervenientes mais violentos, esforços para construir uma paz justa e duradoura.

Reitera sem hesitação que “nenhuma religião é terrorista”, pois a violência é uma profanação do nome de Deus: “Nunca nos cansemos de repetir: «jamais o nome de Deus pode justificar a violência. Só a paz é santa. Só a paz é santa, não a guerra” (n. 4).

Papel fundamental na prática da não-violência exerce a família, como salientou na Exortação Apostólica “Amoris Laetitia” (n.90-130).

Referindo-se ao Jubileu da Misericórdia, que terminou em novembro passado, faz um convite a olhar para as profundezas do coração e a deixar entrar nele a misericórdia de Deus e pôr em prática o pequeno caminho do amor, não perdendo aa oportunidade duma palavra gentil, dum sorriso, de qualquer pequeno gesto que semeie paz e amizade:
“Uma ecologia integral é feita também de simples gestos quotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo” (n. 5).

Convida a todos para a construção da paz por meio da não-violência ativa, conduzidos por Jesus, que nos oferece um “manual” desta estratégia de construção da paz no chamado Sermão da Montanha:

As oito Bem-aventuranças (cf. Mateus 5, 3-10) traçam o perfil da pessoa que podemos definir feliz, boa e autêntica. Felizes os mansos – diz Jesus –, os misericordiosos, os pacificadores, os puros de coração, os que têm fome e sede de justiça” (n.6).

Trata-se de “um programa e um desafio também para os líderes políticos e religiosos, para os responsáveis das instituições internacionais e os dirigentes das empresas e dos meios de comunicação social de todo o mundo: aplicar as Bem-aventuranças na forma como exercem as suas responsabilidades.

Assegura o acompanhamento da Igreja Católica a toda a tentativa de construir a paz inclusive através da não-violência ativa e criativa.

Comunica também a criação de um novo Dicastério, no dia 1 de janeiro de 2017: o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, que ajudará a Igreja a promover, de modo cada vez mais eficaz, “os bens incomensuráveis da justiça, da paz e da salvaguarda da criação” e da solicitude pelos migrantes, «os necessitados, os doentes e os excluídos, os marginalizados e as vítimas dos conflitos armados e das catástrofes naturais, os reclusos, os desempregados e as vítimas de toda e qualquer forma de escravidão e de tortura.

Pedindo a Virgem Maria, a Rainha da Paz, para servir de guia, conclui com estas palavras:

“Todos desejamos a paz; muitas pessoas a constroem todos os dias com pequenos gestos; muitos sofrem e suportam pacientemente a dificuldade de tantas tentativas para a construir”.

No ano de 2017, comprometamo-nos, através da oração e da ação, a tornar-nos pessoas que baniram dos seus corações, palavras e gestos a violência, e a construir comunidades não-violentas, que cuidem da casa comum. “Nada é impossível, se nos dirigimos a Deus na oração. Todos podem ser artesãos de paz” (n.7). 

PS: Desejando ler a mensagem na íntegra, acesse:

Mensagem para o 49º Dia Mundial da Paz (Papa Francisco) (2016)



“Vence a indiferença e conquista a paz”

A Mensagem do Papa Francisco para o 49º Dia Mundial da Paz – 1º de janeiro de 2016, é muito enriquecedora para nossa espiritualidade, no compromisso da ação evangelizadora, como discípulos missionários.

Tendo como título “Vence a indiferença e conquista a paz”, o Papa se volta para a mensagem do ano passado, quando refletiu a necessidade de superação da globalização da indiferença, assim como remete várias vezes à Carta em que nos concede o Ano Santo Extraordinário da Misericórdia (de 08/12/2015 a 20/11/2016) Também cita, várias vezes, a sua primeira Encíclica “Laudato Si”.

Reflete a ação de Deus na história, jamais marcada pela indiferença, mas pela solicitude e misericórdia, a fim de que tenhamos vida plena e feliz, nos exortando à prática da justiça e ao compromisso com a paz, como dom de Deus, mas, aos homens e mulheres, compromisso por Ele confiado.

Exorta-nos a conservar as razões da esperança, fazendo uma breve retrospectiva dos fatos do ano passado: alguns negativos (guerras e atos terroristas, com trágicas consequências de sequestros de pessoas, perseguições por motivos étnicos ou religiosos, prevaricações, multiplicando-se cruelmente em muitas regiões do mundo, a ponto de assumir os contornos daquela que se poderia chamar uma «terceira guerra mundial por pedaços»); outros positivos como: o esforço feito para favorecer o encontro dos líderes mundiais, no âmbito da Cop21, a fim de se procurar novos caminhos para enfrentar as alterações climáticas e salvaguardar o bem-estar da terra, a nossa casa comum; a Cimeira de “Adis-Abeba” para arrecadação de fundos destinados ao desenvolvimento sustentável do mundo; e a adoção, por parte das Nações Unidas, da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, que visa assegurar, até ao referido ano, uma existência mais digna para todos, sobretudo para as populações pobres da terra.

Enquanto Igreja, celebramos o cinquentenário da publicação de dois Documentos do Concílio Vaticano II, que exprimem, de forma muito eloquente, o sentido de solidariedade da Igreja com o mundo:  “Nostra aetate” e “Gaudium et spes”  – na busca de uma nova relação de diálogo, solidariedade e convivência da Igreja com a humanidade. 

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG