A humildade e a paz
Advento é tempo de renascer algumas coisas em nós para que outras possam florescer e frutificar. A humildade é uma delas. Renascida e revigorada, frutos de paz nascerão em nosso coração.
Advento é tempo de reconhecer que somos terra, húmus, que do pó viemos e ao pó retornaremos; que precisamos aprender usar das coisas que passam e abraçar as que não passam.
Advento é tempo de derrubar as montanhas do egoísmo, que insistem em permanecer dentro de nós.
Advento é tempo de elevar os vales da nossa fragilidade, para nos revigorarmos da força divina, para o bom combate da fé.
Advento é tempo de aplainar caminhos tortos e retirar todas as asperezas que marcam relacionamentos próximos e mesmo distantes.
Advento é tempo de nos prepararmos para reter Cristo em nós:
“Mas não com laços de injustiça, nem com nós de corda,
mas com laços da caridade, com as rédeas do Espírito e pelo afeto da alma”, como disse Santo Ambrósio (séc. IV).
E ainda:
“Se queres também reter o Cristo, tenta fazê-lo e não tenhas medo dos sofrimentos. Pois, não raro, é no meio dos suplícios do corpo, nas mãos dos perseguidores, que O encontramos mais facilmente”.
Há um texto que pode nos ajudar, e muito, para um bom Advento, e um excelente Natal do Senhor, extraído do Livro 2 “Da Imitação de Cristo”, cap. 2-3, escrito por Tomas Kempis no séc. XV, em que nos apresenta a humildade como o pressuposto para o alcance da paz!
“Não te preocupes muito em saber quem é por ti ou contra ti, mas deseja e procura que Deus te ajude em tudo que fizeres.
Tem boa consciência e Deus será tua boa defesa. A quem Deus quiser ajudar, nenhum mal poderá prejudicar.
Se souberes calar e sofrer, verás certamente o auxílio do Senhor.
Ele sabe o tempo e o modo de te libertar, portanto, entrega-te a Ele inteiramente. A Deus pertence aliviar-nos e tirar-nos de toda confusão. Às vezes é muito útil, para guardar maior humildade, que os outros conheçam e repreendam nossos defeitos.
Quando o homem, por causa de seus defeitos, se humilha, então facilmente acalma os outros, e desarma os que estão irados contra ele. O humilde, Deus protege e livra; ao humilde ama e consola. Ao homem humilde Se inclina; ao humilde dá-lhe abundantes graças, e depois de seu abaixamento eleva-o a grande honra. Ao humilde, revela Seus segredos, e com doçura o atrai a Si e convida.
O humilde, depois de receber uma afronta, conserva sua paz: porque confia em Deus e não no mundo.
Não julgues que fizeste algum progresso se não te considerar inferior a todos. Primeiro conserva-te em paz; depois poderás pacificar os outros. O homem pacífico é mais útil do que o letrado. O homem dominado pelas paixões, até o bem converte em mal e acredita facilmente no mal. O homem bom e pacifico tudo converte em bem.
Quem está em boa paz não suspeita mal de ninguém. Mas, quem é descontente e inquieto, com diversas suspeitas se atormenta; não tem sossego nem deixa os outros sossegar. Diz muitas vezes o que não devia; e deixa de fazer o que mais lhe conviria. Preocupa-te com as obrigações alheias e descuida-se das próprias. Zela, portanto, primeiro por ti mesmo, e depois poderás zelar devidamente por teu próximo.
Bem sabes desculpar e disfarçar tuas faltas, mas não queres aceitar as desculpas dos outros. Seria mais justo acusares a ti e desculpares teu irmão. Se queres que te suportem, suporta também os outros”
Dia a dia novas páginas são, por Deus, a nós concedidas para serem bem escritas, e tão somente assim escrevemos as linhas do Advento, e o parágrafo de uma vida para uma história de permanente Natal.
Ele nasce a cada instante de nossa História!
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