quinta-feira, 24 de outubro de 2024

A fé não nos dispensa de sagrados compromissos

                                      

A fé não nos dispensa de sagrados compromissos

Retomemos um trecho da Carta do Apóstolo Paulo aos Romanos, em que se refere à criação à espera da libertação da corrupção - (Rm 8,18-25):

“Sabemos que toda a criação, até ao tempo presente, está gemendo como que em dores de parto, e não somente ela, mas nós também, que temos os primeiros frutos do Espírito, estamos interiormente gemendo, aguardando a adoção filial e a libertação para o nosso corpo...”.

Assim nos fala o Comentário do Missal Cotidiano:

“Os problemas levantados pela ecologia têm chamado a atenção sobre o equilíbrio natural. Também em nosso modo de ver a natureza, devemos encontrar um equilíbrio. Entre um naturalismo todo horizontal, terra-a-terra, e um angelismo todo vertical, para o qual a terra não passa de base para os pés, existem outras posições mais realistas, portanto, mais cristãs. Ciência e técnica se inclinam a um esforço de busca e transformação da criação. Mas, as energias descobertas são por si ambíguas. Nós é que lhes damos sentido: gloria do Criador ou desfrute da criatura. Num caso tem-se a expansão na liberdade; no outro, a distorção, grávida de consequências arriscadas”. (1)

Naturalismo todo horizontal e angelismo todo vertical. Termos não muito comuns ao nosso discurso, mas de pertinência incontestável.

Não somente em relação à criação, mas a outros fatos da vida (nascimento, vida, doença, saúde, emprego, relacionamentos amorosos, dimensão profissional, morte etc.) podemos transitar entre as duas atitudes.

Diante da vida podemos adotar a primeira postura, procurando respostas humanas, técnicas e científicas, prescindindo de toda dimensão espiritual, sobretudo se considerarmos o processo de dilaceramento interior aguçado da fé, da religião, da existência e da necessidade de Deus.

A busca de solução, portanto, na pura razão científica e técnica e absolutamente desvinculada da fé. Não há espaço algum para a fé!

A outra postura, prescindir da ciência, da técnica, de seus avanços. Não se utilizar daquilo que o conhecimento humano alcançou, com a inapropriada postura: Deus tudo resolverá!

Segue-se a atitude de passividade e confiança em Deus, pois cabe a Ele tudo resolver, sem fazer uso daquilo que por Ele também foi propiciado, mas que deliberadamente pela atitude pessoal dispensada. A fé que tudo resolve sem mediação alguma!

Nem uma postura, nem outra. Adotada uma postura unilateral, exclusiva teremos o que se disse acima: “Num caso tem-se a expansão na liberdade; no outro, a distorção, grávida de consequências arriscadas”.

Mais uma vez vem à mente a brilhante Encíclica do Papa São João Paulo II – “Fé e Razão”.

Como Bispo, religioso, bem como cientista social que também sou, procuro transitar entre um polo e outro:

As questões econômicas, políticas, sociais, ecológicas etc. Sejam elas quais forem somente encontrarão respostas, que as sustentem, sabendo-se fazer sabiamente este livre trânsito.

Quando a fé e a ciência procuram sincero diálogo: Deus tem o seu lugar absoluto na vida humana, e esta, por sua vez, ganha em expressão, beleza e dignidade!

A negação de Deus, Seu eclipse, é a negação e o eclipse da própria humanidade, como nos insiste o Papa Bento XVI, em suas Encíclicas e pronunciamentos.

Oremos:

Livrai-nos, Senhor, da terrível “armadilha” do Naturalismo Horizontal e do Angelismo Vertical, que certamente levar-nos-ia a ofuscar e a não reconhecer Vossa soberania e  divindade, bem como fragilizaria nossa imagem que de Vós somos, estampada em nossa humanidade! 

Dai-nos, Senhor, o Fogo do Espírito, para correspondermos melhor ao Vosso Projeto de Vida plena para todos.

Dai-nos, a Sabedoria do Espírito, para iluminar a sabedoria humana, o que nos levará ao equilíbrio necessário, para agirmos como se tudo dependesse da humanidade, sem jamais prescindirmos da Força da Suprema Divindade. Amém.


(1) Missal Cotidiano – Editora Paulus - pág.1428

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