Não
percamos a essência do ser cristão
Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Marcos (Mc 12,28b-34), sobre o maior
Mandamento da Lei, e sejamos iluminados pelo escrito pelo Bispo e Mártir São
Cipriano (séc. III).
“A vontade de
Deus é aquela que Cristo cumpriu e ensinou: a humildade no comportamento, a
firmeza na fé, o respeito nas palavras, a retidão nas ações, a misericórdia nas
obras, a moderação nos costumes, o não ofender os outros e tolerar aquilo que
nos fazem, o conservar a paz com os nossos irmãos: amar ao Senhor de todo o
coração, amá-Lo enquanto Pai, temê-Lo enquanto Deus; o não preferir nada a
Cristo, já que Ele nada preferiu a nós; o manter-nos inseparavelmente unidos ao
Seu Amor, o estar junto à Cruz com fortaleza e confiança; e, quando está em
jogo o Seu nome e Sua honra, mostrar em nossas palavras a constância da fé que
professamos; nos tormentos, a confiança com que lutamos, e na morte, a
paciência que nos obtém a coroa.
Isto é querer ser
coerdeiro de Cristo, isto é, cumprir o Preceito de Deus e a vontade do Pai.
Pedimos que se
faça a vontade de Deus no céu e na terra: ambas as coisas pertencem à
consumação de nossa incolumidade e salvação.
Pois ao ter um
corpo terreno e um espírito celeste, somos ao mesmo tempo céu e terra, e, em
ambos, isto é, no corpo e no espírito, pedimos que se faça a vontade de Deus.
Porque existe
guerra declarada entre a carne e o espírito, e um antagonismo diário entre os
dois oponentes, de maneira que não fazemos o que queremos, porque enquanto o
espírito deseja o celestial e divino, a carne se sente arrastada pelo terreno e
temporal.
Por isso, pedimos
que, com o socorro e o auxílio divino, reine a concórdia entre os dois setores
em conflito, de modo a cumprir-se a vontade de Deus tanto no espírito como na
carne, possa salvar-se a alma renascida por Ele no Batismo.
É o que aberta e
claramente declara o Apóstolo Paulo, dizendo: ‘Porque os desejos da carne se
opõem ao do Espírito, e estes aos da carne. Pois são contrários uns aos outros.
É por isso que não fazeis o que quereríeis.
Ora, as obras da
carne são estas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, superstição,
inimizades, brigas, ciúmes, ódio, ambição, discórdia, partidos, invejas,
bebedeiras, orgias e outras coisas semelhantes.
Destas coisas vos
previno como já preveni: os que praticarem não herdarão o Reino de Deus! Ao
contrário, o fruto do Espírito é: caridade, alegria, paz, paciência,
afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança’. (cf. na íntegra 5,
13-26).
Por isso, com
Oração cotidiana e até continua, temos de pedir que no céu e na terra se cumpra
a vontade de Deus sobre nós. Porque esta é a vontade de Deus: que o terreno dê
lugar ao celestial e que prevaleça o espiritual e o divino”. (1)
Como vemos é uma
exortação para que nada prefiramos a não ser Jesus Cristo, vivendo segundo o
Espírito.
Assim vivendo
teremos do Senhor, mesmos pensamentos e sentimentos, de modo que poderemos
dizer como o Apóstolo Paulo: “Para mim o viver é Cristo” (Fl. 1,21)
Autênticos
discípulos do Senhor seremos se soubermos dar nossa resposta generosa e
decidida, exatamente pelas provações, exigências próprias de um autêntico
discipulado, que não acontece sem a cruz, inevitável para o alcance da glória
eterna.
Seja
a graça de Deus abundantemente em nós derramada, para nos colocarmos no caminho
com o Senhor, vivendo os inseparáveis Mandamentos como distintivos do ser
cristão, para que nosso discipulado seja fecundo.
(1)
Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - p.225.
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