A capacidade inata de amar...
Acolhamos esta reflexão intitulada “Da Regra mais longa” do Bispo São Basílio Magno (Séc. IV) sobre a essência do cristianismo que consiste no Mandamento do Amor a Deus e no amor ao próximo.
“O Amor de Deus não é matéria de ensino nem de prescrições. Não aprendemos de outrem a alegrar-nos com a luz, ou a desejar a vida, ou a amar os pais ou educadores. Assim – ou melhor, com muito mais razão –, não se encontra o amor de Deus na disciplina exterior. Mas, quando é criado, o ser vivo, isto é, o homem, a força da razão foi, como semente, inserida nele, uma força que contém em si a capacidade e a inclinação de amar.
Logo que entra na escola dos divinos preceitos, o homem toma conhecimento desta força, apressando-se em cultivá-la com ardor, nutri-la com sabedoria e levá-la à perfeição, com o auxílio de Deus.
Sendo assim, queremos provar vosso empenho em atingir este objetivo. Pela graça de Deus e contando com as vossas preces, nós nos esforçaremos, segundo a capacidade dada pelo Espírito Santo, por suscitar a centelha do amor divino escondida em vós.
Antes de mais nada, nós d’Ele recebemos antecipadamente a força e a capacidade de pôr em prática todos os Mandamentos que Deus nos deu.
Por isso não nos aflijamos como se nos fosse exigido algo de incomum, nem nos tornemos vaidosos pensando que damos mais do que havíamos recebido. Se usarmos bem destas forças, levaremos uma vida virtuosa; no entanto, mal empregadas, cairemos no pecado.
Ora, o pecado se define como o mau uso, o uso contrário à vontade de Deus daquilo que Ele nos deu para o bem. Pelo contrário, a virtude, como Deus a quer, é o desenvolvimento destas faculdades que brotam da consciência reta, segundo o preceito do Senhor.
O mesmo diremos da caridade. Ao recebermos o Mandamento de amar a Deus, já possuímos capacidade de amar, plantada em nós desde a primeira criação. Não há necessidade de provas externas: cada qual por si e em si mesmo pode descobri-la. De fato, nós desejamos, naturalmente, as coisas boas e belas, embora, à primeira vista, algumas pareçam boas e belas a uns e não a outros.
Amamos também, sem ser necessário que nos ensinem nossos parentes e amigos e temos espontaneamente grande amizade por nossos benfeitores.
O que haverá, pergunto então, de mais admirável do que a beleza divina? Que coisa pode haver mais suave e deliciosa do que a meditação da magnificência de Deus? Que desejo será mais veemente e violento do que aquele inserido por Deus na alma liberta de toda impureza e que lhe faz dizer do fundo do coração: Estou ferida de amor? É na verdade totalmente indescritível o fulgor da beleza de Deus”.
Literalmente, o Bispo afirma que já possuímos a capacidade inata de amar plantada em nós desde a primeira criação, por isto pôde nos confiar o Mandamento do amor a Ele e ao próximo.
Os grandes místicos sentiram e vivenciaram em intensidade a “ferida de amor” do Amado que somente se cura amando e se identificando com o objeto do amor, pois é próprio do amor a procura e ânsia por esta identificação. É próprio de quem ama assemelhar-se ao amado... É o que Deus espera de nós, fazendo-nos deuses por participação.
Os grandes místicos sentiram e vivenciaram em intensidade a “ferida de amor” do Amado que somente se cura amando e se identificando com o objeto do amor, pois é próprio do amor a procura e ânsia por esta identificação. É próprio de quem ama assemelhar-se ao amado... É o que Deus espera de nós, fazendo-nos deuses por participação.
Glorifiquemos a Deus pela Igreja que tem um patrimônio inesgotável de espiritualidade.
Finalizando, sendo inata a capacidade de amar, podemos, aprofundar, intensificar, amadurecer, crescer, progredir no Mandamento do Amor. Buscar incansavelmente a cura desta ferida simplesmente amando, e nisto consiste a vivência de toda a Lei, pois como disse o Apóstolo Paulo “a caridade é a plenitude da Lei” e ainda: “a caridade é o vínculo da perfeição”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário