“Vivamos,
pois, unidos a Ele, subamos com Ele, a fim de que a serpente não possa
encontrar na terra o nosso calcanhar e feri-lo”
Aprofundando
nossa espiritualidade, neste itinerário quaresmal, sejamos enriquecidos por um trecho
do “Tratado sobre a fuga do mundo”, escrito pelo Bispo Santo Ambrósio (Séc. IV),
em que nos exorta a buscarmos a Deus, o único bem verdadeiro.
“Onde está o
coração do homem está também o seu tesouro; pois Deus não costuma negar o bem
aos que lhe pedem. Porque o Senhor é bom, e é bom, sobretudo para os que n’Ele
esperam, unamo-nos a Ele, permaneçamos com Ele de toda a nossa alma, de todo o
coração e de todas as forças, para vivermos na sua luz, vermos a Sua glória e
gozarmos da graça da felicidade eterna.
Elevemos nossos
corações para esse bem, permaneçamos e vivamos unidos a Ele, que está acima de
tudo quanto possamos pensar ou imaginar; e concede a paz e a tranquilidade
perpétuas, uma paz que ultrapassa toda a nossa compreensão e sentimento.
É esse o bem que
tudo penetra; todos vivemos n’Ele e d’Ele dependemos; nada Lhe é superior,
porque é divino. Só Deus é bom e, portanto, o que é bom é divino e o que é
divino é bom; por isso se diz no salmo: ‘Vós abris a mão e todos se fartam de
bens’ (Sl 103,28). É, com efeito, da bondade de Deus que nos vêm todos os bens,
sem nenhuma mistura de mal. Esses bens são os que a Escritura promete aos
fiéis, dizendo: ‘Comereis dos bens da terra’ (Is 1,19).
Nós morremos com
Cristo e trazemos em nosso corpo a morte de Cristo, para que também a vida de
Cristo se manifeste em nós. Portanto, já não é a nossa própria vida que
vivemos, mas a vida de Cristo: vida de inocência, vida de castidade, vida de
sinceridade e de todas as virtudes.
Também
ressuscitamos com Cristo; vivamos, pois, unidos a Ele, subamos com Ele, a fim
de que a serpente não possa encontrar na terra o nosso calcanhar e feri-lo.
Fujamos daqui. Podes fugir com o espírito, embora permaneças com o corpo; podes
ficar aqui e estar ao mesmo tempo junto do Senhor, se teu coração estiver unido
a Ele, se teus pensamentos se fixarem n’Ele, se percorreres Seus caminhos,
guiado pela fé e não pelas aparências, se te refugiares junto d’Ele – que é
nosso refúgio e nossa força, como disse Davi: ‘Eu procuro meu refúgio em Vós,
Senhor, que eu não seja envergonhado para sempre’ (Sl 70,1).
Já que Deus é o
nosso refúgio, e Deus está nos céus e no mais alto dos céus, é preciso fugir
daqui para as alturas onde reina a paz, onde repousaremos de nossas fadigas,
onde celebraremos o banquete do grande sábado, como disse Moisés: O repouso
sabático da terra será para vós ocasião de festim (Lv 25,6).
Descansar em Deus
e contemplar as Suas delícias é, na verdade, um banquete, cheio de alegria e
felicidade. Fujamos, como os cervos, para as fontes das águas. Que a nossa alma
sinta a mesma sede de Davi. Qual é esta fonte? Escuta o que ele diz: ‘Em Vós
está a fonte da vida’ (Sl 35,10). Diga minha alma a esta fonte: ‘Quando terei a
alegria de ver a face de Deus? (Sl 41,3). Porque a fonte é o próprio Deus”.
Corramos,
sem demora, para esta divina Fonte, Deus, nosso único, supremo e verdadeiro
bem, que nada, absolutamente, pode ocupar Seu lugar.
Tenha
nossa alma sede do Deus vivo, e o santo desejo de contemplá-Lo, face a face um
dia.
No
entanto, por ora, firmemos nossos passos, solidificando nossa fé, dando razão
de nossa esperança, inflamados pelo fogo da caridade que nos impele seguir
adiante ao encontro de Deus, construindo relações de comunhão e fraternidade com
nosso próximo.
É necessário que sejamos vigilantes, de modo que vivamos unidos
a Ele, Deus, e “subamos com Ele, a fim de
que a serpente não possa encontrar na terra o nosso calcanhar e feri-lo”,
fragilizando-nos e desviando de nossos santos propósitos.
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